sábado, 30 de novembro de 2013

Emmylou Harris - C'est la vie (you never can tell) 1977


Fonte da imagem: Britannica 

Emmylou Harris (Birmingham, Alabama, 2 de abril de 1947) é uma cantora e compositora estadunidense de música country, folk e alternativa. Sua voz de soprano torna-a uma das mais distintas cantoras da música popular dos Estados Unidos. (Wikipédia) .

Fonte Youtube: You never can tell


Chuck Berry - You Never Can Tell


Fonte da imagem: Pinterest (Buy "You Never Can Tell" by Mad Ferret as a Sticker. Illustration from the famous dance scene in Pulp Fiction)


Também conhecido como "c'est La Vie" ou "Teenage Wedding", é uma canção escrita por Chuck Berry. Foi composta no início da década de 1960, enquanto Berry estava em uma prisão federal por violar o Mann Act. Lançado em 1964, no álbum" St. Louis to Liverpool e no single seguinte Berry's final Top Ten hit of the 1960s: "No Particular Place to Go", "You Never Can Tell" atingiu a posição #14 se tornando o Top 40 final de Berry até "My Ding-a-Ling", em 1971.

Descrição:

A canção fala do casamento de dois adolescentes e o seu estilo de vida depois. Vivendo em um modesto apartamento, o rapaz encontra trabalho e eles começam a desfrutar de uma relativa prosperidade. Eventualmente, eles compram um "souped-up jitney" (um automóvel modificado para alto desempenho) e viajam para Nova Orleans, onde o seu casamento aconteceu, para celebrar o seu aniversário. Cada estrofe termina com o refrão, "C'est la vie,' say the old folks, 'it goes to show you never can tell.'"

Compositor - Chuck Berry

Letra de You Never Can Tell © BMG Rights Management, Universal Music Publishing Group, Warner Chappell Music, Inc

Fonte Youtube:



Fonte da Letra: Letras

You Never Can Tell
Chuck Berry

It was a teenage wedding
And the old folks wished them well
You could see that Pierre
Did truly love the mademoiselle
And now the young monsieur and madame
Have rung the chapel bell
C'est la vie, say the old folks
It goes to show you never can tell

They furnished off an apartment
With a two room Roebuck sale
The coolerator was crammed
With TV dinners and ginger ale
But when Pierre found work
The little money comin' worked out well
C'est la vie, say the old folks
It goes to show you never can tell

They had a hi-fi phono, boy
Did they let it blast
Seven hundred little records
All rock, rhythm and jazz
But when the Sun went down
The rapid tempo of the music fell
C'est la vie, say the old folks
It goes to show you never can tell

They bought a souped-up jitney
It was a cherry red '53
They drove it down to Orleans
To celebrate the anniversary
It was there that Pierre was married
To the lovely mademoiselle
C'est la vie, say the old folks
It goes to show you never can tell

It was a teenage wedding
And the old folks wished them well
You could see that Pierre
Did truly love the mademoiselle
And now the young monsieur and madame
Have rung the chapel bell
C'est la vie, say the old folks
It goes to show you never can tell






Bruce Springsteen - You Never Can Tell


Fonte da Imagem: New Music Diary


Fonte Youtube:


Bruce Frederick Joseph Springsteen (Long Branch, 23 de setembro de 1949) é um cantor, compositor, violonista e guitarrista norte-americano. Durante a sua carreira, iniciada em 1969, Bruce já recebeu vários prémios importantes, como vinte Grammys, quatro American Music Awards e um Oscar, tendo já vendido mais de 120 milhões de discos. (Wikipédia)

domingo, 24 de novembro de 2013

Djavan & Olivia Byington - Primavera (Carlos Lira/Vinicius de Moraes)


Canção de Carlos Lyra e Vinicius de Morais, e faz parte da trilha sonora do filme 'Para viver um grande amor', que é baseado na trilha sonora da peça 'Pobre Menina Rica', de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes. Vozes: Djavan e Olivia Byington

Imagem: Adoro Cinema

Música: Primavera  (Carlos Lira/Vinicius de Moraes)


Filme: Para Viver um Grande Amor (http://www.imdb.com/title/tt0188124/)
Direção: Miguel Faria Junior
Adaptação e Roteiro: Chico Buarque & Miguel Faria Jr.

