segunda-feira, 21 de setembro de 2020

O reencontro


Começou  a rezar do nada. Nunca ocorreu que aquilo era possível, falar com uma pessoa invisível e real. Mas do nada veio o sentimento. Ficou ali por tempo indeterminado, não se assustou ao perceber que anoitecera, então certificou-se que as horas passaram num tempo desconhecido. Levantou-se leve, sem fome, sem náuseas, sem a dor no peito, sem as pernas cansadas, sem o zumbido irritante nos ouvidos, sem o pigarro, sem dor alguma. 

Saiu com o corpo leve, mas onde era este ali? Não sabia. Achou engraçado, pois não reconhecera nada. Chegou à janela e percebeu que estava num edifício bem alto. Saiu daquele ambiente e entrou num extenso corredor, com muitas portas, mas sem número de identificação. Não encontrou nenhuma escada ou elevador. Resolveu abrir uma porta qualquer, e entrou num ambiente amplo, como um imenso salão. A porta silenciosamente fechou às suas costas, e à sua frente estava Lindinha, o grande amor de sua vida. Ela fez sinal com a mão, pedindo para segui-la e caminharam pela praia deserta, em silêncio, em paz, num sentimento único de amor- Lindinha estava ao seu lado. 

Pararam em frente à uma cabana tosca, Lindinha abriu a porta e entrou. Seguiu-a mas ao abrir a porta, estava num quarto simples, espartano, na cama uma mulher em doloroso trabalho de parto, e ao seu lado uma outra mulher mais velha. Olhou as duas, assustou-se pela primeira vez. Aquilo era real e surreal, tangível e indescritível.

Na cama, em agonia, estava sua mãe, e a parteira era a sua avó. A avó o puxou-o bruscamente e disse - ainda bem que você está aqui. Voltou-se para a filha, acabou de retirar a criança, entregou nos seus braços, e voltou os olhos aterrorizados para a parturiente em agonia, que faleceu logo após conceber o bebê..

Com sua criança no colo, aos prantos, abraçou-a fortemente, abençoou-a e disse - não tenha medo, eu estou aqui para dizer que nós vencemos. Fechou os alhos, e ao abrir estava novamente rezando da mesma forma que iniciara o tempo daqueles tempos. Abriu lentamente os braços aos céus, por que acreditava que eram muitos, e chorou de alívio, experimentando pela primeira vez uma paz que nunca conhecera.

É isto aí!

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