Autor - Luiz Fernando Veríssimo
— Onde você vai?
— Vou sair um pouco.
— Vai de carro?
— Sim.
— Tem gasolina?
— Sim.
coloquei.
— Vai demorar?
— Não. Coisa de uma hora.
— Vai a algum lugar específico?
— Vai a algum lugar específico?
— Não. Só rodar por aí.
— Não prefere ir a pé?
— Não. Vou de carro.
— Traz um sorvete pra mim!
— Trago. Que sabor?
— Manga.
— Ok. Na volta eu passo
e compro.
— Na volta? — Sim. Senão derrete.
— Passa lá, compra e deixa aqui...
— Não. Melhor não! Na volta. É rápido!
— Ahhhhh!
— Quando eu voltar eu tomo com
você!
— Mas você não gosta de manga!
— Eu compro outro. De outro sabor.
— Aí
fica caro. Traz de cupuaçu!
— Eu não gosto também.
— Traz de chocolate. Nós
dois gostamos.
— Ok! Beijo. Volto logo...
— Ei!
— O quê?
— Chocolate não.
Flocos.
— Não gosto de flocos!
— Então traz de manga prá mim e o que quiser prá
você.
— Foi o que sugeri desde o começo!
— Você está sendo irônico?
— Não tô!
Vou indo.
— Vem aqui me dar um beijo de despedida!
— Querida! Eu volto logo.
depois.
— Depois não. Quero agora!
— Tá bom! (Beijo)
— Vai com o seu ou com o
meu carro?
— Com o meu.
— Vai com o meu. Tem cd player. O seu não!
— Não vou
ouvir música. Vou espairecer.
— Tá precisando?
— Não sei. Vou ver quando sair!
— Demora não!
— É rápido. (Abre a porta de casa)
— Ei!
— Que foi agora?
—
Nossa! Que grosso! Vai embora!
— Calma. estou tentando sair e não consigo!
—
Porque quer ir sozinho? Vai encontrar alguém?
— O que quer dizer?
— Nada. Nada
não!
— Vem cá. Acha que estou te traindo?
— Não. Claro que não. Mas sabe como
é?
— Como é o quê?
— Homens!
— Generalizando ou falando de mim?
—
Generalizando.
— Então não é meu caso. Sabe que eu não faria isso!
— Tá bom.
Então vai.
— Vou.
— Ei!
— Que foi, cacete?
— Leva o celular, estúpido!
— Prá
quê? Prá você ficar me ligando?
— Não. Caso aconteça algo, estará com celular.
— Não. Pode deixar.
— Olha. Desculpa pela desconfiança, estou com saudade, só
isso!
— Ok, meu amor. Desculpe-me se fui grosso. Tá... eu te amo!
— Eu também!
Posso futricar no seu celular?
— Prá quê?
— Sei lá! Joguinho!
— Você quer meu
celular prá jogar?
— É.
— Tem certeza?
— Sim.
— Tem certeza?
— Sim.
— Liga o computador. Lá tem um
monte de joguinhos!
— Não sei mexer naquela lata velha!
— Lata velha? Comprei
pra a gente mês passado!
— Tá... Ok. Então leva o celular senão eu vou
futricar.
— Pode mexer então. Não tem nada lá mesmo.
— É?
— É.
— Então onde
está?
— O quê?
— O que deveria estar no celular mas não está.
— Como?
— Nada!
Esquece!
— Tá nervosa?
— Não. Tô não.
— Então vou!
— Ei!
— O que ééééééé,
caralho?
— Não quero mais sorvete não!
— Ah é?
— É!
— Então eu também não vou
sair mais não!
— Ah é?
— É.
— Oba! Vai ficar comigo?
— Não vou não. Cansei. Vou
dormir!
— Prefere dormir do que ficar comigo?
— Não. Vou dormir, só isso!
—
Está nervoso?
— Claro, porra!
— Por que você não vai dar uma volta para
espairecer?
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