sábado, 2 de novembro de 2024

Cartas avulsas XVIII


Reino da Pitangueira, 
02 de Novembro de 2024
Dia dos Finados
Por do Sol às 17h59min
Lua Nova
Estação Primavera

Querida, não está sendo fácil escrever-lhe esta carta hoje, mesmo sendo escrita de próprio punho num mundo onde tudo está à mercê da possibilidade de uma inteligência artificial por detrás das letras. Lembro-me sempre que a rede tem memória perpétua e graças a Deus, minha memória é humana, tem limites, emoções e dores. O que as inteligências artificiais não sabem é que esta carta chegará ate' você somente na data cabalística que a permitirá encontrá-la.

Até lá não sei se estarei vivo, se assim for minha predestinação. Se vivo, talvez mudo ou taciturno, com direito a elucubrações compostas, cogitações arquetípicas, estudos astrológicos, meditação transcendental, reflexões, inflexões e eventualmente ruminações antitéticas. Haverá de existir uma ou outra especulação fantasiosa que versa e reversa em minha mente sobre as conjecturas e considerações especulativas ou generosas sobre as curvas que a permeiam com açúcar e com afeto.

A ideia inicial fora ater-me até esta data como um ser tomado pelas tristezas, angústias vis, principalmente as de pouco valor, principalmente as insignificantes, mesquinhas, desprezíveis de maneira abjeta e/ou infame, mas nada disto importa mais, nem importou ou importará. Você esteve sempre acima destas dores do nosso mundo.

Afirmo-lhe que ao ler esta carta na data certa, de maneira correta, encontrará a chave guardada em secreto compartimento acessível somente pelo seu coração. No cofre há de encontrar guardada, em caixa lacrada, uma discreta insatisfação por todos os meus projetos naufragados em triste e melancólica existência.

Ao lado destas lamentações, dentro de um envelope azul claro, numa folha escrito com minha caligrafia horrível, poderá ler que tudo valeu a pena, mesmo as dores do mundo somatizadas em mim. Tudo valeu a pena, tudo foi merecido e acordado com o céu entre miríades de anjos como testemunhas, por que eu sempre amei você.

É isto aí!

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