terça-feira, 30 de junho de 2020

Pequeno manual para sair??? em férias de quarentena


Está tudo desconexo e confuso, como se o caos fosse a norma e a normalidade fosse o improvável. Vamos lá ao pequeno manual para sair??? em férias de quarentena:

1 Assistir documentários, filmes e programas com o tema viagem e ficar imaginando como é estar lá.

2 - Assistir canais de viagem no Youtube - uau ...e ficar imaginando como é estar lá.

3 - Visitar museus virtualmente - uau ...e ficar imaginando como é estar lá.

4 - Montar o foto livro da viagem virtual - tsc tsc tsc

5 - Organizar qualquer coisa inútil dentro de casa - ah, tá!!!

6 - Assistir ópera online - uau ...e ficar imaginando como é estar lá.

7 - Cozinhar um prato típico de outro país - uau ...e ficar imaginando como é estar lá.

8 - Fazer cursos de línguas online e ficar se achando o nativo bilíngue do pedaço. - sem comentários.

9 - Planejar 12 viagens exóticas em paraísos fiscais, digo, mundiais.

10 - Fazer da casa uma academia de sonambulação co-existencial.- uau!!!

11 - Fazer fotocópias originais de papel moeda de países orientais para jogar Banco Imobiliário.

12 - doze ...hummm...doze ... hummmm... doze ... esquecer dos problemas e fazer algo de útil para a humanidade como, como, como, hummm ... fazer hummmm ....

É isto aí

O quarto de Mary


Alto lá
Este texto não é meu
Confesso que copiei e colei
Autora - Juliana Vannucchi


“Mary’s Room” ou “O Quarto de Mary” é um pensamento filosófico escrito por Frank Jackson em 1982, em seu artigo “Epiphenomenal Qualia”. Abaixo você confere uma adaptação sobre tal reflexão, seguida de complementos, meditações e algumas observações sobre o assunto. 

Mary é uma cientista brilhante, que passou toda a sua vida dentro de um quarto no qual tudo que existia era preto e branco. Todos os livros que lia e tudo o mais que compunha sua experiência exista apenas em tais tonalidades. Nesse ambiente, a brilhante cientista se especializou em Neurofisiologia da Visão e realizou estudos e investigações aprofundados sobre as cores e sobre a visão, compreendendo detalhadamente os processos pelos quais as cores se apresentam ao cérebro e como são por ele interpretadas. Assim, por mais que nunca tivesse visto nenhuma cor, carregava com ela todos os conhecimentos possíveis a respeito desse assunto. 
 
Certa vez, por alguma razão surgiu no quarto uma rosa vermelha, que foi vista nesse estado por Mary pela primeira vez. Contudo, lembremos que a brilhante cientista já possuía todas as informações possíveis a respeito dessa cor. Assim sendo, será que houve algo novo nessa experiência? Será que esse primeiro contato com as cores proporcionou alguma aprendizagem diferente, além das que ela já possuía? 

O que esse pensamento filosófico acima exposto propõe, é que os conhecimentos obtidos sobre os fatos físicos, embora garantam informações seguras, parecem não substituir uma experiência subjetiva e tampouco explicar um determinado estado mental experimentado por um indivíduo qualquer. Em outras palavras, saber como operam as estruturas cerebrais humanas, não garante o conhecimento de como uma pessoa percebe o mundo e interage mentalmente com ele. Nesse sentido, surge um termo de extrema relevância na Filosofia da Mente, que é o “qualia”, uma qualidade subjetiva, isto é, aquilo que é singular numa experiência mental e que não pertence ao qualitativo, ao mensurável. 

Dentro de tal contexto, é importante mencionar que essa proposta reflexiva feita por Jackson, se opõe ao Fisicalismo, linha teórica que sustenta que a atividade mental se explica como fenômeno do mundo físico, afirmando que ao se conhecer os fatos físicos, se conhece tudo o que é possível conhecer, uma vez que são estes que traduzem a realidade mental – ou seja, a mente é reduzida ao próprio cérebro. Portanto, agora novamente pensando na experiência de Mary com a rosa colorida, podemos concluir que: “Se você acha que ela ficaria surpresa (isto é, ao ver a flor), talvez você ache que o fisicalismo é incorreto, porque embora ela soubesse todos os fatos físicos sobre a visão, você acha que ela ainda aprendeu algo quando viu o vermelho pela primeira vez”. (GARVEY; STANGROOM,  2013, p. 367). 


REFERÊNCIAS:

GARVEY, James, STANGROOM, Jeremy. A História da Filosofia. São Paulo: Editora Octavo, 2013. Tradução de Cristina Cupertino.

Como é ser um morcego? Tradução de Paulo Abrantes e Juliana Orione (Unicamp).

segunda-feira, 29 de junho de 2020

(I love you) for sentimental reasons (de Nat King Cole, com Gregory Porter)


(I love you) for sentimental reasons (Nat King Cole)

Eu amo você por razões sentimentais
E espero que você acredite em mim
Eu lhe darei meu coração

Eu amo você e você foi feita só para mim
Por favor dê o seu coração apaixonado para mim
E diga que nós nunca nos separaremos

Eu penso em você todas as manhãs
Sonho com você todas as noites
Querida, eu nunca estou sozinho
Sempre que você está por perto.

Eu amo você por razões sentimentais
E espero que você acredite em mim
Eu lhe dei meu coração


(I love you) for sentimental reasons (Nat King Cole)

I love you for sentimental reasons
I hope you do believe me
I'll give you my heart

I love you and you alone were meant for me
Please give your loving heart to me
And say we'll never part

I think of you every morning
Dream of you every night
Darling, I'm never lonely
Whenever you are in sight

I love you for sentimental reasons
I hope you do believe me
I've given you my heart


domingo, 28 de junho de 2020

Um afago na face, um cafuné na cabeça e um beijo apaixonado (Paulo Abreu)


Um afago
na face
um cafuné
na cabeça
e um beijo 
apaixonado

Tem dia 
que tudo 
que a pessoa 
precisa 
é da outra 
pessoa.

