terça-feira, 31 de outubro de 2017

Odete, a única one-woman show com duplo carpado de Brasília

Recebi logo de manhã a chamada de Odete. Confesso que isto foi contrário a toda a extensa relação que vivemos nos últimos anos, com suas chamadas noturnas. Desta vez sua voz era pálida, tensa e desregrada de alegria.

Conta a lenda em Brasília que no auge da doação das coisas federais aos amigos dos amigos dos amigos insuspeitosíssimos no interesses da coisa privada, Odete foi chamada para animar um petit comité de exclusivos gaiatos de determinado maestro mor da orgia nacional. Em lá chegando com sua discreta vestimenta romana de domínio público, viu tanta sacanagem privada que se sentiu impotente com tamanha concorrência e aquele foi, segundo consta, o único dia frustrante da sua notável carreira de one-woman show. Nunca mais aceitou os incansáveis convites para retornar à famosa mansão do maior defenestrador tabajara de todos os tempos - aos amigos dizia que se sentia enojada de tanta sacanagem junta.

- Odete?! Adoro ouvir sua voz!!

- Oi amor.

- Caramba, o que está acontecendo, querida?

- Nada e tudo, não é?

- Humm, está séria hoje, melhor não brincar. Me conte, Odete, o que a fez ficar assim?

- Demorou ... como sabe, amore, eu não faço delação premiada, eu só falo a verdade.

- Sim, claro, eu sei e sei muito bem mesmo.

- Então! Outro dia estava fazendo um movimento duplo sanduíche carpado com a Cíntia, minha manager de aberturas estéticas psico-emotivas neuro-trans-sensoriais, quando de repente, assim do nada ela ...

- Espera, Odete, meu bem - o que vem a ser um duplo sanduíche carpado?

- Credo, vai dizer que você nunca viu nada a este respeito? Que vidinha mais ou menos esta sem euzinha ao seu lado, hem?! Primeiro que só funciona com duas fêmeas cis do sexo feminino duplo X. Tudo bem até aí?

- Se você falou, acredito.

- Então, meu bem, vamos por etapas. O carpado é um movimento executado com o corpo dobrado nos quadris, pernas esticadas sem flexão dos joelhos e pés distendidos - movimento anatomicamente feminino.

- Interessante, Odete ...

- Nossa, que bom que gostou. O duplo é claro, duas moças com capacidade olímpica e o sanduíche é a forma como se vê o movimento, entendeu, meu bem? É uma modalidade olímpica personal íntima.

- Ah, agora eu acho que consegui imaginar a cena. Desculpa a interrupção.

- Não, tudo bem, você precisa vir me ter em Brasília para te mostrar o carpado twist pivotante que guardei só para você (gargalhadas).

- Finalmente ouço alegria sair da sua boca, Odete. Carpado twist pivotante ... carpado twist pivotante ... uau uau uau ...

- É por você, amore, e este calor abrasador de Brasília. Vem, amore, vem me ter.

- Mas, voltando à Cíntia ...

- Ah, é, então, pois é. Estávamos lá em movimento sincronizado do carpado sanduíche quando do nada entrou na nossa academia uma mulher bela, recatada e do lar.

- Aquela?

- Não, aquela não frequenta movimentos sincronizados. Mas foi outra, Débora K. Já falei dela?

- Não que eu lembre, Odete.

- Débora K. foi causa protagonizadora de ação cinematográfica, discreta e compulsória de tradicional família endinheirada, rica e poderosa das terras tupy-guaranys, cuja filha fora casada com um alto escalão das Esplanadas que teve um caso sinistro com a moça. A família da esposa deu a Débora K. uma aposentadoria milionária enquanto o ex-marido ex-super tudo do Planalto saiu para um retiro espiritual despojado de valores materiais, no Nepal.

- Que coisa, hem. No Nepal, hem??

- Bobo, você entendeu. Débora K. nos contou que estava em fantástica festa de Madame V., uma hostess incrível da Asa Norte, em requentado endereço de triste memória para uns ainda por aí. Madame V. confidenciou-lhe que escutou uma bomba de Karla T., uma mocinha também de família tradicional da elite financeira do Plano Piloto, disputadíssima no mercado imobiliário por ter desenvolvido uma técnica peculiar de pompoarismo única, exclusivamente para atender aos reclames dos velhinhos hipertensos da Esplanada que passam ao largo das azuizinhas.

- Uau ...

- Alto lá, querido, você pode abaixar o facho, você só vem a Brasília para me ter e só isto, hem!!

- Foi a empolgação, Odete, você é a mulher da minha vida.

- Ah, bom! Bem, Karlinha T. contou que estava atendendo aos reclames e babados literais de um dos velhinhos da turma do "você sabe quem", e no embalo da empolgação ele sussurrou estasiado que o sonho dele era ter também uma samantha do lar.

- Samantha do lar? O que é isto, Odete?

- Nossa, tenho que te ensinar tudo. Samantha é uma boneca de alta bionanotecnologia, que responde a estímulos com discernimento, tal qual uma imaculada bela, recatada e do lar.

- Credo, então desejam ficar mil anos e para isto estão querendo até clone da ...

- Não falei nada, não disse nada, não sei de nada, qualquer coisa que disser, pensar ou ousar pensar é sob a sua única e absoluta responsabilidade. 

- Puxa vida, Odete ...

- Ai, amore, para tudo, vem me ter em Brasília, vem, vem depressa, vem sem medo ...

- Eu ... eu ... eu ... alô! alô?! merda, logo agora foi acabar a bateria ...

É isto aí!

Navigare necesse, vivere non est necesse.

Alto lá
Este texto não é meu
Copiei e colei
Autor: Universidade de Coimbra
Fonte: Navegar 

"Navegar é preciso, viver não é preciso" 
No século I a.c., o general romano Pompeu, encorajava marinheiros receosos, inaugurando a frase “Navigare necesse, vivere non est necesse.”

Corria o século XIV e o poeta italiano Petrarca transformava a expressão para “Navegar é preciso, viver não é preciso.”

“Quero para mim o espírito dessa frase”, escreveu depois Fernando Pessoa, confinando o seu sentido de vida à criação.

E cantando a coragem navegante, em jeito de fado brasileiro, Caetano Veloso escreveu Os Argonautas. “Navegar é preciso, viver …” Com um fim inacabado, a música lança as interrogações.

Navegar é preciso?

Sim! Navegar é uma viagem exata. Fazia-se com bússolas e astrolábios. Hoje, faz-se com satélites, GPS’ e www’s.

Viver não é preciso?

