quinta-feira, 30 de março de 2017

Ausência ( Vinícius de Moraes)


Vinicius de Moraes (1913-1980) foi um poeta significativo da Segunda Fase do Modernismo. Ao publicar sua Antologia Poética, em 1955, admitiu que sua obra poética se dividia em duas fases:

A primeira fase é onde se encontra o poema Ausência, publicado em 1935, no livro de poesias "Forma e Exegese". Esta fase, segundo Vinícius, era carregado de misticismo e profundamente cristã, e começou com  a publicação  O Caminho para a Distância (1933), e terminou com a publicação de Ariana, a Mulher (1936).

A segunda fase, iniciada com Cinco Elegias (1943), assinala a explosão de uma poesia mais viril. “Nela – segundo ele – estão nitidamente marcados os movimentos de aproximação do mundo material, com a difícil, mas consistente repulsa ao idealismo dos primeiros anos.”

É considerado até hoje como um dos maiores compositores da história da música popular brasileira, além de ter sido um dos fundadores da Bossa Nova, movimento musical surgido nos anos 50. Foi também dramaturgo e diplomata.

Ausência (Vinicius de Moraes)

Eu deixarei que morra em mim
O desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar
Senão a mágoa de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença
É qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto
Existe o teu gesto e em minha voz a tua voz
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim
Como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar
Uma gota de orvalho
Nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
Como nódoa do passado
Eu deixarei
Tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos
E tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu
Porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite
E ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa
Suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado
Eu ficarei só
Como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei como ninguém
Porque poderei partir
E todas as lamentações do mar
Do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente
A tua voz ausente
A tua voz serenizada

páginas 40 e 41
Editora Irmãos Pongetti
Rio de Janeiro, 1935


Poema Ausencia de Vinicius de Moraes - Declamado por Feneté
Fonte Youtube: Feneté



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