sábado, 30 de setembro de 2023

O olhar fatal


Ato 1

Ele deixou escapar um "Vá à merda", disse alto ou gritou baixo, e num repente instantâneo dezenas de pares de olhos voltaram para o casal. 

Ela continuou fuzilando-o com o olhar e ele, cabisbaixo, levantou-se e partiu rumo ao deserto.

Ato 2

Por que você sempre volta ao ponto de partida?
Porque você não sabe jogar
E posso saber o por quê?
Porque você é muito chato.

Ela continuou fuzilando-o com o olhar e ele, cabisbaixo, levantou-se e partiu rumo ao deserto.

Ato 3

Lembra da nossa música?
Nossa música? Nós temos uma música para chamar de nossa?
Temos uma para esta ocasião, especificamente, disse ela. 
Ah, lembrei, a Marcha Fúnebre de Chopin. 

Ela continuou fuzilando-o com o olhar e ele, cabisbaixo, levantou-se e partiu rumo ao deserto.

É isto aí!


Mudar dói.


E nem tudo são palavras, refletiu instintivamente, feito um lobo solitário nas colinas. Era frio, madrugada avançando, pensou no segredo, nos desejos secretos, nos acenos discretos e nas coisa que devoravam seus olhos. Balançou a cabeça a princípio com o espírito negativista, aí começou a sorrir, continuou a balançar a cabeça, agora no sentido da descoberta de como pode ser tão incoerente com seus sentimentos. 

Fez um balanço das extraordinárias conquistas, das ordinárias derrotas e das ridículas ações reacionárias a fim de restaurar um status quo exclusivo do passado. Colocou as mãos na cabeça, perplexo com a sua imaturidade, de maneira que assombrado e atordoado, engoliu e seco seus sentimentos, todos eles ali, ávidos para interagir contra seus desejos, sobretudo os desejos da mudança.

Jurou que nunca mais daria sentido à suas dores, angústias, já que sentimentos são o que são e desejos são incompatíveis com as dores. Descobriu que mudar tem custo alto, mas para alimentar a esperança e eliminar o medo de ser feliz, o passado tem que ser o que é - só um passado. 


É isto aí!

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Deixa eu dizer que amo você


Deixa o vinho respirar
deixa eu beijar você
deixa o dia passar
que a vida é um flash

deixa ser saudade
deixa lembrar 
das suas mãos suadas
da sua voz embargada

deixa eu chorar
deitado no colo
que agora é falta,
ausência e mágoa.


É isto aí!

Pertencimento



pé de cebola
pá de cal
pó da estrada
pico da serra

pés descalços
paz na terra
ponta do pé
piau e pilão

para sempre
por toda a vida
pertencimento 
plural ao amor

É isto aí!
 



terça-feira, 26 de setembro de 2023

Ainda uma vez - Adeus (Gonçalves Dias)

Gonçalves Dias (Aldeias Altas MA, 10 de agosto de 1823 – Guimarães MA, 3 de novembro de 1864) foi um poeta, advogado, jornalista, etnógrafo e teatrólogo brasileiro. Um grande expoente do romantismo brasileiro e da tradição literária conhecida como "indianismo".

É famoso por ter escrito o poema "Canção do Exílio", o curto poema épico I-Juca-Pirama e muitos outros poemas nacionalistas e patrióticos, além de seu segundo mais conhecido poema chamado: Canções de Exílio que viriam a dar-lhe o título de poeta nacional do Brasil. Foi um ávido pesquisador das línguas indígenas e do folclore brasileiro.

Alto lá
Este texto abaixo não é meu
Confesso que copiei e colei 
Autor: Fernando Bandini (Professor de Literatura)
Fonte: SAMPI (Jornal de Jundiaí) em 03/05/2023

Alto lá
Este poema abaixo não é meu
Confesso que copiei e colei
Fonte: UNAMA (Universidade da Amazônia)


"Enfim te vejo! enfim posso,/Curvado a teus pés, dizer-te,/Que não cessei de querer-te,/Pesar de quanto sofri". Assim começa "Ainda uma vez -- adeus", de Gonçalves Dias, obra-prima da dor-de-cotovelo na literatura de língua portuguesa. 

Neste ano do bicentenário do poeta maranhense (ele nasceu em 10 de agosto de 1823), vamos relembrar alguns de seus versos mais significativos. "Ainda uma vez..." nasceu de um desafortunado caso de amor. Todos sabem que Antônio Gonçalves Dias é um dos grandes nomes de nossa literatura. Um escritor e tanto, admirado pelos colegas (Manuel Bandeira, por exemplo, foi um dos gigantes a louvá-lo), reconhecido em vida e perpetuado pela história literária. 

Mas (ah, essa terrível conjunção) houve quem com ele não simpatizasse, e não por razões artísticas, mas por preconceito racial e ranço moralista. O poeta conheceu uma jovem maranhense, Ana Amélia Ferreira do Vale, em 1851, quando ela tinha 20 anos, e ele, 28. Apaixonou-se pela garota. Ele era então um bacharel em Direito formado em Coimbra, talentoso poeta e dramaturgo em ascensão, que viria a publicar "Canção do exílio" ("Minha terra tem palmeiras/Onde canta o sabiá(...)"), um dos textos mais populares da literatura brasileira. 

Pediu a mão de Ana Amélia em casamento, mas a mãe dela recusou. A sogra não queria por genro um rapaz mestiço e bastardo (o pai do autor, comerciante português radicado no Maranhão, engravidou uma jovem cafuza, mas não se casou com ela). O poeta escreveu carta ao amigo José Joaquim, irmão de Ana Amélia, tratando de seu drama sentimental. O documento está preservado no acervo do Instituto Moreira Salles. 

Rejeitado pela família de quem amava, Gonçalves Dias casou-se em 1852 com Olímpia da Costa. Viveram um casamento atribulado, desfeito em 1856. O casal teve uma filha, morta ainda na primeira infância. Seguindo o figurino da época, Ana Amélia casou-se com um marido escolhido pela mãe da noiva. Um dos motivos para brotar o "Ainda uma vez..." seria o reencontro casual de Gonçalves Dias com a quase ex - ela de braço dado com o marido. Ana Amélia fingira não o conhecer e teria lhe virado o rosto. Passagem que inspiraria o trecho "Mas que tens? Não me conheces?/ De mim afastas teu rosto?/Pois tanto pode o desgosto/Transformar o rosto meu?". O eu lírico quer se iludir, supondo que ela não o reconheceu porque o sofrimento transformara demais e para pior as feições dele. 