O meu amor sozinho
É assim como um jardim sem flor
Só queria poder ir dizer a ela
Como é triste se sentir saudade

É que eu gosto tanto dela
Que é capaz dela gostar de mim
Acontece que eu estou mais longe dela
Que da estrela a reluzir na tarde

Estrela, eu lhe diria
Desce à terra, o amor existe
E a poesia só espera ver nascer a primavera
Para não morrer

Não há amor sozinho
É juntinho que ele fica bom
Eu queria dar-lhe todo o meu carinho
Eu queria ter felicidade

É que o meu amor é tanto
É um encanto que não tem mais fim
E no entanto ela não sabe que isso existe
É tão triste se sentir saudade

Amor, eu lhe direi
Amor que eu tanto procurei
Ah! quem me dera eu pudesse ser
A tua primavera e depois morrer

Fonte do Vídeo: Marcelo Ghelfi
Celine Imbert e Marcelo Ghelfi interpretam "Primavera" de Carlos Lyra e Vinícius de Moraes.
Álbum "Vinícius sem mais Saudade"
Celine Imbert (soprano) e Marcelo Ghelfi (piano)









domingo, 17 de novembro de 2013

A Lei das Gordas


Faço saber que o Congresso Nacional do Reino da Pitangueira decreta e eu sanciono a seguinte Lei:


Considerando que o corpo é apenas um  efêmero veículo, cujo único intuito é ser condutor da alma eterna, declaro:

Artigo 1º - Toda gorda é linda.
§ 1º - Toda mulher gorda é sensual, algo entre o limite de ser gostosa e o início de ser gorda.
§ 2º - Não existe mulher gorda feia, doravante serão reconhecidas cientificamente por "boderline" lipídicas.
§ 3º - Não existe limite legal nem parâmetros físicos para uma mulher ser gorda. Seja feliz, e isto basta.

Artigo 2º - Fica excluído o caráter pejorativo e etimológico da palavra "Gorda", originária do Latim,  cuja origem “gurdus”, designa o que é “estúpido”, “labrego” e “grosseiro”.
§ único - Uma sensual mulher gorda poderá ficar acometida de tristeza, raiva, vergonha, sentimento de pânico, horror, sensação de vazio e de extrema solidão mediante a manutenção deste sentido pejorativo.

Artigo 3° - Toda mulher gorda tem prazer e dá prazer.
§ 1° - O prazer não terá limites, nem tempo nem hora.
§ 2° - Há na mulher gorda a sensualidade e a liberdade total para dançar, cantar, rebolar, e se relacionar da forma que melhor lhe convier.

Artigo 4º - Foda-se o resto e quem acha o contrário.

Artigo 5º - Revogam-se as disposições em contrário. 

É isto aí! 





sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O amor eterno de Laurinha!


Laurinha e Julinho pareciam viver a plena harmonia do casal perfeito. Ele, jovem executivo com futuro promissor e ela uma excelente professora universitária cursando o doutorado em Filosofia Kantiana. Laurinha amava Julinho, melhor, Laurinha entranhou na vida, no corpo e na alma de Julinho. Era uma obsessão.

Ligava o dia todo, mandava e-mail, mandava msn, fiscalizava o Facebook, pagou um detetive para espioná-lo quando suspeitou que Julinho deu dois suspiros em um mesmo final de semana. - Julinho, eu te mato e me mato em seguida, mas sem você não fico! Dizia nas convulsões e nas conversas aflitivas em lençóis de linho egípcio de 400 fios.

Mas Julinho ficava na dele. Achava aquilo tudo natural. Além disto Laurinha era uma amante completa, de cama e mesa, com papo acima da média e cultura invejável, alem de ser linda. Mas a paranoia foi aumentando, aumentando, até que Laurinha obrigou Julinho a passar-lhe todas as senhas que possuía. Algemado, em êxtase plural proporcionado por um frenesi inebriante, cedeu aos caprichos da deusa louca do amor total.

