sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Papo de Esquina XXVIII

- Mas e a desaposentação?

- Então ... perdeu-se tudo, além disto o aposentado que retorna ao mercado é obrigado a contribuir, mas sem nenhum direito, veja bem - nenhum direito previdenciário, nem o de licença por doença. 

- Melhor morrer?

- Não, melhor viver e aguardar o momento de sorrir.

É isto aí!

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Tempos difíceis

- Você está despedida.
- Como assim?
- Despedida, demitida, eliminada, etc.
- Agenor, esta parte está clara, só quero saber o motivo.
- Clarinha, não há uma justa causa. É demissão sumária.
- Agenor, você tem certeza de que é isto mesmo?
- Não brinco com coisa séria.
- Não estou acreditando nisto. Vou cumprir aviso?
- Não. Vai receber o aviso integral.
- Incluindo as férias vencidas?
- Sim, a vencida e a que venceria neste mês, ambas, com o 1/3
- Os 40% do Fundo?
- Com certeza, já está separado em espécie.
- Seguro desemprego?
- Se o governo não mudou nada ...
- Estou falando daquele subsídio que a empresa utiliza para os executivos desligados.
- Não, Clarinha, este não tem jeito, afinal você não é mais da diretoria.
- E o Plano de Saúde?
- Sem chance. Eliminada assim que assinar os documentos.
- Agenor ... eu estou grávida.
- Quantos meses?
- Dois meses.
- Traga o atestado médico que será incluído no cálculo de acerto trabalhista.
- Vão me pagar tudo? Toda a gestação e licença?
- Sim, tudo.
- Agenor, você pode me explicar por que estou sendo demitida?
- Você sabe.
- Eu sei? Então melhore a minha memória.
- Pergunte ao Dr. Fagundes, que é o patrão, ele saberá te responder.
- Agenor, pela nossa amizade, para com isto de perguntar ao patrão, me responda com sinceridade.
- É por que você pensa, Clarinha, e isto tem irritado muito a diretoria ...

É isto aí!



Ciranda do ódio

http://www.otempo.com.br/charges/charge-o-tempo-24-10-2016-1.1389969


domingo, 23 de outubro de 2016

Pensamentos inúteis por razões sem fim

Arrependido:
Está linda ... Era linda! Trinta anos linda nas lembranças, nos sonhos, no desejo, na memória. Trinta anos ... aí eu a vi no Feissebuque. Saudades, múltiplas saudades!!!

Magoado:
Nem olhou para mim, depois de vinte e cinco anos de suplícios. Enfim é a mesma de sempre, disfarça bem.

Melancólico:
Vinte anos para vê-la novamente e foi  nesta tarde, na praia, com a sua família. É ... parece que estava feliz.

Esperançoso
Espero que todas as lágrimas, que derramei nestes quinze anos, lavem de vez a minha alma das expectativas frustradas de ser feliz ao lado dela.

Sentido
Dez anos sem tê-la ao meu lado e nunca soube o porquê! Isto me faz sentir uma pessoa extremamente triste.

Quantificado
E já se passaram cinco anos. Quase deu certo, quase minha para sempre, quase juntos, quase voltamos, quase melhores amigos, quase para sempre, quase feliz. Quase ... quase ...

Auto-ajuda
Terminamos ontem! Vou ficar bem. Nunca mais a verei, nunca mais sentirei sua falta, nunca mais outra vez.

É isto aí!




sábado, 22 de outubro de 2016

Cantando bolero na chuva ou poderia ter sido pior - poemeu

Queria
 acordar
  amanhã
   também
    bem triste,
      colocar
        um bolero
          na vitrola,
           tomar rum
            e coca-cola,
              tragar um
            charuto havana
           cantar bem
          desafinado
       claudicando
      inevitáveis
    rimas
   pobres
  e perder
 o celular.
na chuva

É isto aí!


sexta-feira, 21 de outubro de 2016

O Caminho

Vou criar a Filosofia Única, que será conhecida pela posteridade como o Pensamento de Deus. Pensamento de Deus ... Pensamento de Deus ... não, não vai dar certo, e os ateus, os não ateus, os teo alguma coisa, os tao ... melhor achar um nome. Já sei - A Chave da ... a chave da ... a chave ..., que saco, chave lembra fechadura, fechadura lembra porta, enfim, preciso canalizar tudo num só caminho. Caramba, é isto - O Caminho.