A estrofe final notabilizou-se como exemplo bem acabado do exagero sentimental romântico: "Lerás porém algum dia/Meus versos, d'alma arrancados,/D'amargo pranto banhados,/Com sangue escritos; e então/Confio que te comovas,/Que a minha dor te apiede,/Que chores, não de saudade,/Nem de amor, de compaixão".


Ainda uma vez - Adeus

I
Enfim te vejo! — enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!

II
Dum mundo a outro impelido,
Derramei os meus lamentos
Nas surdas asas dos ventos,
Do mar na crespa cerviz!
Baldão, ludíbrio da sorte
Em terra estranha, entre gente,
Que alheios males não sente,
Nem se condói do infeliz!

III
Louco, aflito, a saciar-me
D’agravar minha ferida,
Tomou-me tédio da vida,
Passos da morte senti;
Mas quase no passo extremo,
No último arcar da esp’rança,
Tu me vieste à lembrança:
Quis viver mais e vivi!

IV
Vivi; pois Deus me guardava
Para este lugar e hora!
Depois de tanto, senhora,
Ver-te e falar-te outra vez;
Rever-me em teu rosto amigo,
Pensar em quanto hei perdido,
E este pranto dolorido
Deixar correr a teus pés.

V
Mas que tens? Não me conheces?
De mim afastas teu rosto?
Pois tanto pôde o desgosto
Transformar o rosto meu?
Sei a aflição quanto pode,
Sei quanto ela desfigura,
E eu não vivi na ventura...
Olha-me bem, que sou eu!

VI
Nenhuma voz me diriges!...
Julgas-te acaso ofendida?
Deste-me amor, e a vida
Que me darias — bem sei;
Mas lembrem-te aqueles feros
Corações, que se meteram
Entre nós; e se venceram,
Mal sabes quanto lutei!

VII
Oh! se lutei!... mas devera
Expor-te em pública praça,
Como um alvo à populaça,
Um alvo aos dictérios seus!
Devera, podia acaso
Tal sacrifício aceitar-te
Para no cabo pagar-te,
Meus dias unindo aos teus?

VIII
Devera, sim; mas pensava,
Que de mim t’esquecerias,
Que, sem mim, alegres dias
T’esperavam; e em favor
De minhas preces, contava
Que o bom Deus me aceitaria
O meu quinhão de alegria
Pelo teu, quinhão de dor!

IX
Que me enganei, ora o vejo;
Nadam-te os olhos em pranto,
Arfa-te o peito, e no entanto
Nem me podes encarar;
Erro foi, mas não foi crime,
Não te esqueci, eu to juro:
Sacrifiquei meu futuro,
Vida e glória por te amar!

X
Tudo, tudo; e na miséria
Dum martírio prolongado,
Lento, cruel, disfarçado,
Que eu nem a ti confiei;
“Ela é feliz (me dizia)
“Seu descanso é obra minha.”
Negou-me a sorte mesquinha...
Perdoa, que me enganei!

XI
Tantos encantos me tinham,
Tanta ilusão me afagava
De noite, quando acordava,
De dia em sonhos talvez!
Tudo isso agora onde pára?
Onde a ilusão dos meus sonhos?
Tantos projetos risonhos,
Tudo esse engano desfez!

XII
Enganei-me!... — Horrendo caos
Nessas palavras se encerra,
Quando do engano, quem erra.
Não pode voltar atrás!
Amarga irrisão! reflete:
Quando eu gozar-te pudera,
Mártir quis ser, cuidei qu’era...
E um louco fui, nada mais!

XIII
Louco, julguei adornar-me
Com palmas d’alta virtude!
Que tinha eu bronco e rude
C’o que se chama ideal?
O meu eras tu, não outro;
Stava em deixar minha vida
Correr por ti conduzida,
Pura, na ausência do mal.

XIV
Pensar eu que o teu destino
Ligado ao meu, outro fora,
Pensar que te vejo agora,
Por culpa minha, infeliz;
Pensar que a tua ventura
Deus ab eterno a fizera,
No meu caminho a pusera...
E eu! eu fui que a não quis!

XV
És doutro agora, e pr’a sempre!
Eu a mísero desterro
Volto, chorando o meu erro,
Quase descrendo dos céus!
Dói-te de mim, pois me encontras
Em tanta miséria posto,
Que a expressão deste desgosto
Será um crime ante Deus!

XVI
Dói-te de mim, que t’imploro
Perdão, a teus pés curvado;
Perdão!... de não ter ousado
Viver contente e feliz!
Perdão da minha miséria,
Da dor que me rala o peito,
E se do mal que te hei feito,
Também do mal que me fiz!

XVII
Adeus qu’eu parto, senhora;
Negou-me o fado inimigo
Passar a vida contigo,
Ter sepultura entre os meus;
Negou-me nesta hora extrema,
Por extrema despedida,
Ouvir-te a voz comovida
Soluçar um breve Adeus!

XVIII
Lerás porém algum dia
Meus versos d’alma arrancados,
D’amargo pranto banhados,
Com sangue escritos; — e então
Confio que te comovas,
Que a minha dor te apiade
Que chores, não de saudade,
Nem de amor, — de compaixão. 

domingo, 24 de setembro de 2023

Discutindo a relação (Sobre absurdos e frações)

Cleodersom, eu menti para você.

Como assim, Neidiana Glover?

Menti mentindo. É esta angústia, sabe?

Por que você está falando isto, Neidiana Glover?

Porque você não percebeu. Se percebeu, não falou. Se não falou, me sinto triste.

Então você está triste porque achou que eu pensei que você mentiu? É isto?

Sim  e não, Cleodersom.

E quais seriam os quereres do não, Neidiana Glover?

Como você é insensível, Cleodersom.

Então passou uns boizinhos de coisas entre nós dois, é isto Neidiana Glover?

Passou uma boiada, Cleodersom.

