quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Se o amor for a estrada pavimentada para o Paraíso, então as paixões são o que exatamente?

Em recente seminário científico na Real Academia de Ciências do Reino da Pitangueira, um dos mais destacados e renomados cientistas comportamentais discorreu sobre a tese que está preparando sobre as Paixões Humanas, sensações, sequências e consequências. O tema e título da tese foi:

"Se o amor for a estrada pavimentada para o Paraíso, então as paixões são o que exatamente?"

Na primeira fase da palestra fez citações de trabalhos já reconhecidos da ciência e em seguida abriu para a participação dos presentes, cujas respostas seriam analisadas como amostragem para suas pesquisas de campo. 

Senhoras e senhores, o que contradiz a ciência perante nossas paixões?

Cientistas, pouco dados a sentimentos humanos além das paredes de congelantes laboratórios, descobriram ou pelo menos acreditam que descobriram que a Paixão é um sentimento que aparece assim, do nada, de repente, é pouco racional e na maioria das vezes infla o peito de felicidade e satisfação, enquanto dura. 

Não é fácil entender como e por que nos apaixonamos, mas a ciência possui um modelo de compreensão que, apesar de não ser romântico, não deixa de ser fascinante.

Por que as pessoas se apaixonam?

De acordo com uma tese científica  publicada por dois renomados cientistas norte-americanos sobre a paixão, Elaine N. Aron e Arthur Aron, membros do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual de Nova York em Stony Brook, Stony Brook, o motivo pelo qual as pessoas se apaixonam é para que exerçam, inconscientemente, um processo chamado de auto-expansão, que nada mais é do que, basicamente, um meio para nosso rápido crescimento pessoal.

Ainda segundo os estudos científicos do casal, o modelo de "auto-expansão" desenvolveu-se a partir de uma confluência de pesquisas sobre atração e excitação, psicologia oriental, teoria da motivação e psicologia social das relações pessoais. O modelo trata o desejo de um relacionamento com um outro particular, como decorrente de um desejo de expandir o eu, incluindo esse outro em si mesmo, além de associar a expansão com esse outro particular.

Depois de falar sobre a "Auto-Expansão", nosso convidado citou algumas correntes filosóficas, ressaltando sempre que Paixão e Razão são realidades humanas que a filosofia já expressou inúmeras vezes seja sobre a dualidade de um corpo e uma alma imaterial ou como subdivisões entre as partes.

Ao final da excelente palestra, voltando-se para as dezenas de pessoas presentes ao evento, pediu que alguns voluntários respondessem à pergunta abaixo, num cartão que estava sob as cadeiras: 

"Se o amor for a estrada pavimentada para o Paraíso, então as paixões são o que exatamente?"

A maioria fez uma sinopse, baseados na percepção da palestra, e a última foi a que lhe chamou mais a atenção. Vejamos o que responderam os habitantes do Reino da Pitangueira que mais se destacaram. Você, leitor, poderá também participar, respondendo ou indicando a que mais gostou:

- flashes solares ofuscantes que nos cegam
- falha na programação genética
- falha na educação
- a culpa é das estrelas
- virose
- doença psico somática neuro vegetativa não contagiante
- diarreia ao volante
- quebra-molas em auto-pista, à noite, sem sinalização, com neblina e eu com os faróis ruins.
- atalhos aprazíveis para o corpo e talvez para a alma.
- atalhos doloridíssimos para o corpo e para a alma.
- prenúncio de cardiopatia grave.
- postos de abastecimento tipo Ypiranga, com tudo lá dentro
- postos de abastecimento sem apoio logístico
- postos de abastecimento com gasolina fraudada
- acostamento à beira do abismo
- abismo sem acostamento
- luau paradisíaco com quem de direito
- tesão sem freio
- temporal rápido e devastador
- temporal rápido seguido de muita chuva, raios e trovoadas
- chuva intensa e demorada com clima abafado.
- garoa que começa bem, vai ficando enjoativa vai indo vai indo e cansa
- praia ensolarada e quente no inverno
- uma crise asmática súbita
- uma engasgada desesperadora
- uma vontade doida de ficar doido
- o inesperado alucinante
- o inesperado lacrimejante
- o desespero pelo apego à vida
- o desespero por ter tomado a estrada errada
- o desespero para ninguém perceber que saiu da estrada.
- um terremoto demolidor
- um tsunami gigante
- Um choque paralisante gozoso
- Um choque paralisante duplamente gozoso
- Só um choque sei lá de que como quando e onde, mas que foi bom demais da conta.
- Um choque por eletricidade estática por um único pulso sensorial de descarga.

Por fim, o que chamou mais a sua atenção como cientista foi uma resposta complexa que considerou o Graal das Paixões dos presentes:

As paixões, quando aparecem, sempre surgem com grande poder transformador e desorganizador. Atuam feito um choque por eletricidade dinâmica, como na corrente alternada, exigindo, claro, a presença marcante dos dois polos, um positivo outro neutro, ou um positivo outro negativo, ou uma fase outro neutro, ou um preto e um vermelho, enfim, tem que ser e estar duas pessoas ali.

A sensação que uma pessoa apaixonada experimenta é a de um violento estremecimento no corpo, seguido de um calor intenso no ponto de contato. Esse estremecimento é tão mais intenso quanto maior for a tensão e a frequência elétrica apaixonantemente aplicada, enquanto que a “queima” do corpo, no ponto de contato, é tão mais forte quanto maior for a intensidade da corrente sentida. Neste caso, a corrente que flui através do corpo causa, dentro de pouco tempo, mudanças absurdas de comportamento. 

