Certo dia estava numa igreja, contemplando o Divino Eterno, quando sentou ao meu lado um homem que era eu. Como isto pode acontecer - perguntei? Ele estava confuso e disse que não reconhecia nada, sequer arquitetura das casas, traçado das cidade, automóveis, roupas, etc. Como parecia ser alguém em quem confiar, pedi que contasse a sua história. Assim narrou:
"Era domingo, ou sábado, não me lembro bem, mas o dia do mês era três ou seis, ou um dos dois, ou talvez sete. Espera, com certeza era dia oito, uma quinta feira, do mês de setembro do ano de sei lá, isto tem muito tempo.
Naquele dia saí de casa determinado a ser feliz. Parei no sinal para pedestres, demorou muito tempo para ficar verde, atravessei e só vi o clarão seguido de um profundo silêncio. Agora estou lembrando, havia uma senhora que conversou comigo e era muito simpática e um ar de calma. Perguntou meu nome esqueci - caramba - esqueci meu nome e a minha identidade como indivíduo.
Não havia mais ninguém. Só eu e aquela senhora simpática de sorriso largo. Isto, ela tinha um sorriso largo e dentes alvos. Aproximou delicadamente do meu ouvido e falou algo ininteligível. Enquanto falava ou quando acabou de falar, ouvi passos, e ela desapareceu. Tive a impressão que desintegrou no ar. Estava confuso e quando recordo fico muito mais confuso.
Escutei sirenes, senti meu corpo amarrado, três ou quatro pessoas em cima de mim falando coisas abstrusas, supostamente complexas, numa enigmática caixa de luz, com vários bips soando a sirene de um lugar sacolejante. O corpo ia ora para a direita, ora para a esquerda, num turbilhão de sacolejos, e vez ou outra sentia meu corpo tentar sair das amarras que o continham.
De repente sofri uma imensa força gravitacional para a esquerda, seguida de várias voltas em torno do próprio eixo da caixa de luz. Levou um tempo infinito até parar de girar. Era um silêncio nunca percebido, a paz me serenou os ânimos e adormeci. Acordei numa confortável cama, e ao meu lado a mesma senhora simpática de sorriso largo.
Olhou para mim sorrindo e sem abrir a boca e disse para meu eu interior - não vai acontecer nada, fique tranquilo, é hora de voltar. Foi então que fechei os olhos e acordei num domingo ou sábado, não me lembro bem, mas o dia do mês era três ou seis, ou um dos dois, ou talvez sete. Espera, com certeza era dia oito, uma quinta feira, do mês de setembro do ano de sei lá, isto tem muito tempo. Chovia muito e resolvi ficar em casa.
Quando saí de casa, não mais reconheci o lugar, comecei a vagar por entre estruturas físicas de onde entram e saem pessoas, devo ter andado por horas, até que uma senhora simpática de sorriso largo me trouxe até a entrada este lugar e disse que neste templo eu me reconheceria. E agora estou aqui "
Ao escutar a narrativa daquele estranho que sou eu, mas não está em mim, corri em direção à porta, que se fechava lentamente. Saltei desesperadamente na intenção de fuga. Passei pela fresta e só vi o clarão seguido de um profundo silêncio...
É isto aí!