É isto aí!

sábado, 27 de junho de 2020

Michael Bublé / Barenaked Ladies / Sofia Reyes - Gotta Be Patient


Gotta Be Patient (feat. Barenaked Ladies & Sofia Reyes)
Michael Bublé

Um dois três
Ooh, wap, wap
Ooh, wap, wap
Ooh, ooh, ooh

Eu só quero ver meus amigos
Eu quero andar na rua de novo
Mas tenho que ser paciente
Então vamos aproveitar esse confinamento

Eu só quero sentir seu amor
Porque o Instagram não é suficiente para mim
Então eu tenho que ser paciente
Vamos aproveitar esse confinamento

E todos os dias vamos cantar uma música
Para fazer você dançar
Até que isso termine

Eu só quero ver meus amigos
Eu quero andar pelas ruas novamente
Então eu tenho que ser paciente
Vamos aproveitar esse confinamento

Si
Tienes ganas de salir
Lo siento pero no
Tienes que quedar allí
Pero cuando canto esta canción
ai, me brilla El corazón
Y me siento muy feliz

E todos os dias vamos cantar uma música
Para fazer você dançar
Até que isso termine

Eu só quero ver meus amigos
Eu quero andar pelas ruas novamente, novamente
Mas tenho que ser paciente
Então vamos aproveitar esse confinamento
Toda noite e todo dia
Então eu tenho que ser paciente
Vamos aproveitar esse confinamento
Woah-ooh-woah, ooh, ooh
Eu tenho que ser paciente (eu tenho que ser)
Então vamos aproveitar esse confinamento, ooh

Gotta Be Patient (feat. Barenaked Ladies & Sofia Reyes)
Michael Bublé

One, two, three
Ooh, wap, wap
Ooh, wap, wap
Ooh, ooh, ooh

I just wanna see my friends
I wanna walk the street again
But I gotta be patient
So let's enjoy this confination

I just wanna feel your love
'Cause Instagram is not enough for me
So I gotta be patient
Let's enjoy this confination

And every day we'll sing a song
To make you dance
Until this ends

I just wanna see my friends
I wanna walk the streets again
So I gotta be patient
Let's enjoy this confination

Si
Tienes ganas de salir
Lo siento pero no
Tienes que quedar allí
Pero cuando canto esta canción
ai, me brilla El corazón
Y me siento muy feliz

And every day we'll sing a song
To make you dance
Until this ends

I just wanna see my friends
I wanna walk the streets again, again
But I gotta be patient
So let's enjoy this confination
Every night and every day
So I gotta be patient
Let's enjoy this confination
Woah-ooh-woah, ooh, ooh
I gotta be patient (I gotta be)
So let's enjoy this confination, ooh

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Coluna Social da Marquesa - A recepção imperial


Coluna Social da Marquesa
Diário da Cidade DC 
Em sociedade tudo é brilho 
Reino da Pitangueira 23 Maio

Foi imperdível a recepção à realeza do distante reino civilizado de Trás-os-Montes. Sua Alteza Imperial trouxe o crème de la crème da mais alta estirpe de sangue azul do mundo. Vieram seus filhos, desde o duque até as duas princesinhas gêmeas univitelinas, todos de uma finesse digna dos que nascem em berços validados com a benção divina.

O lado ruim da história foi a rainha da choldra, ex-rica e ex-poderosa, hoje auto-intitulada Artesã da Gastronomia Imperial da Pitangueira, Marcinha Biffet's (gentem, que coisa ridícula é esta?). A pouco simpática churrasqueira de felinos  permitiu à  plebe o acesso ao cardápio com quatro pratos que seriam servidos no jantar: - creme de ervilha com coentros para a entrada, salmão imperial com batatas à lionaise como segundo prato, cordeiro assado com couve-flor gruyère e parmesão como terceiro prato e, para sobremesa, fatias à pompadour.

O problema, meu bem, é que cardápio é cardápio e os pratos ... hummm... prá lá de adormecidos.

Francamente, hem, Marcinha, de rainha do churrasquinho de rua a Artesã da Gastronomia, ainda mais com este sinal diacrítico em forma de vírgula voltada para a esquerda, alceado ao nível superior das letras desta palavra exótica (Biffet's??? meudeusinhodalínguapátria, o que significaria isto?), demonstra bem a que veio com sua impetuosa capacidade de causar dissabores nos eventos gastronômicos.

E como sempre se tira algo de bom dentre as coisas ruins, o Duque de Trás-os-Montes, está lindo e  solteiríssimo, porém pelo lado negro da força,  a alta sociedade local, civilizada e educada, não teve como se aproximar, pois o herdeiro imperial mal tempo para respirar, dado ao balão de oxigênio de Carmencita Dolores de Bandeleón, uma habitual  faire le trottoir paraguaia do nível confete, destes que grudam na pele das festas.
   
Coluna Social da Marquesa
Diário da Cidade DC 
Em sociedade tudo é brilho 
Reino da Pitangueira 27 Maio
 
Gentem, que mêda que me deu a cartinha medíocre da churrasqueira de centro comercial, a ridícula Marcinha do Gato (achou que esqueci hem Marcinha?!?!)

Prezada senhora colunista Marquesa, do Diário da Cidade

Comunico-lhe que meus advogados já estão providenssiando as providenças para fazer valer a voz do povo que é a voz de Deus.  

Coluna Social da Marquesa
Diário da Cidade DC 
Em sociedade tudo é brilho 
Reino da Pitangueira 30 Maio

Gentem, quem tem a verdade não tem medo. Veja a elegância e a classe de Carmencita Dolores de Bandeleón, a habitual  faire le trottoir paraguaia que fez (sic) sala e quarto para o Duque de Trás-os-Montes.

Prezada e querida Marquesa

Foi com alegria que vi meu nome vinculado ao Duque de  Trás-os-Montes. Sei do seu esforço para fazer das minhas escolhas algo que seja convencional, mas saiba que ainda aprecio muito mais as princesinhas. Sinto decepcioná-la, mas quem estava ao abrigo das carências do Duque era alguém que não posso revelar, mas a realeza tem lá seus não-convencionais também.   

Coluna Social da Marquesa
Diário da Cidade DC 
Em sociedade tudo é brilho 
Reino da Pitangueira 04 Junho

Gentem, todo o mundo que brilha lê minha coluna. Olha que gracinha recebi do Duque, solteiríssimo.

Amada Marquesa,

Agradeço suas palavras carinhosas quanto à minha presença no jantar ao qual se referiu. Acredito que mamãe repassou a você a sua percepção dos fatos. É verdade que ela colocou Carmencita colada em mim naquela tarde-noite e tenho por Carmencita profundo respeito e admiração, e ela, mente aberta, fez o que queriam que fosse visto.

Mas saiba minha linda que não convencional somos todos nós que nos desapegamos dos valores da sociedade decadente, querida. Eu, queridinha, doo meu talento natural de ser bom à humanidade. Rogo a você que resguarde meu direito de ser feliz e que evite publicar matéria pronta redigida por mamãe, cuja única intenção é uma suposta preservação da imagem da família .. rs ...

Do seu e de todos, o Duque! 

