Nunca mais, disse ao vê-la sair pela porta e desaparecer por vinte e dois anos da sua vida. Vinte e dois anos passam, mas o amor, ah! o amor! Na parede permaneceram pregados pelas duas décadas a passagem bíblica bordada por ela em num quadro de bambu, numa tela creme, em linha azul com dois corações vermelhos entrelaçados -
"O amor é sofredor, é benigno;
o amor não é invejoso;
o amor não trata com leviandade,
não se ensoberbece.
Não se porta com indecência,
não busca os seus interesses,
não se irrita,
não suspeita mal;
Não folga com a injustiça,
mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta."
1 Coríntios 13:4-7
Um dia a encontrou numa rede social. Ficaram semi-amigos, coisa mais esquisita do mundo. No segundo diálogo ela lançou um petardo atômico e ele se protegeu num bunker quântico. Meses depois tiveram um diálogo virtual de pessoas anormais fingindo serem normais.
Ela retornara ao seu imaginário, aos seus suspiros, aos seus sonhos. Voltou a beber, voltou a ficar só, voltou a se lamentar, até que um dia, num fim do Whisky escocês, olhou para a foto dela dela na rede, olhou para o quadro de bambu ... olhou para ela, olhou para o quadro ... olhou para ela ...
Aí - fiat lux - Já sei, este quadro tem macumba, esta bruxa fez encantamento. Pegou o quadro, levou à área de serviço, abriu e quando ia colocar dentro de uma bacia com álcool, viu no verso, um poema do Vinícius de Moraes que dedicou a ela e um beijo dela, de batom carmim, sobre o papel amarelo retirado de um caderno espiral.
Guardou o poema no bolso, acendeu o fogo e desabou em lágrimas. Levantou convicto, ligou o computador, acessou a rede e excluiu a moça. Pronto - macumba desfeita.
Não demorou duas semanas para bater a dor da ausência, a angústia do abandono. Fez novo convite a ela e foi solenemente ignorado e bloqueado. Eu sabia - filosofou - a bandida me ama!
É isto aí!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Gratidão!