quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A mulher dos meus sonhos


Meu nome é Carlos, sou economista, mas pode ser Carlinhos também. Tenho 43 anos e estou em uma capela que está com poucos convidados, basicamente apenas os amigos mais próximos e a família da Amelinha, minha noiva. Vista de fora, é pequena, mas quando se entra para casar, vira um tapete de uns três quilômetros.

Ficamos enamorados e noivos a apenas três semanas, apesar de sermos vizinhos de porta a mais de quinze anos. Amelinha é bonitinha, meio que gordinha, engraçadinha, um metro e meio mais alguma coisa, tem 38 anos, cabelos castanhos escuros e é analista de sistemas.

Sempre nos olhamos, às vezes uma troca rápida de assuntos aleatórios na viagem do elevador, durante os 27 andares até a garagem, mas nada além disto. Na realidade nem sequer sabia seu nome até três semanas atrás, quando até então era um solteiro convicto, determinado e seletivo no gosto com mulheres. Bem, vou tentar fazer um resumo de como tudo isto começou.

Três meses atrás, numa segunda-feira:

Tive uma noite estranha. Dormia sozinho em casa e, puxa vida, dormi assustadoramente demais. Não recordo de nada, mas tive um sonho que era tão real que mal conseguia distinguir entre realidade mundana e onírica. Deixa pensar... não bebi, isto não bebi nada ontem. Não estava tomando barbitúricos, nem aqueles legais, é verdade, tem uns que dão barato... mas não tomei nada.

Agora estava ali, de olhos fechados, pensando no que foi aquela noite. Será que morri? - pensei antes de abrir os olhos.  Minha analista - meu Deus, como ela é gostosa, certa feita confidenciou-me que o sonho é o resultado de uma conciliação. 

Segundo ela, dorme-se e, não obstante, vivencia-se a remoção de um desejo. Satisfaz-se um desejo, porém, ao mesmo tempo, continua-se a dormir. Ambas as realizações são em parte concretizadas e em parte abandonadas. 

Bem, vou abrir os olhos, e então saberei de algo. Caramba, estou moído, triturado. Mas, espere, o que é isto ao meu lado... aaaaiiiii, como você entrou aqui? Quem é você? Ei... acorda, moça... acorda... quem é você?

Hummm, bom dia amor... vem cá, me dá um beijinho de bom dia...

Quem é você? Espera... eu morri? É isto?

Bobinho, tem nada disto. Olha bem para mim, pensa bem - você sabe quem eu sou.

Sei apenas que não sei de nada, agora se explique - este é o meu quarto, esta é a minha cama e você...

Eu sou sua.

Minha? Que papo doido é este? Espere (pulei da cama, corri todo o apartamento, olhei as portas, conferi as janelas, liguei para a portaria para saber se alguém subiu nas últimas doze horas). Refleti - Moro no vigésimo sexto andar, como esta moça entrou aqui?  Voltei para o quarto, e não mais a vi. Desesperado, voltei à sala, abri a porta, olhei no corredor, voltei, olhei no banheiro, cozinha, nada da moça.

Voltei à analista, contei detalhes, dei informações que nem lembrava mais. Olhou-me com aquela expressão intelectual irritante, cruzou suas coxas delirantes, e professou a sentença - Carlinhos, você a conhece, mas não está ligando a pessoa ao fato. Veja com outros olhos.

Saí dali desesperado. Procurava ansioso nas ruas, nos rostos anônimos das calçadas, vitrines, restaurantes e no escritório. Nada, ela entrou e saiu da minha vida de uma forma tão surpreendente que fiquei atordoado.

Três semanas atrás, num domingo às seis horas da manhã:

Creditei aos problemas do trabalho e ao cansaço, o sono pesado daquela experiência. Mas aí acordei num domingo com ela ao meu lado, ainda dormindo. Linda, angelical. Desta vez não assustei tanto. É um sonho, pensei. Afaguei-lhe o rosto, desfilei os dedos entre seus cabelos, apertei-lhe brandamente as bochechas. Descobri-a e admirei seu corpo formoso e encantadoramente sensual sob um pijama de seda. Tirei meu pijama, ajoelhei-me no chão ao seu lado e...

Olá... disse sussurrando e acariciando sua face. Ela espreguiçou lentamente, abriu os olhos, sorriu de forma angelical, levou a mão ao meu encontro, em movimentos delicados, e com uma voz deliciosa, retribui-me a saudação. Senti sua falta, disse-lhe trêmulo e emocionado. Não sei quem é você, mas você não saiu do meu pensamento, eu a busquei loucamente nestas semanas.

Eu sou a mulher dos seus sonhos... 

Dos meus sonhos? Como assim? 

Sou seus desejos, suas vontades, seu prazer. Sou sua, toda sua.

Como é isto? Eu só gosto de loiras, sempre tive só namoradas loiras, eu gosto de mulheres altas, seios grandes, e você, desculpe, mas você não está enquadrada nestes parâmetros. Não sei como entrou aqui, nem sei como saiu da outra vez, mas como assim - mulher dos meus sonhos? E você disse que eu sabia quem era, e eu não tenho a menor ideia disto.

Olhe bem para mim, Carlinhos, nos meus olhos...

Aí fui olhando, olhando, olhando e de repente, em um estalo, gritei em pleno desespero - Mamãe!!!! É você, mamãe?!?!?!? Mas o que é isto???? O que está acontecendo comigo?!?!?!? AAAAAAAAAAAhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!

De salto, pulei para fora do quarto aos gritos, ainda nu, abri abruptamente a porta da sala e deparei com Amelinha de porta aberta, frente à minha, de camisolinha transparente, curta. Olhamos nos olhos, cruzamos a extensão do corpo de um no cobiçado olhar do outro corpo, olhamos para os lados, dei três passos em sua direção, ajoelhei-me, peguei a sua mão e a pedi em casamento. Ajoelhou, abraçou-me, beijamos e agora estou aqui, nesta Capela...

É isto aí!

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