quinta-feira, 28 de abril de 2016

Papo de Esquina XIII

- Imaginem uma ilha, num lugar distante, ermo, atrasado, ok? Então, caso neste torreão abandonado ocorra um golpe no poder da tribo, qual seria o próximo passo do novo cacique?

- Defesa da tradição, da família e da propriedade.

- Censura, repressão e corrupção.

- Caramba ... esta merda vai dar pau!!!

É isto aí!


quarta-feira, 27 de abril de 2016

Papo de esquina XII

- Vocês conhecem algum tipo de esporte olímpico exótico?

- Luta greco-romana. Ela invoca os sentidos mais primitivos do homem, que lutam sem o auxílio de quaisquer equipamentos de proteção, mas sob um nobre código de conduta, que proíbe socos e golpes baixos e inclui complicadas táticas de derrubadas e imobilização do adversário.

- Luta cunha-temeriana. Ela invoca os sentidos mais primitivos do homem, que lutam com o auxílio de quaisquer equipamentos de ataque, mas sob um sinistro código de conduta, que permite socos e golpes baixos e inclui táticas mercantis de derrubadas e imobilização do adversário.

- Credo!! E eu achando que sabia de todas as lutas ... Esta merda vai dar pau.

É isto aí!




Meu cartão me ama - sqn

Na sexta-feira, à noite, vi um anúncio interessante de dois produtos eletrônicos em determinada grande rede de vendas pela internet. Como havia a intenção prévia de adquiri-los, fiz o que manda a rotina moderna. Verifiquei o preço praticado no mercado, fiz estudos comparativos dos aparelhos, etc. Finalmente acessei, marquei, e pedi o pagamento por determinado cartão, aproveitando o parcelamento sem juros, pelo mesmo preço à vista, o que era um bom negócio.

Para minha surpresa, na segunda-feira recebo e-mail afirmando que o pedido fora cancelado por que a operadora do cartão negou o crédito (que eu achava que tinha). Como esta foi a segunda ocasião proporcionada pela agente financeira em menos de 30 dias, aquilo não era coincidência, e como não tenho saldo devedor neste cartão, o qual ofereceram com insistência, liguei e solicitei o cancelamento do cartão. De que serve um cartão de crédito que desacredita o credor?

A atendente, educadamente, ouviu minha solicitação, pediu as confirmações de dados de praxe, sabe? CPF, data de nascimento, nome da mãe, nome completo, confirmação de endereço, etc. Depois desta xaropada toda, falou que iria me passar para o setor responsável. 

Aqui cabe um adendo - as agências terceirizam todo o sistema de comunicação com o cliente, para que não tenhamos acesso a eles. De maneira que esta passagem para o setor responsável nada mais é do que transferir a ligação para um atendente disponível, qualquer um, que já recebeu todas as informações na tela do seu computador e vai nos passar a sensação de estarmos falando com quem resolve.

Novamente a mesma conversinha, até que sem argumento, o educado rapaz afirma que o sistema saiu do ar, veja só você que coisa mais estranha - o sistema pode ler até o que eu vadiei na rede em qualquer dia, mas para suspender um raio de um cartão, ele agilmente sai do ar.

Aí você pensa assim - bem, parece que tudo acabou. Mas, porém, todavia, contudo, na terça-feira à noite recebo e-mail da loja/rede de que a compra foi autorizada pela financeira - ohhhh!! Nesta quarta-feira, pela manhã tento inúmeras vezes falar ao telefone com a loja/rede e não consigo. Daí envio um e-mail explicando toda a história e pedindo o cancelamento total da compra.

Lega isto, não é? Só que não. A loja/rede responde que como o pedido foi, veja só você, terceirizado para uma outra empresa, não teriam como protocolar o cancelamento imediatamente que eu devo aguardar 48 horas para que a empresa terceirizada se posicione. Enfim, viva a pátria amada!!

É isto aí!

domingo, 24 de abril de 2016

Papo de esquina XI

- Vocês acham que Nelson Rodrigues encaixa bem nesta crise?

- Claro, vem dele o pensamento vivo de que só o inimigo não trai nunca.

