quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

O Contador de Mentiras


Comecei a contar mentiras desde novo. Fazia pregações nas praças por onde passava, realizava casamentos, promovia separações, intermediava a compra de terrenos cujos donos residiam longe, contraía empréstimos com os piores agiotas da região e me divertia com o ódio deles. Tinha uma lábia específica para cada vítima. A verdade é que as pessoas, na sua maioria, só escutam aquilo que lhes agrada, seduz ou motiva. Além disso, falar é uma arte.

Naquele tempo, eu chegava a uma cidadezinha, hospedava-me numa pensão central e, em uma semana, já sabia quem era quem: quem era adúltero, quem era rico, quem devia, quem mandava. Mas os melhores sempre foram os ambiciosos, que até hoje tendem a acreditar com mais facilidade em informações que confirmam aquilo que já pensam ou sentem, mesmo quando são falsas.

O grande problema de ser um profissional da mentira é que não se pode ter sentimentos nobres. Há, de fato, um pacto com o mal, de maneira tão insidiosa que quase não se percebe. Perdi a conta de quantas mulheres casadas desonrei, de quantos homens levei à falência, tudo apenas pela palavra; e, quando o vento mudava, eu desaparecia.

Pensava em tudo isso nesta manhã, agora que estou aposentado pelo tempo, sentado junto aos velhos moradores da vila, quando avistei, de longe, um jovem de cerca de vinte e cinco anos, com um andar e um olhar que só os filhos de uma cadela dos encardidos possuem. Aquele era eu, cinquenta anos atrás. Caminhava como um felino: passos econômicos, silenciosos, calculados, como se o chão lhe pertencesse antes mesmo do toque. O corpo nunca se entregava por inteiro; havia sempre reserva, contenção e promessa.

O olhar era oblíquo e predatório — não no sentido bruto, mas estratégico. Observava mais do que revelava, media fraquezas, testava limites. Não buscava apenas desejo; buscava adesão, fascínio, suspensão do juízo. Seus olhos operavam como o primeiro truque: faziam crer que se estava sendo visto por completo, quando, na verdade, se era apenas lido.

Com os olhos, eu o guiei até a mesa onde eu estava, diante de um tabuleiro de damas. Induzi-o ao jogo, no qual disputamos três partidas. Perdi a primeira, empatamos a segunda e perdi a terceira. Ele convidou para a aposta. Rapei-lhe a carteira em seiscentos reais, em cerca de três horas.

Puxou, com um sorriso cínico e nervoso, um ensebado jogo de baralho cigano, discretamente marcado desde quando eu tinha a idade dele. Confiava tanto na própria esperteza que nem percebeu a burrice. Rapei dele, em quatro modalidades de jogo, dois mil e trezentos reais. Depois apostou um relógio falso; em seguida, um relógio verdadeiro; depois três anéis de pedra falsa, seguidos de quatro anéis de pedras preciosas.

Levantou-se nervoso. Cerca de trinta pessoas, que haviam parado para assistir à lavada, cercaram o infeliz, que saiu a cusparadas por ameaçar um idoso inofensivo. Daquele dia em diante, virei herói da cidade

 
É isto aí!

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