- Bom dia! O senhor também está de castigo? perguntei
- Este negócio agarra, mas está tudo bem. Eu sempre venho aqui, gosto e vir aqui, eu gosto deles, eles gostam de mim, aliás não tem um lugar onde morei que as pessoas não gostam de mim.
- Isto é muito bom - eu disse.
- Sim e não. Teve uma vez, e olha que conheço vinte e um estados do país, pois é vinte e um estados. Todo mundo me conhece. Mas engraçado, eu não conheço o senhor, mas então, eu estava numa reunião de RH em Santa Catarina, e o bacana lá falando de relações humanas, foi aí que matutei cá comigo - já mostro a este Catarina que ele não conhece nada do que sei.
- (interroguei com os olhos)
- Olha só, isto tudo que o senhor está falando aí não cabe numa caixinha pequena das minhas ideias, disse a ele. Eu já vou logo te dando a liberdade de ligar para muitos lugares, liga para o Rio de Janeiro, liga para Belo Horizonte, liga para Tilapinha, terra da minha santa mãezinha, e verá que eu sou o mesmo aqui e em qualquer lugar do mundo, eu sou do mundo da mesma maneira que sou aqui comigo mesmo diante de mim, do senhor e da turma aqui que pega no pesado prá doutor posar de foto depois.
- Muito interessante isto, eu disse.
- Não viu nada ainda. Além disto sou um homem bom, honesto, correto e e todos que me roubaram perderam tudo e eu ali na boa. Fatura boa é fatura quitada, liquidada e guardada, já dizia meu santo pai. Um homem tem que ser duro, mas tem que ser bom também. Eu sou Francisco, um homem bom.
- Fiquei olhando, esperando o rumo da prosa. A esposa dele navegava entre várias dimensões, menos nesta tridimensional.
- Olhe, vou te contar como Francisco age e pensa. Eu tenho uns apartamentinhos de aluguel, e deu que minha netinha querida um dia me procurou para pedir para alugar um que estava desocupado, bem de frente, uma beleza, e eu mesmo construí. Aí eu falei para ela - netinha, pode casar e morar sem nada, sem problema.
- (A esposa voltou do transe)
- Francisco chegou em casa com esta conversinha. Olhei nos olhos dele e perguntei sem dó - Francisco, você esqueceu de quem esta menina é filha?
- Ele respondeu: Falei de pronto - claro que sei, filha do Zé, nosso filho.
- Ela: Não era nada disto, mas ele queria entender só um lado da moeda. Aí lasquei a pergunta - Francisco, ela tem mãe, sabia? Uma atrevidinha, belicosa, perigosa e assanhada que arrastou asa para roubar o meu Zé. Ou você já esqueceu que quando ele ficou apenas três anos desempregado, ela colocou ele para arrumar cozinha, lavar banheiro e até fazer comida enquanto a lindinha ficava naquele salãozinho porqueira dela, naquele chiqueirinho, batendo papo com as clientes, e o bobo lá, cuidando da neta. Por outro lado foi bom, que a menina não ficou tão contaminada com as malvadezas da mãe.
- Ele: é fato, eu tinha esquecido.
- Ela: então, para não dizer que não disse, faz um contrato com valor pequeno, e diz que é só para segurança deles mesmo. Coloca lá que deverão pagar luz, lixo, iptu, gás, água e ajudar na pintura.
- Aí perguntei: mas o rapaz? é bom para ela, para a netinha?
- A avó respondeu: maravilhoso, puxa vida, enquanto ela trabalha no salão com aquela, sabe, a mãe dela, ele arruma casa, lava banheiro, cuida da neném, enfim, um anjo que Deus mandou.
Daí foram chamados e fiquei sem saber mais coisas relevantes desta família.
É isto aí!
Fonte da Imagem: Free Old Couple
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Gratidão!