quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Odete, a musa do laranjal

Madrugada estava quente, abafada e mal dormida quando soou meu Nokia original, único dono e do outro lado da célula, Odete, a musa do laranjal. Reza a lenda que em inenarrável baile de reveillon, num hotel seis estrelas do Distrito Federal, Odete saiu de dentro de uma gigantesca laranja, tomada apenas de glacê e lantejoulas e encantou determinada e deslumbrada plateia que ali se instalara provisoriamente enquanto suas mansões funcionais eram reorganizadas para receber o neopower. Desde então passou a ser a musa do imaginário alaranjado do planalto central.

Odete, meu amor...

Para tuuuuudoo!!!! Você me chamando de meu amor ... ai ai vou ter um orgasmo quíntuplo ...

Diga, querida a que devo a honra da sua voz em minha vida, às três e quarenta da manhã?

Nossa, amor ... querida ... não quero mais nada, vem me ter em Brasília ...

Irei, mas antes conte o que te trouxe aqui.

Humm, virá!! Bem, amore, como sabe, euzinha jamais aumento ou invento, tudo que conto tem detalhes, testemunhas e provas.

Sim

Bem, como vou explicar isto?! Olha só, estava euzinha dia destes com a poderosa Eulália Calíope, a musa das eloquências de Brasília ... que eloquência é aquela, meu deusinho do balacobaco, que eloquência é aquela? Bem, então, não posso perder o foco, escuta amore, tenho que invadir sua privacidade, mas quando você vai ter um smartphone com recursos audio-visuais?

O que tem a Eulália Calíope com eloquências e um smartphone, Odete?

A princípio nada, mas u-la-lá, ai-ai, suspiros, nossa, que falta de imaginação a sua. Bem, estava euzinha com Eulália, quando adentrou ao ambiente o Oscar, um faz-tudo da terceira seção do segundo departamento da sub-secretaria executiva de análise prévia do Conselho de Arquivos de determinado ministério da administração direta eleita pelo Sufrágio Universal.

Eulália? Oscar? Uai, mudou tudo? Cadê as primas, as amigas do salão, os senis ricos, limpinhos e corruptos das margens do Paranoá?

Ai, amore, navegar é preciso, viver não é preciso. Bem, aí adentrou Oscar, alto, forte, bonito, hétero assumido, mas monogâmico, deusmmelivre - mas ninguém é perfeito. Veio pegar assinatura da Eulália para a liberação de um lote de pastas lacradas de uma coisa lá super-secreta de tal lugar desconhecido onde ela é lotada e manda-chuva. Aí a Eulália olhou para ele, buscando se recompor, mas não no sentido lato, e sim no sentido fatal, entende? - Olha, Oscarzinho, conta aqui para a sua Lalá sobre o que tem de novo no subterrâneo dos bastidores.

Sua Lalá? Mas o sujeito não é monogâmico, Odete?

Nossa, se não fosse euzinha, seu ouvido continuaria escutando nana-neném. Amore, monogâmico é que ele, hummm, como vou explicar, hummmm, ele está incluído numa variante da monogamia social, que nós, adultos esclarecidos do Planalto Central, denominamos de monogamia em série, entende? Uma de cada vez.

Ah, entendi. 

Bem, retornando, tremendo e suando feito uma chaleira diante da "sua" Lalá, Oscar revelou que ouviu de Marieta, sua fiel ex-esposa e eventual em hiatos passionais e também melhor amiga da vida pública e privada, soube por seu maridinho Adolfo, um almofadinha engomado, meio paetê, meio esquisitinho, enfim - um subalterno do terceiro escalão da segunda seção, que escutou de Débora, sua amante fixa, que confidenciou que seu amante, Manézinho Ferrão esteve reunido com Claudinho Bond, que contou-lhe que soube através do complicadíssimo subalterno Alarido Quark, lotado como adjunto do primeiro secretário da segunda comissão de ética provisória daquele poderoso Ministério, que ouviu da boca da gostosinha assistente de cafezinho da ante-sala do sub-ministro ...

Odete, qual é o nome da gostosinha do café?

Eu, hem!!!! Me poupe e me respeite, é ruim que vou dar nome de concorrentes diretas ... mas continuando, a gostosinha sussurrou ao Alarido Quark que dia destes estava atenta à conversa entre Jack Staff e Gherydelson Silva, quando escutou que a ordem dada pelo assessor de assuntos patrimoniais, Zé Limbo, era que se cumprisse imediatamente determinação do lugar tenente Perro Loco, irmão da dupla cantareira Serpiente Loco e Cabrio Loco, que é a dupla que manda de fato do Oiapoque ao Chuí, que está tudo do jeito que o diabo gosta, e o que está ruim, vai piorar.

Nossa ... Odete ...

Calma, amore ... - O que mais? - perguntou Lalá, dando dois passos em direção a Oscar, o hétero monogâmico serial. Olhando para mim e olhando para ela ininterruptamente, quase em colapso, entre soluços e lágrimas, falou - puxa vida, vendo vocês duas aqui, enfeitiçado pelas forças ocultas do fantasma Jaburu, não sei mais se há em mim adjunto adnominal ou complemento nominal, gente eu sou monogâmico ... para, não para, para, não para ...

Odete?! Que coisa maluca foi esta?

Não foi nada maluco, amore, apenas uma fraquejada do rapaz ...

Não, nada disto, falo da notícia de que está ruim e vai piorar...

Ah! Era isto! Bem, amore, prepare sua mochila, que logo logo, no caos apoteótico, viraremos andarilhos em busca de incertezas para entretermos nossas vidas. Ah, chega de falar destas coisas e  vem me ter em Brasília, amore, vem, vem logo, vem que sua Odetinha está alucinada só de pensar em você me ter em Brasília. Vem, amore, vem ...

É isto aí!

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