Mas para surpresa de Laurinha, nada encontrava nas páginas eletrônicas, nenhum vestígio de outra pessoa entre os dois. Julinho era metódico em tudo, incluindo horário de sair, de chegar, banho, dormir, etc. E sua vida cibernética era um tédio sem fim. Julinho nem documento carregava, nem celular (um ficava em casa e o o outro no escritório), achava tudo aquilo uma bobagem. Laurinha, de certa forma sentiu-se frustrada com o vazio de informações.

Um dia, e este dia chega, recebe um telefonema de uma assistente social, perguntando se era a esposa de Julinho. Sim, respondeu aflita. Avisaram que ele havia sofrido um acidente, estava grave e necessitava de uma pessoa da família para comparecer urgente ao Pronto-Socorro. Laurinha virou os olhos, tremeu todo o seu corpo escultural, arrepiou toda a extensão de pele, e fez a pergunta apocalíptica:

- Escuta, querida, ele está podendo falar?
- Não senhora, ele está inconsciente.
- Ele tinha algum documento, telefone, alguma coisa que o identificasse, por que pode não ser ele.
- Com certeza é ele, senhora.
- Mas como com certeza?
- É que a moça que o acompanhava quando chegou, Fernanda, foi quem deu seu telefone e os dados iniciais..
- Alô..Alô..Dona Laurinha...

Em poucos segundos Laurinha atravessou a cidade, entrou de rompante pelo Hospital, foi direto onde estava Julinho, e esganando-o, aos berros gritou: "quem é Fernanda??? Quem é esta vaca desta Fernanda???

Correram todos, seguraram a moça, e Julinho, olhando apaixonadamente para ela, deu seu último suspiro. Laurinha desabou, sentiu-se um vaso quebrado em milhares de pedaços, não viu mais nada. Acordou dois dias depois, tendo ao lado um médico que parcimoniosamente a examinava.

Apaixonaram-se...

Laurinha e Carlinhos pareciam viver a plena harmonia do casal perfeito. Ele, jovem médico com futuro promissor e ela uma excelente professora universitária doutora em Filosofia Kantiana. Laurinha amava Carlinhos, melhor, Laurinha entranhou na vida, no corpo e na alma de Carlinhos. Era uma obsessão.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Os noivos - Um conto de Nelson Rodrigues

Shelley Winters, em cena do filme Lolita - 1962


OS NOIVOS 

Quando Salviano começou a namorar Edila, o pai o chamou:

- Senta, meu filho, senta. Vamos bater um papo.

Ele obedeceu:

- Pronto, papai.

O velho levantou-se. Andou de um lado para outro e senta de novo:

- Quero saber, de ti, o seguinte: esse teu namoro é coisa séria? Pra casar?

Vermelho, respondeu:

- Minhas intenções são boas.

O outro esfrega as mãos.

- Ótimo! Edila é uma moça direita, moça de família. E o que eu não quero para minha filha, não desejo para a filha dos outros. Agora, meu filho, vou te dar um conselho.

Salviano espera. Apesar de adulto, de homem-feito, considerava o pai uma espécie de Bíblia. O velho, que estava sentado, ergue-se; põe a mão no ombro do filho:

- O grande golpe de um namorado, sabe qual é? No duro? - E baixa a voz: - É não tocar na pequena, não tomar certas liberdades, percebeu?
Assombro de Salviano: "Mas, como? Liberdades, como?".

E o pai:

- Por exemplo: o beijo! Se você beija sua namorada a torto e a direito, o que é que acontece? Você enjoa, meu filho. Batata: enjoa! E quando chega o casamento, nem a mulher oferece novidades para o homem, nem o homem para a mulher. A lua-de-mel vai-se por água abaixo. Compreende?

Abismado de tanta sabedoria, admitiu:

- Compreendi.

A SOMBRA PATERNA

Na tarde seguinte, quando se encontrou com a menina, tratou de resumir a conversa da véspera. Terminou, com um verdadeiro grito de alma:

- Muito bacana, o meu pai! Tu não achas?

