quinta-feira, 14 de julho de 2016

A primeira novela da Pitangueira

A morte de César, Jean-Léon Gérôme (1867)

- Muito bem, vamos começar. Hoje vou fazer apenas a sinopse da nova peça que ensaiaremos. Todos já leram a peça? Já conseguiram entrar em seus personagens?

Sim, diretor ...

- Atenção, isto é uma ficção, não cabendo sequer comparação com a realidade de quaisquer pessoas, temas e fatos em todo o mundo. Tudo bem? Mas antes de começarmos... Tiago, quer fazer o favor de largar a boca, os braços e a bunda da Helena? Isto ... isto. Helena, quer fazer o favor de colocar sua roupa? Muito boa, digo, muito bem.

Como já sabem, esta peça trata de uma hipotética trama política interna de uma grande empresa. Helena fará o papel de secretária e o Tiago é o presidente. Nutrem um sentimento platônico. A personagem tem como seu grande amigo o Juca, um contínuo, e Tiago é casado com Telma Pavão do Rabo Dourado, a musa do Piscinão de Ramos. 

Senhor diretor ...

Pois não, Helena?!

Por que a moça é a secretária e o rapaz é o presidente? Não poderia inverter isto aí não? É de natureza machista este texto, da forma na qual se apresenta neste mundo tão globalizado

Helena, lindinha, meu bem, querida, isto é entre os produtores e o autor, tudo bem? Quem decide o que, quando, onde  por que são os produtores, e que cala e consente é o escritor, ok? Ator e atriz atuam e pronto.

Como viram a peça gira no amor platônico entre a Helena e o Tiago. A Helena é desejada pelo Juquinha, e para afastá-lo definitivamente da sua vida emocional, tomará medidas que poderão atingir o Tiago, e isto permitirá a todos, desde o porteiro ao síndico do condomínio, passando pelos lavadores de carro até os topa-tudo, terem ódio dele com ou sem motivo.

O Juquinha, por sua vez, que de bobo não tem nada ..., espera aí, Juquinha, tira esta merda deste fone do ouvido, por favor? Ok, muito bem.

Então, o Juquinha procura o Joãozinho, que disputou a vaga de presidência com o Tiago e perdeu por duas diretoras traíras, para auxiliá-lo na sua intenção, e para incentivá-lo bota pilha na possibilidade de anulação da posse do adversário.

Joãozinho, membro do Conselho Diretor, inflamado pelas multidões instigadas pelo Juquinha, entra batendo em todo mundo, querendo puxar o tapete do algoz de qualquer jeito, e acaba perdendo o contato com Juquinha e claro, também o controle das suas próprias ações. A coisa vai perdendo o foco, e amigos comuns começam a ter problemas com a empresa, com a família e com os negócios, graças às intrigas, denúncias e agressões entre as partes.

Um dia, Helena, num momento melancólico pró-Tiago, trama uma inversão de posição para enfraquecer e confundir os adversários malvados e conquistar o seu grande e verdadeiro amor. Convence a esposa do Tiago, Telma Pavão do Rabo Dourado  a assumir a empresa. A esposa, como filha única do dono, dá um pontapé na vaga preenchida pelo marido, assume o controle e multiplica o capital várias vezes.

Tiago fica a ver navios, no cais do porto e neste declínio de fraqueza, Helena buscará consolá-lo. Mas o que encontra é um homem sem brios, com baixa auto-estima, depressivo e chato. Perde o tempo e o rebolado. Ao retornar à empresa, descobre que Juquinha está no seu lugar e de caso com Telma.

Ao final da história, Joãozinho vai pagar pelos seus pecados de bobo da corte e é entregue aos leões para apaziguar os novos cristãos.

- Só uma coisa que não entendi, senhor diretor.

- Pois não, Helena?!?

- Quem é Gaius Octavius?

- É o senhor das trevas, o inominável, o maldito, a sombra dos labirintos da empresa, aquele que controla tudo e não pode ser controlado.

- Mas por que só ele vai pagar o pato?

- Não pelo que fez, mas pelo que sabe. Simples assim. Mas não se preocupe, a arte é apenas arte enquanto a vida segue e faz a sua parte. 

É isto aí!

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