Concomitante a isto coisas estranhas, inexplicavelmente malucas e intangíveis se sucedem desordenadamente nos tecidos nervosos e cerebrais e por onde passa deixa sua marca indelével, única, exclusiva de cada um. Uns sentem dor pelo resto da vida, outros arrependimento, outros mágoa, outros saudade. A marca da paixão, no geral, é um espinho na carne. 

É isto aí!

Se Você Me Ouvisse (Nelson Cavaquinho)


SURURU NA RODA canta e encanta Nelson Cavaquinho - SE VOCÊ ME OUVISSE

Uma homenagem ao centenário do compositor Nelson Cavaquinho 

Com Hylka Maria e Isnard Manso

Direção - Léo Almeida (http://leoalmeida.com) 
Produção - Isabela Alves 
Direção de fotografia - Aurélio Oliosi 
Op. Câmera - Renan Torres 
Figurino - Dani Vidal 
Maquiagem - Edna 
Segurança CCC - Jerônimo 
Assistente de fotografia - Bicudo 
Roadie - Edson 
Site oficial do grupo: 


Se Você Me Ouvisse (Nelson Cavaquinho)
  
Se você me ouvisse
Não estaria chorando agora
Chora, chora
Vou-me embora
Vou deixar a saudade
Como lembrança
Adeus linda criança

Se ficar vou sofrer
Muito mais do que já sofri
Vou com Deus
Vou sair daqui
O nosso sonho
Chegou ao fim
Não adianta chorar por mim

O amor quando nasce
É bonito a gente ver
Que bom se não chegasse
O momento do amor morrer
É por isso que eu sinto
O meu peito tão magoado
Quando venho dizer
Que está tudo acabado

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

A memória e a cara de paisagem

Acordou numa ressaca terrível. Boca amarga, estômago embrulhando. Lembrava vagamente de ter encontrado com uma velha namorada dos tempos de escola, mas quem?? Beberam uns dois drinks, aí a cabeça rodou e agora estava ali, dormindo atrás do sofá.

Vestiu a roupa e resolveu sair de casa cedo, ainda amanhecendo, para não ter que dar satisfação. Chegou na esquina e deu por falta dos óculos. bateu a mão aqui, ali e confirmou que faltavam. Retornou automaticamente, entrou em casa, foi na cozinha e descobriu que a carteira estava sobre a geladeira. Verificou no bolso de trás e aquilo era real, a carteira não havia saído com ele.

Foi até o banheiro buscar o óculos, agora com a carteira no bolso. Encontrou o celular carregando sobre a pia. Pegou quase que com agilidade felina, olhou para o ambiente externo para se certificar que ninguém mais havia visto, apagou todas as conversas pela dúvida, e guardou o aparelho no outro bolso traseiro.

Os ósculos ... que isto, que ósculos, riu sozinho e em silêncio. Os óculos, onde deixei os óculos. Foi até a sala, onde acreditava te-los deixado. No sofá, a camisola de seda azul clara, a lingerie e a saudade estavam cuidadosamente acomodadas sobre as almofadas. Cheirou as peças lentamente, uma a uma, a memória materializou uma mulher que fora responsável pela melhor noite da sua vida. Deve ter sido um sonho, pensou.

Foi retirando as almofadas lentamente, uma a uma, e descobriu seu relógio sob uma delas, deu um leve sorriso da cena. Nada dos óculos. Resolveu olhar sob o sofá e percebeu que sua cueca estava ali, depositada no chão. Balançou a cabeça negativamente e deu um longo suspiro, recolheu a peça colocando-a no bolso dianteiro da calça. Levantou-se, puxou o sofá para o seu lado, e pelo barulho levou a mão direta ao anelar esquerdo - a aliança havia caído. Ainda rodopiava quando a prendeu entre os dedos e retornou-a ao local de origem.

Meus óculos ... meus óculos .... quando sentiu que não estava sozinho. Pausou a respiração, foi levando lentamente o olhar para a lateral esquerda, em seguida o pescoço no mesmo sentido, depois o tronco em perfeita sintonia e por fim o quadril fez a rotação.

Deu de cara com a vizinha, com olhar assustado e uma coberta sobre o corpo. Que merda é esta, Palhares? O que você está fazendo na minha casa às, deixa eu ver ... cinco e quarenta e cinco da manhã?

Sua casa? Esta casa é sua casa, Neuzinha?

Sim, minha casa. Geraldinho, vem cá para ver o Palhares com cara de retardado aqui dentro da nossa casa. O sujeito veio numa cueca ridícula, olhos inchados - olhou bem prá ele. Que coisa feia, hem Palhares, bebendo logo cedo.

Eu bebendo? Não, eu, olha gente, desculpa, eu saí cedo de casa, esqueci meus óculos e voltei para buscar, e entrei na casa de vocês. Eu bebi ontem, engraçado, não me lembro de muita coisa. Esquisito. Não foi com você que eu bebi não?

Palhares, você está maluco. Eu cheguei de viagem muito cansado mesmo, devia ser umas cinco horas da manhã e fui direto dormir no quarto das crianças para não acordar a Neuzinha. Francamente, Palhares, beber até esquecer dos óculos. 

Gente, desculpa mesmo.

Tem nada demais, Palhares, a gente entende, não é Geraldinho? 