Boiada com chifre ou sem chifre, Neidiana Glover?

Mas isto é a ultrapassagem do limite do absurdo, seu, seu, seu  bruto, deselegante, primitivo, troglodita. Saiba que pela matemática, demonstração por absurdo é uma prova de que algo é falso pela comprovação de que seu inverso é verdadeiro.

Matemática? Estou fora, Neidiana Glover, nunca fui bom de contas e agora isto, e sim, você está feia.


É isto aí


sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Ai, Que Saudade D'ocê (Vital Farias)




Ai, Que Saudade D'Ocê é uma canção, composta em 1982 pelo paraibano Vital Farias, que se tornou seu maior sucesso, tendo sido regravada por vários artistas, especialmente os grandes expoentes da música nordestina tais como Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Fagner, Israel Filho, e mais recentemente Zeca Baleiro,

Ai Que Saudade D'ocê (Vital Farias)

Fonte: Letras mus

Não se admire se um dia, 
um beija flor invadir
A porta da tua casa,
te der um beijo e partir

Foi eu que mandei o beijo 
que é pra matar meu desejo
Faz tempo que eu não te vejo, 
ai que saudade d'ocê

Se um dia ocê se lembrar,
escreva uma carta pra mim
Bote logo no correio,
com frases dizendo assim

Faz tempo que eu não te vejo, 
quero matar meu desejo
Lhe mando um monte de beijo 
ai que saudade sem fim

E se quiser recordar 
aquele nosso namoro, 
quando eu ia viajar
Você caía no choro, 

eu chorando pela estrada,
mas o que eu posso fazer
trabalhar é minha sina
eu gosto mesmo é d'ocê



A maré do ex-amor



As saudades mais fortes ocorrem nas solidões que estão mais próximas ao coração e à ausência, enquanto isto acontece, nas demais regiões da alma fluem de maneira mormente as dores de baixa tristeza, vinculadas ao sentimento de culpa. E o corpo que se vire na melhor posição.

Quando a lágrima triste está mais próxima da face, aquela, a saudade, é atraída por esta com maior intensidade; daí vertem lágrimas doídas e lágrimas de amor findo maculadas pelo suor de outra alguém nos braços. Nunca é a mesma coisa, mas a maré vai e vem ... vai e vem ... vai ... vai ... e vem ...


É isto aí!

Histórias de amor em Bucareste

Deixou o bilhete sob a xícara de café e partiu rumo ao vazio da sua existência, que acreditava estar em Bucareste. Há muitas semanas comparecia aos encontros oníricos com uma cigana romena, que insistia com sua presença para enfim serem felizes.

Ela acordou, não viu o papel mal escrito com lápis ou não deu maior atenção; dispensou na lixeira, arrumou a cozinha, escreveu um bilhete num post it neon, com lápis de sobrancelha e colou na porta da geladeira - querido, sinto muito, mas estou partindo para Bucareste para encontrar o amor da minha vida. Fui ser feliz!

À noite reencontravam-se no que chamavam de lar. Bucareste é muito longe, pensavam mutuamente ..., e viveram mais uma noite, um no sonho do outro e outra noite e outra noite, até que um dia, sem bilhetes, fugiram para dentro dos seus sonhos.


É isto aí!


Fonte da imagem: Casal Romani (Cigano) década de 1890




quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Presença (Mário Quintana)


Poema Presença foi publicado em 1976 no livro Apontamentos da História Sobrenatural de Mario Quintana
Ano: 1976 / Páginas: 174
Editora: Editora Globo

Mario Quintana nasceu no Rio Grande do Sul, na cidade de Alegrete, em 30 de julho de 1906. Foi poeta, tradutor e jornalista que começou a escrever durante a adolescência e publicou seus primeiros trabalhos na revista da escola. É considerado um dos maiores escritores brasileiros do século XX, mestre da palavra, do humor e da síntese poética.



Presença (Mário Quintana)

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos…

É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo…

Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.

É preciso a saudade para eu sentir
como sinto – em mim – a presença misteriosa da vida…
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato…
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Aprenda a chamar os Anjos por suas devidas competências


Fonte Vídeo: Exército de São Miguel - Instituto Hesed Oficial


Fonte do Texto: Catequistas Brasil 

Fonte da imagem: Wikipédia / Angelologia cristã


Primeira hierarquia:

É formada pelos Santos Anjos que estão em íntimo contato com o Criador Dedicam-se a Amar, Adorar e Glorificar a DEUS numa constante e permanente frequência, em grau bem mais elevado que os outros Coros: Serafins, Querubins e Tronos.

Serafins
O nome “seraph” deriva do hebreu e significa “queimar completamente”. Segundo o conceito hebraico, o Serafim não é apenas um ser que “queima”, mas “que se consome” no amor ao Sumo Bem, que é o nosso Deus Altíssimo. Na Sagrada Escritura os Santos Anjos Serafins aparecem somente uma única vez, na visão de Isaías: (Is 6,1-2).

Querubins
São considerados guardas e mensageiros dos Mistérios Divinos, com a missão especial de transmitir Sabedoria. No início da criação, foram colocados pelo CRIADOR para guardar o caminho da Árvore da Vida.(Gn 3,24) Na Sagrada Escritura o nome dos Santos Anjos Querubins é o mais citado, aparecendo cerca de 80 vezes nos diversos livros. São também os Querubins os seres misteriosos que Ezequiel descreve na visão que teve, no momento de sua vocação: (Ez 10,12) Quando Moisés recebeu as prescrições para a construção da Arca da Aliança, onde o SENHOR habitou, o trono Divino foi colocado entre dois Querubins: (Ex 25,8-9.18-19) Estas considerações atestam que os Querubins são conhecedores dos Mistérios Divinos.

Tronos
Acolhem em si a Grandeza do CRIADOR e a transmitem aos Santos Anjos de graus inferiores. São chamados “Sedes Dei” (Sede de DEUS). Em síntese, os Tronos são aqueles Santos Anjos que apresentam aos Coros inferiores, o esplendor da Divina Onipotência.



