domingo, 29 de outubro de 2017

No Divã da Pitangueira com a não felicidade

- Sabe, doutor, eu não sei nem por onde começar ...

- Bem, isto já é um começo. Pegue uma ponta do novelo e traga para fora.

- Então ... eu era feliz (lágrimas discretas). Agora ninguém me curte mais

- Entendo até o "eu era ...", mas o ninguém me curte é com o facebook.

- Sim, eu era feliz (lágrimas indiscretas). Snif ... snif, é mesmo ... sempre tem o facebook ...

- Voltando ao seu sentimento. Era feliz? Defina a felicidade.

- Como assim, doutor?

- Você era feliz, então defina este processo.

- Eu não tinha problemas, não tinha cobranças, não tinha dúvidas, não tinha ...sei lá! Não tinha esta angústia.

- Vê como isto é confuso - se a felicidade é composta de exclusões, para onde elas foram?

- Desculpa, doutor, mas o senhor é muito esquisito.

- Não sou o esquisito aqui, e saiba que a análise comparativa de saber que não tinha é por que a conhecia.

- Ahn? Como assim, quem eu conhecia?

- A não felicidade. Você sabia que não a possuía, logo a conhecia.

- Doutor, isto está confuso, eu sempre fui feliz.

- Sempre? Não seria esta uma negação? Você de uma forma inconsciente não teria ativado um mecanismo de defesa que basicamente a faz recusar-se a reconhecer que um dia conheceu a não felicidade?

- Isto é um absurdo. Como ousa falar de uma coisa tão fora de propósito com esta?

- Bem, não creio que está fora de propósito. É natural a negação, é humana, é inerente ao desejo das pessoas. Algumas podem passar ao largo dela, mas outras entram na sua realidade e ali vivem e vivenciam suas angústias. isto é que a trouxe aqui. - Afinal, me responda, o que é a verdade?

- Doutor, que loucura é esta? O senhor está de forma sub-reptícia lavando as mãos sobre o meu sofrimento ...

- Quer falar mais sobre isto?

- Não! Não - mim não fala mais nada.

- Veja bem, Mim, na sua forma completa, a negação é totalmente inconsciente e esse mecanismo de defesa também pode ter um elemento consciente significativo, onde a pessoa simplesmente “faz vista grossa” para uma situação desconfortável.

- Não me abalo - eu sei quem sou e a verdade está comigo e em mim.

- Muito bem, tivemos um importante avanço. Te vejo semana que vem.

- Eu te perdoo, doutor ...

- Semana que vem?!?

- Pode ser ... pode ser ...

É isto aí!

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