sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Bilhetes avulsos II



Era você, sempre fora você nesse pretérito mais que perfeito sem presente nem futuro e eu, aqui por todo tempo, mergulhado no imenso vazio deste hiato.

É isto aí!

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Bilhetes avulsos


Esta saudade é um dos pilares da tristeza que elucida e descreve o comportamento da minha memória devido à sua ausência em escalas extremamente curtas, perpassando ora onda, ora partícula feito uma mecânica quântica inserida no presente do subjuntivo.

Por causa disto ou não, não sei, sei lá, vai saber, preciso acreditar (sempre) que minha melhor versão está no futuro e que meu melhor roteiro um dia há de ser escrito, já que minha melhor edição ainda será realizada.

Volta, vem viver outra vez ao meu lado ...

Cantor: Hélio Delmiro (RJ)
Youtube: Ed Santana

Quantas noites não durmo
A rolar-me na cama,
A sentir tantas coisas
Que a gente não pode explicar
Quando ama?

O calor das cobertas
Não me aquece direito...
Não há nada no mundo
Que possa afastar
Esse frio do meu peito.

Volta!
Vem viver outra vez ao meu lado!
Não consigo dormir sem teu braço,
Pois meu corpo está acostumado...

(Lupicínio Rodrigues)

 



sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Vera Cruz do Marmelar

 https://www.youtube.com/shorts/KnncB9wuPR0


Vera Cruz (também conhecida por Vera Cruz de Marmelar) é uma povoação portuguesa sede da Freguesia de Vera Cruz do Município de Portel, freguesia com 44,58 km² de área e 378 habitantes (censo de 2021), tendo, por isso, uma densidade populacional de 8,5 hab./km².

Freguesia histórica, muito antiga, que em 1257, quando D. João Peres de Aboim chegou a estas terras, possivelmente já existia o Mosteiro de Vera Cruz, o monumento mais antigo do município, que deve a sua fama à Relíquia do Santo Lenho, trazida por um cavaleiro depois da Sétima Cruzada.










sábado, 25 de janeiro de 2025

Papo de esquina - Casos de família - Janeiro 2025



01 - Tio Juquinha era um homem silente, discreto e recatado. Casado com Tia Iracema, eram o casal perfeito da família. Um dia Tio Juquinha encontrou com Laurinha no mercado municipal. Laurinha era filha da comadre Fabiana, amiga de infância de Tia Iracema. Conversaram, conversaram, conversaram e Tio Juquinha descobriu que Laurinha estava deprimida, triste e abandonada em dívidas e problemas por causa do marido George, um mané do bairro, envolvido com uma turma de atividades ilícitas.

Deu que George, vulgo Gegê do Celta, sofreu um ferimento de projéteis anônimos e já há cerca de 20 meses, três semanas e 4 dias estaca acamado sem os movimentos das pernas e do braço direito. Tio Juquinha assumiu as despesas de Laurinha e passou a frequentar a casa para dar banho e alimentar Gegê. Daí que Tia Iracema falava que era um homem santo, até que um dia ele foi e nunca mais voltou de Laurinha, que nesta época já iam mais de 180 dias de viuvez.


02 - Tio Horácio era um fanfarrão. Adorava festas, adorava abraçar mulheres, adorava a farra, as bebidas e as pescarias. Um dia saiu para comprar pão e tia Geralda achou que ele estava estranho, mas como era já meio estranho, um pouco de estranheza a mais poderia ser considerado normal. Demorou muito para voltar. Tia Geralda ligou para a polícia, as três irmãs, até para Florisvaldo, uma paixão antiga a qual guardava em suspiros dobrados num total segredo.

Deu que naquele dia Tio Horácio pegou o ônibus e seguiu para Teresina no Piauí, onde estava Maristela, uma morena discreta que conhecera na festa de noivado da sua filha. Maristela vinha a ser a prima do noivo. Foi a primeira vez que ouviu-se falar de Teresina naquela casa e depois disto nunca mais soube-se do Tio Horácio também. - Naqueles tempos Piauí era uma terra distante, muito distante e mais nada. - Daí que Florisvado passou a rodear Tia Geralda, que deu nele de cabo de vassoura com voadoras e tapas uma três vezes, então cansou e enfim permitiu-se adsorver o deleite das águas do curso do desejo.


03 - Vovô Tatá era um sujeito esclarecido, de muita leitura. Tinha assunto para tudo. Um dia seu filho Carlinhos chegou com malas e sacolas, de mudança, com Doralina, a esposa além das duas filhas lindas ainda na infância. Vovó Ditinha bateu de frente, mandou voltarem do lugar de onde vieram. Vovô Tatá defendeu a permanência até que as coisas se arrumassem. Deu que com três dias o filho bateu a perna no mundo, e desapareceu. 