Edila, também numa impressão profunda, conveio: "Acho”.

- Concordas?

Foi positiva:

- Concordo.

Pouco antes de se despedir, Salviano batia no peito:

- Dizem que ninguém é infalível. Pois eu vou te dizer negócio: meu pai é infalível, percebeu? Infalível, no duro

O BEIJO

Nesse dia, coincidiu que a mãe de Edila também a doutrinasse sobre as possibilidades ameaçadoras de qualquer namoro. E insistiu, com muito empenho, sobre um ponto que considerava importantíssimo:

- Cuidado com o beijo na boca! O perigo é o beijo na boca!

A garota, espantada,protestou

- Ora, mamãe!

E a velha:

- Ora o quê? É isso mesmo! Sem beijo não há nada, está ,.tudo muito bem. OK. E com beijo pode acontecer o diabo. Você é muito menina e talvez não perceba certas coisas. Mas pode ficar certa: tudo que acontece de ruim, entre um homem e uma mulher, começa num beijo!

O IDÍLIO

Foi um namoro tranqüilo, macio, sem impaciências, arrebatamentos. Sob a inspiração paterna, ele planificou o romance, de alto a baixo, sem descurar de nenhum detalhe. Antes de mais nada, houve o seguinte acordo:

- Eu não toco em ti até o dia do casamento.

Edila pergunta:

- E nem me beija?

Enfiou as duas mãos nos bolsos:

- Nem te beijo. OK?

Encarou-o, serena:

- OK.

Dir-se-ia que este assentimento o surpreendeu. Insinua:

- Ou será que você vai sentir falta?

- De quê?

E Salviano, lambendo os beiços:

- Digo falta de beijos e, enfim, de carinho.

Sorriu, segura de si:

- Não. Estou cem por cento com teu pai. Acho que teu pai está com a razão.

Salviano não sabe o que dizer. Edila continua, com o seu jeito tranqüilo:

- Sabe que essas coisas não me interessam muito? Eu acho que não sou como as outras. Sou diferente. Vejo minhas amigas dizerem que beijo é isso, aquilo e aquilo outro. Fico boba! E te digo mais: eu tenho, até, uma certa repugnância. Olha como eu estou arrepiada, olha, só de falar nesse assunto!

O VELHO

Desde menino, Salviano se habituara a prestar contas quase diárias ao pai, de suas idéias, sentimentos e atos. O velho, que se chamava Notário, ouvia e dava os conselhos que cada caso comportava. Durante todo o namoro com Edila, seu Notário esteve, sempre, a par das reações do filho e da futura nora. Salviano, ao terminar as confidências, queria saber: "Que tal, papai?". Seu Notário apanhava um cigarro, acendia-o e dava seu parecer, com uma clarividência que intimidava o rapaz:

- Já vi que essa menina tem o temperamento de uma esposa cem por cento. A esposa deve ser, mal comparando, e sob certos aspectos, um paralelepípedo. Essas mulheres que dão muita importância à matéria não devem casar. A esposa, quanto mais fria, mais acomodada, melhor!

Salviano retransmitia, tanto quanto possível, para a namorada, as reflexões paternas. Edila suspirava: "Teu pai é uma simpatia!". De vez em quando, o rapaz queria esquecer as lições que recebia em casa. Com uma salivação intensa, o olhar rutilante, tentava enlaçar a pequena. Edila, porém, era irredutível; imobilizava-o:

- Quieto!

Ele recuava:

- Tens razão!

CATÁSTROFE

Um dia, porém, o dr. Borborema, que era médico de Edila e família, vai procurar Salviano no emprego. Conversam no corredor. O velhinho foi sumário: "Sua noiva acaba de sair do meu consultório. Para encurtar conversa: ela vai ser mãe!". Salviano recua, sem entender:

- Mãe?!...

E o outro, balançando a cabeça: "Por que é que vocês não esperaram, carambolas? Custava esperar?". Salviano travou-lhe o braço, rilhava os dentes: "De quantos meses?". Resposta: "Três". Dr. Borborema já se despedia: "O negócio, agora, já sabe: é apressar o casamento. Casar antes que dê na vista". Petrificado, deixou o médico ir. No corredor do emprego, apertava a cabeça entre as mãos: "Não é possível! Não pode ser!". Meia hora depois, desembarcava e invadia, alucinado, a casa do pai. Arremessou-se nos braços de seu Notário, aos soluços.

