Reino da Pitangueira, 22 de maio de 2024
Outono
A muito tempo não escrevo estas cartas livres sem preocupações outras que não seja a de apenas escrever. Isto pode parecer estranho, mas estava envolvido num túnel de hiato passional isento dos pecados mortais - graças a Deus - aqueles que todo mundo sabe que existem mas talvez se lembre somente de um ou dois: avareza, gula, inveja, ira, luxúria, preguiça e soberba não estavam neste túnel.
Falo do hiato passional como o período sabático que criamos ao alterarmos a rota de colisão da vida com nossos desejos, entrando numa estrada desconhecida, em fuga, e lá longe faz-se a saída numa rota alternativa supostamente mais segura. Enfim, o hiato passional é o período de cicatrização das dores feitas ou recebidas, não importa a origem, dor é dor, alegria é alegria e euforia passa rápido e vicia.
Nesta manhã de temperatura baixa estava pensando nas músicas que permitiria tocar no meu velório. Sim, é um assunto que parece fúnebre, mas convenhamos, nunca vi e ouvi músicos e músicas de tamanha péssima qualidade como as que são divulgadas pela mídia em massa neste século XXI, deixando os ouvintes intoxicados por lixo sonoro. Como meus descendentes explicarão aos seus descendentes que nesta época o lixo muxical imperou na pátria amada, idolatrada salve salve.
E a chuva avança em várias partes do mundo desmatado e desaguado. Vai ser difícil as condições nos próximos cem anos, mas você poderá estar lá para relatar que conheceu árvores frutíferas, frondosas, regatos, córregos, corredeiras, cascatas, rios e lagoas. Lembrará das famosas sacolas de plástico e garrafas PET que entupiram até os oceanos. E tem gente que acha que só aquele artefato bélico, que faz devastação concomitante em massa, seria danoso.
Por hoje é só! Guarde esta carta num cofre, sei lá, pode ser interessante lermos daqui a 40 anos para rirmos um pouco. Ah, e as músicas para tocar no meu velório, depois escolho, estou sem pressa.
Um abraço!
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