sábado, 26 de abril de 2025

Cartas de Amor XCII



Querida, somos argonautas dos nossos quereres,

Calma, meu bem — logo, logo explicarei todas estas viagens desbravadoras e épicas ao interior do seu interior.

Ocorreu um sonho, e nele lancei-me como um argonauta em busca da conquista do Velocino de Ouro que sabia escondido na sua alma. Sem mapas, sem estrelas, movido apenas por uma esperança cega que talvez já fosse desespero. Soube, desde o primeiro instante, que você seria minha busca — e nunca meu destino. E, ainda assim, segui navegando pelas turbulentas águas da saudade.

Cada travessia em sua ausência parecia me afastar mais do que alcançam meus olhos cansados. Seu corpo tornou-se uma ilha distante, inatingível, e eu, perdido nos mares revoltos do meu próprio coração, enfrentei — e confronto ainda hoje — as ondas que se erguem, inclementes. E mesmo sabendo que nada disso é possível, continuo a busca — diuturnamente — a velejar nas inenarráveis intempéries do mar das ilusões. Talvez, no fundo, bem lá no fundo, eu só tema o silêncio do imenso vazio que haverá ao aportar no deserto da sua existência.

É mister da minha jornada navegar pelo impossível, pelos sonhos intangíveis que se estendem além das lendas e das inquietações mitológicas que, sensíveis e alucinantes, me arrastam. Sei que é uma vida dedicada ao impossível, mas, ainda assim, persisto. Não por força, mas por uma fraqueza que me mantém permanentemente ameaçado pela deriva — como se o impossível fosse mais seguro que aceitar que, no fim desta busca, tudo fará sentido e valerá a pena.

Mas quem sou eu para reclamar dessa busca que me consome? Quem sou eu para duvidar do caminho, quando este é a minha sina e a travessia, em sua imensidão, é a minha vida? O amor que busco, ainda que distante, ainda que inalcançável, existe em mim como uma chama — não para ser apagada, mas para ser carregada, dia após dia, noite após noite, como a vela que, embora tremule, nunca se apaga.

A dor que sinto não é derrota, mas parte do vasto ser que sou — sou a busca, sou o eterno movimento, sou a maré que nunca cessa de se levantar. E, assim, mesmo sabendo que a conquista nunca haverá de ser, sei também que parte sua vive em mim, em cada respiração, em cada instante. A beleza do impossível está em ser o próprio estar — sem fim, sem limites — e em sermos um só na imensidão dos desejos.

Um cafuné no cabelo, um afago na face e um beijo apaixonado.

É isto aí!


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