segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Cartas Avulsas XVI

 


Reino da Pitangueira, 
14 de Outubro de 2024
Por do Sol às 17h52min
Lua na fase Crescente
Estação Primavera


Apesar de, resolvi escrever esta carta. Nada de especial nela, a não ser o rompimento do silêncio.

Sou do tempo em que as cartas eram o que de melhor existia para cobrir distâncias com informes sobre tudo e todos. Receber uma carta era mais do que receber uma visita para o café. Era assunto para ser analisado nas formas, no candor; na análise do quão de  sinceridade e franqueza exteriorizavam no texto. Afora isto, sem recursos maiores do que os livros que atravessavam pelo menos duas gerações, cabia ainda estabelecer relações de sentido e de dependência entre palavras e orações.

Dito assim, não sei como as cartas caíram no desuso de maneira tão abrupta. Ler uma carta exigia dar o máximo de sinapses no Hemisfério esquerdo, que é responsável pela linguagem, raciocínio lógico, cálculos matemáticos, escrita e leitura, enquanto o Hemisfério direito, responsável pela criatividade, emoções, percepção de sons musicais, trazia no campo visionário da saudade o reconhecimento da face vinculando-o ao pensamento intuitivo.

Desta forma, o contorno da alma do/da remetente ia sendo aos poucos materializado e sensorialmente metabolizando um tempo único e privativo, numa outra frequência, numa outra dimensão, numa outra vida destas muitas que habitam em nós, eliminando as distâncias e as intempéries entre um problema  e outro. Enfim, espero ter superado as correntezas do rio de problemas que atravessam o nosso caminho e que se recusa a evitar já à jusante a inundação dos sonhos. 

É isto aí!




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