Segunda hierarquia:

São os Santos Anjos que dirigem os Planos da Eterna Sabedoria, comunicando aqueles projetos aos Anjos da Terceira Hierarquia, que vigiam o comportamento da humanidade. Eles são responsáveis pelos acontecimentos no Universo. Esta Hierarquia é formada pelos seguintes Coros de Anjos: Dominações, Potestades e Virtudes.

Dominações
São aqueles da alta nobreza celeste. Para caracteriza-los com ênfase, São Gregório escreveu: “Algumas fileiras do exército angélico chamam-se Dominações, porque os restantes lhe são submissos, ou seja, lhe são obedientes”. São enviados por Deus a missões mais relevantes e também, são incluídos entre os Santos Anjos que exercem a “função de Ministro de Deus”.

Potestades
É o Coro Angélico formado pelos Santos Anjos que transmitem aquilo que deve ser feito, cuidando de modo especial da “forma” ou “maneira” como devem ser feitas as coisas. Também são os Condutores da ordem sagrada. Pelo fato de transmitirem o poder que recebem de Deus, são espíritos de alta concentração, alcançando um grau elevado de contemplação ao Criador.

Virtudes
As atribuições dos Santos Anjos deste Coro, são semelhantes aquelas dos Santos Anjos do Coro Potestades, porque também eles transmitem aquilo que deve ser feito pelos outros Anjos, mas sobretudo, auxiliam no sentido de que as coisas sejam realizadas de modo perfeito. Assim, eles também têm a missão de remover os obstáculos que querem interferir no perfeito cumprimento das ordens do CRIADOR. São considerados Anjos fortes e viris. Quem sofre de fraquezas físicas ou espirituais, deve invocar por meio de orações, o auxílio e a proteção de um Santo Anjo do Coro das Virtudes.

 
Terceira Hierarquia:

É formada pelos Santos Anjos que executam as ordens do Altíssimo. Eles estão mais próximos de nós e conhecem a fundo a natureza de cada pessoa que deve assistir, a fim de poderem cumprir com exatidão a Vontade Divina: insinuando, avisando ou castigando, conforme o caso. Esta Hierarquia é formada pelos: Principados, Arcanjos e Anjos.

Principados
Os Santos Anjos deste Coro são guias dos mensageiros Divinos. Não são enviados a missões modestas, ao contrário, são enviados a príncipes, reis, províncias, Dioceses, de conformidade com o honroso título de seu Coro. No livro de Daniel são também apresentados como protetores de povos: (Dn 10,13) Significa dizer, que são aqueles Anjos que levam as instruções e os avisos Divinos, ao conhecimento dos povos que lhe são confiados. Porém, quando esses mesmos povos recusam aceitar as mensagens do Senhor, os Principados transformam-se em Anjos Vingadores, e derramam as taças da ira Divina sobre eles, de forma a reconduzi-los através do castigo e da dor, de volta ao DEUS de Amor e Misericórdia que eles abandonaram propositalmente.

Arcanjos
A ordem tradicional dos Coros Angélicos coloca os “Arcanjos” entre os “Principados” e os “Anjos”. Pelas funções que desempenha, acreditamos que ele deve estar colocado no mais alto Coro dos Santos Anjos. Gabriel também é chamado de Arcanjo, e da mesma maneira que Miguel, através das páginas da Sagrada Escritura, vê-se que é conhecedor dos mais profundos Mistérios de DEUS, inclusive foi Gabriel quem Anunciou a Maria que Ela estava cheia de graças e tinha sido escolhida pelo Criador, para Mãe de Deus Por outro lado, também Rafael é denominado pela Igreja como um Arcanjo. Contudo, a respeito de Rafael, no Livro de Tobias, ele mesmo confirma que está diante de Deus:

“Eu sou Rafael, um dos sete Anjos que estão sempre presentes e tem acesso junto à Glória do Senhor”. (Tb 12,15)

Anjos
Os Santos Anjos recebem as ordens dos Coros superiores e as executam. Outro aspecto que não pode ser esquecido, é o fato de que os Santos Anjos, guardadas as devidas proporções, estão mais perto da humanidade e por assim dizer, convivendo conosco e prestando um serviço silencioso mas de valor incomensurável à cada pessoa. O Criador inspirou o escritor sagrado no Livro Êxodo, da Bíblia Sagrada: “Eis que envio um Anjo diante de ti, para que te guarde pelo caminho e te conduza ao lugar que tenho preparado para ti. Respeita a sua presença e observa a sua voz, e não lhe sejas rebelde, porque não perdoará a vossa transgressão, pois nele está o Meu Nome. Mas se escutares fielmente a sua voz e fizeres o que te disser, então serei inimigo dos teus inimigos e adversário dos teus adversários”. (Ex 23,20-22)

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Perdas e danos


Parecia manhã de março 

ou setembro com chuvas 

intensas e ensurdecedoras 

nas ruas descalças da alma

mas era hoje na tarde triste

num tempo perdido e havido

entre a memória e a saudade.


É isto aí!

sábado, 16 de setembro de 2023

Amor acabando em pizza


Pensou uma coisa que se dissesse na frente da avó materna, na infância, ela o colocaria, peremptoriamente, ajoelhado num mix milho inteiro com canjiquinha, em total estado de oração. Só de pensar isto, benzeu-se três vezes, opa, duas, pois a terceira fora interrompida por uma mensagem na rede social.

Era ela!

Suou frio, tremeu as mãos, olhou para os lados seguros e os inseguros,  certificando da solidão que lhe era mister.

Era ela!

Lembrou detalhadamente do dia que passou-lhe seu número. Ela estava nervosa por não conseguir encontrá-lo. Pronto! Disse. Agora você pode me encontrar quantas vezes quiser. 

Era ela? Será? E se for engano?

Resolveu atender. A a a a a lô

É da pizzaria?

Desligou e desejou ali se transformar num pizzaiolo só para dizer que sim.

É isto aí!