Não! É uma viagem feita de opções, medos, forças, inseguranças, persistências, constâncias e transições …

Mais de 2000 mil anos depois, interrogamo-nos:

Viver não é preciso?

Não, quando navegar é sonhar, ousar, planear, arriscar, empreender, realizar… 
Porque aí, navegar é viver!


Bem-vindo navegador!


domingo, 29 de outubro de 2017

No Divã da Pitangueira com a não felicidade

- Sabe, doutor, eu não sei nem por onde começar ...

- Bem, isto já é um começo. Pegue uma ponta do novelo e traga para fora.

- Então ... eu era feliz (lágrimas discretas). Agora ninguém me curte mais

- Entendo até o "eu era ...", mas o ninguém me curte é com o facebook.

- Sim, eu era feliz (lágrimas indiscretas). Snif ... snif, é mesmo ... sempre tem o facebook ...

- Voltando ao seu sentimento. Era feliz? Defina a felicidade.

- Como assim, doutor?

- Você era feliz, então defina este processo.

- Eu não tinha problemas, não tinha cobranças, não tinha dúvidas, não tinha ...sei lá! Não tinha esta angústia.

- Vê como isto é confuso - se a felicidade é composta de exclusões, para onde elas foram?

- Desculpa, doutor, mas o senhor é muito esquisito.

- Não sou o esquisito aqui, e saiba que a análise comparativa de saber que não tinha é por que a conhecia.

- Ahn? Como assim, quem eu conhecia?

- A não felicidade. Você sabia que não a possuía, logo a conhecia.

- Doutor, isto está confuso, eu sempre fui feliz.

- Sempre? Não seria esta uma negação? Você de uma forma inconsciente não teria ativado um mecanismo de defesa que basicamente a faz recusar-se a reconhecer que um dia conheceu a não felicidade?

- Isto é um absurdo. Como ousa falar de uma coisa tão fora de propósito com esta?

- Bem, não creio que está fora de propósito. É natural a negação, é humana, é inerente ao desejo das pessoas. Algumas podem passar ao largo dela, mas outras entram na sua realidade e ali vivem e vivenciam suas angústias. isto é que a trouxe aqui. - Afinal, me responda, o que é a verdade?

- Doutor, que loucura é esta? O senhor está de forma sub-reptícia lavando as mãos sobre o meu sofrimento ...

- Quer falar mais sobre isto?

- Não! Não - mim não fala mais nada.

- Veja bem, Mim, na sua forma completa, a negação é totalmente inconsciente e esse mecanismo de defesa também pode ter um elemento consciente significativo, onde a pessoa simplesmente “faz vista grossa” para uma situação desconfortável.

- Não me abalo - eu sei quem sou e a verdade está comigo e em mim.

- Muito bem, tivemos um importante avanço. Te vejo semana que vem.

- Eu te perdoo, doutor ...

- Semana que vem?!?

- Pode ser ... pode ser ...

É isto aí!

sábado, 28 de outubro de 2017

Classificados moderninhos do amor

Diário da Pitangueira, 29 de outubro de 2017

Classificados de amor!!

Classificados de Amores Perdidos

Perdi um grande amor na frente da Loja da Margarida, ela tem cerca de 1,60 m, cerca de 50 Kg, elegante, entre 25 e trinta anos, cabelos negros em corte chanel, nariz arrebitado, côncavo com a ponta suavemente arredondada, olhos proeminentes, iris castanha escura, vestido azul clássico, salto médio e andar paradisíaco.

Cartas com foto de identificação para este jornal sob o código A 137


Classificados de Ex-Amores Achados

Encontrei um velho amigo perdido na rua, e arrependida preciso urgentemente me desfazer dele, por que me lembrei o motivo de não nos encontrarmos há muito tempo. Ele era sobrinho da falecida dona Sinhá, salgadeira oficial do reino, já falecida, coitada, que Deus a tenha. 

Quem se interessar pelo velho amigo, cartas para este jornal sob o código B 362
PS entrego em domicílio e não aceito devolução, reclamação ou troca ou renegociação.

Classificados de Locação de Amor

Alugo uma namorada de 32 anos, professora, bonitinha, solteira, fala e conversa sobre diversos temas, come pouco, com sotaque interessante, meio paulista meio carioca. Quando tem tempo ela é romântica, carinhosa, educada, e quando tem bom humor te ajuda a lavar, passar, cozinhar, arrumar casa, etc.

Tem disponibilidade razoável somente para alguns finais de semana durante o ano  quando não está em sala de aula, ou corrigindo prova, ou corrigindo trabalho, ou lançando  nota, ou preparando aula, ou fazendo fichário, ou preenchendo diário de classe, ou pesquisando temas e gravuras para as aulas no Pinterest, ou escrevendo faixas e cartazes, ou ensaiando a turma da coreografia, ou dando aula de reforço, ou aplicando avaliação de ingresso ou aplicando recuperação, ou em reunião de pais e mestres ou em reunião de conselho de classe, ou em reunião com a diretora ou com a supervisora pedagógica, ou em vídeo-conferência, ou em oficina de artes ou em curso de especialização, ou no mestrado ou conversando com as amigas professoras.

Tratar neste jornal sob o Código D 980

Classificados de Venda de Cônjuges

Vendo meu marido por qualquer oferta.
Tratar urgente sob o código F465 ou então pode pegar a coisa bebendo no Bar do Padeirinho, onde atenderá pela alcunha de Colé Quié.

Classificados de Escambo Conjugal

Troco urgente por carro, moto ou bicicleta em excelente estado de conservação minha adorável esposa, minha estimada sogra, meus dois insuperáveis cunhados com suas digníssimas esposas.

Tratar neste jornal sob o código H672

Classificados de Home-care

Por motivo de viagem procuro uma cuidadora para meu marido. Ele tem hábitos normais para sua capacidade cognitiva tais como reclamação geral de tudo, desaprovação da comida, da roupa, da casa, do lixo, da televisão, do carro estacionado do outro lado da rua pelo namorado da filha do vizinho, do meu banho, da minha bolsa, da minha mãe, da minha voz, do choro da criança que mora seis casas abaixo da nossa, das formigas, dos pernilongos e dos elefantes. Favor não tocar em assuntos sobre  política, religião e esporte, pois ele é o único especialista do mundo. Desconhece vaso sanitário, sabonete e bons modos à mesa, enfim, tirando isto é uma boa pessoa.

Tratar neste jornal sob o Código K786

É isto aí!



A vileza se ergue entre os homens


Salvai-nos, Senhor, 
pois desaparecem 
os homens piedosos, 
e a lealdade se extingue 
entre os homens.

