(Brigitte Bardot e Alain Delon 1961)
Toco a sua boca com um dedo,
toco o contorno da sua boca,
vou desenhando essa boca
como se estivesse saindo da minha mão,
como se, pela primeira vez,
a sua boca entreabrisse,
e basta-me fechar os olhos
para desfazer tudo e recomeçar.
Faço nascer, de cada vez,
a boca que desejo,
a boca que minha mão escolheu
e desenha no seu rosto,
uma boca eleita entre todas,
com soberana liberdade,
eleita por mim para desenhá-la
com minha mão
em seu rosto, e que, por um acaso,
que não procuro compreender,
coincide exatamente com a sua boca,
que sorri debaixo daquela que minha mão desenha em você.
Você me olha, de perto me olha,
cada vez mais de perto,
e então brincamos de ciclope,
olhamo-nos cada vez mais de perto
e nossos olhos se tornam maiores,
se aproximam uns dos outros,
sobrepõe-se, e os ciclopes se olham,
respirando confundidos,
as bocas encontram-se e lutam debilmente,
mordendo-se com os lábios,
apoiando ligeiramente a língua nos dentes,
brincando nas suas cavernas,
onde um ar pesado vai e vem,
com um perfume antigo e um grande silêncio.
Então as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo,
acariciar lentamente a profundidade
do seu cabelo,
enquanto nos beijamos
como se estivéssemos com a boca cheia
de flores ou de peixes,
de movimentos vivos, de fragrância obscura.
E se nos mordemos,
a dor é doce;
e se nos afogamos num breve
e terrível absorver simultâneo de fôlego,
essa instantânea morte é bela.
E já existe uma só saliva
e um só sabor de fruta madura,
e eu sinto você tremular contra mim,
como uma lua na água.
O jogo da Amarelimha é um dos clássicos da Literatura Mundial, leitura imperdível e atemporal.
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