Célia - Deixa (Baden Powell e Vinicius de Moraes)


Foto: Célia na capa de seu LP “Na Boca do Sol” – Célia (1972)

Deixa é uma música lindíssima, com uma poesia elegante, leve e encantadora, feita por Vinícius,  a qual Célia traduz num jazz inusitado. É um samba-canção na origem, fruto da parceria de Baden Powell e Vinicius de Moraes , gravado pela primeira vez em 1965 pela Gravadora: CBS / Catálogo: 37390 Ano: 1965 por  Thelma Soares 


Deixa
Deixa quem quiser falar, meu bem

Deixa
Deixe o coração falar também
Porque ele tem razão demais quando se queixa
Então a gente deixa, deixa, deixa, 

Deixa
Ninguém vive mais do que uma vez

Deixa
Diz que sim prá não dizer talvez

Mas vê se deixa 
A paixão também existe

Deixa
Não me deixe ficar triste



Cantora: Célia

Célia Regina Cruz, mais conhecida como Célia (São Paulo, 8 de setembro de 1947 – São Paulo, 29 de setembro de 2017), foi uma grande cantora brasileira.

Carreira

Tornou-se conhecida com a gravação de Onde estão os tamborins, na década de 1970. Vendeu mais de 70 mil cópias e ganhou diversos prêmios como o "Roquete Pinto" e o "Elena Silveira", além de vários discos de ouro.

Fez shows pelo Brasil, Itália, França e países da América Latina, chegando a fazer uma apresentação para o príncipe Rainier 3º em Mônaco. 

Morte
Após ficar internada por cerca de um mês, faleceu na noite de 29 de setembro de 2017, em São Paulo


Célia - Deixa (Baden Powell e Vinicius de Moraes)
Fonte Youtube: videoraridade


Camilla Faustino - Despacito


Despacito

"Despacito" é uma canção do cantor porto-riquenho Luis Fonsi , do rapper compatriota Daddy Yankee, e Erika Ender, para o nono álbum de estúdio de Fonsi, Vida (2018). Em 12 de janeiro de 2017, a Universal Music Latin lançou "Despacito" e seu videoclipe, que mostra os dois artistas que interpretam a música no bairro La Perla de Old San Juan, Porto Rico e o bar local La Factoría. A música foi produzida por Andrés Torres e Mauricio Rengifo. 

Fonte: LyricFind
Compositores: Erika Ender / Luis Fonsi / Ramon Ayala
Letra de Despacito © Sony/ATV Music Publishing LLC, Warner Chappell Music, Inc


Sí, sabes que ya llevo un rato mirándote
Tengo que bailar contigo hoy 
Vi que tu mirada ya estaba llamándome
Muéstrame el camino que yo voy

Oh, tú, tú eres el imán y yo soy el metal
Me voy acercando y voy armando el plan
Solo con pensarlo se acelera el pulso (oh yeah)

Ya, ya me estás gustando más de lo normal
Todos mis sentidos van pidiendo más
Esto hay que tomarlo sin ningún apuro

Despacito
Quiero respirar tu cuello despacito
Deja que te diga cosas al oído
Para que te acuerdes si no estás conmigo

Despacito
Quiero desnudarte a besos despacito
Firmar las paredes de tu laberinto
Y hacer de tu cuerpo todo un manuscrito 

Quiero ver bailar tu pelo
Quiero ser tu ritmo 
Que le enseñes a mi boca 
Tus lugares favoritos 

Déjame sobrepasar tus zonas de peligro 
Hasta provocar tus gritos 
Y que olvides tu apellido 

Yo sé que estás pensándolo (eh)
Llevo tiempo intentándolo (eh)
Mami, esto es dando y dándolo
Sabes que tu corazón conmigo te hace bam bam
Sabe que esa beba 'tá buscando de mi bam bam

Ven prueba de mi boca para ver cómo te sabe
Quiero, quiero, quiero ver cuánto amor a ti te cabe
Yo no tengo prisa, yo me quiero dar el viaje
Empezamo' lento, después salvaje

Pasito a pasito, suave suavecito
Nos vamos pegando poquito a poquito
Cuando tú me besas con esa destreza
Veo que eres malicia con delicadeza

Pasito a pasito, suave suavecito
Nos vamos pegando, poquito a poquito 
Y es que esa belleza es un rompecabezas 
Pero pa' montarlo aquí tengo la pieza 

Despacito (yeh, yo)
Quiero respirar tu cuello despacito (yo)
Deja que te diga cosas al oído (yo)
Para que te acuerdes si no estás conmigo

Despacito
Quiero desnudarte a besos despacito (yeh)
Firmar las paredes de tu laberinto
Y hacer de tu cuerpo todo un manuscrito (sube, sube, sube)
(Sube, sube) Oh

Quiero ver bailar tu pelo
Quiero ser tu ritmo (uh oh, uh oh)
Que le enseñes a mi boca (uh oh, uh oh)
Tus lugares favoritos (favoritos, favoritos baby)

Déjame sobrepasar tus zonas de peligro (uh oh, uh oh)
Hasta provocar tus gritos (uh oh, uh oh)
Y que olvides tu apellido

Despacito
Vamo' a hacerlo en una playa en Puerto Rico
Hasta que las olas griten "Ay, bendito"
Para que mi sello se quede contigo (báilalo)

Pasito a pasito, suave suavecito (hey yeah, yeah)
Nos vamos pegando, poquito a poquito (oh no)
Que le enseñes a mi boca (uh oh, uh oh)
Tus lugares favoritos (favoritos, favoritos baby)

Pasito a pasito, suave suavecito
Nos vamos pegando, poquito a poquito
Hasta provocar tus gritos (eh-oh) 
Y que olvides tu apellido 

Despacito


Fonte Abramus:  Camila Faustino
Abramus – Associação Brasileira de Música e Artes

Camilla Faustino é considerada uma das mais belas vozes da “Nova MPB”. Parceira de palco de Toquinho, essa Goiana vem surpreendendo pela sua facilidade de transitar por diversos estilos musicais, sempre imprimindo a sua identidade.


A Misoginia Estrutural 2


Em um vídeo publicado na sexta-feira (15/setembro/2023), gravado durante a inauguração de uma estrada em Barra do Piraí, no sul do estado do Rio de Janeiro, o Prefeito da cidade - Mário Esteves - afirmou precisar ‘’começar a castrar’’ as mulheres da cidade para conter o crescimento da população. A fala polêmica causou revolta na população. 

"O que não falta em Barra do Piraí é criança. Cadê o Dione [secretário de Saúde]? Tem que começar a castrar essas meninas. Controlar essa população. É muito filho, cara", diz Mário Esteves.  

