Estava apressado, açodado pela saudade. A tardinha ia lenta, modificando o aspecto imponente do dia, desalinhando as obrigações não cumpridas, as promessas quebradas, desfeitas; a angústia a avolumar-se em remorsos perenes e desonestos, Seguia a passos lépidos, numa agilidade suficiente para manter-se em equilíbrio.
Andava pela estreita calçada que da apertada ruazinha que dava na Praça da Matriz, que tem outro nome homenageando um destes famosos anônimos que pela vaidade o dinheiro mantém nas placas. Aquilo não importava, pois agora e desde sempre era a Praça da Matriz e pronto.
A Matriz era um símbolo de cidadania aos direitos dos amores correspondidos e eternizados. Foi neste ambiente idílico que seus avós maternos e paternos foram apresentados, cresceram e casaram-se, bem como seus pais, e no fundo da alma sabia que sua cara-metade também cederia aos seus sinceros desejos.
Todos os casais de enamorados, obrigatoriamente, davam voltas longas pelos seus belos jardins e sentavam nos bancos ao longo das passarelas, flertando com a natureza do amor. Ali havia solidez e perpetuidade da vida, pensava enquanto desviava de meninos gritando e correndo, idosos lentos e ciclistas mentecaptos.
O frontispício da matriz, construída num elevado de cerca de seis metros acima do nível da praça, volta-se aos doze Jeribás, de cerca de 20 metros de altura, imponentes palmeiras nativas, carregadas de frutos, plantadas pelo seu bisavô materno. Neste instante para diante da visão majestosa do sol esmaecido, olha para o relógio da Matriz e escuta o primeiro toque do carrilhão a avisar que chegou o momento místico e passional das dezoito horas.
Coração acelera, suor desce pela face e em pé, trêmulo, parado e tenso, exatamente no mesmo lugar de sempre, ao lado da carrocinha de pipoca, tal qual um proeiro, que é aquele marinheiro que vigia e manobra na proa das embarcações; vigia a aproximação do ônibus que vinha do distrito para o centro trazendo as professoras e servidoras da escola municipal. Correu os olhos por todo o interior do coletivo e não a viu. Era a segunda vez que aquilo ocorria na semana.
Embalou pela descida íngreme da Rua dos Macacos, nome popular da rua fulano de tal, a tempo de vê-la nos braços de um fidalgo qualquer, sem estirpe, sem linhagem familiar histórica; sem origem local, sem linha de ascendência com certo grau positivo de excelência e sobretudo sem categoria e qualidade para tocar aquela pele de seda.
Partiu dali arrasado e no dia seguinte, quem sabe a sorte lhe sorri, aguardava às dezoito horas ao lado da carrocinha de pipoca tal qual um proeiro.
É isto aí!
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