Foi em segredo para a Europa trabalhar com um amigo íntimo, numa viagem jamais combinada com a esposa. Assim que desembarcou em Paris mandou um whatsapp dizendo - "estou bem, vim para Paris trabalhar, desculpe por tudo. Depois explic" -. Seis meses depois mandou por um intermediário um envelope que continha 250 euros e um bilhete lacônico dizendo adeus e pedindo perdão. Então, numa sequencia de episódios,  Vovó Ditinha adoeceu e perdeu o gosto da vida. Daí Doralina despediu-se das filhas em segredo e sumiu no mundo. 

É isto aí!

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Cartas Avulsas XXV

Reino da Pitangueira,
22 de Janeiro de 2025
22.º dia do ano no calendário gregoriano
Faltam 343 dias para acabar o ano.
Dia da  Chegada ao Brasil, em Salvador BA, da família real portuguesa
Por do Sol às 18h35 min
Lua Minguante às 12h40
Estação Verão

Para ser lida em 22 de Janeiro de 2031

Querida, caso esta carta tenha chegado ao seu destino, quero afirmar que sinto-me feliz por você estar bem.

Há aqui neste presente de tormentas e desesperanças vários sinais de que seriam estes os famosos finais dos tempos e que este mundo seria* (lanço mão do futuro do pretérito, visto que ele não é deste mundo material, já que o que se passa - neste caso - é uma coisa atrelada à manipulação das massas) desconspurcado das carradas de loucuras e devaneios dos agentes de extermínio de todas as células vivas capazes de reprodução in vivo* (resgatando a locução que indica o modus operandi da ação adverbial explícita neste planeta.

Como deve saber, acredito que saberia ou deveria saber, creio eu, que estou a recorrer ao futuro do pretérito neste tempo verbal do modo indicativo, no intuito de fazer referências a algo malignamente malévolo que poderia ter acontecido no seu passado, ou seja neste presente ao qual lê essa missiva. Não sei o destino do bilhões de seres vivos da linhagem adâmica que faleceriam mas - Maktub - sei que ao menos os cobradores de impostos e as prostitutas os precederiam no Reino dos Céus.

Assim sendo, ao correr os olhos neste ecrã perceberá que ouso expressar incertezas, surpresas, indignações derivadas de delírios escalafobéticos de uma turba psicótica sideral promotora de ações sequenciais de caráter antibiótico. Só para registro, apesar de acreditar desnecessário, o antibiótico aqui é de cunho literal - do grego αντί - anti+ βιοτικός - biotikos, "contra um ser vivo".

O fato é que de repente, não mais que de repente, centenas de profetas, videntes, celebridades, subcelebridades, pseudo celebridades, tubers, pitonisas, levianos, gostosinhas, astrólogos e filósofos catalães de Ba car di, dentre tantos, passaram desde 1999 até a presente data a apregoar o fim da existência humana e amedrontar a todas as classes sociais, raciais, solidárias, amigas, inimigas, ricas, pobres, nobres e plebeias, considerando aqui toda a gama das classes e subclasses sociais da A à Z, do porteiro ao magistrado, dos políticos das vilas aos iluminados do senado, dos empresários ricos, pobres, médio e acomodados, dos mestres aos antípodas existencialistas, etc etc etc.

Assim o mal penetrou pelos olhos, ouvidos e gargantas profundas da choldra, da ralé, das arraias-miúdas, dos enxurros, das escoalhas, das escórias, dos escorralhos, das escumalhas, dos frasqueiros, das gentalhas, das gentinhas, das maltas, das merdalhas, dos merdinhas, das patuleias, das plebes, dos populachos, do povaréu, da rabacuada, das rafameias, da raleia, das ralés, das sarandalhas, dos sarandalhos, dos vulgachos, dos vulgos, do zé-povinho e da súcia.

Mas se você está lendo esta carta em 22 de Janeiro de 2031, fico feliz em saber que ou foi adiado ou anulado, ou suspenso o fim do mundo, para ser julgado pela segunda turma do Tribunal de Justiça sine die... sine die ...

É isto aí!

domingo, 12 de janeiro de 2025

Onde nós estamos




Em que altura da vida 
acontece a felicidade?
Em que fase da lua
resplandece a sorte?

Em qual esquina muda
encontro seu sorriso?
Onde não estaremos 
quando nos encontrarmos?

Quando e onde perdemos
nossas versões traduzidas
sem a desfaçatez única?

Anverso às faces ruins,   
É lá, no deserto da sensatez
que a guardo, para sempre.

É isto aí!


segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Cartas Avulsas XXIV



Reino da Pitangueira,
06 de Janeiro de 2025
6.º dia do ano no calendário gregoriano
Faltam 344 dias para acabar o ano.
Dia do Reis Magos e Dia da Gratidão.
Por do Sol às 18h34 min
Lua Quarto Crescente às 20h56
Estação Verão

Cartas à Milena.