- E também disse que convém não facilitar com os bons, convém não provocar os puros. Há, no ser humano, e ainda nos melhores, uma série de ferocidades adormecidas. O importante é não acordá-las.

- Então, como afirmou o Nelson, também quero crer que certas épocas são doentes mentais. Por exemplo: a nossa.

É isto aí

quinta-feira, 21 de abril de 2016

O Golpe, os golpistas e A Igreja do Diabo do Machado de Assis

Machado de Assis escreveu um dos mais curiosos e tocantes contos da sua vasta coleção, intitulado: A Igreja Do Diabo. 

Nesse conto, o Diabo funda uma Igreja e consegue obter adeptos e ouvintes todos os dias. Então, segundo as leis do Diabo, o  mais importante na vida é promover prazeres de todos os tipos e não e preciso ter éticas nos negócios e nem tao pouco na política. Havendo condições para ganhar, mesmo que seja de forma desonesta, para a tal Igreja isso e que era válido. 

Também não seria preciso ajudar os outros ou então preocupar-se com os amigos e familiares. Que cada um cuide de si, diziam os padres da Igreja do Diabo. Com o andar do tempo, por mais apegados que os crentes estivessem no novo credo, as pessoas começaram a não acatar as tais leis. Às escondidas passaram esmolar aos mais pobres, e escutavam com certa atenção e cuidado os lamentos dos conhecidos  e ofereciam os seus préstimos e amizade. 

Também os casados evitavam trair seus parceiros e os comerciantes e políticos honravam seus compromissos, mesmo que declarassem seguir à risca a hedonista lei do Diabo. Realmente o que Machado de Assis nos revela, é que todas as pessoas têm duas facetas e posições. Podemos ser amorosos com alguns e zangados com outros; honestos em certas circunstancias  e ludibriar em outros aspectos. Qualquer que seja a lei, portanto, jamais se poderá compreender essa disparidade do ser humano. A lei escolhe um lado da oposição como certo e o outro como sendo errado, e isto demostra que o nosso coração possui sempre  dois aspectos antagônicos.

É isto aí!

Papo de esquina X

- O que você quer ser quando crescer?

- Eu queria ser o Mario Quintana.

- Eu queria ser igual àquele procurador, e ficar por ali com cara de paisagem, só procurando ... procurando ..., até cansar.

- É ... para ser um Mario Quintana depende de muita coisa, mas para ser um engavetador-desachador mor ... hummm ... bem, deixa prá lá.

É isto aí!

Papo de esquina IX

- A gente poderia falar de outra coisa que não fosse política?

- Poderíamos falar então de esposas dedicadas, fieis e obtusas?

- Poderíamos falar então de crimes, mistérios e suspenses?

- Hummm ... parece que não tem jeito. Tudo isto é fado!!!

É isto aí!

quarta-feira, 20 de abril de 2016

A sessão de cura

Entrou no consultório meio atabalhoada, e foi logo sentando na cadeira, revelando seus mais íntimos e secretos segredos. Falou de tudo, chorou, soluçou, enfim, desabafou de uma forma nunca feita em toda a sua vida. Ao fim de tudo, pois tudo uma hora termina, pegou o lenço oferecido, enxugou as lágrimas, refez sua saia levantada pela posição da confortável poltrona.

Foi aí, e só aí é que deu-se conta que aquele era um consultório odontológico e não a clínica do analista, que estava na sala ao lado. Sorriu sem graça, levantou-se leve, mas envergonhada. Aproximou-se do dentista, abraçou-o com veemência e beijou-o em frenesi. Mantiveram-se abraçados em longos minutos, em impávido silêncio.

Saiu dali curada.

É isto aí!



domingo, 17 de abril de 2016

Papo de esquina VIII

- Aí, vão fundar um partido novo.

- Outro? Será mais um só para encher o saco.

- Também acho, mas que partido é este?

- É o PCU, o Partido dos Cleptocratas Unidos.

- Hummm, este negócio vai dar pau ...

É isto aí!

quinta-feira, 14 de abril de 2016

O homem nu da repartição.

