Nesta manhã organizei minha bagunçada caixa de e-mail. Acordei bem cedo, ainda era cinco horas, fiz o café como gosto de tomar, sentei à frente do computador e resolvi encarar a realidade - 2017 passou. Fui arquivando e-mails que deveriam ser arquivados, deletando os que deveriam ser deletados e lendo os que deveriam nunca terem sido esquecidos.
Fiquei ali, parado, pensando naquilo tudo - lembrando das cartas que ficavam nas gavetas, as pequenas peças de alguma coisa que se alojavam em caixas e vez ou outra sofriam o processo de expurgo. Mas eram coisas materiais, tridimensionais, tangíveis tanto quanto o perfume que ela usou naquela tarde quando a vi passar e a achei linda, desfilando pela Rua São Matheus, até então uma rua normal, de casas e sobrados.
Agora, aqui, separando processos virtuais de coisas reais. É um cenário estranho, estranhíssimo para quem viveu estas duas épocas, quatro, aliás - vi acontecer dentro da minha casa o rádio passar para a televisão preto e branco, esta se transformar numa colorida em caixa de significativo volume, até chegar aqui, num teclado que apenas lembra minha Remington.
Quanta saudade agora presa num ambiente virtual, derivando processos binários que desconheço, numa linguagem cibernética que ultrapassa minha capacidade de perceber a transformação da mente humana em algo interativo com a máquina.
Enquanto isto, o mundo anda, os golpes e os golpistas se valem do retardamento generalizado e os espertos, ah! - os espertos, sempre acabam caindo no abismo dos próximos espertos. Não tem lugar para bonzinhos, mocinhos e heróis nesta humanidade que está recomeçando a crer que a Terra é plana - mais idiota, impossível, ou não, nunca se sabe.
Falando nos terraplanários, há também esta caça aos assediadores de mulheres. Tem algo aí, por mais heterodoxo que pareça, tem algo aí, tal qual a terra plana. Dias piores virão! É provável que você nunca tenha ouvido falar na expressão PSYOP - mas cuide-se, ela está em todos os lugares ao mesmo tempo, de várias formas, de várias cores, de várias maneiras diferentes.
Enquanto isto, na pátria amada idolatrada salve salve, a hipocrisia da vênus platinada propõe trocar o comando da trupe do picadeiro - quer retirar um fenício velhaco e colocar um hebreu hummm, digamos assim ... hummmmm, uma loooooooouuuucura de pau de dar em doido, como diria minha avó, pois por este caminho, quanto pior, pior!
É isto aí!
Minas Gerais, 12 de janeiro de 2018
ResponderExcluirQuerido Paulo,
que coisa é esta das revoluções tecnológicas afetarem tanto as nossas sociabilidades,afetos e, especialmente, a nossa relação com as memórias! Sabe que aquela sequência de artigos que me recomendou, sobre inteligência artificial, ainda gira sobre a minha cabeça, desconcerta e me angustia, às vezes? Enfim, tenho pensado demasiado sobre a minha relação com essas redes todas... não sei se passamos por elas impunemente, mas ainda não sei ao certo a profundidade do preço que pagaremos pela nossa permissão, meio sujeitada (ou completa), a todo este aparato virtual.
PS: Penso se a Rua São Matheus da sua memória guarda alguma semelhança com a São Mateus atual...será?
Abraços, ótimo final de semana.
Amanda Machado
Minas Gerais, 13 de Janeiro de 2018
ExcluirQuerida Amanda,
Sim, é verdade que toda esta tecnologia me assusta. Minha filha caçula, no caminho para ser arquiteta, me condena por ter limitado e recusado avançar neste processo, mas curiosamente ela também tem percepções humm, dicotômicas. Por exemplo, tal qual você, ela é cinéfila, assite, lê, pesquisa, baixa filmes por um sistema que não entendo, e por aí vai, afinal cinema é a praia dela dentro a arquitetura, desde que assistiu "A Origem". Interessante, não é?
Pois bem, o filme Ela do Spike Jonze não a agradou, e sobre isto discutimos nesta semana, por que mesmo com toda a abertura que tem para a arte, aquela arte especificamente a incomodou (que ela não leia isto). Então há algo ali.
E o PS é o sentido da história a qual todos nós estamos fadados.
Um abraço, muito obrigado pelo carinho de sempre,
Paulo Abreu
Olá, Paulo! Estava procurando imagem de uma Remington tal qual tinha na minha casa há 30 anos atrás (se não mais). Acabei encontrando-a precisamente aqui no seu blog. Adorei seu texto e também me pego pensando nessa transformação assustadora do mundo ao nosso redor nas últimas duas décadas. Mesmo as memórias mudaram de formato, né?
ResponderExcluirUsei sua imagem numa resposta a um comentário lá no meu blog (embora pianista, gosto de escrever - será o amor pelas teclas?). Seja bem-vindo para vir conhecer o post#1 do blog e conferir a presença da sua Remington por lá. Aliás, essa foto é da sua máquina de escrever de fato?
Obrigado e parabéns pelo blog!
www.luizdesimone.com.br/o-primeiro-extase
Prezado mestre das arte da música Luiz de Simone,
ExcluirFiquei feliz com as suas palavras. Visitei seu blog, achei sensacional e passarei a seguir. esteja à vontade, o reino da Pitangueira é uma Democracia Monocrática que busca sobreviver nesta catarse da pátria pindorama.
Um abraço