As cartas de Franz Kafka para Milena Jesenská são um testemunho profundo de amor, angústia e desejo. Milena, uma escritora e tradutora tcheca, foi, provavelmente, o grande amor da vida de Kafka. Sua relação, em grande parte platônica, aconteceu entre 1920 e 1923, enquanto Kafka lidava com problemas de saúde e dificuldades emocionais.

Conheceram-se em 1920, quando ela começou a traduzir seus textos para o tcheco e trocaram cartas durante alguns anos, com o relacionamento limitado pela distância além de serem casados e infelizes nos seus respectivos matrimônios.

Essas cartas são conhecidas por sua intensidade emocional e pela habilidade de Kafka em expressar sentimentos de maneira profundamente introspectiva e poética. As cartas cessaram em 1923, pouco antes da morte de Kafka, em 1924. Ele estava gravemente doente e a relação, embora profundamente significativa para ambos, nunca foi plenamente concretizada devido às barreiras sociais e emocionais.

São também um testemunho da complexidade e da intensidade do amor. Elas revelam não só o carinho e desejo, mas também suas inseguranças e a luta constante entre o desejo de estar com ela e a impossibilidade de viver esse amor da maneira que ele desejava. A profundidade emocional e a honestidade dessas cartas fazem algumas das mais intensas e admiradas expressões de amor da literatura.


"Querida Milena,

Eu te amo, e o que posso fazer com isso, senão escrever? Eu não tenho palavras para te dizer o quanto te amo, mas estas palavras vêm de um lugar profundo de onde só as palavras podem surgir. Se me faltam gestos, eu tento expressar tudo com o que posso — com as palavras que, talvez, falhem, mas ainda são minha única forma de te alcançar.

Em você vejo algo que não pode ser tocado, algo distante e ao mesmo tempo tão perto. Tento te amar, mas às vezes me sinto como se estivesse amando um reflexo, algo que é ao mesmo tempo real e irreal. A dor de te amar não é só minha, mas também tua, pois sei que nos fazemos mal, de algum modo, pela impossibilidade de um amor pleno.

Não há mais sentido em fugir disso, Milena. Em você encontro o que não encontro em mais ninguém. Mas ao mesmo tempo, minha dor é tão grande quanto meu amor. Não consigo imaginar sem você, mas tenho medo que o nosso amor possa ser algo que nunca se concretiza, mas sempre se estende, indefinidamente.

Com todo o meu amor e desespero, Franz"

É isto aí!

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Cartas de Amor XC



Reino da Pitangueira,
Planeta Terra&Lua,
3° do Sistema Solar,
Via Láctea, Zona Sul


Querida, neste 2025 vamos mandar todos os nossos malwares  para além de Casablanca.


Não, querida, Casablanca não é a cidade do "E o vento levou" apesar de serem dramas que fundem interesses com amor, passado com futuro e sobretudo ausências ou hiatos passionais entre as partes envolvidas, cada um com seus malwares instalados pelas emoções aflitivas, negativas, doloridas e silenciosas, feito um felino à espreita da vítima num imenso deserto que existe no coração da gente.

Como sabe, o pensamento não é algo tangível, assim como as emoções, que por ironia do destino é quem julga o que se pode ou não falar e que você se lasque e arque com as consequências do seu livre arbítrio enquanto informações insistentes, vagas ou consistentes divertem-se nos temáticos playgrounds das múltiplas atividades mentais, que podem ser considerados como  manifestação física ou metafísica dos nossos pensamentos.

Calma, meu bem, sei que você perde o ar que a rodeia quando fica nervosa. Isto, acalme-se, mantenha a respiração sob a regência da paz. Querida, saiba que não há controle ou descontrole externo à sua dor, que é a mesma coisa, só que diferente  já que as coisas que acontecem fora do alcance do seu comando pessoal tendem sempre a amenizar os seus sofrimentos, a sua mágoa e o seu dissabor. 

Saiba, meu amor, que aceitar o desassossego descontrolado da saudade e os pensamentos lotados de perguntas invariavelmente sem respostas não é coisa racional, daquelas que você consegue ver e entender tal como dois mais dois é sempre quatro. É um ato emocional e  a emoção não é sentimento e vice-versa, uma vez que o sentimento é uma resposta à emoção, ou seja, se trata de como você  se sente diante de tal emoção. 

Querida, nesta manhã pensei que escreveria algo totalmente romântico, mas as saudades afligiram de tal forma meus pensamentos que as letras saíram sem que ao menos eu as contestasse. Sinto sua falta, sinto muito.

Um cafuné no cabelo, um afago na face, um beijo apaixonado e um abraço apertado. 

Feliz Ano Novo!

É isto aí!