quinta-feira, 4 de julho de 2019

Eclipses de amor


Nunca mais, disse ao vê-la sair pela porta e desaparecer por vinte e dois anos da sua vida. Vinte e dois anos passam, mas o amor, ah! o amor! Na parede permaneceram pregados pelas duas décadas a passagem bíblica bordada por ela em num quadro de bambu, numa tela creme, em linha azul com dois corações vermelhos entrelaçados - 
"O amor é sofredor, é benigno; 
o amor não é invejoso; 
o amor não trata com leviandade, 
não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, 
não busca os seus interesses, 
não se irrita, 
não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, 
mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, 
tudo espera, tudo suporta."

1 Coríntios 13:4-7

Um dia a encontrou numa rede social. Ficaram semi-amigos, coisa mais esquisita do mundo. No segundo diálogo ela lançou um petardo atômico e ele se protegeu num bunker quântico. Meses depois tiveram um diálogo virtual de pessoas anormais fingindo serem normais.

Ela retornara ao seu imaginário, aos seus suspiros, aos seus sonhos. Voltou a beber, voltou a ficar só, voltou a se lamentar, até que um dia, num fim do Whisky escocês, olhou para a foto dela dela na rede, olhou para o quadro de bambu ... olhou para ela, olhou para o quadro ... olhou para ela ...

Aí - fiat lux - Já sei, este quadro tem macumba, esta bruxa fez encantamento. Pegou o quadro, levou à área de serviço, abriu e quando ia colocar dentro de uma bacia com álcool, viu no verso, um poema do Vinícius de Moraes que dedicou a ela e um beijo dela, de batom carmim, sobre o papel amarelo retirado de um caderno espiral.

Guardou o poema no bolso, acendeu o fogo e desabou em lágrimas. Levantou convicto, ligou o computador, acessou a rede e excluiu a moça. Pronto - macumba desfeita.

Não demorou duas semanas para bater a dor da ausência, a angústia do abandono. Fez novo convite a ela  e foi solenemente ignorado e bloqueado. Eu sabia - filosofou - a bandida me ama!

É isto aí!


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