Coluna Social da Marquesa
Diário da Cidade DC 
Em sociedade tudo é brilho 
Reino da Pitangueira 08 Junho

Gentem, a churrasqueira de passeio ainda está possuída pela gira-gira. Olha só que recebi ontem, no meu e-mail. Publico por que não escondo nada, afinal em sociedade tudo é brilho.

Vagabunda Marquise

Eu vou te pegar você nos tapa, nos murro, nos ponta-pé até tu sentir onde dói o espeto dos meus churrascos, sua vaca. Perdi um contralto milhionário porucauso da sua língua felina. Em vez de si preucupar com estas boiolisses das pessoas, fica ligadam=, vadia que eu sivoufuderocê.

Coluna Social da Marquesa
Diário da Cidade DC 
Em sociedade tudo é brilho 
Reino da Pitangueira 12 de Junho

Em face dos mal entendidos sobre a Família Imperial, a diplomacia pitangueirense, a alta qualidade dos pratos servidos e a amizade real entre Carmencita e a corte, hoje tenho a declarar, perante toda a minha querida sociedade que: 
 
Gentem, indignada e arrasada, entupida de Florais de Bach, abro espaço para um grande mal entendido que corre nestes dias, onde pessoas de má fé e malvadas querem detonar com a minha imagem e com as coisas boas que acontecem na nossa urbe ma-ra-vi-lho-sa. Hoje quero parar tudo e falar sobre a coisa mais fina e elegantésima que foi a recepção da família imperial, recebida com uma grata artesã gastronômica, Marcianha Biffet's. À boca pequena, a nata natéssima e elegantérrima da sociedade local afirmou que foi a maior festa do século na nossa região. Quem não foi, perdeu.

É isto aí!





















quinta-feira, 25 de junho de 2020

Na paralela mente (Paulo Abreu)



Deve haver
noutro lugar
outra você
sendo amor
do meu amor

Tecendo com candura
um feixe de luz
com interseções
traduzidas em pontes
túneis ou viadutos

Mas ao mirar
nos seus olhos
 sua meiguice traduz 
como elos da ternura
do nosso amor

Tão estranho
não falar algo
ou nada tanto faz
a gente fazer ou não
vai mudar o que há

Assim caminhamos
na paralela mente
você tão linda e eu
a escutar seus passos
do lado de cá.

É isto aí!






segunda-feira, 22 de junho de 2020

Trecho "Song of Myself" (Walt Whitman)


Vadio uma jornada perpétua,
Meus sinais são uma capa de chuva e sapatos
confortáveis e um cajado arrancado
do mato;

Nenhum amigo fica confortável em minha
cadeira,
Não tenho cátedra, igreja, nem filosofia;

Não conduzo ninguém à mesa de jantar ou à
biblioteca ou à bolsa de valores,
Mas conduzo a uma colina dada mulher entre vocês,

Minha mão esquerda enlaça sua cintura,
Minha mão direita aponta paisagens de
continentes, e a estrada pública.

Nem eu nem ninguém vai percorrer essa estrada
pra você,
Você tem que percorrê-la sozinha.

Não é tão longe assim... está
ao seu alcance,
Talvez você tenha andado nela a vida toda e não
sabia,
Talvez a estrada esteja em toda parte sobre a
água e sobre a terra.

Pegue sua bagagem, eu pego a minha, vamos em
frente;
Toparemos com cidades maravilhosas e nações
livres no caminho.

Se você se cansar, entrega os fardos, descansa a
mão macia em meu quadril,
E quando for a hora você fará o mesmo por mim;
Pois depois de partir não vamos mais parar.


Trecho do Poema "Song of Myself"
Tradução livre
 Autor - Walt Whitman, poeta, ensaísta e humanista norte-americano. 

Hora de acordar!


Texto curto, sem maiores intenções que não seja não ser a intenção de não ser intencional. Presta atenção:

Dois mil e vinte está sendo um ano atípico, fazendo a vida parecer frágil, e que dependemos de especialistas para superar os obstáculos de cada dia. De repente, não mais que de repente o mundo virou refém de especialistas, cientistas, políticos, organizações sociais bilionárias, economistas, curiosos e palpiteiros.

O Reino vizinho, por exemplo, a simpática e tropical Pindorama, passa por crises sob medida. No meio do caos as florestas são incendiadas e agora, na curva ascendente de óbitos, as águas serão doadas a grandes núcleos corporativos apátridas. Além disto, as indústrias estão sendo fechadas, o comércio está sendo fechado, as escolas estão fechadas e os recursos para a saúde estão sendo reduzidos. Tudo com uma naturalidade que faria corar Lúcifer.

Uma das leis naturais mais antigas do Poder é fazer com que as pessoas percam a concentração em momentos chaves e não percebam as ações secretas que transformam os atos em lei pró-interesse de meia dúzia. Porém, mesmo que os poderosos saibam da importância de esconder bem os atos de suas performances de traquinagem, é difícil para eles prever quando toda a população estará relaxada o bastante para ser enganada. Ainda não foi inventado um mecanismo 100% confiável de safadeza sem limites.

Enquanto isto uma mídia bate, a outra afaga, distraindo e dando milho aos pombos, no fundo do fundo são a mesma pessoa. Acorda!!!

É isto aí!

domingo, 21 de junho de 2020

Um dia triste


Lembra do dia mágico
você ali, tão linda
e eu tão assustado
pela vida que seria

lembra das palavras
das músicas e flautas
das partituras não lidas
estávamos enebriados

lembra da saudade
dos dias longos e vadios
da vontade de beijar
você pelo resto da vida

lembra do dia vazio
do adeus infinito
do silêncio na sala
eu náufrago de você

Agora é inverno todo dia
frio, ventos gelados, 
feito a solidão que habita
o caminho que não refiz.

É isto aí!

 

sábado, 20 de junho de 2020

Tínhamos a ideia, você mudou os planos.


Estava no imenso vazio existencial quando percebeu que encontrar-se-ia consigo mesmo, vindo em sua direção pelo lado esquerdo. Era inevitável o encontro, até mesmo porque do lado direito vinha seu outro eu, também em sua direção. Ambos aceleram o passo, numa ridícula tentativa de chegar primeiro. 

Naquele instante mágico, não sabia mais se dormia ou se estava acordado, mas sentiu um imenso poder de mergulhar em um mundo totalmente novo e secreto. A colisão foi inevitável. Os dois outros "Eu" fundiram suas estruturas etéreas no seu corpo. Pela primeira vez entendeu o discernimento do tempo no seu inconsciente.

Então desejou ter asas, pensou nos anjos e nas aves migratórias. As asas o fariam sair da profunda cratera provocada pelo impacto entre seu eu-passado e eu-futuro, seu sonho e sua realidade, sua esperança e seu amor. Transporia todos os obstáculos até chegar, quem sabe, ao objeto de desejo.