Parlamento húngaro em Budapeste, às margens do Rio Danúbio
Saiu de casa apressado, atrasado, amargurado, entediado, desesperado, frustrado e triste, sobretudo triste. Naquela manhã desejou ansiosamente a morte. Mas de alguma forma havia o impulso de ir de encontro a algo novo, quem sabe a felicidade? Vinte minutos de caminhada e já adentrava no hall do edifício onde trabalhava e só aí se deu conta de que estava nu.

O engraçado é que ninguém parecia ligar para aquela situação. Subiu ao sétimo andar, entrou na repartição pública onde era lotado há vinte e seis anos. Nada, nem sequer um olhar diferente, uma palavra acerca de, enfim, percebeu-se um zero no meio da multidão.

Até aí tudo transcorria em quase normalidade, onde logo assegurou-se de que as coisas não poderiam ser tão ruins a ponto de piorar. Foi então que Merindinha, a mais gostosa das mais gostosas da área, parou em frente à mesa, olhou-o nos olhos e falou:

- Afonsinho, você está tão diferente. Está tudo bem com você? 
- Respondeu que sim. Tinha lá seus problemas, mas achava que poderia conviver com eles.
- Pode repetir sua resposta, por favor?
- Perfeitamente, Merindinha - estou bem, mas tenho alguns problemas que posso conviver com eles.

A moça deu um grito agudo e desvairado - gente - o Afonsinho está possuído.

Toda a repartição correu à mesa para ver, entender e participar da cena dantesca. Afonsinho, nu, sentado sem entender nada, olhava a todos com ânsia agravada por uma inevitável crise hipertensiva, com tremores e sudorese.

Lacerda quebrou o gelo do espanto e dirigiu-lhe a palavra:

- Diga, Afonsinho, tudo bem com você?

- Sim, quer dizer, eu acho, mas desculpem, eu sei que estou nu, mas como ...

- Puta que pariu, Afonsinho, vou chamar o SAMU agora, tem algo aí que está muito esquisito.

Nisto se aproxima da mesa um contribuinte cansado de esperar o atendimento. Olha bem nos olhos dele e trava um diálogo bem macabro aos ouvidos presente:

- Jó reggelt! Az én nevem Áder.  Segítség?

No que Afonsinho respondeu:

- Jól vagyok.

Então o homem de fala sinistra virou-se para a platéia de curiosos e falou com um sotaque desconcertante:

- Este homem é húngaro, e disse que está tudo bem com ele. Desta maneira não precisam se preocupar. 

Cada um voltou para seu lugar, uns achando engraçado, outros achando nada e Afonsinho ficou ali, sozinho, nu e sem a compreensão do mundo.

É isto aí!

Papo de esquina VII

- Então! Qual a melhor lição que tiramos desta temida trama cunhada nos porões da sordície?

- O crime compensa ...

- É, e além disto recompensa ...

- Humm, este negócio vai dar pau.

É isto aí!

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Este golpe que está aí não passa

Este golpe que está aí é bandido!
é golpe de farrapos.

Este golpe que está aí é traiçoeiro.
é golpe sim senhores, sim senhoras!

Este golpe que está aí fede!
é golpe de latrina demente.

Este golpe que está aí é cruel!
é golpe contra os pobres.

Este golpe que está aí não passa!
é golpe natimorto de uma política frustrada.

Vença a urna, conquiste o povo,
Faça valer seu voto.

É isto aí!


Atestado de óbito

Eu quero o divórcio, disse ela em tom sereno, com uma candura imensurável. Passou os dedos levemente por sobre a mesa do jantar, olhou nos olhos dele e aguardou a resposta.

silêncio

Ele levantou-se, foi até a sala, abriu a pasta e tirou de lá uma carta. Voltou, entregou-lhe e disse que iria comprar cigarros e na volta discutiriam o assunto.

Ela assentiu com um leve movimento da cabeça, pegou delicadamente o envelope. Quando ocorreu que ele havia parado de fumar há mais de dez anos, levantou-se para indagá-lo sobre isto, mas já havia saído. Ao abrir o documento, o que leu deixou-a confusa e perplexa - tratava-se do processo do divórcio já definido, aguardando apenas a assinatura dela.