- Edila está nessas e nessas condições, meu pai! - E, num soluço mais,fundo, completa: - E não fui eu! Juro que não fui eu!

MISERICÓRDIA

Foi uma conversa que se alongou por toda uma noite. No seu desespero inicial, ele berrava: "Cínica! Cínica!". E soluçava: "Nunca teve um beijo meu, que sou seu noivo, e vai ter o filho do outro!". O pai, porém, conseguiu, após poucos, aplacá-lo. Sustentou a tese de que todos nós, afinal de contas, somos falíveis e, particularmente, as mulheres: "Elas são de vidro", afirmava. Alta madrugada, o pobre-diabo pergunta: "E eu? Devo fazer o quê?". Justiça se lhe faça - o velho foi magnífico: "Perdoar. Perdoa, meu filho, perdoa!". Quis protestar: "Ela merece um tiro!". Mais que depressa, seu Notário atalha:
- Ela, não, nunca! Ele, sim! Ele merece!

- Quem?

Baixa a voz: "O pai da criança! Esse filho não caiu do céu, de pára-quedas! Há um culpado". Pausa. Os dois se entreolham. Seu Notário segura o filho pelos dois braços:

- Antes de ti, Edila teve um namorado. Deve ter sido ele. Se fosse comigo, eu matava o cara que...

Ergue-se, transfigurado, quase eufórico: "Tem razão, meu pai! O senhor sempre tem razão!".

O INOCENTE


Pôde, assim; desviar da noiva o seu ódio De manhã, passou pela casa de Edila. Com apavorante serenidade, em voz baixa, pediu o nome do culpado. Diante dele, a garota torcia e destorcia as mãos: "Não digo! Tudo, menos isso!". Ele sugeria, desesperado: "Foi o Pimenta?". O Pimenta era o antigo namorado de Edila. Ela dizia: "Não sei, não sei!". Salviano saiu dali certo. Procurou o outro, que conhecia de nome e de vista. Antes que o Pimenta pudesse esboçar um gesto, matou-o, com três tiros, à queima-roupa. E fez mais. Vendo um homem, um semelhante, agonizar aos seus pés, com um olhar de espanto intolerável, ele virou a arma contra si mesmo e estourou os miolos. Mais tarde, desembaraçado o corpo, foi instalada a câmara-ardente na casa paterna. Alta madrugada, havia, na sala, três ou quatro pessoas, além da noiva e de seu Notário. Em dado momento, o velho bate no ombro de Edila e a chama para o corredor. E, lá, ele, sem uma palavra, aperta entre as mãos o rosto da pequena e a beija na boca, com loucura, gana. Quando se desprendem, seu Notário, respirando forte, baixa a voz:

- Foi melhor assim. Ninguém desconfia. Ótimo.

Voltaram para a sala e continuaram o velório.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O mantra da destruição


Um dia normal, fazendo coisas normais, ou quase isto, fui comprar algo para casa. Até aí seria mais um daqueles momentos de rotina, onde você descobre que o que ganha ainda não dá para adquirir tudo o que deseja nestes cada vez mais diversificados hipermercados, onde andamos em média uma hora para achar quatro produtos, e olharmos uns duzentos ou mais, desde óculos até geladeiras inteligentes de ultima geração.

Bem, fui para a fila do caixa, recolhido à insignificância dos produtos adquiridos. Já estavam sendo atendidos, um casal gordo e feliz, redondos e apaixonados, em um carrinho lotado de coisas que engordam e à minha frente, na fila ordinária, uma moça de beleza comum, nada excepcional, com poucos artigos de necessidade diária de uma casa. 

Eis que esbarra em mim um carrinho, seguido de desculpas. Ao virar, deparo com uma estonteante beleza feminina, alta, corpo escultural e olhos tristes. Apenas sorri como aceite ao seu pedido, medi sua beleza com dedicada atenção e voltei ao sentido da fila.

