domingo, 5 de janeiro de 2014

Apenas uma volta


Autor - Luiz Fernando Veríssimo

— Onde você vai?
— Vou sair um pouco. 
— Vai de carro?
— Sim. 
— Tem gasolina? 
— Sim. coloquei. 
— Vai demorar?
— Não. Coisa de uma hora.
— Vai a algum lugar específico? 
— Não. Só rodar por aí. 
— Não prefere ir a pé?
— Não. Vou de carro. 
— Traz um sorvete pra mim!
— Trago. Que sabor? 
— Manga.
— Ok. Na volta eu passo e compro.
— Na volta? — Sim. Senão derrete. 
— Passa lá, compra e deixa aqui... 
— Não. Melhor não! Na volta. É rápido! 
— Ahhhhh! 
— Quando eu voltar eu tomo com você! 
— Mas você não gosta de manga! 
— Eu compro outro. De outro sabor. 
— Aí fica caro. Traz de cupuaçu! 
— Eu não gosto também. 
— Traz de chocolate. Nós dois gostamos.
— Ok! Beijo. Volto logo... 
— Ei! 
— O quê? 
— Chocolate não. Flocos.
— Não gosto de flocos! 
— Então traz de manga prá mim e o que quiser prá você. 
— Foi o que sugeri desde o começo! 
— Você está sendo irônico?
— Não tô! Vou indo. 
— Vem aqui me dar um beijo de despedida! 
— Querida! Eu volto logo. depois. 
— Depois não. Quero agora! 
— Tá bom! (Beijo) 
— Vai com o seu ou com o meu carro? 
— Com o meu. 
— Vai com o meu. Tem cd player. O seu não! 
— Não vou ouvir música. Vou espairecer. 
— Tá precisando? 
— Não sei. Vou ver quando sair! 
— Demora não!
— É rápido. (Abre a porta de casa) 
— Ei! 
— Que foi agora? 
— Nossa! Que grosso! Vai embora! 
— Calma. estou tentando sair e não consigo! 
— Porque quer ir sozinho? Vai encontrar alguém? 
— O que quer dizer? 
— Nada. Nada não! 
— Vem cá. Acha que estou te traindo? 
— Não. Claro que não. Mas sabe como é? 
— Como é o quê? 
— Homens! 
— Generalizando ou falando de mim? 
— Generalizando. 
— Então não é meu caso. Sabe que eu não faria isso! 
— Tá bom. Então vai. 
— Vou. 
— Ei! 
— Que foi, cacete? 
— Leva o celular, estúpido! 
— Prá quê? Prá você ficar me ligando? 
— Não. Caso aconteça algo, estará com celular.
— Não. Pode deixar. 
— Olha. Desculpa pela desconfiança, estou com saudade, só isso! 
— Ok, meu amor. Desculpe-me se fui grosso. Tá... eu te amo! 
— Eu também! Posso futricar no seu celular? 
— Prá quê? 
— Sei lá! Joguinho! 
— Você quer meu celular prá jogar? 
— É.
— Tem certeza?
— Sim. 
— Liga o computador. Lá tem um monte de joguinhos! 
— Não sei mexer naquela lata velha! 
— Lata velha? Comprei pra a gente mês passado! 
— Tá... Ok. Então leva o celular senão eu vou futricar.
 — Pode mexer então. Não tem nada lá mesmo. 
— É? 
— É. 
— Então onde está? 
— O quê? 
— O que deveria estar no celular mas não está. 
— Como? 
— Nada! Esquece! 
— Tá nervosa? 
— Não. Tô não. 
— Então vou! 
— Ei! 
— O que ééééééé, caralho? 
— Não quero mais sorvete não!
— Ah é? 
— É! 
— Então eu também não vou sair mais não! 
— Ah é? 
— É. 
— Oba! Vai ficar comigo? 
— Não vou não. Cansei. Vou dormir! 
— Prefere dormir do que ficar comigo? 
— Não. Vou dormir, só isso! 
— Está nervoso? 
— Claro, porra! 
— Por que você não vai dar uma volta para espairecer? 

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