Com lágrimas copiosas e lábios trêmulos, sentiu-se mal, sufocada, diante do que denominou de um atestado de óbito do casamento que acreditava ser modelo de amor eterno.

É isto aí!

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Rendas e Redes

Mas o que vocês querem comigo? O que estou fazendo aqui? Quem é você?

Nós queremos a verdade. Você está aqui como colaboradora da verdade pela libertação da pátria de pessoas nefastas. E quem sou eu é o que menos importa a você.

Uma vez apresentados, explique por que você está cursando Ciências Sociais.

Por que eu quero, por que eu gosto.

Entendo. Agora comece a falar do seu pai, Mary Anne. 

Prefiro não falar muito dele, até mesmo por que ele próprio pede para que não falemos.

Mas ele mora com vocês?

Posso saber porque você está tão interessado no papai?

Nada, só curiosidade.

Sei.

Mas, ele, hummm, seu pai, ele vota em quem?

No candidato dele, que eu saiba.

E quem é o candidato dele?

A pessoa que recebeu seu voto.

Pessoa? Então pode ser uma mulher?

Nada impede.

Mary Anne, pela última vez, o que faz seu pai?

Nada demais. Ele é só negador de rendas.

E de onde vêm estas rendas?

É de Natal, eu acho.

De costas, Mary Anne. Você está presa por retenção de informação útil ao sistema. Alô, John?! Manda prender o Smith, ele é sonegador de rendas , foi a própria filha quem denunciou. E trás também uma Edna Tal, deve ser comparsa.

Mas o que é isto? Você é doido ...

Cala a boca. Você mesma entregou seu pai como sonegador de rendas.

Mas é o que ele é. Ele trabalha no controle de qualidade de redes e exclui as rendas com defeito.

Alô?! Hunter - o vigarista trabalha com uma rede, providencia um mandato de busca e apreensão para a quadrilha toda.

É isto aí!

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Papo de Esquina VI

Três condições para que o Bonder sorria ao dizer o nome do novo regente tupy-guarany

Narcisista, maquiavélico, corrupto.

Altruísta, democrático e honesto.

É ... vai dar pau isto daí!

É isto aí!

Cenas de Amor 2º Ato

mesmo sem saber quem você era, sabia que seria minha (meu).

Eu me apaixonei por você, desde o primeiro momento em que te vi!

Eu quase não acreditei quando ouvi você dizer sim,

quando você aceitou ser minha namorada, minha!

Foi um momento mágico!

E ainda é mágico poder estar com você todos os dias,

poder te abraçar, te tocar, sentir teu cheiro,

provar do teu sabor, beijar você.

Como é mágico poder te amar!

Saber que você é minha,

que os teus carinhos são meus,

que teus melhores beijos são para mim

e saber que o seu amor é só meu!

Eu nem poderia imaginar que a nossa história seria assim,

repleta de amor e felicidade!

Eu nem poderia imaginar que eu saberia amar desta maneira, com todo o meu ser.

E esse amor é teu, somente teu.

Eu Te Amo Muito meu Amor.

Você é tudo pra mim!

Cenas de amor 1º Ato

Muito bem. Atenção - silêncio. Quero uma luz difusa sobre os dois, que começará em rosa leve. Por favor, saiam todos do set. Quem não for da produção, queira se retirar.

Gente esta é a última passagem. Caprichem, hem ... Geraldinho, quero você olhando nos olhos da Carminha. Carminha, quero você olhando alhures.

Muito bem, gravando ... silêncio ... silêncio ... silêncio ... mas que merda de silêncio é este? Estão esperando o quê, os dois pombinhos. Comecem esta merda logo.

(Geraldinho) Ainda me lembro da primeira vez em que te vi.

(Carminha) Infelizmente eu também ...

Coooooooooooooooooooooooorrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrtaaaa!!! Cadê o texto? pelo amor de Deus, de onde você tirou esta fala, Carminha?

Seu Diretor - este animal estava na cama ontem com a minha melhor amiga. Eu odeio ele.

