terça-feira, 10 de janeiro de 2023

A leitura das cinzas (Jerzy Ficowski)

Jerzy Ficowski

Jerzy Ficowski (1924/2006) registrou testemunho da resistência dos poloneses à política supremacista do governo nazista.
Foto: Bartosz Pietrzak
Fonte do texto: UFPR

Ainda desconhecido no Brasil, o livro de poesias “A Leitura das Cinzas”, do escritor polonês Jerzy Ficowski, recebeu uma versão inédita em português com tradução do professor Piotr Kilanowski, do Departamento de Polonês, Alemão e Letras Clássicas (Depac). Falecido em 2006, Ficowski é um dos autores que se dedicou ao tema da Shoah (“holocausto” em hebraico), que consiste no testemunho dos sobreviventes do nazismo, com o diferencial de que não era judeu.

"A leitura das cinzas": A leitura das cinzas (Odczytanie popiołów) é tido como um dos mais importantes livros de poesia sobre a Shoah escritos por um não judeu. O livro foi inicialmente editado em Londres, em 1979, já que na Polônia comunista a publicação de suas obras foi proibida, pois o autor fazia parte da oposição ao regime. 

A obra foi escrita ao longo de anos após a Guerra enquanto Ficowski, testemunha do Extermínio, soldado da resistência antinazista e prisioneiro dos campos alemães, tentava encontrar um modo de expressão adequado ao tema. O volume veio a lume após 11 anos de silêncio forçado e logo foi reeditado clandestinamente na Polônia. 

Um dos poemas incluídos no livro, Carta a Marc Chagall, publicado inicialmente em 1957, teve a honra de ser um dos dois textos de ficção (ao lado da Bíblia) que foram ilustrados pelo pintor destinatário daquela carta poética – fato que o poeta sempre considerou o maior prêmio artístico que poderia ter recebido em sua vida.

Poema de Jerzy Ficowski , do livro Odczytanie popiołów (A leitura das cinzas).
Tradução de Piotr Kilanowski (Professor de literatura polonesa na UFPR)
Ilustração de Marc Chagal feita para os poemas de Ficowski

Marc Chagall


Não consegui salvar

nem uma vida

 

não soube deter

nem uma bala

 

então percorro cemitérios

que não existem

busco palavras

que não existem

corro

 

para o socorro não pedido

para o resgate tardio

 

quero chegar a tempo

mesmo que tarde demais




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