sexta-feira, 25 de abril de 2025

Carminha e Armandinho - Sinopses II


Quando Armandinho diz:

Minha única maestria incontestável reside no não agir — não como indolência, mas como repouso no Deus de Agostinho, eco daquele "Fizeste-nos para Ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti". 

Pois no doce não-fazer transcendental, descubro mais que resistência: um ócio consagrado ao Divino, herdeiro daquele ócio contemplativo que, segundo o Doutor da Graça, precede a verdadeira ação — pois até o Verbo, antes de criar o mundo, repousava no seio do Pai. 

Aqui, na quietude que antecipa o Sétimo Dia eterno, compreendo que o não agir, longe de ser vão, é o gesto primeiro da criatura que, esvaziada de si, torna-se capaz de ser plenificada pela Graça, como a terra inculta que aguarda o cultivo celestial.

Na realidade ele só quer dizer: 

"A única coisa que eu sei fazer bem é não fazer nada."


Quando Carminha diz:

Saiba, querido que às vezes vem à tona do oceano das memórias um episódio que ocorreu quando tinha apenas nove anos e ouvi uma sentença condenatória pela primeira vez. Minha tia ridícula e má puxou-me pelo vestido de festa, um rosa claro que eu amava, e disse cinicamente sorrindo: "Cuidado, princesa, já está ficando ondulado no abdome. Ninguém gosta de boneca com silhueta ondulada". 

Nove Anos, puxa vida, era apenas uma criança feliz com nove anos. Naquele momento aprendi que meu corpo era um problema a ser resolvido. Que ocupar espaço era um pecado. Que eu deveria me encolher para sempre, até caber num mundo sufocante, condenatório e cruel, como uma coisa pequena, disforme e triste.

Sabe o que me assusta? Mesmo depois de tudo, dos livros, das dietas, das lutas pessoais,  ainda tem dias em que olho no espelho e só consigo pensar em qual espaço eu existo. Logo interrompo o pensamento porque, em algum lugar obscuro da minha cabeça, crenças limitantes gritam que não mereço ser amada ou ser feliz. Você me ama?

Na realidade, ela só quer perguntar:

"Amor, estou gorda?"


É isto aí!



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