Provocado pela fusão dos tempos e variáveis da vida, caiu em prantos. Buscou nos bolsos o maço de cigarros que o acalmaria. No meio do caos, sorriu. Não fumava desde a juventude, mas toda vez que se encontrava num vazio de tamanha complexidade, a vontade reacendia.

Pensou em milhões de possibilidades para evitar recordar-se da real situação que promoveu sua dor. Acabou adormecendo pela fadiga, pelo estresse, pela angústia e pela agonia. E teve os sonhos que o libertavam. Em todos, ela aparecia. Sonhos não têm limites, nem lógica ou censura, falava consigo mesmo enquanto sonhava. 

Ao despertar, enquanto refletia sobre os dois mundos, lembrou de um trecho de "Sereníssima", gravada pelo Renato Russo:

Tudo está perdido mas existem possibilidades
Tínhamos a ideia, você mudou os planos
Tínhamos um plano, você mudou de ideia
Já passou, já passou - quem sabe outro dia
Antes eu sonhava, agora já não durmo

Filosofou sobre isto - "Antes eu sonhava, agora já não durmo". Não durmo por que estou dentro do sonho ou não sonho mais por que estou com os dois pés na realidade? Era a paradoxal dicotomia espaço-temporal, tentando romper com o caos para encontrar a Paz. Se a encontrar, por favor, não me acordem.
 
É isto ai!


sexta-feira, 19 de junho de 2020

Bolo simples (Amanda Machado)


Ensaio livre de uma poesia retirada da prosa de Amanda Machado, escritora, contista e professora da mais fina quintessência em seu blog paracolouca.blogspot.com
Leio a prosa no blog da Amanda, é um pedacinho do céu.


 Era sabor de visita, 
de sábado à tarde, 
de sentar no banco de madeira 
e escutar a chaleira, 
avisando da água fervida. 

Era o cheiro 
de manjericão do canteiro, 
debaixo da janela 
e o da mexerica, que exalava 
sob o sol no quintal.

Era apaziguamento, finalmente, 
no calor da cozinha, 
no abraço macio 
depois de abrir o portão 
e bater palmas na janela da sala.

Era o sentar-se à mesa 
da cozinha grande, 
tomar café com leite 
e o pedaço de bolo 
e mais outro e outro. 

Ouvir a conversa de mulheres adultas; 
o assunto quase nunca interessava, 
mas o tom das vozes, os gestos, 
ora domésticos ora indomesticáveis; 
esses capturavam. 

Depois iria imitá-los 
na sua própria cozinha.
Bolo após bolo, iria ser a adulta
dona dos gestos, vozes e assuntos. 
Bolo após bolo, não precisaria mais imitar, 
já seriam os seus.


Amor fora do tom (Paulo Abreu)


Nunca fui bom
em dizer adeus
palavra amarga
disruptiva e triste

Ao buscar seus olhos
de forma velada
às cegas, oculto
a volta à solidão

Penso que sou 
timbre fora do tom
mas na alma há
melodia enclausurada

Nunca fui bom
para romper
uma história tão bonita
de forma abrupta

ao amar você
de jeito tão lindo
seus olhos brilham
na saudade que fita.

É isto aí!





segunda-feira, 15 de junho de 2020

Tetê, a garota do Pole Dance

http://www.clickut.com.br/
Uai, Carlosduardo, ocê vortou cedo dimais da conta da rua. Que deu nocê, home?

Ô, Tetê, vai dar passage prá mode deu entrar ou vô tê que dá um devorteio pelos fundo?

Que isto, amor? Mas que vocabuláro de raiva é esse?

É purucauso de uns papo que ouvi na rua, que ocê tinha ponhado um tronco fino de eucalipto com sebo, no meio da sala, então vim vê prá mode de confirmar que ocê tá doida.

Tô doida não, amor, eu ia te falar, mas ocê num deu tempo, vão entrar que te mostro.

Mas que trem de gente maluca é isso, Tetê? Um pau de sebo no meio da sala, do chão até a cumiera?

Carlosduardo, esse aí ainda é dos pequeno, mas já dá prá eu exercizá até pegar um ritmo bão.

Cê vai exercizá neste pau? Coméquié isso, Tetê?

Prestenção, Carlosduardo, eu vou ponhar uma música bem bacana e vou rodar com as duas mão prá lá e prá cá, dispois travo as coxa no pau, devorteio a cacunda, os cabelo cai prá trás, uma belezura, cê vai vê que coisa mais bonita.

Intão faz aí, prá modeu ver.

Pronto, viu só? Isso porucauso trenei porquinho, mas assim que tiver mais treno, vou trabaiá lá na venda do Valdomiro, com as menina.

Nossa, ocê tá cobra criada no trem. Vapt prá cá, vapt prá lá, tô impressonado. Mas as coxinha gorda aparece tudo, a calcinhola tumbém... os peitinho fica parecendo, o umbiguin fica a mostra... Esquisidimais isto aí, Tetê. 

Avemaria, Carlosduardo, foi só uma mostra pro meu amor. Cê acha que vou ficar assim pros home na venda do Valdomiro?

Num sei o que eu acho ainda não, mas vou pensar. E quem são essas minina? Né as primas não, né?

Nossinhora, Carlosduardo, adispois daquele fato sucedido, nem mais procurei elas, graças a Deus ocê me alertou eu. As minina é de familia, mininas de igreja, da casa pro portão tem que ter o pai com elas.

Sei, tô entendeno, mas quem são essas santinhas aí de agora, Tetê?

As gêmeas do seu Bastião, as fias da dona Virgolina, a Maria Berta e a Berta Maria, ocê sabe como elas são mininas boa.

Sei, elas tamém vão rodar no pau do Valdomiro?

Nossinhora, Carloeduardo, até parece que noís vai lá prá caçar home. Eu tenho ocê, sô, meu home é ocê. Nóis vai trabaiá, Carlosduardo. O Valdomiro prometeu cem real pra cada uma por noite, mas assim, só de noitinha, até um pouquinho mais tarde, coisa pouca.

Óia, Tetê, num gosto de falar da vida dosotros, mas essas menina num presta assim deste tanto que ocê fala não. Elas sai cedinho prá ordenhá as cabritinha e vai sempre uns menino da rua atrás prá mode de vai saber o que fazem por detrás daquele curral, num é mesmo?

Nossinhora, Carlosduardo, nem credito nisso, eu tava sonhano com esse dinheirim prá mode de te dar um presente destes bem bacana...