A moça da frente, aquela de Beleza Comum (BC), ao ouvir a rápida conversa, virou-se pela curiosidade feminina, olhou para a estonteante moça de Olhos Tristes (OT), e segui-se um diálogo, no qual fui obrigado a testemunhar, por estar exatamente entre as partes, que reproduzo com a máxima fidelidade, abaixo:

BC - Fulana, tudo bem? 
OT - Oi, Fulaninha, nem tinha reparado que era você, estava tão distraída.
BC - Nossa, Fulana, você não muda nada, sempre bonita.
OT - Bondade sua, Fulaninha, mas você está passeando aqui? Não tinha ido embora?
BC - É menina, desde que Beltrano morreu, e já fazem sete anos, fui embora para o Espírito Santo...
OT - Sete anos? Nossa, como passou depressa. Muito triste mesmo. 
BC - É mesmo. Custei para superar o trauma do acidente, mas Deus sabe o que faz. 
OT - E seu filho? Já deve estar um rapazinho.
BC - Ah! É a cara do pai, já tem oito anos. Sabe, ele cobrava muito o pai...
OT - Mas aí você mudou para o Espírito Santo...
BC - Fulana, tive que ir embora, era tudo muito triste. Com a pensão e o seguro comprei uma casinha em Cariacica e levei minha mãe comigo, porque ela também estava sozinha aqui...
OT - É, não deve ter sido fácil perder quem a gente ama...
BC - Mas graças a Deus tudo passou. 
OT - Mas, e aí, voltou...quando foi isto, nunca mais deu notícias.
BC - Tem uns quinze dias que voltei, e agora estou muito feliz.
OT - É mesmo? Está trabalhando aqui? 
BC - Não, nada disto, você lembra do Beto?
OT - Qual Beto?
BC - O Beto, Fulana, aquele que estudou com a gente, que era engraçado, tocava violão...
OT - Ah, sei, o Beto, sei...
BC - Então, no início do ano tive que ir ao centro de Vitória, aí, Fulana, não é que encontrei com ele?
OT - É mesmo? Ele mora lá também?
BC - É, menina, ele tinha mudado para lá tinha umas semanas e estava trabalhando em Tubarão.
OT - Tubarão? Beto? Então foi para Vitória?
BC - É, aí a gente ficou conversando, daí a gente se encontrou outra vez, outra vez, e a vida nos uniu.
OT - Uniu? Vocês casaram?
BC - Ainda não, porque tem a pensão, tenho meu filho e minha mãe que dependem de mim...
OT - O Beto...sei...
BC - Mas aí a companhia chamou ele para cá, e quis que eu viesse, mas eu falei que não dava.
OT - O Beto foi prá Vitória...
BC - Mas aí ele insistiu muito, diz que não voltava sozinho e trouxe eu, mamãe e meu filho...
OT - Então foi isto...
BC - Aí a companhia deu uma casa, e ele está bancando tudo, colocou a gente até no Plano de Saúde.
OT - O Beto...sei...Vitória...
BC - Minha mãe é doida com ele, e meu menino então, parece que é filho dele. Precisa ver...
OT - O Beto...sua mãe...foi prá Vitória...
BC - Vai lá em casa, ele vai gostar de te ver, vou falar com ele. Agora tenho que ir...
OT - Lá em casa...o Beto...gostar de me ver...
BC - Tchau, eu estou morando na Cidade Nobre, na rua Tal, número Tal, apartamento Tal...
OT - O Beto...Cidade Nobre...adeus Fulaninha...

E Fulaninha foi embora, afinal a fila anda. Atrás de mim o silêncio congelante. Em seguida choro contido, em seguida choro com palavras incompreensíveis, em seguida o choro com soluços e o mantra da destruição:

"Como eu fui burra, eu sou uma idiota, como eu fui burra, eu sou uma idiota, como eu fui..." 

Olhei para trás e só havia um carrinho cheio de compras e o vazio que o Beto promoveu naqueles compreensíveis olhos tristes de Fulana.

É isto aí!