Uns não têm 
para com os outros 
senão palavras mentirosas; 
adulação na boca, 
duplicidade no coração. 

Que o Senhor extirpe 
os lábios hipócritas 
e a língua insolente. 

Aqueles que dizem: 
Dominaremos pela nossa língua, 
nossos lábios trabalham para nós, 
quem nos será senhor? 

Responde, porém, o Senhor: 
Por causa da aflição dos humildes 
e dos gemidos dos pobres, 
levantar-me-ei 
para lhes dar a salvação 
que desejam. 

As palavras do Senhor 
são palavras sinceras, 
puras como a prata acrisolada, 
isenta de ganga, 
sete vezes depurada. 

Vós, Senhor, 
haveis de nos guardar, 
defender-nos-eis sempre 
dessa raça maléfica, 
porque os ímpios 
andam de todos os lados, 
enquanto a vileza 
se ergue entre os homens.

Salmo 11 (12)


sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Não tem problema, o importante é defender a ideia

Resultado de imagem para banana land
- O Brasil doou seu petróleo às multinacionais.
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil desempregou 12 milhões de trabalhadores desde o golpe.
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil retornou com o Trabalho Escravo
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil reduziu os recursos de Educação para acabar com as universidades federais
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil vê toda a farsa da compra de deputados e senadores do golpe feito um retardado
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

-  Brasil vai privatizar a parte rentável da previdência social e fechar a porta da assistência social.
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- Há corrupção alarmante desenfreada em todos os níveis do poder federal
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- A Eletrobrás será brevemente entregue ao capital internacional triplicando a conta de luz
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O gás de cozinha dobrou de preço desde o golpe e duplicará agora com a entrega da Petrobrás.
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil depois do golpe fechou todas as indústrias navais nacionais.
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil está desestatizando a saúde pública paulatinamente até entrega-la ao setor privado em 2018.
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil permitirá que o trabalhador nunca se aposente plenamente, mas terá que pagar mais por isto.
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil está privatizando suas hidrelétricas e de quebra entregando sua água doce.
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil fechou todo o projeto de energia nuclear de defesa militar depois do golpe.
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil tornou-se um hipócrita moralista impedindo movimentos culturais.
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil voltou a ter bolsões de miséria e de fome.
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil que é um país caboclo mestiço e multi-racial permitiu com o golpe o terror racista.
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil permitiu que a classe média ficasse endividada e emparedada no cartão de crédito e cheque especial com juros criminosos
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil permite que apenas um jornal de porte nacional seja o porta voz da vontade golpista
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil está gerando uma violência social hedionda entre as pessoas de bem depois do golpe.
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil permitiu a volta da censura sem limites em nome de um movimento fascistoide
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil entrará em profunda depressão moral e cívica nos próximos anos.
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil em breve terceirizará os Correios
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil acabou com a CLT e tudo será terceirizado, em todos os níveis, depois de 11/11
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil perderá em breve seus três bancos estatais em nome do poder mundial
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil com o golpe é apenas um enorme idiota útil deitado eternamente em berço esplêndido. 
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O Brasil do golpe permitiu que o seu congresso golpista comece a impor às pessoas com mais de sessenta anos a perca do direito aos planos privados de saúde, a não ser que paguem valores estratosféricos, fora da realidade da classe média.
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

- O golpe permitiu que o país seja governado por uma plutocracia em defesa de 1% da população que se porta como transnacional, com vergonha de ser brasileira.
Não tem problema, o importante é defender a ideia de que vai acabar com a corrupção.

É isto aí!

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Estranho o seu nome (Pareço Louca)

Alto lá - Este poema não é meu
Confesso que copiei e colei
Autora - Amanda Machado*
Fonte - Blog Pareço Louca (Estranho o seu nome)


Estranho o seu nome, 
que não é estrangeiro, 
não tem letras duplas 
ou importadas 
do alfabeto de outra língua.
Estranho porque é comum, 
familiar, 
fácil de escrever 
e com pronúncia melodiosa.
Nome que parece morar 
na minha memória 
antes do meu. 
Estranho o seu nome, 
porque ele cabe 
nas minhas mãos, 
olhos, costelas, 
boca, ventre, 
nuca, coxas, 
pulmão, sola dos pés, 
cotovelos e costas. 
Estranho o seu nome, 
quando ouço alguém chamá-lo, 
mesmo que seja em outra pessoa; 
é seu o nome ... 
Estranho de querer repeti-lo 
muitas vezes, 
silenciosamente, 
de ouvi-lo em todo lugar, 
mesmo que ninguém o pronuncie. 
Estranho de não saber 
como me desviar dele, 
não deixar de anotá-lo 
numa folha limpa 
do caderno, 
no bloquinho da gaveta 
da cozinha, 
do lado das listas de compras.
Estranho 
porque nele contém a história 
de uma pessoa inteira. 
Porque não é 
um substantivo próprio ...
na minha gramática.
Estranho seu nome: 
adjetivo, verbo, 
pronome, artigo 
completamente definido.
Estranho seu nome, 
porque dele 
e nele 
vivo! 
Porque não sei 
gostar de falar 
nenhum outro, 
como falo 
e penso falar 
o seu nome.
Estranho o seu nome 
porque não pertenço a ele. 
Estranho, 
por não querer me agarrar 
a nenhuma das sílabas dele.

*Amanta Machado é escritora, contista e gente fina. Pode conferir aqui:

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Metanoia do amor

- Então?  Vai me amar ou não? - perguntou a mocinha descabida de vergonha ao rapazote.

- Amar? Eu? Você? Nutrir um sentimento mútuo? Mãos dadas? Passear no parque? Visitar a sua casa? 

- Credo, Guassiano, de onde você tira estas ideias?

- Ideias? O amor é mais do que ideias, Flávia Roberta. O amor é um poema que transpira vida.

- Guassiano Anderson, você é doido e eu como graduada na faculdade de ciências das psiquês pitangueiras e adjacentes e pós-graduada em BelleDancer na famosa Academia Filosófica La Vie en Rose de Madame Naná, já sei o que eu vou fazer com você.

- Como assim comigo, Flavinha? Você vai fazer uma terapia experimental em mim? E os efeitos colaterais? E se eu perder a minha identidade apenas para te agradar e passar a ter uma persona que te pertença, que se enquadre no seu ser e não no meu eu?

- Tem nada disto, Dedé. Larga mão de ser neurótico. Nós crescemos juntos, já fizemos um monte de coisas juntos, já viajamos juntos, já nos divertimos juntos, mas nunca nos amamos, Dedé.

