Atenção
Declaro para os devidos fins que:
Este texto não é meu.
Confesso que copiei e colei.
Declaro que mantive o texto original.
Fonte: Informação Incorrecta
Galáxia Espiral M51 |
O que aconteceria na Terra se todos os seres humanos desaparecessem repentina e misteriosamente amanhã de manhã? Não é necessário imaginar asteróides, pandemias ou guerras nucleares. Não importa a causa, é um exercício mental justo para transcorrer alguns minutos num clima de alegria.
Pensem nisso. Num amanhecer aparentemente comum, sem o sinal de qualquer apocalipse, o ruído da humanidade é silenciado, todas as nossas máquinas ficam desligadas, automóveis e comboios parados, aviões em terra, navios à deriva. Não há mais ninguém nos postos de comando. Fábricas abandonadas, lojas vazias, ruas desertas, jardins de infância e escolas tristemente silenciosas. E depois as casas abandonadas, os computadores desligados, os telemóveis silenciosos: o fim da grande conversa planetária, nada mais de gatinhos sorridentes que circulam no Facebook. E os centros comerciais finalmente desertos e ainda mais desolados de quando estavam cheios de pessoas. Olhem, quase quase começo a gostar…
Agora vamos perguntar: o que restaria de nós, da gloriosa arquitectura humana, dos arranha-céus, das catedrais e dos outros restos, como as substâncias plásticas e os resíduos tóxicos? Mais cedo ou mais tarde, não sobrará nada: nada ficará das obras daqueles que eram considerados génios eternos. Nenhum artista para interpretá-los, nenhum cientista para estudá-los.
Sem manutenção, implodirão rapidamente todas as fábricas, as barragens e as centrais nucleares.
Na verdade, mundo depois (e sem) de nós é um lugar literário já frequentado. No entanto, já há algum tempo também tornou-se um modelo científico. Muitos pesquisadores aventuraram-se na tarefa de calcular qual seria o destino do planeta na nossa ausência, depois de uma semana, um mês, um ano, depois de séculos ou até milénios. E isso com resultados surpreendentes e reveladores.
Acontece que, em breve, a vegetação voltaria a para recuperar os espaços dos quais foi retirada. Em poucos meses e anos, o mar iria corroer os edifícios e as estruturas humanas, engolindo a camada de cimento com a qual arruinámos as costas. A enorme biomassa de animais nas quintas seria exterminada pela fome e pelos predadores. No prazo de alguns séculos, praticamente todas as nossas obras que hoje proporcionam orgulho ficariam em ruínas, boas para visitas de arqueólogos alienígenas. Os objectos de cerâmica, as estátuas de bronze, as peças de ferro fundido e as grandes catedrais de pedra ou as pirâmides resistiriam um pouco mais.
Se deixarmos passar milhares de anos, ainda será possível encontraremos plásticos e microplásticos espalhados por toda a parte, até mesmo infiltrandos nas profundezas do oceano. As bactérias que podem digerir esses polímeros ainda não existem e será preciso muito tempo antes que consigam fazê-lo.
Deixamos passar uns 2 milhões de anos ou pouco mais e eis que mesmo os mais habilidosos arqueólogos alienígenas terão dificuldade em encontrar vestígios fósseis da humanidade nos sedimentos. Com a ajuda de geólogos, no entanto, ainda será visível a assinatura que deixamos nas camadas rochosas correspondentes ao período de 1945-1963: uma precipitação radioactiva global, desde o primeiro teste no Novo México até as duas bombas atómicas lançadas no Japão, somadas a todos os dispositivos nucleares produzidos e irresponsavelmente feitos brilhar na superfície e no subsolo (estima-se que tenham sido mais de 500). Alguns isótopos radioactivos antes da decadência permanecerão em circulação, como uma nossa sinistra impressão digital, por centenas de milhares de anos, outros até durante 15 milhões de anos. Este será o sinal geológico que provavelmente será utilizado para fixar o ponto de partida do Antropoceno, o um termo usado para descrever o período mais recente na história do Planeta Terra, quando as actividades humanas começaram a ter um impacto significativo no funcionamento dos ecossistemas. E deixar como cartão de saudações alguns isótopos radioactivos não é uma despedida tão gloriosa.
