sábado, 3 de agosto de 2013

O inferno somos nós outros



Toda semana um beato alardeia que o mundo vai acabar. Seus alardes são sempre em tom de ameaça e de pecado. Uns falaram do Sol, que está a cumprir profecias, apagando e depois acendendo de novo. Outros falam de atentados mortais contra os paladinos da justiça apache&sioux, e outros falam que já estamos na prorrogação do segundo tempo DC. O primeiro tempo, AC, acabou no ano Zero de Cristo, que nunca falou em fim do mundo, mas em fim dos tempos.

Mas é charmoso falar que o mundo vai acabar. Deliro também com a qualidade das manifestações por escrito em sites famosos da língua pátria. As grandes e poderosas mídias controlam estes espaços e publicam apenas os comentários contra a Cacica, como um simpático e democrático partisan italiano.

Mudando de assunto, mas não fugindo do tema de que alguém quer acabar com tudo que é meu, nos três principais sites deste final de semana, os comentários são sempre escatológicos. É sempre a mesma ladainha:

- Juri condena militares do Carandiru (Uol)
Comentários iniciais - Isto é coisa do PT e dos Petralhas.

- Quadrilha é presa em BH por fraudar o INSS (Uai)
Comentários iniciais - isto é coisa do PT e dos Petralhas

- Cartel de trens superfaturou R$ 577 milhões em SP e no DF, diz jornal (G1)
Comentários iniciais - isto é coisa do PT e dos Petralhas.

Aprendi por aí, nas esquinas da vida, pouco mas valioso pensamento de Sartre, ao salientar que quando nos abstemos da responsabilidade por nossas escolhas, estamos agindo segundo aquilo que denominou “má fé” da consciência, ou seja, estamos nos isentando de atentar para a liberdade que temos à nossa inteira disposição, de graça. A má fé consiste em fingirmos não ser livres e podermos então, debitar nossa infelicidade ou fracasso à causas externas a nós (os pais, o “inconsciente freudiano”, o ambiente, a personalidade indômita etc). Sartre chama isso de covardia. Não sendo livres para deixar de ser livres, estamos pois “condenados à liberdade”.

Existencialista fosse, com carteirinha de identificação e título na parede, diria que sem que possam sequer expiar suas faltas, descobrem o horror da nudez psíquica que os outros lhes evidenciam. Está revelado o verdadeiro inferno: a consciência não pode furtar-se a enfrentar outra consciência que a denuncia, por isso: “o inferno são os outros”.

“Os Outros” são todos aqueles que, voluntária ou involuntariamente, revelam de nós a nós mesmos. Algumas vezes, mesmo sufocados pela indesejada presença do outro, tememos magoar, romper, ferir e, a contra-gosto, os suportamos. Uma vez que a incapacidade de compreender e aceitar as fraquezas humanas torna a convivência realmente um inferno, o angustiante existencialismo ateu sartriano não nos deixa saída. Sem o mínimo de boa-vontade, não há paraíso possível.

É isto aí!





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