segunda-feira, 20 de julho de 2020

Cruzando a linha amarela


Jurou nunca mais ultrapassar a linha amarela do bom senso e das palavras, sobretudo, mas aquilo era um destes  juramentos mais sofridos que alguém faz a outrem que ama. A moça impôs que a partir de então deveriam conversar como membros da realeza britânica, com muita pompa e palavras polidas. Como em pleno século XXI uma pessoa pede uma coisa destas? - pensava em tempo integral.

Teve que se reinventar, falar de coisas da natureza, do universo e das lembranças que os uniam. Aquilo deveria ser um abatimento para galgar pontos no céu, só podia ser isto, refletia sempre nas suas orações - olha aqui Jesus, ajuda aí, fala com ela que ser polido em tempo integral, não falar palavras que referem à intimidade do casal, nem palavras de duplo sentido, está difícil,  muito difícil.

Imaginou-se num ambiente de serviço público qualquer, retido por uma faixa amarela no chão, com uma placa em letras imensas - não ultrapasse a faixa amarela para a sua segurança. Inibido e para não provocar constrangimento, não ultrapassava mas também não falava tudo que queria. Daí a ideia de fazer um código secreto, mas faltou avisar, foi quando ela achou aquilo tudo muito estranho, e a ideia naufragou na origem.

Então refletiu bastante e procurou utilizar de ferramentas simples, nada de códigos secretos. Intuiu que o melhor era pensar em outra coisa, num código morse, talvez. 
Assim ao dizer "Você é uma delícia", bateria sobre a mesa:

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ou então a descrição preferida dele para enaltecer aquele corpo maravilhoso:: 

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Viu que não dava certo, esquecia algumas letras e ela achava que estava com TOC. Desistiu do código, mas as palavras ficaram. Assim fez um pequeno dicionário picante para passar por debaixo da faixa amarela.

Quando a chamava de Canela, estava na realidade querendo dizer que além de ser deliciosa e ardente, ela também acelerava seu metabolismo. 

Ao compara-la ao Cardamono, significava que ela era a promotora do seu equilíbrio vital.

Pimenta Chili, hummmm, estava dizendo que conforme ela aumentava sua energia, ela o fazia ir mais devagar, inspirando-o a repetir pelo menos três vezes, de uma forma mais saudável.

Se a chamasse de Pimentinha Preta, uau, queria dizer ela promovia nele uma complexa trama metabólica capaz de ajudar a reduzir o tamanho da cintura, a gordura corporal e otimizar os níveis de colesterol. 

Quando se referia a ela como Pimenta Caiena, era pela sua capacidade termogênica, ou seja, sabia como fazer tudo na temperatura certa, e tem lá o refino da sua ardência, mas também promove a queima de gordura em até 16%.. Não tem nada igual.

E ao chama-la de minha Malaguetinha, levava em consideração os poderes cárdio-vasculares elevados da danada.

Não deu certo, picante pelo gosto que dão, pelo sabor que permitem ser degustadas, ficou como aprendizado, ou seja, melhor aprimorar o vocabulario.

É isto aí!

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