domingo, 29 de março de 2020

Nada de novo no front da pandemia

O Grito Edvard Munch

Tudo agora é a pandemia. As questões sociais, espirituais e econômicas passam pelo vírus, como um deus invisível a colocar todos  sob seus pés, como se deuses os tivessem. Nós e esta mania estúpida de achar que tudo se assemelha ao que já conhecemos.

Mas não era sobre isto que ia falar. Eu queria falar sobre  "Nada de novo no front" - no final o protagonista morre - pronto, já contei o fim. Agora siga o roteiro e faça você também a sua analogia.Tire a palavra Guerra e coloque Epidemia.

Abaixo o texto que copiei e colei:
Copiei deste site: obviousmag.org 
Nesta página: Nada de novo no front

A obra cinematográfica Nada de novo no front, do diretor Lewis Milestone filmado na década de 1930 é uma adaptação do romance de cunho crítico e pacifista do escritor alemão Erich Maria Remark que havia servido nas trincheiras da primeira guerra em 1914 aos dezoito anos de idade. O autor do livro também sofreu com as atrocidades da primeira grande guerra deferida em capo de batalha. Experiência suficiente que lhe forneceu arcabouço para desenvolver o livro “Im Westen nichts Neues”.

“A oeste nada de novo”, no Brasil – Nada de novo no front - cujo filme abarca as experiências do jovem germânico Paul Baümer e seus companheiros que durante a guerra vão se conhecendo e vivendo experiências terríveis à medida que os desdobramentos dos fatos mostram a dura realidade do campo de batalha, onde cada um dos amigos morre, e apenas Paul (o personagem narrador) toma conta do desfecho central do filme onde, na medida em que narra às experiências, também desperta sobre seu papel e questiona tudo que vive. Paul acaba morto, mas a reflexão deixada oferece um roteiro bem adaptado e um filme que reserva várias reflexões acerca das consequências da primeira guerra mundial e seu impacto no mundo.

Até o final do século XIX as grandes potências já haviam se envolvido em guerras nos anos anteriores, contudo um conflito mundial da proporção que se desdobrou nunca havia sido experimentado pela humanidade. As sociedades ainda não haviam se estruturado de maneira mais heterogênea e seus grupos sociais, mesmo que distintos ainda não haviam percebido o quanto as novas tecnologias e consequências da revolução industrial poderia fornecer ou transformar o mundo que viviam as consequências econômicas, sociais, culturais e políticas estavam acendendo um barril de pólvora de hostilidades.

As grande potencias continentais como o Império Germânico, o Russo, o Império Austro-húngaro, França, investiam no neo colonialismo em terras Africanas que no estágio que se seguia a partilha da África aprofundava ainda mais as tensões que eram localizadas fora da Europa.

“Até o fim do século XVIII, essas potências tinham sido socialmente homogêneas, todas eram ainda sociedades primariamente agrárias, dominadas por uma aristocracia fundiária e governadas por dinastias históricas legitimadas por uma igreja estabelecida. Cem anos mais tarde, tudo isso fora completamente transformado ou estava sofrendo uma transformação rápida e desestabilizadora; mas o ritmo da mudança fora muito desigual. ”(HOWARD,2011,p.22)

Até o estopim de acontecimentos que são resultados de diversos fatores o historiador Eric Hobsbawm explica que desde a primeira grande guerra até a segunda seriam trinta e um anos de conflitos, neste sentido ambas as grandes guerras teriam seu estopim desde a declaração de guerra da Áustria contra à Sérvia em 1914, até a rendição do Japão 1945 depois de Hiroshima e Nagasaki. Para Hobsbawm, de 1815 até 1914 não havia existido nenhuma grande guerra entre potências, apenas os conflitos localizados em partes isoladas é que teriam sido travados por interesses diversos e não se coadunando por um objetivo mais significativo de expansão mundial. Conflitos entre Japão e Rússia, a Guerra da Criméia (1854-6), entre a Rússia e Grã-Bretanha e França.

“Paz significava antes de 1914: depois disso veio algo que não mais merecia esse nome. Era compreensível. Em 1914 não havia grande guerra fazia um século, quer dizer , uma guerra que envolvesse todas as grandes potencias, ou mesmo a maioria delas, sendo que os grandes participantes do jogo internacional da época eram seis grandes potencias europeias (Grã-bretanha, França, Russia, Áutria-Húngria, Prússia – após 1871 ampliada para a Alemanha – e, depois de unificada, a Itália), os EUA e o Japão .”(HOBSBAWM,1995,p.30)

Este conflito resultou justamente, na progressão de acontecimentos, que é quase consenso entre os historiadores contemporâneos do qual tudo realmente se passou como uma grande guerra de 1914 a 1945. Seria neste sentido que ao pós guerra estimulou o grande turbilhão de ideologias e novas estruturas no mundo, desde a economia com o comunismo e o grande embate durante os anos de 1950 com entre os EUA e a Rússia. No filme nada de novo no front centralizado na primeira guerra, nada do pós guerra é mostrado, contudo as perdas na Europa foram imensas desde humanas a econômicas.