Carminha, isto aqui é só uma novela, ok? Existem milhares de fãs apostando no exemplo de vocês dois e lá fora isto não existe. Muito bem, segue com a fala da Carminha.

(Carminha) Naquele momento eu tive a certeza de você era mesmo o Amor da minha vida! (ânsia de vômito)

Corta corta corta. Salva  a fala da doida, salva a fala ... segue...

(Geraldinho) Sabia que desde aquele dia não consegui tirar você do meu pensamento?

Excelente ...

(Carminha) Deve ser o tal de mau olhado ...

Coooooooooooooooooooooorrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrtaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!! Para tudo - para tudo - para tudo. Contra-regra, trás um rivotril, um valium e um lexotan, amarra esta doida e joga os tres na boca dela e trava. Vai ter que engolir. Carminha, sua maluca, sabe quanto custa 1 minuto de gravação desta merda?

É isto aí (1º Ato)

Papo de esquina V

Pensem numa mulher bem gostosa!

Lili Bartô.

Lili Bartô.

poft#craw*tuft#lapd** minha mãe não, caralho, minha mãe não... paft## zupt## porrada...porrada ...

É isto aí!

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Papo de esquina IV

Alguém aí tem uma rima para sacanagem?

Nossa, tenho muitas.

Eu também, mas são todas redundantes.

Então vamos ficar só na cunhagem. Só tem sacanagem / Isto tudo é uma puta cunhagem / Ah! É sim / Pois sim, pois sim

É isto aí!

Morrer em Paris

Veio de Paris a confirmação que todos temiam. Tio Zoinho falecera naquela tarde-noite de inverno francês, à beira do Sena. Poderia ser poético, romântico, exemplo de vida e sagacidade, mas ele estava literalmente falido quando fugiu com a amante, uma caboclinha lindíssima, que encontrou num passeio quando esteve em Natal. Tinha 69 anos e por incrível que pareça, tinha sempre aquele aspecto de homem maduro, sem idade definida e de banho tomado.

Tia Fafá não chorou nem sequer demonstrou raiva, ódio, pena, nada. Estávamos todos ao seu lado quando a mensagem chegou, de certa forma esperada, pois a caboclinha, cujo nome era proibido de ser citado, ligara na véspera para a Dedé, filha do tio Zoinho com a tia Fafá. Neste contato, havia relatado que ele passou mal e que foi levado para o Hotel Dieu, o mais famoso hospital público da cidade. Como não era emergência, pelo menos não parecia e as horas foram passando sem atendimento, disse que iria ao banheiro e desapareceu.

Ela comunicou o fato à polícia e somente na manhã seguinte recebeu a notícia de que o corpo havia sido encontrado às margens do Sena, e no bolso havia o passaporte e duas cartas, sendo uma dirigida a ela, em francês e uma em português para  a família. Além disto, de forma legível, havia seu nome, número de celular no bolso do paletó, para emergências.

Enquanto aguardávamos novas informações, tia Fafá levantou-se abruptamente, bateu espalmado com força por sobre a mesa de jacarandá, deu uma gargalhada monstruosa, e gritou em desabafo e desapego:

- Quer saber (risos sarcásticos) - quando aquela caboclinha filha de uma rapariga tornar a ligar, digam a ela que faça o favor de jogar o corpo do imbecil no Sena, por que Paris tem uma das melhores estações de tratamento de esgoto do mundo ... e saiu em desabalada carreira para seu quarto.

Desde então e depois disto tudo, chorou ... chorou ... chorou ... até o fim dos seus dias. A mágoa maior que tinha era de que nunca a levara a Paris.

Já a caboclinha herdou uma boa fortuna guardada a sete chaves num pequeno e discreto banco vienense e viveu feliz para sempre. De certa forma cumpriu o desejo do casal - Cremou o corpo e jogou as cinzas no Sena.

É isto aí!

Papo de Esquina III

Mas, o que vocês falam daquele surto da Janaina?

Arretada, diria minha tia.

Possuída, diria minha avó. E você?

Chata, muito muito chata, mas muito chata mesmo.

