- Eu te amo, Carminha.
- Não, não me ama, Armandinho.
- Claro que sim, sinto que posso morrer por este amor.
- A morte, Armandinho, faz parte da vida, mas o modus operandi, o processo de morrer é individual, e independe das escolhas que fazemos.
- Não, Carminha, nunca fale assim comigo. Eu morro de amor por você!
- O que deseja que eu fale? Que te amo? Não, não te amo.
- Mas estamos juntos...
- Sim, estamos juntos, mas isto não faz de mim uma mulher obrigada a amá-lo.
- Lembra quando nos vimos pela primeira vez?
- Sim, claro.
- Então, Carminha? Aquilo não foi a fagulha do amor?
- Vocês homens misturam tudo - desejo, tesão, paixão e amor para vocês são as mesmas coisas.
- Mas estão juntas e misturadas.
- E nem por isto são homólogas. São transportes diferentes, cada um destes sentimentos nos levam a uma experiência distinta, sempre saindo da mesma plataforma, mas nos entregando em destinos muito distantes uns dos outros.
- Eu não entendo isto, Carminha, não entendo você.
- Não estou aqui para ser decifrada, Armandinho, quero ser amada, possuída e desejada, uma coisa de cada vez, cada qual de um jeito, e todas elas, seja quais forem, sedutoras.
- Nossa. Eu procuro fazer tudo certo para não te irritar...
- Irritar? Você quer saber o que me irrita, Armandinho? Você é todo certinho. Nunca deixa pelos da barba na pia; não surfa entre canais de TV quando estou na sala; sempre troca o rolo de papel higiênico, o sabonete e o shampoo quando acabam; sempre abaixa a tampa do vaso; apaga as luzes acesas desnecessariamente; não espalha xícaras, latinhas , farelos e sujeiras no tapete, no sofá ou na cama; nunca deixou toalhas molhadas no chão ou jogadas pela casa; não acumula roupas sujas no guarda-roupa e mantém o carro limpo e abastecido.
- Mas, Carminha, faço isto por amor... sincero e verdadeiro
- Por que você não faz alguma coisa que me irrite, Armandinho? Que eu odeie?
- Não, Carminha, jamais faria isto. Carminha, de onde tirou isto?
- Eu quero que você reclame quando eu demoro excessiva e propositadamente ao me arrumar para sairmos; quando deixo absorvente usado jogado no cantinho do banheiro; quando deixo as luzes acesas só para você apagar; quando deixo a cozinha imunda e falo que estou com dor de cabeça; quando estou excitadíssima e digo que não quero.
- Mas eu adoro saber que está se arrumando para mim, Carminha. E tudo o que faz é parte de sua personalidade. Não posso desejar que seja exatamente como desejo que seja. Puxa vida, não sei mais o que faço para ter você...
- Ai, Armandinho, sabia que adoro este seu olhar perdido, esta sua busca pela perfeição de fazer tudo bem feito só para mim? Eu quero continuar assim, sendo procurada, perdida e devassa. Agora vem querido, que a noite é curta, e preciso de você para viver os meus sonhos desta noite, por que os de amanhã ainda não aconteceram...
É isto aí!
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