- Eu achei que a gente se amava, Flavinha, cada um a sua maneira. Eu te amo, Flavinha, dentro daquilo que eu acredito que é o amor.

- Chega, Dedé, tem nada disto. Vou ter que te injetar uma metanoia radical na veia, Dedé.

- Flavinha, você ficou louca?

- Dedé, para com isto, metanoia radical é fazer mudar de ideia, ter um esclarecimento tipo revolucionário. É quase uma auto-cura para que este seu eu não-compreensivo entenda que quero  dizer e fazer.

- Flavinha, isto é sério mesmo?

- Serissimo, Dedé. Eu vou dar uma repaginada nos seus conceitos.

- E como será isto, Flavinha?

- Tira  a roupa. Dedé.

- Mas ... mas ...

- Nada de mas. Tira a roupa para que eu comece a terapia.

É isto aí!

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Que os povos vos louvem, ó Deus (Salmo 66)

Telescópio Hubble

Tenha Deus
piedade de nós 
e nos abençoe, 
faça resplandecer 
sobre nós 
a luz da sua face, 
para que se conheçam 
na terra 
os seus caminhos 
e em todas as nações 
a sua salvação. 
Que os povos 
vos louvem, 
ó Deus, 
que todos os povos 
vos glorifiquem. 
Alegrem-se 
e exultem as nações, 
porquanto 
com eqüidade 
regeis os povos 
e dirigis as nações 
sobre a terra. 
Que os povos 
vos louvem, 
ó Deus, 
que todos os povos 
vos glorifiquem. 
A terra deu o seu fruto, 
abençoou-nos o Senhor, 
nosso Deus. 
Sim, 
que Deus nos abençoe, 
e que o reverenciem 
até os confins da terra.

domingo, 22 de outubro de 2017

Carta aberta ao Mundo

"Cristo Carregando Cruz", de Martin Schongauer


Estou triste, irremediavelmente triste. Cada vez mais pais estão enterrando seus filhos vítimas de um ódio semeado, adubado e aguado pela ganância, pela maldade, pela má vontade de poucos sobre a vida de todos.

Esta tragédia em Goiás, puxa vida, que merda foi esta? Eram crianças como as de Janaúba. Crianças, veja bem, até onde vai este ódio? Isto é coisa do mundo, é coisa humana, caso pensado para nos intimidar, reduzir nossa fé, nossas crenças, nossa esperança.

Na semana que passou, pessoas adeptas de seitas africanas fora expulsas das comunidades da cidade maravilhosa por que pessoas que se auto-intitulam evangélicas não aceitam estas coisas. Olha só que loucura, estas mesmas pessoas supostamente estão envolvidas em mortes, assaltos, roubos, financiamentos políticos (como foi afirmado aqui) são capazes de se rotularem cristãs, mesmo com o movimento anti-cristão.

E não venha, Mundo, falar que isto, que estas tragédias são coisas de Deus, que Deus quis, que Deus permitiu, etc e tal. Fosse assim não teríamos o livre arbítrio e a racionalidade, seríamos animais tal qual todas as outras espécies existentes neste planeta.

Isto, Mundo, está sendo feito por pessoas que não querem que sejamos imagem e semelhança de Deus, e sim idiotas úteis a fazer dancinhas ridículas e coreografadas em defesa de interesses seculares. 

Daqui a poucos dias outras tragédias sucederão estas e depois outras e depois outras até que a vida perceba que tudo se consumará. Muitas coisas más estão acontecendo no dia a dia, tão graves quanto os assassinatos coletivos, todas atingindo as famílias, o amor próprio e a fé. Só não vê quem não quer ver, por que os que desejam que seja assim se deliciam em orgasmos múltiplos

É isto aí!

sábado, 21 de outubro de 2017

Papo de Esquina XLI


- Outro dia eu ia falar para um deputado golpista que seu problema não era ser contra a  corrupção.

- E falou tudo?

- Disse que ele é bichinho de estimação da supremacia branca corrupta?

- Não, não disse nada. Deixei prá lá, afinal de contas cobra venenosa é surda ...

É isto aí

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

O retorno ao trabalho escravo no Brasil

O retorno ao trabalho escravo no Brasil (ou TEMER, EU TENHO NOJO DE VOCÊ!)

1. Amável Donzela (1788 a 1806)
2. Boa Intenção (1798 a 1802)
3. Brinquedo dos Meninos (1800 a 1826)
4. Caridade (1799 a 1836)
5. Feliz Destino (1818 a 1821)
6. Feliz Dias a Pobrezinhos (1812)
7. Graciosa Vingativa (1840 a 1845)
8. Regeneradora (1823 a 1825)

Estes são alguns nomes, escolhidos propositadamente pela Coroa portuguesa, que batizavam os navios Negreiros que traziam pessoas livres para serem escravizadas no Brasil. Sugiro que Temer proclame como o nome das fazendas dos seus senhores feudais do século XXI

Abaixo a foto real (Marc Ferrez) de um navio negreiro aportado no Rio de Janeiro, esperando autorização para desembarque, em 1882

Fonte: https://www.geledes.org.br/lista-navios-negreiros-cinismo-comerciantes-seres-humanos-oceano-atlantico/



quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Não vos vades vós (poemeu)


Não vos vades vós 
Ir-vos-ei
e credes
sê-lo-eis
imputadas
as pechas
de Idiota
Id ota
Ide ota
Ide otário
ao lamber
solitário
a sola
dos pés
do capitão
do mato
que serve
ao diabo
que se
entope
de roubos
e golpes
e deleita
com a
lei maldita
imperfeita
para vós
serdes destruído
no lagar
feito uva
pisando-vos
pé por pé
Idiota
Ide vós
se a sina
da vossa vida
é terdes sempre
aberta uma
mal cheirosa 
e putrefata
ferida
na alma.


É isto aí!


Saudade (Pablo Neruda)

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas a amada já...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais... 
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.


