domingo, 22 de dezembro de 2013

O outro



Alfredo acordou diferente naquela manhã. Sentiu-se outro. Virou para o lado, viu uma mulher desconhecida, sensualíssima, formosa, seminua, ao alcance do seu mais profundo desejo. Avançou sobre aquele monumento humano e a possuiu como um deus no Monte Olimpo. Fizeram de tudo, de todas as formas, de todas as maneiras, de todos os jeitos e de todos os ângulos possíveis permitidos pela física.

Deixou-a em êxtase no aconchegante ninho de amor e se dirigiu ao banheiro. Tomou um demorado banho, cantou as mais românticas músicas francesas que denominava com fluência nativa. Terminado, voltou ao quarto. Ela estava encantada e tão sedutora que Alfredo não resistiu. Se amaram como não houvesse o amanhã.

Saiu apressadamente para o trabalho, pegou sua pasta sem verificar a agenda, correu para o ponto, tomou o ônibus, desceu sem notar que estava sem relógio, sem tempo e sem sapatos. Entrou apressadamente no edifício onde tinha um grande escritório de consultoria financeira. Ninguém notou sua falta de tempo e sua falta de sapatos, pois estas coisas são íntimas e pessoais.

Ao entrar solitário no elevador, virou-se para o grande espelho do fundo. Alfredo teve um colapso - aquele não era ele. Desmaiou e quando acordou estava em um hospital já a tres dias, inconsciente.

Carlos olhou para os lados, viu sua esposa dormindo no pequeno sofá...sussurrou para ela...Stella...Stella...
Ela abriu os olhos e um sorriso maravilhoso. Diga-me Stella, foi ele de novo?

- Sim, Carlos, foi ele de novo.
- Meu Deus, Stella, este outro em mim me apavora.
- Não, Carlos, seu outro é de uma candura indescritível.
- Caramba, Stella, você gosta de mim ou do outro?
- Claro que é de você, seu bobinho...e deram um selinho básico.

Naquela noite Carlos teve uma ruminante relação matrimonial com Stella. Na manhã seguinte Alfredo acorda e a volúpia estonteante promove o alcance do Nirvana entre os dois. Stella se abraça a Alfredo, como uma adúltera obcecada e obsessiva e pede tudo o que possa ser mais. Alfredo penetra em todos os seus poros, parte seu desejo em centenas de desejos, explodem em prazer e parte sem dizer adeus.

Assim Stella passa a ter um amante invejável, dentro de casa, sem promover nenhuma ruptura em sua vida social. Carlos sabe deste transtorno dissociativo de identidade, mas prefere ignorar o outro que habita em si. E o outro, ah! o outro, é um animal possuindo a fêmea no cio...

É isto aí!

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