Isto, já tenho o nome. nada de Teoria do caos, da relatividade, das Cordas, do Big- Bang, do Criacionismo, enfim, tudo será englobado - O Caminho não é apenas uma teoria é a Teoria. uau, já vejo o Nobel, o sucesso, o dinheiro, as mulheres, a fama, o poder, a inveja dos idiotas de sempre, enfim serei muito muito phodástico.

Bem, uma vez achado o Caminho, agora vou traçar em linhas gerais o conceito desta Teoria de Tudo. Pense ... pense ... pense ... teoria, tempestade de ideias, isto - tempestades, vou guardar esta palavra. Então no princípio havia havia... hummm ... uma ou será um? fator de geração é ela e gerador é ele? Mas isto é nesta dimensão, as pessoas terão que vivenciar uma experiência em 12 dimensões. Isto. No princípio haviam tempestades em doze dimensões. 

Não, como haveria algo se nada foi criado. No princípio havia um silêncio absoluto. Isto, este é o Caminho. Mas aí Ukulelê, o rei das quatro cordas, mas o que é isto .. alô .. alô .. sintonizei uma ideia pirata e ridícula aqui. Mas o importante é a ideia do caminho. Aguardem - serei rico, famoso e nem aí para a choldra.  

É isto aí!

Os ratos rabacués


Estes ratos
poucas dezenas
matam, destroem
dezenas de centenas

São ladrões
da fé
da cultura
da ciência

Uns Imorais
corruptos
outros amorais
polutos

Estes ratos
rabacués
traidores
trazem dores

ao menor
ao desprovido
ao simplório
e ao desvalido

É isto aí!





quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Um cantinho, um violão, ... Quiet Night Of Quiet Stars - Diana Panton

Quando o amor acontece - Leila Pinheiro (Abel Silva/João Bosco)


Fonte da Imagem: oliberal

Canção do repertório da Live Leila Pinheiro "Vem Namorar Comigo" (12.06.2021). 
Inscreva-se no canal da Leila Pinheiro e acompanhe todas as novidades!!!

SIGA LEILA PINHEIRO NAS REDES SOCIAIS 

Ouça a Leila na Deezer http://www.deezer.com/artist/110748
Siga a Leila no Twitter: https://twitter.com/leilapinheiro

Quando o amor acontece  (Abel Silva/João Bosco)

Coração sem perdão
Diga fale por mim
Quem roubou 
toda a minha alegria

O amor me pegou, me pegou pra valer
Ai, que a dor do querer
Muda o tempo e a maré
Vendaval sobre o mar azul

Tantas vezes chorei
Quase desesperei
E jurei nunca mais seus carinhos

Ninguém tira do amor
Ninguém tira pois é
Nem doutor, nem pajé
O que queima e seduz, enlouquece,
O veneno da mulher

O amor quando acontece 
a gente esquece logo 
quem sofreu um dia... Ilusão

O meu coração marcado 
tinha um nome tatuado 
que ainda doía
Pulsava só a solidão

O amor quando acontece 
a gente esquece logo 
que sofreu um dia... 
Esquece sim

Quem mandou chegar tão perto
Se era certo outro engano, 
coração cigano
Agora eu choro assim

O amor quando acontece 
a gente esquece logo 
que sofreu um dia... 
Esquece sim

Quem mandou chegar tão perto
Se era certo outro engano, 
coração cigano,
Agora eu choro assim

Música Quando O Amor Acontece
Artista Leila Pinheiro
Compositores: Abel Silva/João Bosco
Licenciado para o YouTube por
SOLAR Music Rights Management, LatinAutorPerf, UNIAO BRASILEIRA DE EDITORAS DE MUSICA - UBEM, Sony ATV Publishing e 2 associações de direitos musicais









quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Izumi Sakai - Arte não tem fronteira

Izumi Sakai
Perfil

Nome Artístico: Izumi Sakai
Nome real: Sachiko Kamachi / 坂井泉水 / 蒲池幸子
Nacionalidade: Japão
Data de nascimento: 06/ 02/ 1967
Debutou: 1991
Faleceu: 2007
Gênero: J-Pop
Antigo Grupo: ZARD

Izumi Sakai nasceu em 06 fevereiro de 1967 em Kurume (Fukuoka, Japão) e morreu em 27 de maio de 2007, em Shinjuku (Tokyo, Japão), após uma contusão cerebral, causada por uma queda, era a vocalista do grupo pop japonês Zard, criado em 1991.