Carece não, Tetê, carece não, deixa prá comprá uma cadeira de roda, porucauso do que ocê vai precisá muito dela, adispois deu travar estas coxinha gorda sua neste pau de sebo daqui da sala.

Creudeuspai, Carlosduardo, cê fala de um jeito tão craro, que eu compreendo mais rápido que relampago no pasto. Vou agorinha mesmo pro tanque e morreu este assunto, viu, amor? Morreu...

Sei, Tetê, entendo...

É isto aí!

A vida não tem bula

How To Draw FOREST SILHOUETTE DESIGN - YouTube

Pegou caneta
e largou logo
achou o lápis
e desenhou o céu

a caneta, pensou
é muito limitada
se erra um nada
 não se apaga mais

lápis é feito erro
quando magoa
corro na frente
e apago a dor

a vida tem jeito
não tem bula
tem defeitos
luto e sorrisos

alegria, lágrimas
tudo se move
e você parado
de forma absurda.





domingo, 14 de junho de 2020

Decreto Imperial

15 Best Castles in Poland - The Crazy Tourist

Decreto Imperial

Por Graça de Deus e unânime aclamação dos povos, Eu, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Reino da Pitangueira faço saber a todos os nossos súditos que a Assembléia Geral decretou e nós queremos a lei.

Assim, declaro com legítima legalidade:

Fica decretado que todo o tempo não passa quando o amor vigora
Fica decretado que o tempo trava quando o mal prevalece
Fica decretado que o mal seja extinto
Fica decretado que o bem prevaleça
Fica decretado que a vida é patrimônio universal
Fica decretado que a Educação é direito legal
Fica decretado que saúde é direito humano.
Fica decretado que praticar o bem é virtude
Fica decretado que praticar o mal é crime

Em sendo verdade, este decreto imperial passa a valer desde sempre, para todo o sempre.

É isto aí!

sábado, 13 de junho de 2020

O estranho mundo da pandemia iconoclasta


Alto lá
Este texto não é meu
Confesso que copiei e colei


Depois da estátua de Edward Colston abatida em Bristol (UK), outros monumentos foram alvos de violência. O mapa interactivo Topple the Racist, preparado pelos apoiantes do movimento Black Lives Matter, indica um total de 60 monumentos que devem ser abatidos no Reino Unido: James Cook, Francis Drake, Winston Churchill e o Almirante Nelson fazem parte da lista. Falta só Robin Hood, não sei porque ninguém lembrou-se dele (racismo contra os ricos).

Na Bélgica, os moradores da cidade de Antuérpia agiram de forma parecida. Na semana passada, atacaram e removeram a estátua do Rei Leopoldo II, lembrado sobretudo por ter colonizado o Congo Belga. Ele é acusado de ter exterminado milhões de congoleses nativos. Admitimos: Leopoldo II foi verdadeiramente um grandíssimo filho…da Bélgica, nem sei como foi possível erguer-lhe uma estátua porque foi um autêntico esterminador.

Mas Cristoforo Colombo? Uma estátua de Colombo em Byrd Park, localizada em Richmond, Virgínia (EUA), foi demolida: Imagens do incidente, que ocorreram na noite de Terça-feira, circularam nas redes sociais, com muitos que aplaudem a remoção. Outra estátua do navegador foi demolida em Houston, sempre nos EUA. Na prática, os americanos estão a dizer “aquele desgraçado permitiu a nossa existência”: algo que deveríamos dizer nós, eventualmente, não os habitantes dos Estados Unidos. Em qualquer caso, Colombo era genovês e isso da-lhe automaticamente a imunidade eterna.

Mas o Brasil? Como explica o site Veja, o Brasil não ficou para trás na discussão: um dos monumentos mais criticados é o do bandeirante Manuel de Borba Gato, localizado em São Paulo. O bandeirante era conhecido por escravizar e caçar indígenas, o que gera discussões sobre o simbolismo de se manter uma estátua em sua homenagem na maior cidade do País. E aqui haveria de que falar… sem considerar o contexto histórico (absolutamente necessário para entender acontecimento que ninguém entre nós testemunhou), temos a certeza que apagar a História seja a melhor maneira para não repetir os erros do passado? Uma estátua pode ser também uma ocasião para reflectir, para ensinar aos mais novos o que é justo e o que não é justo.

Um salto para o outro lado do oceano: em Italia, a vontade é de retirar a estátua dedicada a Indro Montanelli em Milano, por acaso o maior jornalista italiano de sempre. Em Trieste, povo contra a estátua de Gabriele D’Annunzio, um dos maiores poetas nacionais: provavelmente será abatida porque D’Annunzio era fascista; desconfioque será substituída por outra estátua, sempre de D’Annunzio, porque também era gay.

Em Parma a ira não poupa Vittorio Bottego, explorador. Não sei qual a razão, Bottego limitou-se a explorar parte do continente africano e, ao ler a sua biografia, não encontrei nada que pudesse relaciona-lo com o racismo. Mas é verdade que não era genovês, por isso algo de mal deve ter feito.

Entretanto. em todo o Sul do País estão em risco os monumentos que lembram Giuseppe Garibaldi (que lutou na América do Sul onde até libertou 100 escravos negros); na ilha da Sardegna, vozes contra as estátuas do Rei Carlo Felice enquanto em Torino é a vez de Vittorio Emanuele II. Para todos, a acusação é aquela de terem invadido a Italia do Sul.

Voltando ao caso português, no Largo Trindade Coelho, em Lisboa, foi atacada a estátua de Padre António Vieira. Mas aqui há um problema.

Eis o problema: Padre António Vieira defendia os direitos dos povos indígenas, combatendo deportação, escravidão e exploração; defendia também a abolição da escravidão e criticou a Inquisição. Portanto, o ataque contra a estátua dele demonstra quanto referido acima: não é uma revolta popular contra racismo e desigualdade, é mesmo uma pandemia de pura idiotice que ataca indivíduos de qualquer faixa etária, com ou sem patologias preexistentes.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Eu, a Loba e a terceira margem do rio.


Lembrei do Guimarães Rosa hoje. Há seu conto mais famoso - A terceira margem do rio - que me encanta profundamente. Mas um rio só tem duas margens, diz o apressado. Eu vou além, o rio tem tantas margens quantas forem necessárias e Guimarães Rosas foi quem me ensinou isto.

O fato é que podemos ficar restritos só a dois processos, duas situações, ou você está ali ou aqui, ou sermos ousados de nos permitirmos uma nova concepção de vida, uma escolha onde pode ter uma Loba como companhia. Não uma loba qualquer, mas uma que goste de conversar, contar caso, inventar histórias, navegar sem se preocupar onde está o próximo porto.

