Estou confuso. Que lugar é este? Alô? Alguém presente? Vovó? É você mesma? Dei para ver mortos agora? Estou alucinando? Foi algo que comi? Foi algo que bebi? Vovó, espera... - caramba, saiu como entrou. Mas espera, saiu de onde e entrou onde?
Eu sei que sofria de males menores, que agrupados davam uma patela deslocada, mas parece que isto não será o suficiente para clamar pelos céus, pelos anjos e santos neste momento. Na juventude estudei vários santos e santas de maneira que fui ficando interessado em alcançar a santidade ainda em vida para chegar aos céus já enturmado.
Minha mente roda roda, estou confuso, ideias vem e vão. No delírio imagino que isto agora é um estado de indeterminação da inteligência humana que trago em mim, uma dúvida, apesar da escassez de mais dados. Neste estado de incerteza, opondo ao assentimento, traduzo a dor como uma recusa de afirmar ou negar o óbvio - estou morto, numa associação de ideias.
Começo a me sentir ridículo, só, vestido nesta túnica branca e confortável, numa sala sem paredes, sem teto, sem piso, mas ao mesmo tempo real e tangível nesta dimensão desconhecida, aguardando um juiz e um promotor entrarem neste ambiente, e ali ser julgado e, ciente que errei, serei merecedor de escárnio ou quem sabe, até de zombaria.
Mas aí mamãe, em versão atemporal, aos berros me acorda com uma espalmada clássica, destas que onde pega queima. Acorda seu sem-vergonha, levanta, vagabundo, que o dia te espera.
Absurdo, pensei, discordante e incongruente, acresci. Aquilo violava as leis da lógica por ser totalmente contraditório. Primeiro vovó, agora mamãe na sua versão clássica de brava e determinada da infância e eu neste lugar que desconheço. Mas, talvez quem sabe seja um sonho dentro de um sonho? Neste caso estou sonhando que estou sonhando dentro de um terceiro sonho. O jeito é acordar num plano de cada vez.
E se for o contrário - este é o plano real e os outros são virtuais? Matrix é isto? Melhor dormir mais 20 minutos e se eu acordar em casa, tudo bem ...
É isto aí!
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