Zard, sem dúvida, deixou sua marca na última década com suas canções pop e permanece hoje como um dos 10 maiores vendedores da história da música japonesa, com mais de 36 milhões de discos vendidos, um sucesso, principalmente devido à voz inconfundível da cantora e devido a inúmeras canções integrarem a ost de animes populares.

Antes do Zard

Apesar de ter nascido em Kurume, Sakai cresceu em Hadano, onde ela começou sua carreira como "Rainha do Karaoke" e como atriz em comerciais para a marca japonesa, Japan Air System, em 1989.

Sua doença e morte

Desde junho de 2006, Izumi estava sendo tratada para câncer de colo do útero, que acabou se espalhando para os pulmões, ela acabou tendo de ser hospitalizada. Uma de suas rotinas diárias era sair para caminhar, apesar de internada, num sábado ela saiu para um passeio e retornou ao hospital, mas ela caiu nas escadas escorregadias por causa do mau tempo no dia anterior. Três metros abaixo, Izumi violentamente bateu a parte de trás da cabeça e perdeu a consciência. Ela morreu no dia seguinte à tarde. A polícia, no entanto, nunca descartou a teoria de suicídio e uma investigação foi aberta.

Segundo o testemunho de sua família e seu médico, Izumi tinha uma boa chance de se recuperar. Uma semana antes do acidente, o seu médico havia lhe dito que câncer não era sinônimo de morte. Toki Shiozawa teve câncer aos 30 anos, mas viveu até aos 79 anos.

Ela tinha planos para gravar um álbum no outono e saia regularmente para visitar galerias de arte e peças de Noh.


https://www.youtube.com/watch?v=9Eac_0Bpfm0&list=RD9Eac_0Bpfm0&start_radio=1&t=42

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Plotácio Junqueira e a vida como ela é.


Diário da Pitangueira 1.500 exemplares nesta edição
17 agosto
Seção de Cartas dos Leitores
- Comunico que perdi minha aliança. Ela é de ouro 24 quilates, tem 2 mm de largura, e tem o nome Deborah 18maio86 gravado no interior. Quem achar, favor entrar em contato com Seção de Achados e Perdidos, sob o número 256/16, que será bem recompensado.

Diário da Pitangueira 1.500 exemplares nesta edição
24 agosto
Seção de Cartas dos Leitores
- Plotinha, você não perdeu aliança merda nenhuma, você deu ela para mim, sua Gatinha de Frufru. E deu mesmo, inclusive falou que aquela deborazinha era uma inútil.

Diário da Pitangueira 1.600 exemplares nesta edição
31 agosto
Seção de Cartas dos Leitores
- É lamentável saber por este Pasquim que o Dr. Plotácio Junqueira, exemplo de marido e de pai das minhas filhas, homem cristão, honrado e fiel, está sob a língua ferina do domínio público, através de uma anônima rameira, vadia, desqualificada e desclassificada. Você está enganada, meu bem - o Plotácio nunca fica sem aliança. Pode ficar com esta aliancinha de latão, querida, por que o meu Plotácio não vai cair neste truque barato.

Diário da Pitangueira 1.750 exemplares nesta edição
07 setembro
Seção de Cartas dos Leitores
- Eu, Plotácio Junqueira, venho por meio deste prestigioso veículo de grande circulação, esclarecer que ocorreu um mal entendido da minha parte, e não perdi a aliança, ela está onde sempre esteve, e também que desconheço qualquer moça de alcunha Gatinha de Frufru. Considero portanto, para o bem de todos e em particular da minha sagrada família, que este assunto está encerrado.