Fonte do Vídeo: UOL



quarta-feira, 13 de setembro de 2023

A palavra edificante


A palavra concreto
trás consigo cimento, 
água, areia, brita

A palavra flor
trás consigo pétalas,, 
pedúnculo, cálice. 

A palavra montanha
trás consigo ar frio, 
cascatas, vales.

A palavra amor
trás consigo você
e você é tão bonita.

É isto aí!

sábado, 9 de setembro de 2023

432Hz Tom milagroso / Meditação dos Anjos / 528Hz Frequência de Cura




Escutar música com a frequência 432Hz reverbera dentro de nossos corpos, liberando bloqueios emocionais e expandindo nossa consciência, nos permitindo sintonizar com a sabedoria do Universo, com a Inteligência Divina e com nossa Alma. Esta frequência cria Unidade, em vez de separação e expande nossos corações e nos deixa mais cheios de amor e compaixão. 

A ciência moderna começou a reconhecer o que os antigos místicos e sábios nos disseram por séculos: que tudo está em constante estado de vibração, até a menor partícula física que não podemos não perceber com nossos (ainda) sentidos limitados.
O estado mais elementar de vibração é o do som. Tudo tem uma faixa ótima de vibração (frequência), e essa taxa é chamada de ressonância. Quando estamos em ressonância, estamos em equilíbrio. Cada órgão e cada célula em nosso corpo precioso absorve e emite o som com uma frequência ótima particular. Uma música sintonizada em 432hz e 528hz cria ressonância em nosso corpo físico, mental, emocional e espiritual.

De acordo com o Dr. Leonard Horowitz, 528 Hertz é uma frequência que é central para a "matriz matemática musical da criação." Mais do que qualquer som previamente descoberto, a "frequência do AMOR" ressoa no coração de tudo, no seu coração, sua essência espiritual, à realidade do céu e da terra. Usado para retornar o DNA humano ao seu estado original e perfeito, para aumentar a energia vital, a clareza mental, a consciência, a criatividade e despertar ou ativar estados de êxtase como profunda paz interior, dança e celebração. 

Gatilho: o estupro na ficção brasileira



Alto lá
Este texto não é meu
Confesso que copiei e colei

Autora: Karine Döll (doutoranda em Letras pela UFRGS, e mestre pela Universidade Estadual de Ponta Grossa.) 

Fonte:  Blog escrevalolaescreva 

Livro: Gatilho: o estupro na ficção brasileira (Editora Letramento)


QUINTA-FEIRA, 31 DE AGOSTO DE 2023

AS NARRATIVAS DE ESTUPRO NA LITERATURA BRASILEIRA (MAS NÃO SÓ)

Recebi um livro que parece formidável (ainda não li inteiro) de Karine Döll, doutoranda em Letras pela UFRGS, e mestre pela Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Pedi pra ela escrever sobre seu livro, e publico seu relato como guest post aqui, na esperança que você se interesse e compre Gatilho: o estupro na ficção brasileira (Editora Letramento). E divulgue também!

Demorei a voltar a falar sobre o tema da minha pesquisa. Demorei a voltar a falar sobre o crime que possivelmente mais desperta as paixões e perversões humanas. Desde que terminei o mestrado, em 2019, muita coisa aconteceu. Desde que comecei minha pesquisa, em 2017, mais coisa ainda. Não fazíamos ideia do que estava por vir. E veio. Demônios, impotência, pandemia. No entanto, muita gente falou. Muitas mulheres falaram e, de repente, a palavra “estupro” não apareceu mais como um assunto colocado sempre para debaixo do tapete. Será?

Acompanhei de longe o que houve em Belo Horizonte, algumas semanas atrás. De longe mesmo, pois moro e sou do Paraná. E posso dizer que o que houve naquela rua, àquela noite, também me chocou (logo a mim que, pressupunha, tive contato com as mais variadas narrativas de estupro ao longo de todos esses anos). Penso ser este o retrato de nossos tempos. A moça escapou de um, de dois, de três homens, mas não escapou do quarto. Houve avanços. Em outro momento, muito provavelmente ela teria sido estuprada pelo primeiro. Ou, talvez, por todos. Porque é inevitável. Somos todas reféns. Lembro de uma menina, em minha cidade, que também saiu para se divertir com amigos, foi drogada, estuprada por vários homens e se matou algumas semanas depois. Disseram que ela era viciada.

Lembro de mim, que saí certa vez com um amigo e “passei do ponto”, tendo bebido pouco, pouquíssimo, mas também apaguei, sendo que este meu amigo me salvou (que sorte a minha, não é mesmo?). Demorei para entender que aquilo (que não foi nada) também não foi culpa minha e nunca mais saí na balada com um copo sem tampa. Lembro de uma amiga que me contou recentemente que fora drogada por um primo enquanto bebiam na casa dele e alguns meses depois descobriu que estava grávida, sem nem saber ainda que já havia perdido sua virgindade.

Não quero simplesmente divulgar um livro e não tenho por intenção propagar um discurso de autoridade sobre assunto tão desafiador e dilacerante, para todas nós. Mas quero lembrar, para além dos martírios, que continuamos lutando, e continuamos existindo, e continuamos escrevendo e pensando. Este livro, para mim, é só a ponta de um iceberg que por vezes afunda completamente, mas por outras reaparece, sólido, imponente, interrompendo a travessia daqueles que cogitaram já estarmos navegando por mares mais ermos. Belo Horizonte nos lembra que não. Cada cidade, em cada canto desse Brasil, certamente tem um relato que, da mesma forma, nos lembra que não. Desconhecidos, conhecidos, aproveitadores, oportunistas... estupradores. Por que o corpo da mulher precisa sempre estar à disposição, afinal? Alguns mais que outros, é verdade.

Meu livro, intitulado Gatilho: o estupro na ficção brasileira, trata deles, esses “monstros” tão encobertos de suposta humanidade, sob a ótica de duas escritoras brasileiras (ou quase) contemporâneas: Paloma Vidal e Sheyla Smanioto, que corajosamente trouxeram o discurso do estuprador à baila. Impregnaram suas páginas de dor, mas também de evidências. Ao expor seus escritos, tenho por intenção mostrar que para ser possível realizar a análise das narrativas de estupro na literatura, é preciso desmembrá-las de um certo sistema de ambiguidades no qual elas parecem estar sempre imbricadas, sistema esse que trato como “retórica do estupro”.