“Locais, regionais ou globais, as guerras do século XX iriam dar-se numa escala muito mais vasta do que qualquer coisa experimentada antes. Das 74 guerras internacionais travadas entre 1816 e 1965 que especialistas americanos, amantes desse tipo de coisa, classificaram pelo número de vitimas, as quatro primeiras ocorreram no século XX: as duas mundiais, a guerra do Japão contra a China em 1937-39 e a guerra da Coréia. A maior guerra internacional documentada do século XX pós napoleônico, entre Rússia-Alemanha e França, em 1871, matou talvez 150 mil pessoas, uma ordem de magnitude mais ou menos comparável às mortes da Guerra do Chaco, de 1932-35, entre Bolívia e Paraguai. Em suma, 1914 inaugura a era do massacre. ” (HOBSBAWM,1995,p.32)

Além de todos este panorama vale salientar os atenuantes que aconteceram após a primeira guerra, quando a Alemanha foi rechaçada e humilhada com grandes penas durante o tratado de Versalhes, onde as medidas de contenção expansionista do império alemão deveriam ser controladas e a perda de territórios com graves consequências para sua geografia, e uma verdadeira reordenação dos diversos estados nação que surgiriam pós primeira guerra. Mesmo as grandes potencias vencedoras como Grã-Bretanha e França Jamais, ou pelo menos até o final da segunda guerra voltaram a se recuperar das grandes perdas econômicas e humanas, pois toda uma geração de homens novos (jovens) haviam sido mutilados ou mortos famigeradamente durante a guerra de trincheiras, se não morriam ficavam doentes e não rendiam nos campos de batalhas. A guerra que antes era algo romântico parecia depois disso um terreno tenebroso para aqueles que se desencantavam com a dura realidade das trincheiras.

 A obra de Hobsbawm mostra as conjunturas políticas e econômicas a respeito do conflito, no filme estes aspectos não são levados em consideração pois a perspectiva é centrada nos acontecimentos sucessivos que envolve tanto o principal personagem o soldado Paul Baumer, quanto seu amigos de regimento. No livro, em consonância com o filme a celebre frase destaca como já de início a guerra é algo aterrorizante. “A morte não é uma aventura para aqueles que se deparam face a face com ela” o livro em si é muito mais duro que o filme, diga-se de passagem, mas a atmosfera de uma adaptação cinematográfica nem sempre leva em consideração pontos tão específicos. Mesmo em momentos trágicos há sempre meios mais leves de deixar a película menos conflitante.

O cunho pacifista da obra, choca-se em determinados momentos com o filme, muito mais um triler psicológico do que centrado nas imagens que o livro denota como os massacres que vez por outra embrulham o estômago do leitor, contudo com dose certa de humor o filme em alguns momentos deixa a atmosfera mais leve. Mesmo no contexto social e romântico da belle époque a primeira guerra deixou marcas quase que intransponíveis nos jovens que lutaram a seu tempo, em 1940 o mundo havia mudado e as lutas nacionalistas ditavam, a belle époque tinha sido deixada para trás e um novo mundo, como consequência da primeira grande guerra havia sido deixado para trás.

“A primeira guerra mundial pôs fim a Belle époque, nome dado aos primeiros anos do século XX, que teriam sido felizes e despreocupados. Quando se fala em Belle époque tem-se em vista os privilegiados da fortuna, a gozar as custosas amenidades das grandes cidades, particularmente Paris. O fato é que também o europeu comum já desfrutava de melhores condições de vida e tinha esperanças de dias melhores, trazidos pela revolução industrial e pelas transformações sociais. Mas havia acontecimentos a apontar em sentido contrário e que deram lugar ao atentado de Sarajevo, o estopim da guerra. ” (MAGNOLI, 2009,p. 319)

O filme com seus tons Noir, reservado aos grandes filmes de romances da época de grande depressão, mostra justamente este final de época, cujo desvelo se mostra através de toda a frustração do soldado Paul Baumer. A história de Paul revela toda uma consequência muito maior de uma romance que entre o período de entre guerras teve como consequência uma película competente em revelar nuances importantes do livro de Eric Maria Remark. Com isso o filme traça todo um panorama e drama psicológico que centra seus acontecimentos nas reflexões e situação do soldado Paul.

Neste sentido, torna-se mais palpável como o filme revela toda a frustração de uma geração durante o pós-guerra sobre as atrocidades, como informa o historiador Eric Hobsbawm, ou Michael Eliot Howard, dois grandes analistas da história contemporânea, que descrevem os cenários e através de análises apuradas revelam o contexto que cerca o filme, a luz de suas colocações pode-se traçar um breve panorama do que representou a guerra e como o filme, como importante romance busca conscientizar sobre um dos primeiros grandes conflitos do séc. XX.



© obvious: http://lounge.obviousmag.org/publicando/2013/12/nada-de-novo-no-front-o-desencanto-de-uma-geracao-desgracada-pela-primeira-guerra-mundial.html#ixzz6I86hsN53
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