É isto aí!



terça-feira, 5 de abril de 2016

Papo de Esquina II

Caramba, este pessoal sem voto está cada vez mais doido.

Mas isto é razoável.

Como assim, razoável? Estão todos agindo como se não houvesse amanhã.

Elementar! Quem tem cunha tem medo.

É isto aí!

Odete, a fulaninha do Paranoá

Madrugada nestas montanhas geladas do interior caipira de Minas Gerais. Meu fiel Nokia agita seu estridente chamado. Penso nas crianças que já não são mais crianças e que residem na cidade grande, em algum parente, até que consigo achar os óculos e vejo Odete piscando seus olhos amendoados na tela azul do aparelho. Conta a lenda que de certa feita, um destas centenas de príncipes endinheirados pelo petróleo pediu Odete em casamento e a família vetou pelo olhar extremamente sedutor da moça, mas isto é outra história.

- Olá querido, te acordei?

- Odete!!!! Você nunca me acorda, pois você é meu sonho de consumo ...

- Hummm, atacadinho hoje, hem meu bem. Ainda é efeito do azulzinho? Brincadeirinha, sei que me ama.

- Você é tudo de bom, mas o que a faz ligar para mim?

- Desacuenda! Os Okó vai tudo sair do caminho da mona.

- Mas o que é isto Odete? Está incorporando entidade?

- Nada disto, amore, foi isto que ouvi da Aparecidinha. Lembra dela?

- Aparecidinha?? Não, assim de nome não.

- Humm, sei. Bloqueio, não é querido? Vou te dar duas dicas - Centro Comercial Gilberto Salomão e a Boate Kako, lá pelos anos 70.

- Caramba, Odete, que memória.

- Claro, não é amore? Você estava ao vivo e à cores nas vias de fato com aquela intrometida, e daí quando cheguei o sangue subiu e ...

- Claro, fomos todos para a delegacia, é que eu havia esquecido o nome dela.

- Mas eu não, viu amore. Euzinha não esqueço nada.

- Bem, agora que clareou a minha memória, o que tem a ver Aparecidinha e esta revelação meio quimbundo, meio yorubá?

- Sabia que meu nego ia entender assim que ouvisse. Então. A Aparecidinha me contou que ouviu do seu namorado, o Herculano, que soube através da esposa dele, a Creuzedete, serviçal na mansão dos Fulaninhos, que uma mãe de santo foi lá para fazer um trabalho para modo de as coisas melhorarem pro lado deles.

- Sério isto? Na mansão dos Fulaninhos? Herdeiros do Dr. Fulaninho, donos daquela rede de ...

- Pode parar, não fale mais nada. Eles mesmos. Mas Creuzedete, que há muito entregou sua vida para servir ao pastor, se refugiou no fundo da mansão, na beira do lago, acompanhada de Claudinho, um faz-tudo, inclusive creuzedetar nas horas vagas. Bem, este Claudinho também faz tudo com Imaculadinha, uma barista exclusiva da mansão. Bem, Imaculadinha contou ao Claudinho o que aconteceu no salão da casa. Enquanto dava suas creuzedetadas revelou à Crezedete, que excluiu esta parte da versão original ao Herculano, que sabe de tudo, mas finge de morto para não ter que trabalhar, que o Dr. Fulaninho, um dos filhos do falecido Dr. Fulano, perguntou quando iriam dominar tudo e tomar de assalto o trem pagador.

- Credo, Odete, querem tudo mesmo, hem!

- Então, foi aí que a Mãe parou tudo, fez sinal para as ayabás pararem, o tambor silenciou, e numa brisa gelada ela proferiu:

Ah, mizifio, ocês querem um troço e tem jeito mais não. Os dois Okós que ocês prantaram vai tudo sair do caminho da mona.
   
Então Odete, quer dizer que os irmãos fulaninhos vão se estropiar? 

yé, mò!

Caramba, você está esquisita, é você mesma? Odete, fala comigo, Odete... puxa vida, logo agora que a vontade ficou intensa perdi a canalização.

É isto aí!

