
- Overdose de amor ...
- Vai ficar repetindo o que falo ou vai entrar pela porta do meu sofrimento, escancarada ao mundo?
- Vejo que você não manifestou a sua idade na ficha.
- Manifestar a minha idade? E eu sou lá uma mulher de manifestações inúteis? Eu não tenho uma idade, eu sou a idade que se apresenta.
- E esta porta? Está escancarada, mas não a vejo.
- Então! É de fato uma porta, sim, está escancarada, e não pode ser admirada por olhares aqui, ali e alhures. Ela tem uma propriedade ímpar, unidirecional de estar permanentemente escancarada aos olhos do meu amor.
- Mas você disse que estava aos olhos do mundo.
- Olha aqui, doutor, meu mundo, meu universo, minha galáxia e até meu buraco negro são exclusivas e não é uma Nasa ou qualquer outra agenciazinha de merda cósmica que vai penetrando no labirinto da fauna e da flora da minha existência.
- Você tem um dosador de amor? Um amorômetro ou equivalente? Desta forma poderemos quantificar as doses, subdoses e overdoses deste seu sentimento.
- Pois é isto que vim falar, é exatamente isto. Meu amorômetro explodiu quando atingi o ápice da volúpia, do prazer, e do desejo, doutor. Eu me senti embriagada pelo gozo gozoso, e depois disto veio o vazio, onde me vi macambúzia, sorumbática e sobretudo misantrópica, não no sentido antropofóbico, afinal eu amo um anthropos, mas na forma taciturna, entende?
- Seu amorômetro. Precisamos aprofundar nisto. Fale mais sobre este marcador de sentimentos.
- Hoje não posso. E se permite, tenho que sair agora.
- Quanto a sair, por favor, fique à vontade, mas por que não pode especificamente hoje?
- É que hoje é dia de iniciarmos uma terapia indicada pelo seu Zezinho da Farmácia, que recomendou uma pílulazinha azul, lá em casa, e ele já enviou pelo zap zap que tomou há uma hora atrás ...
É isto aí!
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