Você levaria quem, exatamente, para a terceira margem do rio? Tem quem levaria tubarão, outros uma águia, outros uma onça, mas eu prefiro a Loba. Ela tem qualidades que me completam. É organizada,  gosta de tudo no seu devido lugar e garante que todos e quaisquer processos sejam sempre feitos da maneira certa. Além disso, preza pelos detalhes em tudo o que realiza e costuma planejar cada etapa de um processo. É metódica, pontual, muito responsável e leal. 

Alerta para um grave evento colateral - é ciumenta e curiosa demais da conta.

Mas você já deve estar se perguntando, como assim levar uma Loba? Nem atinou para o fato de que a terceira margem é um fato novo, uma audácia contra a história natural do mundo "normal"? Acha mais ilógico levar uma loba do que atingir a terceira margem? É isto?

Pois eu te falo que toda vez que quiser mudar, vai doer, vão te chamar de louco, vão jogar lama na sua história. Mudar não é para os fracos. Se tem que tomar uma atitude, ouse, mas antes planeje. Este é o segredo. Sem planejamento o barco afunda. Qual é o seu plano? Qual é o seu cais? Como conviver com uma Loba?

 É tudo novo e o céu clareia, escurece, relampeja e venta. Esfria e aquece. A Lua passa pelas fases, as estrelas vão e vêm, mas o barco está lá, com você e sua parceira, nunca se esqueça disto. Entraram ali por livre vontade e não tem volta para as margens normais..

O tempo esfria e esquenta, e a rotina pode destruir a embarcação. Tem-se que reinventar todo dia ao lado de uma Loba, e deixar que ela organize tudo de volta. Não será um tédio, será uma relação de dois seres vivos, cansados de serem espremidos pela força do rio da vida nas margens estreitas do destino ao qual se acomodou.

A terceira margem do rio pode ser a mais completa solidão do mundo, lugar em que, dentro de uma alma angustiada, rema-se rio abaixo, rio a fora, rio a dentro. Mas pode ser a maior aventura da sua vida. Você é que será o senhor do seu destino.

A terceira margem é desafio permanente e os outros sempre estarão nas margens tradicionais torcendo para dar errado, pois ao contradizer os padrões normais de comportamento, será tido como um desequilibrado. 

Primeiro escolha a fera que cabe no seu coração e pense muito sobre isto. Não saia à galope para a terceira margem - vai se afogar fácil.

É isto aí!


O afago, o beijo e a saudade.


Sentou-se à frente da tela do computador ou tubo de imagem como era conhecido no seu tempo e ficou a divagar sobre o mundo, as tecnologias e as mudanças que testemunhou na sua vida. A radiola e o disco de vinil eram anteriores bem como os rádios à válvula, seguidos por televisões à válvula, imensas, pesadas, imagem em preto/branco/cinza, poucos canais e péssima sintonização. Lembrou uma vez na vida adulta quando foi ao Rio de Janeiro e viu que não era cenário, era tudo real.

Aí vieram os rádios e TV's transistorizadas, as rádios FM, as calculadoras de mão, um avanço da tecnologia, depois começaram a aparecer aqui e ali computadores domésticos com memória e programação em fita cassete, vieram os toca-fitas, os vídeo-cassetes, e depois tudo foi sendo mudado numa velocidade que fez da máquina fotográfica com filme, da máquina de escrever com fita, dos errorex coisas do passado longínquo.

Sentou-se com a cabeça no século XX diante de uma modernidade do século XXI. Sentiu-se a transição entre as partes, o tempo e as histórias. Tomou uma taça de vinho e ficou refletindo sobre seu dia. Leu nos jornais a derrubada das estátuas pelo mundo, e sentiu que aquilo é prenúncio de algo maior, que não está escrito em nenhuma cartilha de modernidade.  

Os tempos chegaram, murmurou. Olhou para a foto digital da amada, acariciou-a, sorriu para ela e para si e foi dormir, por que sonhar ainda é permitido. Amanhã, pensou, é hoje, só que com data diferente. Refletiu sobre tomar uma segunda taça de vinho, mas aí seria muita aventura para um dia só. Levantou-se e lembrou do dia que afagou-lhe o rosto, acariciou seus cabelos e beijou sua boca carmim. Chorou baixinho. Só disto tinha saudade. 

É isto aí! 

quarta-feira, 10 de junho de 2020

O fracasso em constituir uma esperança compartilhada que dê sentido à nação



Dia destes subi na Colina do Bom Senso para avistar o reino vizinho, o outrora alegre e contagiante Pindorama. Lembrei de um texto lido há algum tempo, busquei na rede e estou publicando com a devida autoria e fonte:

Alto lá
Este texto abaixo não é meu
Confesso que copiei e colei

Texto escrito por Contardo Calligaris 

O fracasso em constituir uma esperança compartilhada que dê sentido à nação

As afirmações genéricas sobre o estado de espírito de um povo são facilmente enganosas: ao diagnosticarmos um grupo ao qual pertencemos, psicólogos, antropólogos, jornalistas etc., tendemos a atribuir à coletividade sentimentos que são apenas os nossos.

É por isso que, em tese, não faço diagnósticos coletivos temerários. Só que hoje é um pouco diferente: desde 1985, quando comecei a clinicar no Brasil, não me lembro de ter percebido um desânimo tão difuso e generalizado quanto agora.

Uma pesquisa recente do Datafolha aponta que 72% dos brasileiros enxergam uma piora do cenário econômico, embora só 49% declarem que passaram de fato por um retrocesso. Ou seja, não é necessário sofrer da crise para “sentir” que estamos mal.

Os dois sintomas básicos para diagnosticar um transtorno depressivo maior são o humor deprimido (sentir-se triste e sem esperança) e uma diminuição do interesse em quase todas as atividades. Justamente, uma nova pesquisa (Folha de 12/6) anuncia que 53% dos brasileiros não têm interesse na Copa do Mundo, que logo vai começar.

A esses sintomas, acrescente, segundo sua preferência, sentimento de inutilidade, capacidade diminuída de pensar ou se concentrar, indecisão, pensamentos de morte recorrentes (por bala perdida, assalto ou espera para exames no SUS).

Em 2017, segundo a Organização Mundial da Saúde, o Brasil foi o quinto país mais deprimido do mundo e o campeão em ansiedade. A ansiedade é a grande companheira da depressão: tensão, inquietude, dificuldade de concentração, sensação de perigo iminente.

Quando soube desse ranking, pensei que talvez a gente devesse atribuir o destaque brasileiro a um excesso de diagnósticos e de medicação. Hoje, não estou tão certo disso.