Sim, Neuzinha, isto é esquisito, mas acontece, Palhares. Vá pra casa, vai, com certeza seus óculos estão lá.

Gente, que coisa maluca, ok, vou lá em casa. Mas engraçado, estou sem as chaves.

Neuzinha, você que está vestida, acompanha o Palhares até à porta, que eu vou tomar um banho.

Neuzinha fez cara de paisagem e acompanhou Palhares até a porta, e sussurrou - quem sabe as chaves não estão junto com os óculos no porta luvas do seu carro, que você  deixou aberto na pressa de  chegar em casa?

Hummmm, na hora que eu cheguei .... hummmm.

Vem nos visitar mais vezes, Pahares, disse entre sorrindo e entre mordendo os lábios, mas sem bebida e sem pressa, hem!!!

É isto aí!

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Amanda Lopes de Freitas na Pitangueira

Ao dar uma olhada na lateral, nas pessoas que admiro, vai bater os olhos numa moça que aprendi a admirar mesmo nos últimos dois anos que sigo seu blog, primeiramente de forma anônima, se é que existe isto na rede, e agora de forma oficial.

Seu blog "Sofia de Boteco" é de uma densidade humana intensa. Visite aqui:
 http://sofiadebuteco.blogspot.com.br/

A moça se apresenta paulista mas tem uma mineiridade ad aeternum coisada pelos trens, uais e coisas outras daqui.

Amanda Lopes de Freitas, nome forte, tem pegada firme, com leitura tônica em prosas e versos. Seja bem vinda, Amanda, do fundo do meu coração.

Um abraço

Paulo Abreu

Sobre canalhas e maus-caracteres

Jorginho era um canalha mau caráter, com certeza. Além disto o cara jogava o fino da bola, não perdia um carteado e só andava com mulheres lindas. Passado o tempo descobri que a fama não condizia com a pessoa. Era só coisa de inveja mesmo. Trabalhador honesto, fez carreira no comércio varejista, hoje é casado, pacato e tranquilo.

Madalena era a feição do mau caratismo, esquisita, emburrada, complicada, mil defeitos, estranha e só andava sozinha porque não gostava de companhia nenhuma, pois se julgava superior, segundo se comentava nas mesas e rodadas de conversas fiadas. Um dia a encontrei numa destas viagens repentinas. Tinha nada disto. Um moça maravilhosa, tímida e reprimida. Rolou um clima, mas isto ficou só entre nós, sabe como é, tímida, discreta ...

Zé Bernardo era o cara. Tipo assim, todo mundo gostava dele. Atencioso, educado, prestativo, elegante, inteligente, sempre com um papo agradável. Namorava sério com Lourdinha, a moça mais linda do bairro, raramente bebia, não tinha vícios conhecidos. Enfim, Zé Bernardo era o tipo que todo mundo tinha orgulho de ser amigo. Um dia foi enquadrado na lei por transações internacionais de pessoas e de coisas que alucinam.

Meire tinha uma carinha de anjo, uma coisa angelical. Meu deusinho dos corpos perfeitos, que perfeição era aquela? Todo mundo amava Meire que amava todo mundo. De certa feita acabei me apaixonando e ela educadamente me fez entender que aquilo não iria dar certo e nos tornamos amigos. Um dia soube que estava envolvida em esquema ponzi internacional, junto com lideranças políticas e sociais e ela era quem liderava e coordenava em várias partes por aí.

Martins Ribeiro era um tremendo cara de pau. Andava feito malandro, falava feito malandro, gingava feito malandro, vestia feito malandro.  Martins Ribeiro tinha uma arte que ascendeu num determinando momento, foi ser artista plástico, fez fama e fortuna honestamente, sempre preservando aquele jeito matreiro.

Flavinha Coxas, o sobrenome era em função das pernas, uma coisa do outro mundo. Tinha ar, cara, jeito, estilo e olhar de garota de programa. Todo mundo falava - aquilo ali é mulher da vida. Flavinha no fundo d'alma se abalava com aquilo, pois a pobreza não lhe permitia roupas e poses encaixadas na sociedade. Flavinha foi à luta, estudou, graduou, pós-graduou, fez tese, defendeu sua vida e hoje salva vidas. 

Bento Thascarowisk era um beato da igreja. Ministro da Eucaristia, secretário da paróquia, zelador das contas da comunidade, palestrante de encontros da fé, de preparação de casamentos e de batizados. Sério, sempre discreto. Não havia ninguém que não gostasse e respeitasse Bento Thascarowisk. Um dia a lei o encontrou chefiando uma quadrilha local, braço de uma rede internacional de pedofilia.

Fulaninha não era nem melhor nem pior do que ninguém. Nunca roubou, nunca fez maldades, nunca prejudicou o próximo, nem promoveu desconforto entre seus conhecidos, nem teve fama disto ou daquilo. Só entrou aqui para mostrar que a vida tem pessoas lindas também, apaixonantes, sem rótulos e sem contrastes. 

É isto aí!

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Amor cortês em tempos cibernéticos

O rapazote pensou em escrever uma carta de amor durante toda a semana. Sim, uma carta, nada de e-mail, mensagem, twitter, whatsapp, facebook, messenger, instagram, snapchat e outras destas maravilhass cibernéticas de relacionamento asséptico.

