quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

O Beco (Dante Milano)

O Beco (Dante Milano)

No beco escuro e noturno
Vem um gato rente ao muro.
Os passos são de gatuno.
Os olhos são de assassino.

Esgueirando-se, soturno,
Ele me fita no escuro.
Seus passos são de gatuno.
Seus olhos são de assassino.

Afasta-se, taciturno.
Espanta-o meu vulto obscuro.
Meus passos são de gatuno.
Meus olhos são de assassino.


Considerado por Drummond "um poeta de extraordinária qualidade", Dante Milano (1899-1991) é quase clandestino na literatura brasileira. Poucos o conhecem, pouco se escreve sobre ele. Mas, de certo modo, ele quis assim. Avesso ao "rumor de falsa glória", ele afirma que "só o silêncio é musical". 

Embora freqüentasse as rodas literárias do Rio de Janeiro, onde nasceu e viveu, Dante Milano era completamente arredio à fama. Publicou seu primeiro e único livro, Poesias, aos 49 anos e, mesmo com a acolhida entusiástica da crítica, manteve-se distante. Convidado a candidatar-se à Academia Brasileira de Letras, jamais aceitou. 

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