Ganhou metade da metade de uma fatia de salame bolonhesa, dividido em parcimônia entre os três silentes. Dobrou-a e encaixou no pão seco e velho, no qual já havia passado um pouco de óleo de cozinha muitas vezes reutilizado e fatias finas de alho. Recostou numa parede úmida e fria, com sinais de abandono e bolor. Segurou a caneca com a mão esquerda trêmula, colocou o pão no chão e segurou a garrafa de vinho quase no fim mergulhando o último gole da bebida.
Deixou a garrafa, calmamente, no chão. Suspirou em senso profundo e agradeceu pelo sagrado daquela comunhão divina entre o alimento e o homem. Enquanto apreciava cada milímetro da comida, bem como do vinho, pensou nos campos de soja que conheceu e que geraram aquele óleo, nas mulheres colhendo o alho, cantando, nos infinitos pés dourados de trigo, semeados um a um por mãos nuas e calejadas como testemunhou na infância.
Sorriu pelo prazer de ter ali todas aquelas pessoas na sua memória, indo e vindo, todas nomeadas pela natureza do amor eterno, com nomes que lhe pertenciam desde sempre. Lembrou do irmão falecido de forma estúpida, do pai que partira pouco antes do irmão e por fim pensou na solidão como ferramenta de cura da agonia dos conflitos humanos.
Ao terminar a refeição, única em dias, adormeceu e partiu para outras dimensões das quais nunca mais outra vez seria corpo e alma. Agora, finalmente, estava livre. A natureza permitiu que aquilo que faltava-lhe - apenas o pão e o vinho - viesse para fortalecer sua viagem.
É isto aí!
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