Pensou, pensou, sim, iria escrever a carta da sua vida para Vivi, a razão da sua vida, a quem transformaria em rainha do seu reino. Na manhã do sábado pegou uma folha de papel ofício A4, colocou-a sobre a mesa e de caneta à mão iniciou com a tentativa de uma abertura clássica, como se aquela fosse a partida de xadrez que disputasse o título mundial - cada jogada era de extrema relevância.

Hummm, como escrever o cabeçalho ... hum .... humm, já sei, vou pesquisar no Google. Achou aquilo confuso. Deve existir uma maneira mais fácil, imaginou. Ah! Claro, vou pesquisar sobre modelos de cartas de amor no Google. Gênio!!! Eu sou um gênio!!! Gêêêêêniiiiiooooo!!!!! Vou fazer uma busca, selecionar uma bem bonita e ela nem vai saber de onde saiu, e vai saber que eu a amo para toda a vida. Humm, achei - olha só, mas está perfeita, vou até anotar a fonte para não esquecer, vai que poderei mandar outras para ela.


Querida Vivi,

Desde que você surgiu no meu caminho, tornou-se impossível para mim imaginar a vida sem a sua presença constante. Quando você não está por perto me vem uma profunda sensação de vazio, um estranho sentimento de vácuo, de total desorientação.

Sem você falta-me o chão, falta-me a segurança que você me transmite através de um simples sorriso de concordância ou consentimento, falta-me sempre a certeza de estar fazendo o mais correto ou o melhor. Sem você também faltam-me o céu e os sonhos. É da sua presença que me vem a inspiração para projetar o futuro ou mesmo a força para ultrapassar as dificuldades cotidianas.

Minha vida é o meu amor. É por ele que eu procuro me fazer melhor a cada dia, é por ele que eu me faço uma pessoa mais carinhosa e gentil, e é nele que meus pulmões encontram a força para respirar e me manter vivo.

Meu amor é alguém especialmente maravilhoso. É ele quem mais me admira as virtudes e quem mais me compreende os pecados, vícios e manias que carrego.

Meu amor reconhece nossas afinidades e respeita as nossas diferenças. Sabe me trazer calma e paz. Toca-me a alma com doçura e generosidade, e sem ele o Existir não teria mais sentido para mim.
Minha vida é o meu amor. E o meu amor é você.

Muitos beijos,
Do seu amor!!! Eu!

Colocou no Correio logo na segunda de manhã. Agora era só esperar a resposta. Nossa, como estou feliz, pensou enquanto esfregava as mãos. 

E a resposta ... nunca veio. Nunca se perdoou por não ter postado via sedex, soaria mais moderninho e seria mais rápido. Enquanto isto Vivi se achava feliz para sempre em suas relações assépticas com tipos assépticos e contatos de terceiro grau com tipos interessantes. 

É isto aí!

domingo, 19 de novembro de 2017

Está ruim respirar em Bananaland

Está ruim respirar em Bananaland e  a tendencia será piorar. Sinistros se articulam com ratos e hienas nos labirintos dos esgotos da podridão. Povilhos retardados demonstraram ao seu mundinho telectual (mantenho telectual mesmo) que só se atrevem a manifestações que sejam misóginas. 

Bem, aos misóginos parte de seus interesses foram atendidos, sem gozo e sem prazer, como deve ser à mulheres de respeito e notoriedade deste grande e retardado ser deitado eternamente em berço ... ai ai, nem nisto cresceu (será tara? fetiche?).

2018 será pior do que 2017 que foi pior do que 2016. Teremos mais uns seis a oito anos de pioridades (Você leu prioridades? volte lá - está escrito PIORIDADES), de fudeções (ou fudessões?) sociais e de destruição da civilidade cidadã. Ok, O problema nunca foram o ladrões, os cafajestes, os canalhas, o mau caratismo, as safadezas, os desvios, as espertezas. O problema é a soberba, a gula, luxúria, avareza, ira, preguiça e a inveja. De todos o pior é a soberba.

Estes pecados não são provenientes do demônios que habitam esta Via Láctea, por isto são capitais. O termo “capital” deriva do latim caput, que significa cabeça. Da sua, da minha, do bandido mor, das putas, dos putos e dos seus filhos amados idolatrados que tomaram Bananaland de assalto, etc e tal.

Segundo a Tradição Católica, desde os primórdios, devido ao Livre Arbítrio, o ser humano pode em seus desejos mais íntimos e pessoais se deixar levar por um destes sentimentos, e o que agravará a situação é a intensidade da realização do desejo. Afinal, é ele, o desejo, que abre a porta para o inferno - simples assim - até o mal só entra quando convidado. Eva desejou ser uma deusa, e desde então a soberba é considerada a mais grave de todos os pecados capitais.

Cretinus, o Velho - governanto em exercício da mal de Bananaland desejou ser um César, e sinceramente, nada nada não é nada mesmo. 


Soneto da perdida esperança (Carlos Drummond)

Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.

Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora.

Não sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não?na noite escassa

com um insolúvel flautim.
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno.

É isto aí!