Me Gritaron Negra, Victoria Santa Cruz


Fonte da imagem de Victoria Eugenia Santa Cruz: Wikipédia


Victoria Eugenia Santa Cruz Gamarra (La Victoria, 27 de outubro de 1922 — Lima, 30 de agosto de 2014) foi uma poeta, coreógrafa, folclorista, estilista e ativista afro-peruana. Junto com seu irmão, Nicomedes Santa Cruz, é considerada significativa em um renascimento da cultura afro-peruana nos anos 1960 e 1970. (Wikipédia)

Tinha sete anos apenas,
apenas sete anos,
Que sete anos!
Não chegava nem a cinco!
De repente umas vozes na rua
me gritaram Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!
“Por acaso sou negra?” – me disse
SIM!
“Que coisa é ser negra?”
Negra!
E eu não sabia a triste verdade que aquilo escondia.
Negra!
E me senti negra,
Negra!
Como eles diziam
Negra!
E retrocedi
Negra!
Como eles queriam
Negra!
E odiei meus cabelos e meus lábios grossos
e mirei apenada minha carne tostada
E retrocedi
Negra!
E retrocedi . . .
Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra! Negra! Neeegra!
Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra!
E passava o tempo,
e sempre amargurada
Continuava levando nas minhas costas
minha pesada carga
E como pesava!…
Alisei o cabelo,
Passei pó na cara,
e entre minhas entranhas sempre ressoava a mesma palavra
Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra! Negra! Neeegra!
Até que um dia que retrocedia , retrocedia e que ia cair
Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra! Negra! Negra!
E daí?
E daí?
Negra!
Sim
Negra!
Sou
Negra!
Negra
Negra!
Negra sou
Negra!
Sim
Negra!
Sou
Negra!
Negra
Negra!
Negra sou
De hoje em diante não quero
alisar meu cabelo
Não quero
E vou rir daqueles,
que por evitar – segundo eles –
que por evitar-nos algum disabor
Chamam aos negros de gente de cor
E de que cor!
NEGRA
E como soa lindo!
NEGRO
E que ritmo tem!
Negro Negro Negro Negro
Negro Negro Negro Negro
Negro Negro Negro Negro
Negro Negro Negro
Afinal
Afinal compreendi
AFINAL
Já não retrocedo
AFINAL
E avanço segura
AFINAL
Avanço e espero
AFINAL
E bendigo aos céus porque quis Deus
que negro azeviche fosse minha cor
E já compreendi
AFINAL
Já tenho a chave!
NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO
NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO
NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO
NEGRO NEGRO
Negra sou!

Poema de composición de Victoria Santa Cruz. En este video Victoria relata parte de su historia de vida y su relación con la composición de dicho poema.

Extracto de la serie de documentales Retratos de TV Perú. Título del programa:  Victoria Santa Cruz, negro es mi color

Fonte Youtube: Victoria Santa Cruz : Me gritaron negra




" Me gritaron negra"
(Victoria Santa Cruz)

Tenia siete años apenas,
apenas siete años,
¡Que siete años!
¡No llegaba a cinco siquiera!

De pronto unas voces en la calle
me gritaron ¡Negra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!
"¿Soy acaso negra?"- me dije
¡SI!
"¿Qué cosa es ser negra?"
¡Negra!
Y yo no sabía la triste verdad que aquello escondía.
¡Negra!
Y me sentí negra,
¡Negra!
Como ellos decían
¡Negra!
Y retrocedí
¡Negra!
Como ellos querían
¡Negra!
Y odie mis cabellos y mis labios gruesos
y mire apenada mi carne tostada
Y retrocedí
¡Negra!
Y retrocedí . . .
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Neeegra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!

Y pasaba el tiempo,
y siempre amargada
Seguía llevando a mi espalda
mi pesada carga
¡Y como pesaba!...

Me alacie el cabello,
me polve la cara,
y entre mis entrañas siempre resonaba la misma palabra
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Neeegra!

Hasta que un día que retrocedía , retrocedía y que iba a caer
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!
¡Negra! ¡Negra! ¡Negra!

¿Y qué?
¿Y qué?

¡Negra!
Si
¡Negra!
Soy
¡Negra!
Negra
¡Negra!
Negra soy

¡Negra!
Si
¡Negra!
Soy
¡Negra!
Negra
¡Negra!
Negra soy

De hoy en adelante no quiero
laciar mi cabello
No quiero
Y voy a reírme de aquellos,
que por evitar según ellos
que por evitarnos algún sinsabor
Llaman a los negros gente de color
¡Y de que color!
NEGRO
¡Y que lindo suena!
NEGRO
¡Y que ritmo tiene!
NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO
NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO
NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO
NEGRO NEGRO NEGRO

Al fin
Al fin comprendí
AL FIN
Ya no retrocedo
AL FIN
Y avanzo segura
AL FIN
Avanzo y espero
AL FIN
Y bendigo al cielo porque quiso Dios
que negro azabache fuese mi color
Y ya comprendí
AL FIN
¡Ya tengo la llave!
NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO
NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO
NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO
NEGRO NEGRO
¡Negra soy¡



quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Da Colina do Bom Senso vê-se o Putoscópio


Observadores postados na Colina do Bom Senso do Reino da Pitangueira perceberam o que há de mais moderno em Bananaland, mais especificamente na sua bela capital no planalto central da ré púbica a quem passaram a denominar de Putoscópio de Mala.

Existem outros modelos e variações como putoscópios de agências de encontros, de casas de massagem, de templos salvíficos, de mulheres mal amadas, mas Putoscópio de Mala supera todos, pois é a unificação do conceito.

Segundo estudiosos da Real Academia da Pitangueira, o  Putoscópio da Mala é um dispositivo que consiste num safado suspenso por um suporte formado por três instituições articuladas, com juntas tipo papel moeda modelado. Seu funcionamento baseia-se no princípio da inércia. O eixo em rotação tem um efeito de memória que guarda direção fixa em relação ao círculo máximo, dispensando as coordenadas constitucionais. 

O Putoscópio veio a substituir a Sacanagem Putocrática na navegação visual, surreal e cretina. A navegação visual serve-se de putocompasso e piloto automático, permitindo o voto em condições de visibilidade zero. Nos votos especiais o dispositivo é fundamental para a orientação das espaçoputas.

O Putoscópio consiste essencialmente em uma rodada livre, ou varias rodadas (depende do puto), para girar em qualquer direção e com uma propriedade: opõe-se a qualquer tentativa de mudar sua direção original. Exemplo facilmente observável é que, ao travar a rodada de um putocrata no ar e tentar mudar a direção de seu eixo bruscamente, percebe-se uma enorme reação.

Dessa maneira, o Putoscópio serve como referência de direção, mas não de posição. Ou seja, é possível movimentar um Putoscópio normalmente dentro dos labirintos, saunas e secretos caminhos de Bananaland sem qualquer trabalho além do necessário para transportar sua massa de papel moeda, seus golpes, suas sombras e suas farsas editadas por homens de bem e distribuídas ao deleite de bornais nacionais. 

Há de se considerar sempre que em um Putoscópio autorizado, de linhagem ética e zelosa, a resistência sempre, desde tempos memoriais de Dom João e sua louca amada, surgirá contrária a forças que atuem de maneira a rotacionar seu eixo de rotação a qualquer configuração não paralela à sua posição original. 

