sexta-feira, 13 de março de 2020

Nunca se sabe

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Chovia torrencialmente quando resolveu sair para espairecer. Não sabia mais como lidar com a dor do abandono. Não notou a chuva, não percebeu as ruas, não deu conta do quanto caminhou. Chegou a lugar nenhum e ali encostou num canto e tal qual a chuva, desabou-se.

Não viu aproximar-se a madrugada sem nuvens, sem luar e sem ela. Voltou a perambular, quando escutou alguém chamando pelo nome. Uma voz macia, suave e rouca o fez olhar para o lado direito. Desejou que fosse a mulher dos seus sonhos. Mas era uma moça de aparência tão dolorida quanto a sua. Está com medo? - perguntou-lhe a garota. Está com medo de mim?

Estou. Estou com medo de você, estou com medo de mim, estou com medo de algo maior, algo menor, estou com medo de perder o medo e não ter mais o que ter ou ser para dar ou receber. Estou com medo de viver, medo de morrer, medo de amar, medo de me entregar, medo de ser abandonado. Tudo que eu tenho é o medo, por favor, não leve ele de mim.

Ela abriu os braços, deu um sorriso - venha aqui. Foi sem perceber como, fechou os olhos e abraçou-a. Não soube dizer quanto tempo ficaram ali, por que o tempo deixou de existir. Quando abriu os olhos, ganhou a rua e partiu no mundo, ou não, nada estava no lugar. Nunca se sabe quando se abraça a morte, refletiu. Mas era seu dia de sorte, aquele anjo, conhecida por Tanatos  não o queria para si, desejava apenas confortá-lo.

Alvorecia quando chegou em casa. Abriu a porta, era a a sua casa, mas tudo que estava ali não lhe pertencia. Olhou espantado para a mudança que experimentava. Não sabia como denominar o que para uns seria loucura, para outros demência, resolveu então chamar o fenômeno de um nome que veio à mente - galenskap. Assim que nomeou a loucura, a nova vida e novo sentido que experimentava, permitiram ser adsorvido pela sua existência renascida. Ainda se sentia abandonado, pois amor é para sempre, mas agora sabia que poderia contar com sua galenskap até que a morte os separe.

É isto aí!

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