Jessier Quirino - Quer ver matuto humilhado é tá doente das partes



No tronco do ser humano,
Nos "finar" mais derradeiro
Tem uma rosquinha enfezada
Que quando tá inflamada
Incomoda o corpo inteiro
Se tossir, se faz presente
E se chorar se faz também

O "cabra" não pode nada
Com nada se entretém
Eu lhe digo, meu "cumpade"
Não desejo essa "mardade" pra rosca de seu ninguém

Não sei o nome da cuja
Desta cuja eu tiro o ja
O que resta é quase nada
Bote o nada na parada
Quero ver tu agüentar

Eu lhe digo meu "cumpade"
Que é grande humilhação
Um cabra do meu quilate,
Adoecido das parte,
Fazer uma operação

Não suportando mais dor,
O meu ato derradeiro
Foi procurar um doutor
Do bocado arengueiro

Do bocado arengueiro,
Feijoeiro, fiofó, bufante,
Frescó, lorto, apito,
Brote e bozó.
De furico, fedegoso,
Piscante, pelado, boga,
Fosquete, frinfra, sedém
Zueiro, ficha, vintém,
De ás de copa e de foba.
De oiti, "oi" de porco,
"ané" de couro e cagueiro,
De girassol, goiaba,
Roseta, rosa,
Rabada, boto, zero,
"miaieiro", de nó dos fundo,
Buzeco, de sonoro e pregueado,
Rabichol, furo, argola,
"ané" de ouro e de sola,
Boca de "veia" e zangado

Um doutor de aro treze,
De peidante e zé de boga,
Que não aperte o danado
Nem deixe com muita folga, "né"?
Um doutor "picialista" em bocada tarraqueta,
Doutor de quinca, dentrol,
Zé besquete, carrapeta
Doutor de rosca,
Rosquinha, tareco,
Frasco e obrón
Ceguinho, botico, zero,
Tripa gaiteira, fonfom,
"miaieiro", mucumbuco,
Boraco, proa, polgueiro,
Forever, cloaca, urna,
Gritador, frango e fueiro

Cano de escape, pretinho,
Rodinha, x.p.t.o.,
Zerinho, "subiador",
Tripa oca e fiofó
Um doutor de elitório ou de boca de caçapa
Que não seja inimigo,
Também não seja meu chapa
Tratador de canto escuro,
De boréu e de cheiroso,
De formiróide alvado,
De parreco e de manhoso,
De xambica e sibasol,
Apolônio e fobilário,
Bilé, brioco e "roxim"
Fresado, anilha e cagário
Vaso preto, zé careta,
Olho cego e espoleta,
Fuzil, fioto e foário

Não é doutor de ovário,
É doutor de orió!
De cá pra nós e bostoque,
De futrico e de ilhó,
De coliseu e caneco,
Roscofe, forno e botão
De disco, de farinheiro,
De jolie, fundo e fundão,
De cuovades, fichinha,
Que não vinha com gracinha
E que não tenha o dedão.
Um doutor de zé de quinca,
Canal dois e cagador
Buzina, vesúvio, cego,
Federais, sim senhor
"fagüieiro", zé zoada,
Rosquete e fim de regada
Eu só queria um doutor!

O doutor se preparou-se,
Parecia galileu
Aprumou um telescópio
Quem viu estrela fui eu
Ele disse:
"arriba as pernas"
Eu disse:
"tenha calma, sonho meu"
A partir daquela hora,
Perante nossa senhora,
Não sei o que "assucedeu"

Com as forças da humildade,
Já me sinto mais "mior"
Me desejo um ânus novo,
Cheio de "velso" e forró
E pros "cumpade", com franqueza,
Desejo grande riqueza:
Saúde no fiofó.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Saudade sem fim

Sua imagem
estática
está fixa
feito magia
no meu interior

incauta incensa
minh'alma
feito lua
circundando nua
num planeta azul

Baile, dance
lance seu corpo
balance ao vento
do éter ao medo
do medo ao amor 

Eu te amo 

(é isto aí!)


quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Casos do Analista da Pitangueira - Euzite

Sabe, doutor, eu sofro de euzite.

Eusite? Interessante.

O senhor entendeu Euzite com Z ou Eusite com S?

Eusite, com s.

Foi o que imaginei. Então o senhor não é o mais indicado para o meu problema.

Seu problema então é euzite com z. E como foi diagnosticado, só a nível de curiosidade.

O senhor quer mesmo saber?

Sim, claro.

Foi a ... espere, como posso saber se posso confiar no senhor?

Bem, comecemos por você ter pago adiantado para estar aqui.

Então é só pagar que cabe a confiança mútua?

Mútua? Não, cabe a relação analista-paciente, que é sagrada.

Doutor, isto é muito pessoal, não sei se posso falar sobre este assunto.

Podemos começar por questões mais superficiais, sem precisarmos aprofundar.

Sabia, quer saber de tudo, hem ... quer dominar as paradas aí, hem doutor?

Dominar? Quem você imagina ser para questionar um profissional desta maneira?

Eu? Não imagino, pois eu sei quem sou.

Sabe? E quem você é?

Deus.

Deus? Então prove.

Sou onipotente, onipresente e onisciente, e isto me basta. Não tenho motivo para provar o que sou, eu sou o que sou e isto me basta.

Mas você é um deus com sofrimento de euzite? Como assim? Isto é um paradoxo.

Doutor, meu tempo não é seu tempo, mas semana que vem te atendo no mesmo horário.

Ahn?? Como? Espere ...

Não se esqueça doutor, um dia são mil dias e mil dias são muito tempo, então sou do tempo em que o tempo tinha tempo. Semana que vem no mesmo horário.

Está bem.

Pode ir doutor, estarei atendendo o próximo, sua fé te salvou.

Sai, sai sai sai sai. Sai, fora!!!!

Não precisa expulsar, destrua este templo e ele .. ai, ui, ai, que é isto, que violência é esta, doutor?

