Mulheres cada vez mais têm cada vez menos espaço de tempo entre as agressões físicas, químicas, espirituais e psicológicas. Cedo ou tarde, as sobreviventes apresentam traumas psicológicos, depressão, transtorno de ansiedade e dissociação da realidade, numa espécie de Síndrome de Estocolmo.
Numa corrida de olhos nos principais meios de comunicação nacional, apenas nesta manhã, visualizei mais de uma dezena de assassinatos, e muitas ocorrências de espancamento. Neste rol estão representados todos os homens agressores, quer sejam políticos, pastores, empresários, servidores públicos, empresários, pobres, miseráveis e anônimos.
Um dos maiores riscos de falar sobre este tema é a armadilha de um efeito disrruptivo da psicanálise, aquela denominada "psicanalhice", justificando tal violência através de um academicismo ou teorização precipitada e preconceituosa, encontrando na mulher, por exemplo, traços de um masoquismo estrutural, tal como proposto por Freud (1924/2010) no texto O problema econômico do masoquismo. (leia uma síntese aqui)
Há ainda a lenda, hoje representada e incorporada num dos ícones da sociedade alienada, vulgarizando mais e mais a mulher, e o pior é que neste caso as histéricas vão ao delírio (silencioso) em defesa do seu mito.
Inevitável falar da herança e colaboração de Nelson Rodrigues. Em seus trabalhos, o escritor volta e meia pesou a mão no tratamento às mulheres, mostrando-as como loucas, inconsequentes, frívolas, insensatas e destruidoras de lares e corações. Uma de suas frases mais icônicas "Nem todas as mulheres gostam de apanhar, só as normais" não só induz à normatização da violência doméstica como ainda sugere que a mulher provoca a agressão porque se julga merecedora dela.
Dalva de Oliveira, uma das grandes cantoras do século XX, foi uma das maiores vítimas deste machismo barato, idiota e misógino, defendida pela mesma sociedade que recusava Nelson Rodrigues à luz do dia e se deleitava em gozo nas suas peças de teatro, livros e crônicas, à noite.
Quanto à novidade da primeira linha - As agressões químicas:
A ansiedade é, com a depressão, o transtorno de saúde mental mais comum no diagnóstico das mulheres. É o dobro do que é diagnosticado nos homens, segundo a Organização Mundial da Saúde. Os hipnosedantes –tranquilizantes e soníferos – são os únicos psicoativos mais consumidos pelas mulheres do que pelos homens.
Esta é uma violência silenciosa (mas não quer dizer que é pequena), opressora e misógina, que elas aprendem ainda na puberdade/adolescência, quando analgésicos cada vez mais potentes são introduzidos nas suas cólicas (algumas severas) e dores diversas, comuns aos humanos. Poderia tirar várias conclusões aqui, mas há um recado principal que a sociedade passa neste discreto movimento - dor se cura com remédio, e não com diálogo, franqueza, verdade, humanização e respeito..
É isto aí!
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