Saibam, meus amigos, que um pedido de perdão à mulher amada é quase sempre uma tentativa de justificar o injustificável.
Guardem consigo o que a vida me ensinou às duras penas:
às vezes, o amor pede razão. Outras, pede um bom álibi.
Dito isto, vou contar como ela foi embora — assim, do nada, nadinha.
Mentira, querida!
Contei uma única mentira — não me olhe assim — tudo bem, duas mentiras, mas uma foi mentirinha.
Para de olhar desse jeito!
Sim, eu sei: mentira não tem tamanho, não tem densidade, não tem caráter.
Mas a impressão que tenho é que estou numa operação de guerra, sob forte pressão do seu olhar.
Estou consciente de que menti.
Sim, já o fiz antes — e jurei nunca mais fazê-lo.
Mas, naqueles tempos, eram mentiras grandes, acobertando fatos estoicos.
Como assim, você não concorda?
Mais uma vez serei condenado por pecados passados,
trânsitos em julgados?
Saiba, minha amada, que aquelas mentiras aparentemente graves
se ancoravam no estoicismo — e eu, inocente,
apenas buscava alcançar a serenidade pela razão,
aceitando o que não se pode controlar.
Nessas versões que você insiste em chamar de mentiras,
havia apenas uma atitude impassível e austera
diante das adversidades que a vida nos reserva.
Perdoa, vai — eu sei que errei,
mas errei por um motivo maior: a nossa felicidade.
Espere... volte aqui...
Eu te amo...
Volta!!!
Tudo bem — eu, mais uma vez, perdoo você.
Vá, pode ir —
e, quando se arrepender, volte, meu amor.
Naqueles dias, nossos abraços alcançarão
nossa mútua existência
como nunca antes fizeram.
É isto aí!