Assim, um homem de bem, destes que sempre fazem excessiva rotação à esquematosa benevolência intestina, uma vez munido de um putoscópio, pode medir com precisão qualquer mudança em sua orientação, exceto rotações que ocorram no plano de giro dos discos do putoscópio. Isto explica de uma maneira singular por que um Putocrata, ao lançar mão de seu Putoscópio, necessita obrigatoriamente de dois outros putoscópios institucionais perpendiculares de modo a integralizar a possibilidade de detecção de variações na orientação.

É interessante registrar que um putoscópio é indicado e usado como auxiliar em navegação de helicópteros radio controlados, corrigindo automaticamente o curso até seu completo desaparecimento.

PS - As agências de segurança terrestre, aeronáutica, náutica, institucional, suprema, executiva e as naves espaciais utilizam um aparelho baseado no putoscópio conhecido como putoscópio humano para o treinamento de putocratas. O putocrata utiliza o peso das malas como motor e tem a sensação de "driblar a gravidade da cafetinagem explícita". Somente depois de estar apto ao Putoscópio humano o putonauta estará pronto para fazer golpes especiais.

É isto aí!

terça-feira, 17 de outubro de 2017

A rede neural do poder ou quem mandou fechar a zona?

Naquela noite o Rei não foi feliz na relação plena com a fidalga Karmelytta Djackeline, sua concubina predileta. Na hora daquele enlace perfeito, o momento no qual o supremo encaixa, mata no peito, julga, processa e regozija para delírio plenário foi interrompido pelo chamado urgente do camareiro para atender ao Consul do Reino da Águia, cujo bom senso o impedia de deixar esperar. A reunião durou cerca de três horas. Ao voltar a amada dormia.

Mal amanheceu o dia, ainda de péssimo humor e ainda sob efeito da pílula azul, mandou chamar o Grão-Duque.

- Pois não, Vossa Majestade Imperial!
- Meu filho, aumente os impostos, amplie as prisões, corte os gastos com saúde e educação.
- Sua ordem será atendida, Vossa Majestade Imperial.

O Grão-Duque saiu furioso - que merda, papai me colocou num tremendo rabo de foguete. Vou ficar mal na fita com as meninas das vilas. Puta que o pariu! Já sei!! Comandante, manda trazer aquela bosta daquele Marquês aqui.
- Quando, Vossa Alteza?
- Agora, Comandante, agora!

- Pois não Vossa Alteza Imperial?
- Marquês, sei que Vossa Graça sempre foi fiel ao Rei e ao Reino.
- Perfeitamente, Vossa Alteza Imperial, e o faço com lealdade e prazer.
- Meu pai, digo, Vossa Majestade Imperial, o Rei, determinou que Vossa Graça Imperial, o Senhor Marquês,  aumente os impostos, amplie as prisões, corte os gastos com saúde e educação e aumente os juros de financiamento às empresas privadas.
- Farei imediatamente, Vossa Alteza Imperial.

O Marquês saiu furioso - que merda, quem este filhinho de papai pensa que é? Me colocou num tremendo rabo de foguete. Vou ficar mal na fita com os bofes e regalos do platô. Puta que o pariu! Já sei!! Coronel, manda trazer aquela inútil daquele Conde aqui, e quero que seja agora!

- Pois não, Vossa Graça Imperial?
- Nobre Conde, saiba que tenho muito apreço por Vossa Excelência que em muito tem contribuído para o engrandecimento do Reino.
- Agrada-me saber proferido diretamente por Vossa Graça Imperial. A que devo a honra?
- Vossa Alteza Imperial, o Grão-Duque determinou que Vossa Excelência, o Senhor Conde,  aumente os impostos, amplie as prisões, corte os gastos com saúde e educação e aumente os juros de financiamento às empresas privadas e reforce a censura aos meios de comunicação.
- Assim o farei, Vossa Graça e nobre Marquês.

O Conde saiu furioso. Puta que o pariu, quem este veadinho pensa que é? Mas que merda. Me colocou na lama agora. Como vou ficar com as donzelas e viúvas do Reino, a quem presto apreço e atenção íntima?  Hummm, já sei, vou passar este abacaxi para aquele inútil do Visconde. 

- Capitão da Guarda, traga aqui imediatamente Sua Graça, o Visconde.

- Pois não Vossa Excelência?
- Nobre Visconde, Sua Graça Imperial é o equilíbrio da Corte diante do povo e do clero.
- Muito gentil de Vossa Parte, Vossa Excelência.
- Então, mais uma vez contamos com vossa determinação juramentada para cumprir com a ordem da Vossa Graça Imperial, o Marquês. Por determinação imperial, Sua Graça, nobre Visconde, deverá aumentar os impostos, ampliar as prisões, cortar os gastos com saúde e educação, aumentar os juros de financiamento às empresas privadas, reforçar a censura aos meios de comunicação e triplicar o imposto previdenciário do empregado.
- Assim será feito, Vossa Excelência; assim será feito.

O Visconde saiu dali revoltadíssimo. Mas que desgraça. Quem este animador de velório para catar viúvas pensa que é? Que sacanagem. Que coisa horrível. Como vou continuar bancando os meus cassinos ilegais? É muita pressão. Pressão rima com Barão - é isto - Tenente, convoque imediatamente Sua Senhoria, o Barão.

- Pois não, Vossa Graça Imperial, nobre Visconde?
- Senhor Barão, serei franco e direto com Sua Senhoria, pois trata-se de um delicado assunto de Estado que depende única e exclusivamente de uma atitude sua.
- Estou pronto, Visconde, Vossa Graça Imperial sabe que sempre estou pronto.
- Ótimo, Sua Senhoria está a partir deste momento sob a obrigação de promover a Lei e a Ordem do Reino, já infestado de parasitas pseudo-intelectualoides e conspiradores descrentes da fé no Rei. Desta forma, para mostrar quem de fato manda e governa, deverá aumentar os impostos, ampliar as prisões, cortar os gastos com saúde e educação, aumentar os juros de financiamento às empresas privadas, reforçar a censura aos meios de comunicação, triplicar o imposto previdenciário do empregado e ampliar de 40 para 60 horas trabalhadas por semana.
- Mais alguma coisa, Vossa Graça Imperial?
- Não, mas faça isto imediatamente, entendeu? Imediatamente.

O Barão saiu dali com um discreto sorriso nos lábios, passou no Palácio das Hortências onde se hospedava a fidalga Karmelytta Djackeline. e aguardou a visita secreta de Sua Alteza Imperial.