Fora ... ufa, mas o que é isto? Há um só deus aqui e ele sou eu dentro deste consultório ...

É isto aí!

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Verás que os filhos apátridas fogem à luta.

Ando desanimado de escrever. Dia destes subi a Colina do Bom Senso para avistar Krypton. O que vi me assustou. Krypton atingiu o momento kafkaniano, que Kafka definiu em um dos seus aforismos de Zürau assim: "A partir de um certo ponto, não há retorno. Este é o ponto que é preciso alcançar".

Por mais desesperador que seja, será impossível retornar ao que era. Esta nova era, uma complexa mistura do pensamento de Adam Smith com a nata branca nativa, veio à fórceps, sem anestesia, sem dilatação e sem interesses nacionais à frente. Krypton foi vítima de um estupro. Grávida do violador da sua inocência, não só teve a gestação compulsoriamente determinada como o parto gerou o que está aí - um filho nascido sob o domínio ódio e da violência, em cima de pedaladas que não seriam por si só capazes de gerar um feto de natureza apátrida, e os filhos apátridas fogem à luta.

Krypton derreterá feito sorvete ao sol, lambuzando a todos e perdendo o sentido da degustação. Não há a curto prazo nenhum ato que reverta tal coisa. Tudo continuará como está, só que haverá paz nas mídias sociais, no jornais e nas rádios. A violência estará oculta, a pobreza proscrita, a educação silenciada, a saúde depauperada, os riscos sociais banidos e o Paraíso estabelecido com amor, ordem e progresso, tudo conforme profetizou Mago Juca - a sangria será estancada e todos viverão felizes para sempre.

Enfim a impoluta madona, ampla geral e restrita, cederá aos caprichos dos homens de bem. A casta secundária que bancou esta mutação levará pelo menos dez anos para entender em qual cumbuca enfiou a mão, e aí haverá choro e ranger de dentes e seus filhos, as maiores vítimas desta coisa chamada tal-tal karaíba, verão o novo céu e a nova terra de Krypton, onde a riqueza se distribuirá no mínimo para todos e no muito só para a diretoria.

É isto aí
ps - desanimado prá caramba e tal qual Fernando Pessoa, perdi a esperança como uma carteira vazia...

Perdi a esperança como uma carteira vazia...
Troçou de mim o Destino; fiz figas para o outro lado,
E a revolta bem podia ser bordada a miçanga por minha avó
E ser relíquia da sala da casa velha que não tenho.
(Jantávamos cedo, num outrora que já me parece de outra incarnação,
E depois tomava-se chá nas noites sossegadas que não voltam.
Minha infância, meu passado sem adolescência, passaram ,
Fiquei triste, como se a verdade me tivesse sido dita,
Mas nunca mais pude sentir verdade nenhuma excepto sentir o passado)
17-12-1927
Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993.  - 72.

domingo, 12 de novembro de 2017

Se Correr o Bicho Pega (Juraildes da Cruz)

Alto lá
Este poema não é meu
Autor: Juraildes da Cruz 



Eu pensei correr de mim
Mas aonde eu ia eu estava
Quanto mais eu corria
Mais pra perto eu chegava

Quando o calcanhar chegava
O dedão do pé já tinha ido
Escondendo eu me achava
E me achava escondido

Só sei que quando penso que sei
Já não sei quem sou
Já enjoei de me achar no lugar
Que aonde eu vou eu estou

Eu pensei correr de mim...

Estou pensando tirar férias de mim
Mas eu também quero ir
Só vou se minha sombra não for
Se ela for eu fico aqui

Um dia desses sonhando
Eu pensei: não vou me acordar
Vou me deixar dormindo
E levanto pra comemorar

Eu pensei correr de mim...

O espelho me disse
Só tem um jeito pro assunto
Não adianta querer morrer
Porque se morrer vai junto.

Se correr o bicho pega
Mas se limpar o bicho some
Tem que desembaraçar
O novelo da vida do homem

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Diálogos

Alto lá, este diálogo não é meu
Copiei e colei
Autor Lewis Carroll
Alice no país das maravilhas

Meu Deus, meu Deus! 
Como tudo é esquisito hoje! 
E ontem tudo era exatamente como de costume. 
Será que fui eu que mudei à noite? 
Deixe-me pensar: 
eu era a mesma pessoa quando me levantei hoje de manhã? 
Estou quase achando que posso me lembrar de me sentir um pouco diferente. 
Mas se eu não sou a mesma pessoa, a próxima pergunta é: 
Quem é que eu sou? - Ah, essa  é a grande charada!


Corações e Mentes




Hearts and Minds (Corações e Mentes, em português) é um documentário de 1974 sobre Guerra no Vietnã, dirigido por Peter Davis. Considerado um dos mais importantes documentários políticos da história do cinema, Corações e Mentes levou o Oscar de Melhor Documentário em 1975.

Das cerca de 200 horas rodadas, Davis aproveitou 112 minutos. Apoiando-se em rico material de arquivo e depoimentos com personalidades políticas, ex-combatentes estadunidenses e sobreviventes vietnamitas colhidos nos anos de 1972 e 1973 - além de inserções de trechos de filmes de Hollywood -, Corações e Mentes procura demonstrar que o militarismo exacerbado e racismo intrínsecos à cultura estadunidense levaram os Estados Unidos ao extenso conflito no Sudeste Asiático. A meta de Davis é investigar os corações e as mentes dos norte-americanos.