Diário da Pitangueira 2.000 exemplares nesta edição
14 setembro
Seção de Cartas dos Leitores
- Plotinha, puxa vida, então é assim? Vai e vem quando quer? E se eu falar daquela mancha de nascença que você tem em forma de triângulo na face interna da virilha esquerda? E aquela cicatriz que você tem da apendicite? Hem, Plotinha? Hem?!?! Eu nem quero mais aquela merda daquela aliança, eu agora quero um carro, uma casa e uma viagem a Paris, senão ...

Diário da Pitangueira 2.500 exemplares nesta edição
21 setembro
Seção de Cartas dos Leitores
- O que as sirigaitas de baixa renda não fazem para conseguir alguma coisa, hem! Escuta aqui Gatinha de Frufru, vai lavar roupa suja no tanque, vai arrumar a casa, a cozinha, o banheiro, vai cuidar da sua vida, sua ordinária. Se eu descobrir quem é você, olha só, se eu descobrir, só uma vai continuar morando na Pitangueira, viva, e esta sou eu. Sua sem-vergonha, golpista. Vai ver deve ser destas comunistazinhas que odeiam tudo.

Diário da Pitangueira 2.750 exemplares nesta edição
28 setembro
Seção de Cartas dos Leitores
- Eu, Plotácio Junqueira, venho por meio deste prestigioso veículo de grande circulação, esclarecer que está ocorrendo um mal entendido neste espaço democrático do jornal. Pode ser que em algum momento da minha atribulada e atarefada vida empresarial, tenha conhecido no sentido respeitoso e formal alguma moça da nossa sociedade de alcunha Gatinha de Frufru, fora isto, nada mais a declarar.

Diário da Pitangueira 3.000 exemplares nesta edição
05 outubro
Seção de Cartas dos Leitores
- Plotinha, eu não vou mais lutar pelo que é meu. Mas as consequências virão. Aguarde

Diário da Pitangueira 3.100 exemplares nesta edição
12 outubro
Seção de Cartas dos Leitores
- Eu, Deborah Junqueira, peço desculpas a todos pelo mal estar de estarmos diante de sérias ameaças comunistas tentando destruir o nosso lar. Amanhã poderá ser o de qualquer uma de vocês. Destruirão as famílias, a igreja, a escola e tornarão tudo permissivo e promíscuo. É pela família cristã e seus valores que grito - defendam suas casas.

Diário da Pitangueira 3.200 exemplares nesta edição
19 outubro
Seção de Cartas dos Leitores
- Como todos nesta comunidade me conhecem e sabem do meu caráter e da minha idoneidade, sabem que venho sofrendo ataques de cunho pessoal e chantagens fantasiosas por uma moça de humor diferenciado, que talvez esteja querendo promover uma manifestação mais acalorada para render assunto na nossa pacata comunidade. Pessoas assim, sempre que ganham um CARRO NOVO, que passam a residir numa BELA CASA em recatado condomínio de cunho familiar e que partem em VIAGENS INTERNACIONAIS, sempre existiram e sempre existirão. De maneira que estou apagando todo o mal entendido desta brincadeira fútil, e desde já PEÇO PERDÃO aos leitores pelo ocorrido neste espaço jornalístico.

Diário da Pitangueira 3.300 exemplares nesta edição
26 outubro
Seção de Cartas dos Leitores
- Nossa, Plotinha, que tudo!

Diário da Pitangueira 3.500 exemplares nesta edição
02 novembro
Seção de Cartas dos Leitores

- Dia dos Finados, Plotácio. Se eu ao menos suspeitar de que uma qualquer ousou interferir na nossa união sagrada, eu te mato, Plotácio, eu arranco você esfolado de dentro da sua carcaça carcomida e coloco fogo. Depois eu ainda te mato umas três vezes, pelo menos. E tem mais, assim que você ressuscitar, eu te capo. E olha só, eu ainda não engoli esta misteriosa e súbita viagem à Europa acompanhando a comitiva daquele safado daquele senador corrupto, que te fez um convite aqui em casa, na minha frente, com aquela cara porca de bandido congressista. E concluindo, se você voltar com aquele ar nonsense, vai apanhar de toalha molhada e ai de você se encostar um dedinho em mim.