- Vossa Majestade Imperial! estou ao seu dispor.
- Então, Barão, vamos ao que interessa.
- Aumentaram a dose da ordem, Vossa Majestade.
- Hummm, entendo. Manda fechar a Zona e prender as moças.
- Todas, Vossa Majestade?
- Todas.
- Por quanto tempo, Vossa Majestade?
- Até irem reclamar ao Bispo, Barão, depois solta.
- Assim será, Vossa Majestade.

No aconchego da cama da amada, o rei sussurrou-lhe
- Sabe Lytta, só mais um pouco e tudo isto será seu ...

É isto aí!

sábado, 14 de outubro de 2017

Os lacerdinhas voltaram

Os lacerdinhas voltaram a este insignificante reino. Bastou uma palavra para que a turba ressurgisse. Os bolso minions, uma cópia ridícula e mal formulada dos lacerdinhas com certeza não sabem nada sobre o assunto.

Tudo começou no início da  década de 1960, no pré-golpe. Bananaland era toda circundada por praças com chafarizes e árvores de uma espécie de Ficus, que formavam um conjunto harmônico e bucólico ao paraíso tropical. Naquela época já ocorria uma praga de enorme poder de oratória, inteligente, educado, culto, mas violentamente ferino contra as reformas que Bananaland precisava para se desenvolver. 

Desta forma, dado à sua virulência, o povo, na sua sabedoria, batizou de lacerdinha um pequeno inseto asiático, minúsculo, que se tornou uma praga nacional ao infestar as praças da pátria amada.

Vinham em bandos, cegavam todos de maneira que não se enxergava nada por um tempo. Só depois de vinte anos é que as pessoas puderam voltar a ver as praças desertas, as ruas desertas, a vida deserta.

O Reino da Pitangueira não tem barões, viscondes, condes, marqueses, duques e arquiduques. Não tem banco gerador de riquezas estranhas e pobrezas miseráveis, não tem incentivos à violência, à ignorância, ao mau caratismo e outras coisas ruins como ração de lixo para pessoas com fome, não tem pessoas supremas, nem justiceiros mascarados.

Então, com qual finalidade estes lacerdinhas aparecem aqui? Daqui a alguns dias, quando passar a banda com a fanfarra que está sendo domesticada para animar os bailes das múltiplas ilhas fiscais dos amigos, tornarão a desaparecer. Isto talvez seja um movimento feito como o de algumas espécies de abelhas e formigas que sempre antes de terremotos e vulcões abalarem a terra, modificam seu comportamento. Talvez ... quem sabe? talvez ... nada se cria, nada se transforma, tudo se copia para ficar sempre da mesma forma

É isto aí!

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

A perigosa caixa preta dos algoritmos e a campanha eleitoral de 2018

Alto lá
Este texto não é meu
Confesso que copiei e colei
Autor : Renato Leite Monteiro
Fonte : El País

A perigosa caixa preta dos algoritmos e a campanha eleitoral de 2018

Lei libera propaganda política no Facebook enquanto empresa enfrenta escândalo nos EUA, Brasil não dispõe de regra, como europeia, que exigirá informações sobre os algoritmos.

A ProPublica, um instituto de jornalismo independente estadunidense que já ganhou diversos prêmios por seu trabalho investigativo, recentemente noticiou que softwares utilizados para ajudar magistrados dos Estados Unidos a calcular penas com base na probabilidade de os acusados cometerem novos crimes tinha um grave problema: se o indivíduo era negro, o algoritmo concluía que, em algumas situações, este tinha chances quase duas vezes maior do que um branco de cometer novos ilícitos. Com base neste cálculo, juízes condenaram negros a penas bem maiores do que indivíduos brancos com antecedentes e histórico de bom comportamento similares. Havia um outro grande problema: ninguém sabia que critérios eram utilizados para realizar o cálculo de risco. Devido a essa falta de transparência, em breve um caso será revisto pela Suprema Corte Americana porque o acusado afirmou que seu direito ao devido processo legal foi violado quando lhe foi negado o direito a entender o funcionamento do algoritmo.

Um outro estudo mais recente mostrou que algoritmos baseados inteligência artificial aprenderam, após analisar milhares de fotos, que se existe uma imagem com alguém numa cozinha, em frente a um fogão, deve ser uma mulher, reforçando estereótipos e causando discriminação. Em outro caso, um plano de saúde concluiu que determinado consumidor teria maiores chances de ter problemas cardiovasculares ao inferir que este seria obeso por possuir um carro grande e não ter filhos. E se os dados estiverem incorretos? E se fosse um homem na cozinha? E se o carro tivesse sido um presente? Como lidar quando os dados não são precisos?

Este são apenas exemplos, por mais assustadores que sejam, de como as nossas vidas hoje são controladas por algoritmos que muitas vezes reproduzem preconceitos, estereótipos e contribuem para aumentar a assimetria de poder entre cidadãos, o estado e empresas. Bancos, financeiras, agências de empregos, seguradoras, cidades inteligentes, carros que se autodirigem, todas são áreas da sociedade que dependem ferozmente de ADM (Automated Decision Making), algo como algoritmos que tomam decisões automaticamente.

Frank Pasquale, hoje um dos maiores especialistas no assunto, defende que vivemos numa Black Box Society, em alusão a opacidade intrínseca dos algoritmos que controlam diversos aspectos do nosso dia-a-dia e muitas vezes definem como, e se, exerceremos alguns dos nossos direitos mais básicos, mas que não permitem conhecer como se dá o seu efetivo funcionamento. Mas antes, é necessário entender o que são algoritmos.

A necessidade de transparência nos algoritmos é premente ante cenários quase apocalípticos onde processos decisórios automatizados superarão o processo decisório dos humanos

Algoritmos são sequências de instruções programados para realizar uma ou várias tarefas. Normalmente, coletam dados de fontes diversas que funcionam como variáveis que combinadas levam a um resultado. Em um programa de computador, é um código, linhas de comando, escritas por programadores. Mais recentemente, algoritmos de aprendizagem automática passaram a escrever, sozinhos, outros algoritmos por meio de inteligência artificial, o que, por vezes, pode levar a resultados totalmente inesperados, que não poderiam ser antevistos pelos humanos que desenvolveram o código original. Esse código é, pela maioria das legislações do mundo, proprietário. Isso significa que ele pertence a uma empresa, pode ter um grande valor de mercado e ser considerado um segredo de negócio. O acesso a ele por terceiros pode significar uma grande desvantagem competitiva. E aqui reside um dos maiores embates que impede a efetiva transparência dos algoritmos.

