quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

2022 não começou bem


No ano anterior ao 22, o fatídico e exaustivo 21, achei que 22 seria melhor em alguma coisa. Infelizmente são anos siameses, tristes e inversamente proporcionais aos anos loucos de um século atrás, onde a revolução cultural elevou a autoestima mundial. O símbolo maior dos loucos anos 20 do século XX foram as músicas, os musicais, o cinema, a eletricidade, o rádio e os automóveis. Só para constar, eu não era ainda nascido naquele tempo, nem meus pais, mas meus avós já eram crescidinhos.

O grande símbolo destes tristes anos 20 do séc XXI, é o smartphone. Este objeto já faz tão parte do nosso dia-a-dia que funciona quase como que um membro fantasma do nosso corpo. Têm pessoas que sentem o vibrar do aparelho, mesmo estando metros distante dele, como se fosse possível uma pessoa ficar metros distante do seu smartphone. O bicho tomou forma de vida assustadoramente real.

No meu caso, por exemplo, deu que o smartphone que chamo de meu, apesar de achar que é o contrário, já vinha dando sinais de demência a alguns dias. Coisinha fraca, pensei. Deve ser momento tenso com esta crise mundial, pensei. Mas isto foi até esta manhã. Ah! Precisava ver. O trem deu um troço nele, um beribéri, uma terçã tripla carpada, uma convulsão descontrolada ou, queira os céus que não, uma artimanha de possessão do cão tinhoso.

De repente, do nada, o gajo começou a tremer e passar tudo que tinha guardado na tela do malucado, em alta definição e altíssima velocidade. Tremia, passava vídeos, fotos, abria as redes sociais, sons, imagens, notícias, tudo junto e misturado em total frenesi. Aquilo devia ser encosto, vai saber. Na dúvida me benzi e estendi a benzeção o portador das contorções imagéticas estranhas ocorrendo diante dos meus olhos.

Com muito cuidado, peguei o esbaforido de jeito, por que sem jeito o coiso já mancomunava e saltitava feito bode esbaforido. Procurando uma via rápida e solucionática, apertei por um longo tempo o botão de reiniciar. O índio louco fez quatro longos espasmos, deu pelo menos mais uns três tremelhiques, revirou os olhos e apagou. Ficou ali quietinho feito bicho de tocaia.

Dali uns minutos voltou manso. Olhei pra ele e resolvi trabalhar seu emocional, por que aquilo devia ser stress, metas não atingidas, frustação de não ser igual ao da maçã mordida, ou não captar imagens escalafobéticas, canecalônicas e outras coisas que não tenho por hábito fazer ou acessar. 

Aguardei mais uns minutos, vi que sua respiração estava normal, temperatura adequada, pulso ok, e só então dei um cleanup total, varri todas as suas memorias efêmeras, guardadas de forma boa ou ruim, fotos escondidas em labirintos da memória e outras coisas de cunho interpessoal, mas isto fica entre o smart e eu.

Corri o antivirus, aguardei as coisas ficarem calmas, e tornei a reiniciar. Desta vez demorou mais, daí o trem ficava indo e vinha vindo, sabe? Querendo desmaiar mas escolhendo onde cair. Ora a luz, ora as trevas. Até que voltou a si.

Acabado o trampo, recuperou a consciência artificial e retornou ao óbvio, ou seja, a fazer o propósito para o qual o destino o trouxe ao mundo- falar com as pessoas. Está educadíssimo, parece outro individuo. Acho que vai sobreviver, mas percebi que ficou mais isolado, de pouca conversa. Tenho a impressão de que ainda o levarei para um psicsmarthanalista.

É isto aí!

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