terça-feira, 22 de outubro de 2019

Em busca da alma gêmea!


Chegou atrasado ao casamento, e por mais um pouco não daria para dizer que a cerimônia deveria ser interrompida, já que a noiva era sua esposa, segundo descobrira numa profunda imersão em vidas passadas com Mãe Ragchalá Roban. Subiu apressadamente os degraus da Igreja, e não passou do décimo segundo de quarenta e seis degraus, quando desacordou ao tropeçar no cadarço desamarrado do pé direito.

A não suspensão da cerimônia causaria seu retorno ao planeta azul por mais dez temporadas, pois ambos, ele e sua amada, tinham um ascendente em Touro, tendo como  regente Vênus. E Vênus estava em Capricórnio na casa 09, orientado para Órion. Nesse conjunto de energias, altamente importante na composição das almas gêmeas, se libertariam definitivamente da maldição que sofreram a cerca de quatrocentos e setenta e oito anos atrás.

Duas semanas após o incidente, solitário no leito do hospital, voltou ao mundo real, sem entender onde estava nem quem era nem o que fazia ali. Ninguém o conhecia. Precisou de mais outros dois dias para se recordar que viajara cerca de seiscentos e vinte quilômetros para a pequena cidade no interior do interior, apenas pela informação precisa de que era necessário suspender a cerimônia. Ao recobrar a consciência, teve alta.  

Saiu do hospital e foi direto para a casa paroquial, afinal queria informações sobre o casamento, como nome dos noivos, endereço de contato, e diria que era um primo distante, que gostaria de cumprimentá-los. O padre o escutou com toda a atenção possível, Pediu para repetir o dia, e apenas fez uma ligeira negativa com a cabeça.

- Padre, por que o senhor está com este ar de preocupação? Sabe de algo?

- Meu filho, há duas semanas atrás não tivemos casamento na Igreja. O último foi a sessenta dias.

- O senhor tem certeza disto?

- Tenho, tanta quanto a sua presença diante de mim.

- Mas, padre ... eu cheguei aqui, subi as escadarias ...

- Meu filho, venha aqui fora comigo. 

- Sim, irei.

- Veja, a Igreja está no nível da rua, sem escadas.

- Talvez tenha outra igreja na cidade.

- Meu filho, esta é a única igreja da cidade.

- Voltou ao hospital, do outro lado da praça e pediu seu prontuário. 

- Senhor, não temos prontuário do senhor. O senhor nunca esteve internado aqui.

Procurou pelo carro, não estava em nenhum lugar. Foi à delegacia prestar queixa e deu conta que não tinha nem o documento nem a chave do automóvel. Sequer lembrara da placa. Ligou para os telefones de contato, e todos inexistentes. 

Sentou no banco da praça, desolado, desconsolado, lágrimas após lágrimas, num profundo sentimento de dor e de abandono. Sentiu um leve toque no ombro - era ela - a noiva, mas não estava de noiva, e parecia feliz. Olhou-a em compaixão plena.

- Vem, me acompanha, vamos para casa.

Entrou num casarão imenso, cuja porta era toda em entalhes barrocos, seguiram por um longo corredor em total silêncio, até chegar à porta dos fundos. Ela parou na frente da porta, deu-lhe um abraço e sussurrou. Não tenha medo. Vou abrir a porta e você, de olhos fechados,  sairá rapidamente, eu irei em seguida, e estarei tocando no seu ombro. E deu-se que abriu a porta, ele deus três passos largos e mergulhou num abismo profundo, enquanto ela, parada no portal gritou - você é um idiota!!!!

Enquanto isto, ele caia em si outra vez ... outra vez ... outra vez ... e fluía pelos poros da dor a paixão mal resolvida.


É isto aí!




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