Os que defendem, como Pasquale, que as empresas deveriam revelar o código de seus algoritmos a fim de permitir que a sociedade os entendessem e auditassem, visando evitar práticas discriminatórios, encontram barreiras na própria legislação nacional e internacional que conferem as companhias quase que um escudo, sob as bandeiras da propriedade intelectual e da livre concorrência, que impede conhecer os detalhes que levam os algoritmos a estas tomadas de decisão.

Na União Europeia, o Google vem sendo acusado de utilizar o seu algoritmo para favorecer seu próprio serviço, mostrando as ofertas do Google Shopping como as mais relevantes, o que, levando-se em consideração posição quase que dominante o buscador, vem sendo considerada uma prática monopolística. Sob o argumento do abuso de poder de dominância, a empresa foi multada em quase 2,5 bilhões de Euros. Algumas das principais discussões do processo envolviam a necessidade de transparência dos algoritmos para aferir se a companhia realmente favorecia seus serviços, o que, para infortúnio de pesquisadores, não aconteceu.

Outros, advogam a necessidade de uma transparência balanceada, que não impacte segredos comerciais, mas que permita não só aos consumidores, mas a sociedade como um todo, auditar algoritmos para verificar se estes não estão, de fábrica, imbuídos de práticas discriminatórias.

Desse contexto nasce a ideia de Accountability by Design, que, por meio de processos indiretos, tenta coadunar os interesses da sociedade em fiscalizar práticas baseadas em algoritmos sem que seja necessário ter acesso direito ao seu código fonte e revelar práticas comerciais. Testes padrões como os hoje realizados em veículos para identificar se estes estão em conformidade com o arranjo regulatório nacional e os padrões internacionais definidos podem ser desenvolvidos, similar ao que hoje já existe para calcular riscos aceitáveis de impacto ao meio ambiente quando da construção de obras. Mas, infelizmente, até mesmo essa solução tem se mostrado ineficiente.

Em mais um escândalo envolvendo algoritmos, a montadora Volkswagen alterou artificialmente o software de seus veículos para disfarçar a quantidade de poluentes emitidos durante testes para poderem ter acesso a determinados mercados. A complexidade do código embarcado era tal que este conseguia detectar quando estava sendo testado para que somente durante o procedimento o carro emitisse poluentes dentro dos limites permitidos pela legislação. Ou seja, para evitar acesso ao código foram utilizadas outras metodologias de verificação, mas que foram alvo de fraudes gravíssimas que levaram a empresa a multas astronômicas, enaltecendo a necessidade de se encontrar formas alternativas e eficientes para abrir as caixas pretas.

Facebook e a eleição de 2018

No Brasil, essas questões começam a ser discutidas, principalmente no contexto de fake news e propaganda eleitoral. Estudo da FGV mostra que contas automatizadas motivam até 20% de debates em apoio a políticos no Twitter, impondo riscos à democracia e ao processo eleitoral de 2018 por meio de um discurso ilegítimo e parcial. A polêmica aumentou com a promulgação da lei da reforma política, que proibiu, no seu art. 57-C, a “veiculação de qualquer tipo de propaganda eleitoral paga na Internet, excetuado o impulsionamento de conteúdos, desde que identificado de forma inequívoca como tal e contratado exclusivamente por partidos, coligações e candidatos e seus representantes”.

Afora a discussão se o impulsionamento de conteúdo poderia ser efetivamente considerado conteúdo pago, fica a dúvida de como os algoritmos que irão impulsionar as propagandas funcionam. Essa desconfiança tem origem nas recentes declarações feitas por Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, admitindo que a rede social foi, de alguma forma, manipulada durante as últimas eleições americanas por atores russos que tinham claro interesse em eleger o atual presidente, Donald Trump. Isso levou a empresa a enviar ao Congresso registros de milhares de compras de publicidade feitos por russos e a assumir um compromisso de mais transparência com relação a como a publicidade comportamental da sua rede social funciona, inclusive o impulsionamento. Como esse posicionamento será implementado no Brasil ainda é uma incógnita, principalmente por não haver regras que assegurem a transparência algorítmica, algo que poderia ser aprendido com o velho continente.

Desde da aprovação da nova GDPR (Regulação Europeia de Proteção de Dados), que entrará em vigor em maio do próximo ano, representantes de diversos setores tem clamado a positivação de um tal direito a explicação das decisões tomadas por sistemas inteligentes e automatizados, baseado no direito à transparência no tratamento de dados pessoais. O texto determina que um indivíduo tem o direito a obter informações suficientes sobre um algoritmo, como o seu funcionamento e possíveis consequências, que o permitam tomar uma decisão racional autorizando ou se opondo ao uso dos seus dados pessoais. Em outras palavras, a GDPR tentou achar um meio termo para harmonizar direitos e interesses, mas não determinou o acesso ao código dos algoritmos. Uma tônica diversa pode ser encontrada em várias leis que visam regular o tratamento de dados pessoais, como os projetos de lei atualmente em discussão no Brasil.

O Brasil, ainda, não dispõe de uma lei que outorgue efetivos instrumentos que permitam ao cidadão algo similar ao presente no contexto europeu. Todavia, projetos em trâmite no Congresso Nacional recorrem a princípios que visam limitar que dados serão coletados para compor os algoritmos, valendo-se de critérios de proporcionalidade e transparência para evitar práticas discriminatórias. Esses projetos obrigam ainda que sejam implementadas medidas protetivas à privacidade e outras liberdades fundamentais desde o momento da concepção do serviço, durante o seu desenvolvimento e a sua oferta ao mercado. Princípios éticos vêm sendo discutidos em larga escala e são cada vez mais adotados na construção desses algoritmos. No entanto, quem irá efetivamente fiscalizar essas melhores práticas ainda não se sabe.

Diante de tudo isso, a necessidade de transparência nos algoritmos se torna cada vez mais premente diante de cenários quase apocalípticos de um futuro onde processos decisórios automatizados e inteligência artificial dominarão, e superarão, o processo decisório natural do ser humano. Desde carros que sem motoristas, robôs e máquinas que substituem profissões comuns, geração automática de notícias, até mesmo engenharia artificial e ambientes bélicos, quase nenhum setor da sociedade estará imune aos efeitos que antes somente eram pensados, e possíveis, em obras de ficção científica. Caso a caixa preta não seja aberta, poderemos nos tornar reféns da nosso própria evolução.

Renato Leite Monteiro é especialista em privacidade e proteção de dados. É professor de direito digital do Mackenzie e da FGV/SP.