Penso ser importante esclarecer que, em meu livro, especifiquei o trabalho com o estupro partindo de duas delimitações: a narrativa de estupro enquanto verdade histórica, a qual se impõe como única, sendo traduzida, porém, em diversos mitos (como, por exemplo, “é impossível estuprar uma mulher que resiste”; “o 'não' às vezes quer dizer 'sim'”; “os homens correm o risco de serem injustamente acusados de estupro”, etc) e as narrativas de estupro enquanto verdades literárias, as quais podem ser apresentadas de diferentes formas partindo, contudo, de uma mesma singularidade imposta pela verdade consagrada historicamente.

Por vezes, na literatura, associa-se o estupro a uma suposta prática sexual e vemos, então, inscrever-se uma narrativa que mascara a violência sexual cometida, deixando figurar em primeiro plano uma noção rasa de prazer masculino em concomitância com um presumido desejo feminino. Por não se apresentarem enquanto violência propriamente, estas narrativas fazem parecer que a imposição de vontade tida pelo homem coincidiria com um certo tipo de desejo tido pela mulher, ou seja, as mulheres permitiriam uma tal violência e, inclusive, até a desejariam. O grande problema que aqui se delineia é que, uma vez não sendo difícil reconhecer que a própria concepção moderna de sexualidade por vezes parte também de uma retórica do estupro, a qual traça um determinado script no que diz respeito a práticas sexuais heteronormativas, essas narrativas tornam-se quase irreconhecíveis enquanto narrativas de estupro por serem colocadas lado a lado de uma certa concepção de literatura erótica.

O resultado disso é que a violência em si, de fato, acaba por desaparecer, tornando-se assim uma violência dupla: a real e a ficcionalizada. Bem, não é o caso dos romances que fundamentam minha análise, mas como eu disse, trata-se de autoras contemporâneas (e muitas mais narrativas vieram depois delas, como, por exemplo, o romance Vista Chinesa, de Tatiana Salem Levy, publicado em 2021, algum tempo depois de já concluída esta primeira etapa de meu trabalho).

Hoje, enquanto doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFRGS, sigo nessa empreitada, vasculhando mais e mais exemplos de narrativas consideradas por mim como problemáticas, para dizer o mínimo, partindo da metade do século XIX para cá.

De Machado de Assis a Clarice Lispector, de Adolfo Caminha a Olavo Bilac, de Rachel de Queiroz a Guimarães Rosa, de Jorge Amado a Marçal Aquino, a literatura brasileira parece ter se empenhado em trazer para dentro de suas histórias o crime de estupro, ao mesmo tempo em que parece ter se empenhado também em borrar um pouco os limites que separam a narrativa de estupro da narrativa erótica ou sexual, dificultando a compreensão daqueles que a leem (embora tal dificuldade jamais seja explicitada) e deixando que a violência maior torne-se despercebida: a imposição de um discurso por trás de uma narrativa que a qualifica enquanto estupro ou enquanto sexo, sendo que cada uma tem limites bastante precisos e estes devem ser respeitados.

Por fim, uma vez que só conseguimos comunicar o estupro através do texto (texto aqui entendido como qualquer manifestação de linguagem), é importante que nos atentemos a ele em toda a sua extensão. Dentro e fora dos livros.

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Neologismo (Manuel Bandeira)

Beijo pouco, falo menos ainda

Mas invento palavras

Que traduzem a ternura mais funda

E mais cotidiana

Inventei, por exemplo o verbo teadorar

Intransitivo;

Teadoro, Teodora


Manuel Bandeira é considerado como parte da geração de 1922 do modernismo no Brasil. Seu poema "Os Sapos" foi o abre-alas da Semana de Arte Moderna. Juntamente com escritores como João Cabral de Melo Neto, Gilberto Freyre, Clarice Lispector e Joaquim Cardozo, entre outros, representa o melhor da produção literária do estado de Pernambuco.

Pode ser, só que não



Pode ser
que não,
seja por 
outro lado
com deveria

Mas assim
o é, imutável 
dia após dia
saber sempre
que é o errado.

É isto aí!

Louvar a Deus

 Salmo 145:1-21

¹ Louvor. De Davi. 

  Ó meu Deus, meu rei, eu vos glorificarei, e bendirei o vosso nome pelos séculos dos séculos.

² Dia a dia vos bendirei, e louvarei o vosso nome eternamente.

³ Grande é o Senhor e sumamente louvável, insondável é a sua grandeza.

⁴ Cada geração apregoa à outra as vossas obras, e proclama o vosso poder.

⁵ Elas falam do brilho esplendoroso de vossa majestade, e publicam as vossas maravilhas.

⁶ Anunciam o formidável poder de vossas obras e narram a vossa grandeza.

⁷ Proclamam o louvor de vossa bondade imensa, e aclamam a vossa justiça.

⁸ O Senhor é clemente e compassivo, longânime e cheio de bondade.

⁹ O Senhor é bom para com todos, e sua misericórdia se estende a todas as suas obras.

¹⁰ Glorifiquem-vos, Senhor, todas as vossas obras, e vos bendigam os vossos fiéis.

¹¹ Que eles apregoem a glória de vosso reino, e anunciem o vosso poder,

¹² para darem a conhecer aos homens a vossa força, e a glória de vosso reino maravilhoso.

¹³ Vosso reino é um reino eterno, e vosso império subsiste em todas as gerações. O Senhor é fiel em suas palavras, e santo em tudo o que faz.

¹⁴ O Senhor sustém os que vacilam, e soergue os abatidos.

¹⁵ Todos os olhos esperançosos se dirigem para vós, e a seu tempo vós os alimentais.

¹⁶ Basta abrirdes as mãos, para saciardes com benevolência todos os viventes.

¹⁷ O Senhor é justo em seus caminhos, e santo em tudo o que faz.

¹⁸ O Senhor se aproxima dos que o invocam, daqueles que o invocam com sinceridade.