É isto aí!




domingo, 16 de outubro de 2016

O Analista da Pitangueira e um caso de Obsessão



- Seu Malaquias, estamos aqui para somar, o senhor pode ficar a vontade, não tenha pressa, não tenha medo. Aqui consta que o senhor é casado, engenheiro, empresário, pecuarista, professor, escritor, enfim, o senhor são muitos.

- Sou apenas um Malaquias neste mundo, doutor. Mas diga-me, como se dá esta prática que o senhor com maestria coordena, já com fama, em todo o reino?

- Esta modalidade terapêutica que aplicamos na Pitangueira é revolucionária, única no mundo, criada por um grande analista clínico pan-holístico, diplomado com louvor pelo Colégio dos Analistas da Pitangueira, com trabalho divulgado nos melhores centros de discussão temática do planeta.

- Puxa, que coisa boa, doutor. Eu vim achando que isto aqui seria um jogo de perguntas e respostas, onde o senhor iria me tocaiando ate chegar no matadouro, mas pelo visto tem lá suas técnicas. Bom, por onde eu começo, então?

- Comece pelo motivo que o trouxe aqui. É sempre um bom começo.

- Pois é. Deu-se que Emereciana saiu de casa. E isto me deixou arrasado, magoado, taciturno, pensativo, eu .. eu ... eu acho que ficou um vazio. Fiquei ali muitos dias matutando sobre aquilo, sobre como a coisa se deu ...

- Emereciana é sua esposa?

- Não.

- Quer falar sobre ela?

- Não.

- Fale um pouco destas reflexões, que o tornaram pensativo nos últimos dias.

- Certa vez, há muitos anos, eu tinha uma namorada - muitos, muitos anos, uns quarenta anos atrás. Deu que a danada prenhou e arrumei casa pra ela, dei segurança, conforto, dei tudo que ela precisava, e continuamos ali aquela vidinha besta de sempre.

- Sua esposa?

- Não.

- Quer falar sobre ela?

- Não.

- Continue então!

- Aí passou uns dez anos daquele evento, eu estava de caso com uma moça de boa família, moça prendada, estudada, trabalhadeira, mas aí a danada engravidou. Foi de um desconforto enorme. Mas mesmo assim, dei casa, segurança, recursos mensais, poupança, e a gente acabou se aninhando pelos anos à frente.

- Foi com esta que o senhor casou?

- Caramba, o senhor é obcecado em casamento? Credo.  

- Então, há cerca de uns vinte anos atrás, eu tinha um relacionamento seguro, sadio, religioso até, com uma moça espetacular, divina, de família, um brocado de diamante com ouro. Certa tardinha de outono, nós dois ali na querência sem fim, ela acabou dizendo que tinha no ventre uma cria minha. Aquilo me deixou doido. Mas a danada estava certa, e para complicar, teve gêmeos. Dei tudo, casa, comida, segurança, recursos, conforto, e acabamos nos entendo muito bem.

- Hummm .. quer falar mais sobre isto?

- Acredito que o doutor quer saber se foi com ela que contraí matrimonio.

- Se o senhor assim desejar. 

- Olha, só para terminar o assunto - não! - ela não é minha esposa. E quer saber? Cansei. O senhor tem que se tratar. O seu caso é obsessão.

- Seu Malaquias, semana que vem no mesmo horário?

- Dá para ser mais cedo? É que eu tenho uma conversa para resolver com uma moça que está tendo um relacionamento sério comigo - moça fina. 

É isto aí!



sábado, 15 de outubro de 2016

A janela democrática

A janela lateral do meu canto remoto de realidade virtual e cibernética é muito democrática. Daqui ouço, pelas noites e dias - em alto e bom som as ondas sonoras provenientes do mundo que insiste em existir além da tela do computador. Tem crianças gritando, rindo, caminhões apressados e pessoas passando e falando, a maioria sozinhas coladas nos seus aparelhos esquisitos.

Há também os sons que chamam a minha atenção. Por exemplo, aqui perto numa obra, cujo enxadão bate às sete horas, sempre olho pela janela e vejo aqueles homens simples, uns doze ou quinze, de mãos dadas, fazendo uma prece por aquele dia. Acho aquele momento sensacional. Há ali uma manifestação de cumplicidade pela batalha daquele dia. 

