Toda semana um beato alardeia que o mundo vai acabar. Seus alardes são sempre em tom de ameaça e de pecado. Uns falaram do Sol, que está a cumprir profecias, apagando e depois acendendo de novo. Outros falam de atentados mortais contra os paladinos da justiça apache&sioux, e outros falam que já estamos na prorrogação do segundo tempo DC. O primeiro tempo, AC, acabou no ano Zero de Cristo, que nunca falou em fim do mundo, mas em fim dos tempos.
Mas é charmoso falar que o mundo vai acabar. Deliro também com a qualidade das manifestações por escrito em sites famosos da língua pátria. As grandes e poderosas mídias controlam estes espaços e publicam apenas os comentários contra a Cacica, como um simpático e democrático partisan italiano.
Mudando de assunto, mas não fugindo do tema de que alguém quer acabar com tudo que é meu, nos três principais sites deste final de semana, os comentários são sempre escatológicos. É sempre a mesma ladainha:
- Juri condena militares do Carandiru (Uol)
Comentários iniciais - Isto é coisa do PT e dos Petralhas.
- Quadrilha é presa em BH por fraudar o INSS (Uai)
Comentários iniciais - isto é coisa do PT e dos Petralhas
- Cartel de trens superfaturou R$ 577 milhões em SP e no DF, diz jornal (G1)
Comentários iniciais - isto é coisa do PT e dos Petralhas.
Aprendi por aí, nas esquinas da vida, pouco mas valioso pensamento de Sartre, ao salientar que quando nos abstemos da responsabilidade
por nossas escolhas, estamos agindo segundo aquilo que denominou “má fé” da
consciência, ou seja, estamos nos isentando de atentar para a liberdade que
temos à nossa inteira disposição, de graça. A má fé consiste em fingirmos não
ser livres e podermos então, debitar nossa infelicidade ou fracasso à causas
externas a nós (os pais, o “inconsciente freudiano”, o ambiente, a
personalidade indômita etc). Sartre chama isso de covardia. Não sendo livres
para deixar de ser livres, estamos pois “condenados à liberdade”.
Existencialista fosse, com carteirinha de identificação e título na parede, diria que sem que possam sequer expiar suas faltas, descobrem o horror da nudez psíquica que os outros lhes evidenciam. Está revelado o verdadeiro inferno: a consciência não pode furtar-se a enfrentar outra consciência que a denuncia, por isso: “o inferno são os outros”.
“Os Outros” são todos aqueles que, voluntária ou
involuntariamente, revelam de nós a nós mesmos. Algumas vezes, mesmo sufocados
pela indesejada presença do outro, tememos magoar, romper, ferir e, a
contra-gosto, os suportamos. Uma vez que a incapacidade de compreender e aceitar
as fraquezas humanas torna a convivência realmente um inferno, o angustiante
existencialismo ateu sartriano não nos deixa saída. Sem o mínimo de
boa-vontade, não há paraíso possível.
É isto aí!
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