- Sabe, doutor, eu não sei nem por onde começar ...
- Bem, isto já é um começo. Pegue uma ponta do novelo e traga para fora.
- Então ... eu era feliz (lágrimas discretas). Agora ninguém me curte mais
- Entendo até o "eu era ...", mas o ninguém me curte é com o facebook.
- Sim, eu era feliz (lágrimas indiscretas). Snif ... snif, é mesmo ... sempre tem o facebook ...
- Voltando ao seu sentimento. Era feliz? Defina a felicidade.
- Como assim, doutor?
- Você era feliz, então defina este processo.
- Eu não tinha problemas, não tinha cobranças, não tinha dúvidas, não tinha ...sei lá! Não tinha esta angústia.
- Vê como isto é confuso - se a felicidade é composta de exclusões, para onde elas foram?
- Desculpa, doutor, mas o senhor é muito esquisito.
- Não sou o esquisito aqui, e saiba que a análise comparativa de saber que não tinha é por que a conhecia.
- Ahn? Como assim, quem eu conhecia?
- A não felicidade. Você sabia que não a possuía, logo a conhecia.
- Doutor, isto está confuso, eu sempre fui feliz.
- Sempre? Não seria esta uma negação? Você de uma forma inconsciente não teria ativado um mecanismo de defesa que basicamente a faz recusar-se a reconhecer que um dia conheceu a não felicidade?
- Isto é um absurdo. Como ousa falar de uma coisa tão fora de propósito com esta?
- Bem, não creio que está fora de propósito. É natural a negação, é humana, é inerente ao desejo das pessoas. Algumas podem passar ao largo dela, mas outras entram na sua realidade e ali vivem e vivenciam suas angústias. isto é que a trouxe aqui. - Afinal, me responda, o que é a verdade?
- Doutor, que loucura é esta? O senhor está de forma sub-reptícia lavando as mãos sobre o meu sofrimento ...
- Quer falar mais sobre isto?
- Não! Não - mim não fala mais nada.
- Veja bem, Mim, na sua forma completa, a negação é totalmente inconsciente e esse mecanismo de defesa também pode ter um elemento consciente significativo, onde a pessoa simplesmente “faz vista grossa” para uma situação desconfortável.
- Não me abalo - eu sei quem sou e a verdade está comigo e em mim.
- Muito bem, tivemos um importante avanço. Te vejo semana que vem.
- Eu te perdoo, doutor ...
- Semana que vem?!?
- Pode ser ... pode ser ...
É isto aí!
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