Nesta obra tem um trabalhador, que ainda não identifiquei, pois fica lá dentro da área de serviço, que  nas horas de quietude do dia transforma-se em cantor lírico. Impressionante. Está ali um sujeito que poderia ter trilhado outro caminho, mas preferiu construir casas.

Há nas noites, apenas uma vez por semana, um discreto badalar do sino de um templo religioso. Neste dia só há este processo sonoro, que acredito preceder a um evento religioso. Em outras duas há o rufar dos tambores e atabaques de um outro centro religioso, além das palmas e cantoria. Têm hora para começar e para terminar. Ouço vozes graves e agudas, e a cantoria é agradável. O ritmo é interessante, não aumenta, não é provocador, enfim, duas vezes na semana, com ou sem chuva, os tambores e os atabaques batem na minha janela.

Nestas duas ocasiões que rufam, assim que cessa (imediatamente após) o som desta organização social, um outro movimento antropológico invade o ar e a janela com hinos religiosos, destes produzidos em escala comercial. Ficam ali em sons metálicos, vozes afinadas em alto (às vezes muito alto) e bom som, num ritmo entre bolero e salsa-rock. Acho interessante, por que são de uma enérgica pungência sonora. Deve haver quem deles necessite para se libertar de algo.

Em outros dois dias, escuto sempre um senhor proferindo sermões. Fala bem, voz educada, tonalidade e dicção bem trabalhadas e usufruindo do tema religioso judaico-cristão. Também cumpre um horário rigoroso, de cerca de uma hora e meia. Não há nele gritos, nem promessa de curas fantásticas nem ameaças aos que não foram contribuintes. Há nele a palavra, não solta, mas coordenada em sua crença. Tem dia que até gosto de ouvir.

Deve haver nos céus um sentido para todas estas manifestações, e da minha janela desejo a todos que encontrem e conquistem seus ideais de uma vida feliz, honesta e laboriosa.

É isto aí!




Papo de Esquina XXVIII

- Ouvi que vão prender um homem por suspeita de alguma coisa, mas parece que por falta de provas será por convicção de que supostamente possa ter de fato cometido algum delito..

- Aberratio ictus ab ovo

- Ad hoc, actore non probante, reus absolvitur

- Non omne quod licet honestum est.

É isto aí!

Tonino Carotone - Me Cago En El Amor [Official Music Video]

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

A mulher fatal

Naquela tarde pachorrenta, abafada e quente, ela entrou na sala de espera do consultório. Não tive como evitar de observá-la, dentre vários motivos, pela beleza, pela elegância e pelo corpo. Encaminhou-se à recepcionista, sussurrou algo que só as mulheres são capazes de ouvir e interpretar. A atendente respondeu no mesmo tom. Olhou-me com desdém em completo desalinho com minha querência.

Sentou na poltrona frontal, derivando na inevitabilidade de observá-la enquanto navegava no mundo virtual de seu enorme smartphone. Voltei ao meu livro - Admirável mundo novo, do Aldous Huxley, e enquanto traçava paralelos entre a ficção e a realidade nacional em tempo vigente, devorava-lhe em pensamentos bons, puros, castos e pueris, e ria da possibilidade dela preferir outros métodos que não os convencionais.

Quase duas horas sentados, os três, em silêncio tenso e tépido, ela levantou-se, foi novamente à mocinha da recepção, mais uma vez conversaram em código beta feminino de curto alcance. Desta vez o assunto requeria réplicas e tréplicas das partes. Sem olhar para mim, partiu ao desconhecido, em movimentos cadenciados, harmoniosos, felina e sensual. O rastro de seu cheiro transtornou minha paz.

A atendente desapareceu e ouço um toque de celular insistente. Percebo que está na poltrona da deusa. Aproximo, toco com cuidado como fosse extensão da sua pele. Resolvo atender para informar a alguém que a conhece que estou com seu aparelho. Para minha surpresa era o marido, que imediatamente veio ao consultório, me encheu de porrada. Naquela tarde finalmente entendi que não devo me envolver em casos onde não tenho nada com isto.

É isto aí!

Luz Casal - Piensa en mi

Anita Kelsey - Sway