Muitos colegas vão achar essas considerações bizarras, mas é difícil negar a existência de transtornos “sociogênicos”, que refletem as preocupações mais difusas num momento e num lugar específicos – os quais não determinam as patologias dos indivíduos, mas, isso sim, fornecem um pano de fundo coletivo.

O que nos deu esse “pano de fundo”? Numa ordem qualquer: a sensação repetida de um fracasso econômico (acompanhada pela lenda de nossa riqueza “natural”); o fracasso da democracia representativa (persistência das elites tradicionais, corrupção generalizada, primazia das razões eleitoreiras sobre os interesses da comunidade); o fracasso moral vergonhoso (as provas repetidas de que ninguém está disposto a pagar o preço das próprias medidas que lhe parecem certas); o fracasso em proteger um lar seguro e um espaço público; o fracasso, enfim, em constituir uma esperança compartilhada que dê sentido à existência de uma nação.

A “psicologia positiva” norte-americana definia a esperança como a existência simultânea de um objetivo e de um plano definido para alcançá-lo.

O filósofo Richard Rorty (“Philosophy and Social Hope”, Penguin, 1999) definia a esperança como uma narrativa que nos promete um futuro melhor. Ele mostrava que várias narrativas já se comprovaram falsas e devemos aprender a viver sem uma narrativa comum que nos faça esperar —ou seja, cada um deveria inventar sua esperança.

No desespero, não há planos de ação definidos e não há narrativas que prometam um futuro. Mas, no desespero, a esperança não morre: ela continua viva, numa espécie de pensamento mágico.

O deprimido não consegue fazer nada para mudar sua vida, mas não deixa de jogar na Mega-Sena.

O deprimido espera muito, sim, mas sua esperança é abstrata, como os discursos de uma campanha política ruim, que promete e nunca diz quais são os passos necessários para chegar lá.

Se Eric Hobsbawm estivesse vivo e quisesse dedicar um volume à nossa década, acho que escolheria o título “A Era da Farsa” e contaria que o mundo, “naquela época”, tinha sérios problemas e precisava muito de pessoas sérias para resolvê-los (ou, ao menos, para tentar), mas, ironia do destino, ele foi liderado por farsantes.

Enfim, como uma espécie triste de consolação, poderíamos afirmar que os brasileiros estão encontrando uma nova unidade, um traço comum. Já tiveram em comum a primazia do coração sobre a razão que Sérgio Buarque chamou de cordialidade. Agora, quem sabe eles consigam se juntar e encontrar uma comunidade de destino ao redor de uma depressão compartilhada.

Contardo Calligaris: italiano, psicanalista. Deu aula de estudos culturais em NY. Reflete sobre cultura e modernidade.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Sua boca carmim (Paulo Abreu)


Uma poesia completa
deveria ter sua cor
pincelada com arte
e ter meus olhos
a namorar os seus

Na estrofe perfeita
caberia todo o sorriso 
sensual pulsante
desta boca vitrine
 dos quereres meus

Versos completos
com rezas terços
procissões e ladainhas
para agradecer aos céus
seu amor dengoso

As quadras rimadas
traduzindo seu corpo
a balançar com graça
a silhueta mística
e o cafuné gozoso

Uma poesia repleta
de beijos abraços
carinho e carícias
eis as palavras, tocam
sei, sua boca carmim.

É isto aí!

Transferidor 180° (Paulo Abreu)


Eu vejo as ruas
desertas nuas
pessoas com medo
de serem pessoas

Rostos assustados
mascarados
olhares perdidos
fragilizados

Celulares frágeis
compensando a loucura
em dedos ágeis
a solidão ressoa

na ordem natural 
das cores das ruas
das pernas pés sapatos
janelas carros gatos

cachorros ratos
mambembes pedintes
bêbados sóbrios
tudo enquadrado

na beleza da morte 
nos seus melhores dias
grassa a maldade
e aguça tristeza

Transferidores de graus
mudam o tempo todo
a história o destino
do ângulo dos povos 

Malditos transferidores
o tempo nas ruas não para
não acaba por sua vontade
e não termina assim.
.

É isto aí!







 

Morte e Vida Severina | Animação - Completo


Morte e Vida Severina em Desenho Animado é uma versão audiovisual da obra prima de João Cabral de Melo Neto, adaptada para os quadrinhos pelo cartunista Miguel Falcão. Preservando o texto original, a animação 3D dá vida e movimento aos personagens deste auto de natal pernambucano, publicado originalmente em 1956.

Em preto e branco, fiel à aspereza do texto e aos traços dos quadrinhos, a animação narra a dura caminhada de Severino, um retirante nordestino, que migra do sertão para o litoral pernambucano em busca de uma vida melhor.

TV Escola

Coordenação Geral de Produção
SUPERVISÃO GERAL DO PROJETO
Érico Monnerat

Direção Geral da TV Escola
Érico da Silveira

Fonte Youtube: Morte e Vida Severina (Animação - Completo)



Análise da Obra (toda matéria)

Morte e Vida Severina é um poema de construção dramática com exaltação à tradição pastoril. Ele foi adaptado para o teatro, a televisão, o cinema e transformado em desenho animado.

Por meio da obra, João Cabral de Melo Neto, que também era diplomata, foi consagrado como autor nacional e internacional.

Como diplomata, o autor trabalhou em Barcelona, Madri e Sevilha, cidades espanholas que permitiram clara influência sobre sua obra.

João Cabral de Melo Neto foi seduzido pelo realismo espanhol e confessou ter, daquela terra, o reforço ao seu anti idealismo, antiespiritualismo e materialismo.

Os instrumentos lhe permitiram escrever com mais clareza sobre o nordeste brasileiro em Morte e Vida Severina e outros poemas.

A obra é, acima de tudo, uma ode ao pessimismo, aos dramas humanos e à indiscutível capacidade de adaptação dos retirantes nordestinos.

Tirem as crianças da sala!


sábado, 6 de junho de 2020

Lembrança de um Beijo (Accioly Neto)


Quando a saudade invade o coração da gente
Pega a veia onde corria um grande amor
Não tem conversa nem cachaça que dê jeito
Nem um amigo do peito que segure o chororô
Que segure o chororô
Que segure o chororô
Saudade já tem nome de mulher
Só pra fazer do homem o que bem quer
Saudade já tem nome de mulher
Só pra fazer do homem o que bem quer
O cabra pode ser valente
E chorar
Ter meio mundo de dinheiro
E chorar
Ser forte que nem sertanejo
E chorar
Só na lembrança de um beijo
Chorar


quinta-feira, 4 de junho de 2020

Perpetual (24/7) Eucharistic Adoration prayer mission





Não sei dizer assim (Paulo Abreu)


Não sei dizer assim
de uma maneira fiel
por muitas crenças
produtoras desta fé

Que amo toda você
corpo mente e alma
cabeça boca e olhos
sorriso abraços café

sem açúcar e quente
beijo de língua amor
abraço  apertado cá
no peito há saudade

Bate um coração só
é outono e outra vez
o inverno virá calado 
como sempre metade

Ficará ao descoberto
o abraço que aquece
o carinho que ostenta
o passado que evade

É isto aí!