Vamos exagerar? E vamos com um salto de 50 milhões de anos depois da nossa partida silenciosa. Nesse futuro muito distante, qualquer observador com os instrumentos apontados para o terceiro planeta do sistema solar não será capaz de ver qualquer sinal residual da passagem humana; nada restará da história do mamífero bípede que o habitou ao longo de duzentos milénios. No entanto, em outras partes do universo, não será assim. Para encontrar um vestígio humanos será preciso olhar para longe do nosso planeta.
As pequenas sondas espaciais que lançámos décadas atrás, com as Pioneer e as Voyager, ainda estarão em viagem fora do sistema solar. Mas no espaço enviámos muito mais do que sondas: qualquer sinal rádio e vídeo atirado para a atmosfera abandona o nosso planeta e viaja pelo espaço. Lentamente, todos os sinais afastam-se do planeta, como uma bolha que continua a crescer, uma bolha nascida quando Guglielmo Marconi enviou o primeiro sinal rádio no dia 8 de Dezembro de 1895. Nos próximos 50 milhões de anos, alguém algures será capaz de interceptar as nossas transmissões a partir duma galáxia tão distante. E imaginem a satisfação dele em poder assistir às toneladas de publicidade, aos concursos televisivos, às conversas insignificantes.
Obviamente, este exercício de imaginar a Terra depois de nós pode ter um gosto um bocado cínico, mas esta seria uma interpretação errada: a verdade é que a Terra já esteve sem nós durante a maior parte da sua história; e, se formos tão estúpidos a ponto de nos extinguir, pode muito bem continuar sem nós. Aliás, talvez consiga continuar melhor. Somos uma espécie jovem e não devemos ser tomados pela presunção de dominar ou controlar o sistema terrestre. Entre outras coisas, sem o fim de outros seres que existiram antes de nós, especialmente dos grandes répteis que dominavam o planeta até 66 milhões de anos atrás, hoje não estaríamos aqui para conversar e escrever sobre isso. Resumindo: a ideia duma terra sem seres humanos não deveria ser uma ocasião triste ou de indiferença, mas deveria representar a ocasião para tomar consciência da oportunidade única que tivemos de estar aqui, no final de um intrincado caminho (talvez) evolutivo. As coisas poderiam ter sido diferentes: os dinossauros poderiam ainda vaguear pelos continentes e, acreditem, não seria simples convencer um Tiranossauro a deixar livre o seu espaço para construir uma bomba de gasolina. A história da Terra ensina que não somos indispensáveis, que temos sorte em estar aqui e que é nossa responsabilidade cuidar não apenas de nós mas também duma coisa que não é nossa, que foi simplesmente emprestada: a Terra.
O Antropoceno mostra que por algumas dezenas de milénios conseguimos mudar os ecossistemas ao nosso redor para torná-los mais adequados às nossas intenções expansivas. Uma tendência que foi acelerando nos últimos par de séculos. Fizemos isso como fogo, com a agricultura, depois com a nossa evolução cultural e tecnológica. Mas depois? O que será a seguir? Temos as ferramentas para intervir neste processo, sem histerias climatéricas.
Primeiro, devemos entender que somos uma espécie imperfeita, dotada dum assinalável poder tecnológico. Salvar o planeta também significa salvar a nossa espécie e o futuro dos nossos descendentes. Nisso os nossos interesses e os interesses da Natureza coincidem; precisamos duma ecologia cientificamente informada. A Natureza não é boa nem má, simplesmente faz o seu trabalho e continuará a fazê-lo mesmo sem a nossa presença. Anunciar catástrofes climatéricas, pontualmente desmentidas pelos factos, não ajuda, porque criam habito e paramos de acreditar. Será necessário recorrer a outras fontes de motivação. A escolha de evitar uma Terra sem seres humanos depende apenas de nós, das nossas capacidades culturais, políticas e morais colectivas. Que, para sermos honestos, nesta altura não parecem grande coisa. Mas isso exigirá uma mudança no estilo de vida e uma transformação dos nossos padrões de desenvolvimento e de consumo em favor duma economia não sem dióxido de carbono mas sim sustentável, com justiça ambiental e social.
Caso contrário? Fiquem descansados: caso contrário, nada de irreparável. Haverá qualquer outra espécie que tomará o nosso lugar. As baratas, por exemplo, são particularmente resistentes: são nojentas? Sim, são, mas não poluem o ambiente. Em qualquer caso, a biodiversidade voltará a prosperar em novas formas e a nossa civilização fornecerá material para qualquer museu alienígena, provavelmente com uma sala dedicada ao melhor blog alguma vez nascido. Escusado será fazer nomes.
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