O filme expôs as devastadoras conseqüências humanas deste conflito, que matou mais de um milhão de vietnamitas - a maioria civis - e 45 mil soldados norte-americanos. Davis é reconhecido como o primeiro documentarista a dar voz ao "outro lado" da história - no caso a população civil vietnamita, as maiores vítimas. Os efeitos nefastos da guerra sobre os vietnamitas são um dos pontos de fortes da obras, que traz imagens de impacto sobre a dor e a indignação de pessoas que perderam filhos em bombardeios de aviões norte-americanos, ao mesmo tempo a resistência deste povo.

O título do documentário foi retirado de uma famosa frase do presidente norte-americano Lyndon B. Johnson ("A vitória da América dependerá dos corações e mentes das pessoas que moram no Vietnã."). Segundo Judith Crist, crítica e professora de escrita analítica da Universidade de Columbia, Corações e Mentes mudou a história dos documentários políticos.

Assista no Youtube no seguinte endereço:

Postado no Youtube: Corações e Mentes em 28 fevereiro de 2018
 





domingo, 5 de novembro de 2017

Chantal Chamberland - Smoke Gets in Your Eyes

You can leave your hat on (Milk'n Blues)



Fonte da imagem: Spotify
Fonte Youtube: Milk'n Blues

A banda de Blues de Curitiba-PR - Milk’n Blues - traz uma mistura de Blues, Rock, Pop, Soul e Funk; através de um repertório variado e em versões e arranjos originais da banda. O grupo também apresenta várias músicas de sua autoria, as quais fazem parte do setlist dos shows e também do seu primeiro álbum, lançado em 2015.

O sexteto apresenta uma formação diferenciada, tendo 3 vocalistas principais, o que permite cobrir um repertório vasto, além de trazer dinamicidade às apresentações. O instrumental simples, formado por bateria, baixo, guitarra e gaita harmônica, é acompanhado de arranjos vocais onde todos os integrantes participam. 

Fazer versões inusitadas de músicas da cultura Pop sempre foi marca registrada da Milk’n Blues desde o seu início em 2011. Então, além de clássicos do Blues como BB King e Eric Clapton, o público pode conhecer versões “abluesadas” de músicas de artistas como Britney Spears, Madona e Cee Lo Green. 

A banda se apresenta em bares, casas noturnas, festivais de música, eventos culturais e programas de rádio e de TV. Residente em Curitiba – PR, a banda já passou por cidades de Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. 

De Beatles a Rolling Stones, de Joss Stone a Stevie Wonder, a Milk’n Blues dá uma cara nova aos clássicos e um Blues a mais a tudo que toca, sempre de um jeito diferente e divertido.


Dessa vez a Banda traz um dos hits da carreira do britânico Joe Cocker. "You Can Leave Your Hat On", composição de Randy Newman, faz parte do álbum entitulado "Cocker", lançado em 1986. A música também compõe a trilha do polêmico "9½ weeks", em que é pano de fundo para uma cena com Kim Basinger. Aqui na voz do nosso grande Tiago Juk, esperamos que gostem!

Áudio:
Gravado, mixado e masterizado por Paulo Bueno em Click Audioworks
Vídeo: Vinícius Lima

Milk'n Blues:
Aline Mota: Backing Vocal
Eduardo Machado: Baixo e Backing Vocal
Leandro Lopes: Gaita Harmônica e Backing Vocal
Piatan Sfair: Bateria
Tiago Juk: Guitarra e Voz
Zia Leme: Backing Vocal

Cabelo Zia Leme: Flávio Vanin
Maquiagem Zia Leme: Nágela Martins
Maquiagem Aline Mota: Lilly Prado



quinta-feira, 2 de novembro de 2017

''Lua Branca'', por Seresteiros de Diadema

Valsa da Dor [Villa-Lobos] com Arthur Moreira Lima, Elomar, Heraldo do Monte e Paulo Moura




CONSERTÃO - Elomar, Arthur Moreira Lima, Paulo Moura e Heraldo Do Monte
Gravadora: Kuarup
Catálogo: KLP-008/9
Ano: 1982
Artistas: Diversos / Heraldo do Monte / Arthur Moreira Lima / Paulo Moura / Elomar
Fonte do Youtube: Kuarup Produtora

A Valsa da Dor: A Valsa da Dor foi composta em 1932. Nela, Villa-Lobos brinca com a ideia de uma “valsa em 4 tempos” ao sobrepor uma melodia em compasso binário a um acompanhamento ternário. Nota: Todos os trechos citados são de autoria de Manoel Corrêa do Lago e foram retirados do encarte do CD Brasileiro, de Nelson Freire.


Compositor Villa-Lobos, Heitor
Ano/Data da composição 1932
Primeira execução 1939/11/27 in Rio de Janeiro
José Vieiro Brandão (piano)

Intérprete: Elomar, Arthur Moreira Lima, Paulo Moura e Heraldo Do Monte
Álbum: Consertão 
Ano do lançamento: 1982




Papo de Esquina XLII

- E o sinistro da justiça, hem? Falou que isso tudo e aquilo tudo estão contaminados com o crime.

- E aquele estranhíssimo sinistro das relações chancelares que recebeu uma propina gorda, segundo a dona Charger RT?

- E a sinistra dos direitos humanos reclamando um aumentozinho real de mais quarenta mil reais?

- Sinistro ... tudo muito sinistro ...

É isto aí!

