"O mal que os homens fazem sobrevive depois deles. O bem é quase sempre enterrado com seus ossos." (Marco Antonio, "Julius Caesar" de Shakespeare)
Este discurso é uma das mais belas peças oratórias fúnebres. É talvez o momento mais emocionante da tragédia Julius Ceasar de Shakespeare, e um dos mais exigentes testes de eloquência para as legiões de intérpretes de Marco Antônio ao longo da história. (Gilberto Cruvinel)
"Amigos, romanos, compatriotas ouçam-me. Eu vim para enterrar César e não para exaltá-lo. O mal que os homens fazem sobrevive depois deles, o bem é quase sempre enterrado com seus ossos. Assim seja com César.
O nobre Brutus lhes disse que César era ambicioso. Se isso é verdade, foi uma falta grave e gravemente César respondeu por ela. Com a permissão de Brutus e dos demais, porque Brutus é um homem honrado, assim eles todos, todos homens honrados, venho eu aqui falar nos funerais de César. Ele era meu amigo, leal e justo comigo. Mas Brutus disse que era ambicioso. E Brutus é um homem honrado.
Ele trouxe muitos prisioneiros para Roma cujos resgates encheram os cofres públicos. Era nisto que César parecia ambicioso? Quando os pobres choravam, César chorava. A ambição devia ser de uma substância mais dura. Mas Brutus disse que era ambicioso. E Brutus é um homem honrado.
Todos vocês viram que nas Lupercais, três vezes eu lhe ofereci a coroa real e três vezes ele recusou? Era isto era ambição? Mas Brutus disse que ele era ambicioso e sem dúvida alguma Brutus é um homem honrado.
Eu falo não para desaprovar o que Brutus falou. Mas estou aqui para falar o que sei. Todos vocês o adoravam e não sem motivo. Que motivo os impede então de chorar por ele agora?”
"Amigos, romanos, compatriotas ouçam-me. Eu vim para enterrar César e não para exaltá-lo. O mal que os homens fazem sobrevive depois deles, o bem é quase sempre enterrado com seus ossos. Assim seja com César.
O nobre Brutus lhes disse que César era ambicioso. Se isso é verdade, foi uma falta grave e gravemente César respondeu por ela. Com a permissão de Brutus e dos demais, porque Brutus é um homem honrado, assim eles todos, todos homens honrados, venho eu aqui falar nos funerais de César. Ele era meu amigo, leal e justo comigo. Mas Brutus disse que era ambicioso. E Brutus é um homem honrado.
Ele trouxe muitos prisioneiros para Roma cujos resgates encheram os cofres públicos. Era nisto que César parecia ambicioso? Quando os pobres choravam, César chorava. A ambição devia ser de uma substância mais dura. Mas Brutus disse que era ambicioso. E Brutus é um homem honrado.
Todos vocês viram que nas Lupercais, três vezes eu lhe ofereci a coroa real e três vezes ele recusou? Era isto era ambição? Mas Brutus disse que ele era ambicioso e sem dúvida alguma Brutus é um homem honrado.
Eu falo não para desaprovar o que Brutus falou. Mas estou aqui para falar o que sei. Todos vocês o adoravam e não sem motivo. Que motivo os impede então de chorar por ele agora?”
Nota de rodapé - Para entender o discurso:
Fonte: GGN
Autor : Gilberto Cruvinel
O discurso foi pronunciado por Marco Antônio, nas escadarias do Senado Romano, em frente ao corpo de Cezar, assassinado a facadas pela conspiração de Brutus e Cassius
Para se entender o lance político do discurso é preciso explicar um pouco o contexto em que foi feito. O assassinato de César havia sido bem aceito pela população, já que a explicação dada por seus autores foi a de que César estava prestes a dar um golpe e se auto-nomear Rei, o que em Roma era absolutamente inaceitável.
Júlio César foi traído por Brutus e Cassius
Marco Antônio era muito próximo de César, correu o risco de morrer junto com ele, e, para evitar que reagisse ao ataque, foi distraído por um dos senadores da conspirata para uma conversa fora do local do crime.
Consumado o assassinato de César, Marco Antônio, procurado pelos conspiradores, acertou com eles que falaria no Senado em prol da pacificação dos ânimos. Preservou assim a sua prerrogativa de fazer o discurso fúnebre de César.
Neste discurso, frente a uma massa de cidadãos que até há pouco apoiavam e admiravam a César, mas que agora o condenavam, Marco Antônio começa dando razão aos conspiradores, para ganhar tempo e ser ouvido pela massa.
Seguindo uma estrutura em que: na primeira frase condena Cezar, reitera que Brutus é um homem honrado, para na próxima frase dizer "mas...", e dar um exemplo real da grandeza, bondade, lealdade e do amor que Cezar tinha pelo povo de Roma, pouco a pouco Marco Antônio consegue mudar o estado de espírito da massa voltando-a contra os assassinos de Cezar.
O orador, com invulgar habilidade, inicia submetendo-se ao sentimento dominante (anti-César), mas encontra uma forma sutil de dialéticamente afirmar ao mesmo tempo a crítica e a observação positiva. Como esta última é mais poderosa que a primeira, aos poucos vai recuperando a imagem positiva de César, relembrando suas boas ações, seu patriotismo, suas virtudes, de forma a deixar para o povo a conclusão da enormidade do crime praticado não mais contra César, mas sim contra Roma e o povo romano.
O César odiado volta a ser o César amado, e ressurge para a vida política com os que lhe permaneceram fiéis, e no ódio aos seus inimigos. É tentador lembrar a dramática mudança da reação popular à morte de Getúlio, depois dos discursos de políticos como Tancredo e Brizola. O Getúlio impopular de um dia atrás, ressurgia para a política nas palavras dos seus representantes, e na emoção popular.
É isto aí!
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