Em tempo:
A Odete que não entende nada de Terreiro, e que apenas repassou a informação, não sabe que ocorreu uma misturada de palavras do kimbundo, português e yorubá:

Des: de despreocupar-se.
Cuenda: do quimbundo cuende (andar).
Mona: do quimbundo mona – criança, que é usada nos Terreiros de Angola para designar meninas e mulheres.
Okó: em yorubá é pênis. Oko òrìsà da agricultura e òkò é lança. Mas aqui neste caso ela estava referindo-se a um homem. Homem em yorubá okúnri; e mulher, obìrin.






segunda-feira, 4 de abril de 2016

Papo de esquina I

Já pensou em ser famoso?

Já!

E aí?

Nada, pensar não custa nada.

Sério? E quando fosse famoso, o que faria?

Nada.

É isto aí!

O analista da Pitangueira e o armário.

Olá, tudo bem?

Não.

Então entre e vamos avaliar este sentimento.

Tudo bem quanto a entrar, mas daí a avaliar este sentimento acho no mínimo insensato.

Interessante, quer falar sobre esta sensação de insensatez?

Veja bem; você cobra por hora e eu geralmente pago por programa.

Entendo. Acredita que a minha atividade é prostituta de uma forma diferenciada?

O senhor quem disse isto.

Bem, já que estamos num caminho interessante, fale o que o trouxe aqui.

Primeiro não existe "nós".

Como assim?

Esta fala barata de estarmos no caminho. Eu não estou no seu caminho.

Com certeza não está.

Mas mesmo assim disse.

Se estamos os dois aqui, de alguma forma estamos num processo onde caminharemos na mesma direção, a qual você será o condutor e eu apenas analisarei a paisagem e as condições da estrada.

Ah, bom. Eu é que serei o condutor. Gostei de saber. Achei que o senhor tinha por hábito querer ser o macho alfa de uma relação de análise.

E isto te incomoda?

Como assim? Para onde quer levar esta conversa. O senhor é solteiro liberal?

Não. Eu não sou, mas seria importante para você que seu analista fosse um solteiro liberal?

Levantou-se abruptamente e nunca mais voltou ...

É isto aí!


domingo, 3 de abril de 2016

Como ser triste em dois atos.

Chegou em casa madrugada quase esmaecida e encontrou-a nua nos braços do ex-marido. Fingiu que não viu e voltou como entrou, em silêncio e ansiedade. Voltou para a casa da mãe, que o esperava todas as manhãs, com o café feito, o pão que mais gostava, a manteiga da roça e aquela ar de "Não te disse?".

A mãe o recebeu com naturalidade, levou-o à copa, serviu o desjejum, colocou o jornal por sobre a mesa, buscou seu chinelo, colocou ao seu lado e deixou-o só, dizendo que deveria ir em algum lugar conversar com alguém.

Entrou no seu quarto, da mesma forma de quando saira há oito anos. As suas fotos, a cama grande e macia, e dormiu o sono dos injustos que têm mãe. Acordou já entardecendo, tomou um banho demorado, barbeou-se, e só aí se deu conta de que dezenas de processos, clientes, funcionários, e mais um tanto de responsabilidades laborais ficaram ao léu. Mas estava se sentindo bem, e isto era estranho.

Chamou pela mãe e um silêncio imperou no ambiente. Saiu enrolado na toalha em direção à cozinha para alimentar-se e deu de cara com Cleidinha, a primeira e interminável paixão da sua vida, mal resolvida, mal começada, mal vivida e mal terminada. Nem linda nem feia, nem gorda nem magra, nem envelhecida nem jovem - Cleidinha ainda era uma grande incógnita.

Ela se aproximou lentamente, metamorfosicamente (como diria Bolão, um amigo), abraçou-o e na sua cabeça passou um filme. Deixou-se levar pelo desejo e entrou na profunda e obscura relação com a moça. Nunca foi feliz ao seu lado e sempre achava que se tivesse encarado a situação com o flagrante da ex, seria mais honesto com seu sentimento. Passaram-se anos e aí morreu triste, abraçado em Cleidinha, desejando a ex.

É isto aí!

sexta-feira, 1 de abril de 2016