domingo, 15 de julho de 2018

Atos do destino

Era uma noite de maio de 1995 - Igreja lotada, convidados e padrinhos alinhados, o noivo já está no altar aguardando o momento que consagrará a sua união. Toca a música de entrada da noiva de apenas vinte anos e ... nada. Ela fez uma crise de pânico, abandonou a celebração, correu para o outro lado da praça, entrou num táxi e seguiu para a casa de uma tia, que a amparou. Trocou de roupa, pegou o carro e fugiu.

Cinco anos depois ele está com uma suposta namorada e se encontram no acaso de destino, numa tarde em Cabo Frio. Encontro inevitável, incontornável, salvo por ele não tê-la reconhecido. Não que tivesse mudado radicalmente, ficado loura, engordasse ou emagrecesse, nem implantou silicone ou fez aplicação de botox. Mudou o penteado para um chanel básico, só isto. Ficou chateadíssima, chorou muito, e voltou ao terapeuta que a acudiu na fuga.

Em 2007, solteira e descoladíssima, profissional liberal em ascensão, estava em Milão, na Galeria Vittorio Emanuele, acompanhada de duas amigas, fazendo um tour com grife, como relatou no facebook. Eram 18h quando passou pelo  Restaurante Biffi procurando uma mesa e ele estava apreciando um ossobuco  ao lado da mesma mulhersinha vulgar de Cabo Frio. Teve uma crise de pânico ali mesmo, o que resultou num final melancólico de passeio. Ele sequer olhou para o tumulto do seu desmaio, segundo a amiga que a acudiu.

Em 2010, para comemorar seus 35 anos, o último aniversário de solteira como relatou à família, fez uma viagem mística para a França, onde foi a Lourdes, voltou ao oeste e do sopé dos Pirineus iniciou o Caminho de Santiago em seus 800 Km de meditação e descoberta do eu interior. Para seu completo desgosto, em Santa Maria de Arzua, ao cruzar com peregrinos que fazem a rota de Leon, eis que vê o ex-noivo acompanhado daquela vaca paquidérmica. Cruza forçosamente o seu caminho, esbarra no seu ombro, ele sequer pede desculpas, nem trocam um olhar, e aquilo a fez abandonar o final da rota. Ele sequer percebeu quem era ela, e nem provocou ou olhou nos seus olhos, o idiota, e ainda com aquela piranha vulgar com ele ...

Em 2016, andando sozinha na Rua Florida, em Buenos Aires, num inverno rigoroso, sente uma mão batendo no seu ombro. Estava num clássico London Fog de famoso outlet de Miami, com balaclava térmica. Ao se virar viu que era ele e aquela baleia azul ao seu lado, vestida para matar trogloditas num verão equatoriano. Num espanhol ridículo pede uma informação. Ficou detida em pensamentos estranhos - Não lembro de mais nada, recordo vagamente de gritos, parece que teve polícia também, acredito que minha mão arrancou um tufo de cabelo seboso da piriguete, também lembro de morder algo, e agora estou aqui sedada, unhas quebradas, algemada e monitorada numa maca de enfermaria de um hospital público. Ao recobrar os sentidos, pagou a multa e foi escoltada até o avião que levou a São Paulo.

No verão de 2018 o vê atravessar sozinho a Avenida Atlântica, na sua direção, em frente ao Copacabana Pálace. Resolveu dar um basta no destino e o ficou aguardando. Ao chegar à calçada, foi ao seu encontro:

Juninho, que surpresa agradável.

Celinha? É você mesma? Nossa, você está linda ... quanto tempo.

Pois é, quanto tempo, hem Juninho.

Verdade, desde ... desde, bem, você sabe ... desde o episódio da celebração

(Silêncio)

(Silêncio)

Você está morando aqui no Rio?

Não, Celinha, eu moro em BH, e você?

Por que você quer saber?

Como assim?

Não quer saber se estou bem, se estou casada, se estou feliz em te ver, nada?

Celinha, você me parou aqui, pergunta se moro no Rio e agora quer o quê exatamente?

Juninho, primeiro dizer que te acho um retardado, depois dizer que te odeio, depois quero saber se você está casado, depois quero saber se tem filhos, depois quero ...

Celinha, você não mudou nada. Adeus.

Espera, Juninho, espera ...

Sim?

Vai tomar no raio que o parta, vai para a puta que te pariu seu corno, vai pro inferno, Juninho ...

Está bom, Celinha, estou indo ... estou indo ... adeus ...

Juninho ... Juninho ... merda, por que você não foi atrás de mim? Por que você nunca mais me procurou? E o pior, acabei sem saber quem é aquela sirigaita... que ódio ... que ódio ...

É isto aí!





Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gratidão!