quinta-feira, 5 de julho de 2018

Se se morre de amor ...

Imagem de Salvador Dali (1931)

Tinha jurado a si mesmo que não choraria nunca mais, desde que ... desde que a memória não avivasse a dor, a ferida aberta, tampada com esparadrapo barato das coisas do dia a dia. Nunca mais é muito tempo e tempo nenhum, tudo junto e misturado, matutou na quebrada da tarde que ia prenunciando as estrelas que escondiam seus medos em outros sois, outros planetas, e quem sabe num deles outra mulher igual a ela.

Naquela noite, ainda na rede da varanda, espiando o nada com os olhos voltados para si, ela apareceu. Não sabia se aquilo era real ou virtual. Ela, era assim que falava para não dizer seu nome, ela ... ela ...
Corrigiu o curso das ideias, aprumou os pensamentos, suspirou duas vezes, a segunda com soluço, duas maledicentes lágrimas rolaram no canto do olho espremido pela tensão de estar ali e ela ... ela ... também.

Olharam-se de uma forma que não se explica com palavras. Um viu a alma do outro, ele viu o imenso vazio dentro dela e ela viu o deserto da existência nele. Olharam-se mudos. Tentou esboçar um sorriso com o canto dos lábios, mas era impossível, a realidade era maior do que seus desejos. Pensou em falar isto, aquilo, aquilo outro. Não tinha o que falar. Ela ... ela ... também silenciosa, findando o olhar em seu amor.

Abriu a rede, cedeu o seu lado esquerdo e ela aproximou-se, deitou ao seu lado, e morreram felizes para sempre.

É isto aí!

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