A Violência desce ladeira abaixo




É impossível não falar desta pestilência cujo nome é apenas um nome, um ser vivo unicelular cujo hospedeiro somos nós, seres vivo pluricelulares. Fomos elevados, através de milhares de gerações, a termos um sistema imunológico fantástico, que aborta milhões de seres invasivos que atingem nosso corpo no dia a dia, mas este daí veio para dizer que estamos doentes.

Estamos doentes quando deixamos a vida para optarmos pela luxúria cultural da morte. Esta manifestação pós Hiroshima está custando a nossa existência neste planetinha azul.

A merda toda se deu naturalmente. Assimilamos a violência, mentiras, intimidações, agressões, pedofilia, feminicídio, racismo, ódio, ignorância, transgressões, farsas, roubos, assaltos, improbidades, ameaças, pornografias, homicídios, infanticídios, sequestros, violência doméstica, violência no campo, violência urbana, violência disto, violência daquilo, e a coisa perdeu o freio.

A Violência desce ladeira abaixo sem freios! 
A Violência cresce ladeira abaixo sem freios!
A Violência mata ladeira abaixo sem freios!
A Violência trucida ladeira abaixo sem freios! 
Parece que o mundo pegou gosto pela violência.   

É isto aí!

quarta-feira, 3 de junho de 2020

terça-feira, 2 de junho de 2020

Bella Ciao

Habilidades para uma vida feliz…

Alto lá
Este texto não é meu
Confesso que copiei e colei
Fonte: amenteemaravilhosa.com.br 
https://amenteemaravilhosa.com.br/habilidades-para-uma-vida-feliz/


Habilidades para uma vida feliz…

1. A felicidade também pode ser planejada
Todos nós falamos da felicidade, mas nem todos sabemos como defini-la. Da mesma forma, é possível que tenhamos um conceito global de felicidade, mas não conseguimos concretizá-lo por situações específicas.

Por isso, a primeira das habilidades para uma vida feliz é desapegar do nosso conceito de bem-estar; não somente no geral, mas nos âmbitos ou aspectos pontuais nos quais nos encontramos.

2. Foco em direção ao crescimento, uma das habilidades para uma vida feliz
Desafiar a nós mesmos nos aproxima da felicidade. O conformismo é um sinal de que estamos cheios de medo ou sem motivação nenhuma.

Sendo assim, assumir objetivos nos traz revitalização e coloca graça no que fazemos. Querer ser melhores e fazer o necessário para alcançar essa mudança aumenta a nossa satisfação com a vida.

3. Aprender a ver o melhor de tudo
Por instinto de conservação, tendemos a focar mais no lado negativo do que no positivo das situações. Por isso, não é fácil aprender a ver o melhor de cada pessoa ou de cada situação.

O mais aconselhável é permitir que essas visões negativas cheguem à superfície, mas imediatamente enfrentá-las com enfoques otimistas e permanecer assim.

4. Ser capaz de confiar em si mesmo
Uma das grandes habilidades para uma vida feliz é a autoconfiança. Para desenvolvê-la, nada melhor do que nos transformamos em nossos próprios melhores amigos.

É preciso deixar a autocrítica constante de lado e perdoar a nós mesmos pelos erros que cometemos ou por não conseguir, de cara, o que queremos. Devemos ter autocompaixão e nos esforçar para tentar nos entender, não julgando a nós mesmos indevidamente.

5. Equilíbrio entre as diferentes dimensões da vida
O trabalho é uma parte importante da vida, mas não é a vida em si. Tudo bem dedicar boa parte do nosso tempo ao trabalho, mas não podemos permitir que a nossa vida gire em torno dele.

Somos mais felizes quando experimentamos não uma, mas muitas facetas do nosso ser. É por esse motivo que o parceiro, os amigos, a família, a saúde e a produtividade devem ter seus espaços definidos.

6. Desenvolver a resiliência
Essa é uma das habilidades mais importantes para ter uma vida feliz. Essa habilidade está relacionada com a capacidade de se recuperar e crescer após sofrer algum trauma.

Às vezes leva tempo, às vezes dá muito trabalho, mas, definitivamente, é uma capacidade que todos nós podemos desenvolver com força de vontade e empenho suficientes.

A resiliência aumenta a autoconfiança, e esta aumenta a segurança. Ou seja, três pelo preço de uma.

7. Lutar contra os hábitos
Todos nós estamos cheios de hábitos mentais, emocionais e físicos. Às vezes eles nos ajudam a tornar a vida mais simples, mas outras vezes são ações mecânicas que só levam ao mal-estar. É bom observar a nós mesmos para detectar se algo neste sentido tem acontecido.

Então, seria uma boa ideia começar mudando os hábitos físicos de comportamentos que queremos erradicar, para, só então, seguir para os hábitos mentais e emocionais.

8. Encontrar um propósito
A maioria de nós sabe que a vida é mais interessante e agradável quando temos um propósito pelo qual lutar. O problema é que nem sempre encontramos esse grande propósito existencial.

Talvez seja melhor nos deixar levar por nossos impulsos espontâneos em direção a pequenos propósitos imediatos. Assim, certamente eles nos levarão a descobrir nossos grandes objetivos de vida.

9. Praticar a bondade
Talvez você já tenha notado que as pessoas mais bondosas são, também, as mais felizes. Em contrapartida, aqueles que se enchem de amargura também são pessoas mais egoístas e, às vezes, cruéis.

Ser bondoso com os demais provoca um sentimento de felicidade profunda e duradoura. Sem dúvidas, a felicidade produzida por impactar positivamente a vida dos outros não tem preço.


10. Construir relações saudáveis
O sentimento de felicidade só é pleno quando é compartilhado. As relações com os demais são fundamentais para o bem-estar pessoal. A melhor forma de construir essas relações é valorizando cada um pelo que é, do jeito que é, respeitando e sendo gratos pelo que eles nos proporcionam.

Estas 10 habilidades para uma vida feliz não são desenvolvidas da noite para o dia. É necessário empenho, dedicação e decisão.

Embora seja improvável alcançar uma felicidade idealizada e total, com certeza alcançaremos um nível de bem-estar muito mais elevado e um importante grau de satisfação com a nossa existência colocando estas habilidades em prática.