Li nesta manhã que um jornalista/blogueiro* foi assassinado e decapitado no norte de Minas Gerais há três dias, segundo a polícia civil. O caso está sendo investigado. É muito triste.
Vivemos num mundo ainda a ser descoberto - a Internet, onde tudo que se posta é perpétuo, imutável. Fazer denúncia sobre crimes, lidar com denúncias como exploração de menores, tráfico humano de meninas, roubo em cofres públicos, etc. é bom, e sempre gera a exposição de fatos que cobram respostas do Poder Público, mas tem quem não acha que é tão bom assim. Este alguém (entre eles pode estar o possível gerador dos delitos), por sentir-se ameaçado pela exposição, talvez tome atitudes contra a integridade física ou moral do denunciante, para silenciá-lo por intimidação ou atos mais graves.
O blogueiro, em geral, está só. Não tem os recursos jurídicos da grande imprensa, não tem segurança pessoal nem sequer garantias de proteção. Escrever o que se pensa é experimentar a liberdade jornalistica, pode até gerar renda para sustento, mas temos que ter a certeza de que, nestes casos, toda ação gera sempre uma reação maior ou pior, sempre contrária ao denunciante.
Os dois texto abaixo não são meus, e serão mais um empecilho, em brevíssimo futuro, contra os blogueiros que fazem deste espaço seu meio de vida. Um foi criado pelos grandes jornais europeus e o outro foi uma resposta de neutralização deste ato pela gigante das comunicações mundiais. Então o caminho natural das coisas será sempre mudar tudo para que tudo permaneça sempre como está, como profetizou Lampedusa no clássico romance Il gattopardo sobre a decadência da aristocracia siciliana durante o Risorgimento.
I **Grandes jornais se unem e criam uma nova mídia:
Com o domínio das empresas de tecnologia, como: Facebook, Twitter, Google e Linkedin, surgem uma crise nos principais meios de comunicações jornalísticos, nos quais se sentem a mercê das políticas e estratégias dessas plataformas. Afirmando também que os jornais estão a cada dia perdendo força no mercado publicitário.
Para combater essa crise, foi criada uma estratégia que envolve os principais jornais do mundo, como: The Guardian, CNN Internacional, Financial Times, Reuters e The Economist.
Essa estratégia é a realização de uma aliança entre eles, com o propósito de posicionar melhor seus portais de noticia no mundo digital, e assim, se tornando mais relevantes na web. A rede é conhecida como Pangea, o mesmo nome que se dá a união geográfica de grandes continentes.
A plataforma possibilitará aos anunciantes que comprem espaço publicitário em todos os sites afiliados com apenas uma operação. O foco principal é atingir pessoas com poder de consumo maior, sendo que a maioria dos leitores dos jornais possui esse patamar.
A Pangea será lançada em abril, com uma versão beta. A equipe espera um aumento de até 20% nas vendas digitais. Hoje a Pangea, somando todos os portais afiliados, possui 110 milhões de leitores. A associação não quer parar por aí, pensam para os próximos meses integrar novos jornais, segundo Tim Gentry, diretor do Guardian News.
II *** A entrega da alma / Bruno Tortuga
Comercialmente talvez faça sentido o NYT e outros grandes veículos fornecerem conteúdo direto ao Facebook. Mas ao dar ainda mais força a essa rede social como o feixe central da troca e difusão de informação no mundo, podem não estar entrando no time vencedor, e sim chocando o ovo da serpente
Comercialmente talvez – nada mais que talvez – faça sentido o NYT e outros grandes veículos entrarem nessa de fornecer conteúdo direto ao Facebook (N.E. – ver aqui). Ainda espero os detalhes das condições e fontes de receita para os jornais para fazer um juízo menos precipitado.
Mas por enquanto me parece um erro grave.
Em parte entendo a capitulação. “Una-se a eles”, diz quem entende que já não pode vencê-los. Mas ao dar ainda mais força, consolidar ainda mais essa rede social como o feixe central da troca e difusão de informação no mundo, esses veículos podem não estar entrando no time vencedor. Mas chocando o ovo da serpente.
Porque para mim a arquitetura do Facebook é a exata corrosão de muitos fundamentos jornalísticos – justamente os que instituições como NYT e Guardian deveriam preservar – em prol de uma dinâmica que dissolve as barreiras do entretenimento e do jornalismo, da mera distração e da notícia, da relevância social e dos interesses estritamente pessoais.
E isso tem efeito especialmente nefasto, me parece, no papel mais importante do jornalismo. Que não é gerar audiência ou tráfego. Mas impacto. E é justamente isso que tenho sentido ultimamente. Um acelerado processo de erosão do impacto que o jornalismo causa na sociedade. E a ascensão do ruído, da falta de contexto, do buzz e da cultura de trends e hashtags como os maiores influenciadores da opinião pública. Isso muda a forma como público entende e consome jornalismo. E tende, a curto prazo, a transformar tudo nessa palavra leve, porém perigosa: conteúdo.
Claro que o processo é bem mais complexo do que isso. Mas o Facebook é protagonista nisso. E sua estrutura não indexada, sem mecanismo de busca, compulsiva e impermeável, tende a aprofundar esse cenário.
Claro que posso – e no fundo espero – estar errado. Mas ao abraçar o Facebook como parceiro, o NYT e grande elenco podem estar cometendo um erro equivalente, digamos, ao do PT dando os braços ao PMDB. Você pode até chamá-lo de parceiro. Mas quando você olhar pro lado… eles tomaram algo que não estava no contrato: a sua alma.
Fontes:
* Sobre o Blogueiro de Minas, assassinado:
http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/05/19/interna_gerais,649084/iniciada-investigacao-de-morte-de-jornalista-no-jequitinhonha-corpo-se.shtml
** Sobre a nova mídia:
http://plugcitarios.com/2015/03/grandes-jornais-se-unem-e-criam-uma-nova-midia/
*** Sobre a entrega da alma dos grandes jornais:
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