¹⁹ Ele satisfará o desejo dos que o temem, ouvirá seus clamores e os salvará.

²⁰ O Senhor vela por aqueles que o amam, mas exterminará todos os maus.

²¹ Que minha boca proclame  

Salmo 145:1-21


Fonte Youtube: Cadu Isnard


terça-feira, 5 de setembro de 2023

Caetano Veloso recebe título de Doutor Honoris Causa na Espanha

Fonte da imagem: Correio Brasiliense
Autor da fotografia: Cesar Manso / AFP

Caetano Veloso recebeu nesta segunda-feira (4/9/2023) o título de doutor honoris causa concedido pela Universidade de Salamanca, na Espanha, indicado pela Faculdade de Filologia e pelo Departamento de Filologia Moderna em abril de 2021 e a decisão por homenagear Caetano surgiu de Pedro Serra, professor de Filologia Galega e Portuguesa.



Fonte do Youtube: Mídia Ninja

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Tutóia


Lembrei de você hoje. 
Deparei com a Tutóia  , 
que esteve guardada 
por anos merencória. 

Estava naquele canto 
onde guardo as coisas 
para não esquecer que 
quando em vez, aparecem. 

Você é a protagonista 
que narra a trajetória 
da nossa existência;
romântica, sensual e linda.

Você é essa história
assim, bem originária
simples, naturalmente,
para sempre infinda

É isto aí!


Do tupi-guarani, TUTÓIA é uma exclamação que quer dizer: “Que linda! Que beleza! Que maravilhosa!”
Pode ser traduzido também como "Água Boa"





sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Hino à vida (Paulo Mendes Campos)



Autor: Carlos de Almeida Vieira: – Médico, Psiquiatra, Psicanalista da Sociedade de Psicanálise de Brasília SPBsb, Membro da Federação Brasileira de Psicanálise – FEBRAPSI e da International Psychoanalytical Association IPA/London

Nota: “Todos os poetas de Minas são o mesmo e único poeta. Representa o psiquismo das Gerais, isto é, a bipolaridade (coexistência de emoções e desejos conflitantes), a abulia (inibição da vontade), a libido(gana sexual), a oniomania (inclinação à barganha), a disforia (malestar espiritual, a ambivalência emoções contrárias de amor e ódio) etc.” 


Hino à vida (Paulo Mendes Campos)

(Publicado no livro A palavra escrita - 1951)

Continuar a primeira palavra escrita,
Continuar a frase, não resigná-la
A temor, imperfeição, náusea,
Continuar com imenso trabalho
(Irreconhecível bosque do abstrato),
Doam os músculos e os cães ofeguem,
Continuar através do fogo e da água,
Em nome do fogo e da água,
Continuar desejando, farejando,
Por despeito e ambição continuar,
Não abrir muito os olhos,
Não cerrá-los demasiado,
Continuar por esta rua sem fé,
Como o cego devassado de um sol morto,
Como um anarquista de sensações,
Místico do prosseguimento,
Advogando a persistência, a engrenagem,
Continuá-las, ideia, sensibilidade, diferenças,
Porque não se pode parar,
Continuar com a paixão e sem ela,
Como um pugilista fatigado,
Com a disciplina da expedição guerreira,
A ferocidade histórica do saque,
Continuar, não desistir, não esmorecer,
Não refletir intensamente,
Acompanhando a órbita essencial da natureza,
Como os depósitos minerais,
A vida imperceptível do cristal,
A desagregação da vontade,
Como o crime caminhando, onde, quando,
O explorado por um sentimento,
Um camelo magro,
Continuar, ó máquina palpitante, ó vida,
A comiseração não refreie o nosso hálito,
Continuar como um jogador que perde
E se parar há de faltar-lhe alento e vida,
Continuar continuando,
Como um soldado em guerra,
Um mensageiro de tempo evangélico,
Um condenado à morte que-não-pode-morrer-antes-da morte,
Um navio a fazer água,
Um rato, um gigante,
Porque seria perigoso demorar,
Ceder à tentação de um voo incalculável,
Porque a ideia do não continuar existe em nós,
Símbolo fechado, êmbolo de resoluções imprevistas,
Continuar, reação em cadeia de minutos incoerentes,
Chama que se alastra de momentos opacos,
Como os antepassados continuaram,
As águas míticas, o espírito da treva,
Continuar,
A despeito de humilhações, do medo,
Dos vagares do amor,
Continuar com as unhas, os pulmões, o sexo,
Sem medir a iniciativa e o resultado,
Sem comparar nossos poderes e os alheios,
Continuar como alguém, construindo e desmanchando,
Continuar como todas as ações continuam,
E no tempo se prolongam estranhamente,
Continuar porque não se pode senão continuar,
Emparedado em dois tempos,
Toda a podridão do remorso,
Toda a vontade de não continuar,
E querer continuar,
Árido este mundo,
Porque a vida é sempre a vida, a mesma vida.
Porque não se pode,
Porque, se parássemos, ouviríamos um estrondo
E depois, perturbados, o silêncio do que somos.


Três Coisas (Paulo Mendes Campos)


Foto tirada na casa do cronista Rubem Braga - RJ - em 1966. Da esquerda para a direita: Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira, Mário Quintana e Paulo Mendes Campos.

Cronista por excelência, escritor, poeta e jornalista mineiro de expressão nacional, nasceu em Belo Horizonte em 1922 e faleceu no Rio de Janeiro em 1991. Possui uma obra lírica, moderna e inteligente. Dominava, como poucos, a arte literária da Intertextualidade, ou seja, Paulo Mendes Campos detinha o fenômeno de referenciar conteúdos e formas de textos para produzir um novo texto, contribuindo no sentido, para ampliá-lo ou modificá-lo.


Três Coisas (Paulo Mendes Campos)


Não consigo entender
O tempo
A morte
Teu olhar

O tempo é muito comprido
A morte não tem sentido
Teu olhar me põe perdido

Não consigo medir
O tempo
A morte
Teu olhar

O tempo, quando é que cessa?
A morte, quando começa?
Teu olhar, quando se expressa?

Muito medo tenho
Do tempo
Da morte
De teu olhar

O tempo levanta o muro.


A morte será o escuro?


Em teu olhar me procuro