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Odete, a única one-woman show com duplo carpado de Brasília

Recebi logo de manhã a chamada de Odete. Confesso que isto foi contrário a toda a extensa relação que vivemos nos últimos anos, com suas chamadas noturnas. Desta vez sua voz era pálida, tensa e desregrada de alegria.

Conta a lenda em Brasília que no auge da doação das coisas federais aos amigos dos amigos dos amigos insuspeitosíssimos no interesses da coisa privada, Odete foi chamada para animar um petit comité de exclusivos gaiatos de determinado maestro mor da orgia nacional. Em lá chegando com sua discreta vestimenta romana de domínio público, viu tanta sacanagem privada que se sentiu impotente com tamanha concorrência e aquele foi, segundo consta, o único dia frustrante da sua notável carreira de one-woman show. Nunca mais aceitou os incansáveis convites para retornar à famosa mansão do maior defenestrador tabajara de todos os tempos - aos amigos dizia que se sentia enojada de tanta sacanagem junta.

- Odete?! Adoro ouvir sua voz!!

- Oi amor.

- Caramba, o que está acontecendo, querida?

- Nada e tudo, não é?

- Humm, está séria hoje, melhor não brincar. Me conte, Odete, o que a fez ficar assim?

- Demorou ... como sabe, amore, eu não faço delação premiada, eu só falo a verdade.

- Sim, claro, eu sei e sei muito bem mesmo.

- Então! Outro dia estava fazendo um movimento duplo sanduíche carpado com a Cíntia, minha manager de aberturas estéticas psico-emotivas neuro-trans-sensoriais, quando de repente, assim do nada ela ...

- Espera, Odete, meu bem - o que vem a ser um duplo sanduíche carpado?

- Credo, vai dizer que você nunca viu nada a este respeito? Que vidinha mais ou menos esta sem euzinha ao seu lado, hem?! Primeiro que só funciona com duas fêmeas cis do sexo feminino duplo X. Tudo bem até aí?

- Se você falou, acredito.

- Então, meu bem, vamos por etapas. O carpado é um movimento executado com o corpo dobrado nos quadris, pernas esticadas sem flexão dos joelhos e pés distendidos - movimento anatomicamente feminino.

- Interessante, Odete ...

- Nossa, que bom que gostou. O duplo é claro, duas moças com capacidade olímpica e o sanduíche é a forma como se vê o movimento, entendeu, meu bem? É uma modalidade olímpica personal íntima.

- Ah, agora eu acho que consegui imaginar a cena. Desculpa a interrupção.

- Não, tudo bem, você precisa vir me ter em Brasília para te mostrar o carpado twist pivotante que guardei só para você (gargalhadas).

- Finalmente ouço alegria sair da sua boca, Odete. Carpado twist pivotante ... carpado twist pivotante ... uau uau uau ...

- É por você, amore, e este calor abrasador de Brasília. Vem, amore, vem me ter.

- Mas, voltando à Cíntia ...

- Ah, é, então, pois é. Estávamos lá em movimento sincronizado do carpado sanduíche quando do nada entrou na nossa academia uma mulher bela, recatada e do lar.

- Aquela?

- Não, aquela não frequenta movimentos sincronizados. Mas foi outra, Débora K. Já falei dela?

- Não que eu lembre, Odete.

- Débora K. foi causa protagonizadora de ação cinematográfica, discreta e compulsória de tradicional família endinheirada, rica e poderosa das terras tupy-guaranys, cuja filha fora casada com um alto escalão das Esplanadas que teve um caso sinistro com a moça. A família da esposa deu a Débora K. uma aposentadoria milionária enquanto o ex-marido ex-super tudo do Planalto saiu para um retiro espiritual despojado de valores materiais, no Nepal.

- Que coisa, hem. No Nepal, hem??

- Bobo, você entendeu. Débora K. nos contou que estava em fantástica festa de Madame V., uma hostess incrível da Asa Norte, em requentado endereço de triste memória para uns ainda por aí. Madame V. confidenciou-lhe que escutou uma bomba de Karla T., uma mocinha também de família tradicional da elite financeira do Plano Piloto, disputadíssima no mercado imobiliário por ter desenvolvido uma técnica peculiar de pompoarismo única, exclusivamente para atender aos reclames dos velhinhos hipertensos da Esplanada que passam ao largo das azuizinhas.

- Uau ...

- Alto lá, querido, você pode abaixar o facho, você só vem a Brasília para me ter e só isto, hem!!

- Foi a empolgação, Odete, você é a mulher da minha vida.

- Ah, bom! Bem, Karlinha T. contou que estava atendendo aos reclames e babados literais de um dos velhinhos da turma do "você sabe quem", e no embalo da empolgação ele sussurrou estasiado que o sonho dele era ter também uma samantha do lar.

- Samantha do lar? O que é isto, Odete?

- Nossa, tenho que te ensinar tudo. Samantha é uma boneca de alta bionanotecnologia, que responde a estímulos com discernimento, tal qual uma imaculada bela, recatada e do lar.

- Credo, então desejam ficar mil anos e para isto estão querendo até clone da ...

- Não falei nada, não disse nada, não sei de nada, qualquer coisa que disser, pensar ou ousar pensar é sob a sua única e absoluta responsabilidade. 

- Puxa vida, Odete ...

- Ai, amore, para tudo, vem me ter em Brasília, vem, vem depressa, vem sem medo ...

- Eu ... eu ... eu ... alô! alô?! merda, logo agora foi acabar a bateria ...

É isto aí!