domingo, 23 de fevereiro de 2020

Amores achados e paixões perdidas II


- Olá, eu queria prestar queixa de um desaparecimento

Desaparecimento de quem?

- Da minha mulher.

Perfeito, preencha este formulário específico.

- Mas está em branco. Eu só queria  ...

Vocês homens são todos iguais mesmo, hem! Nunca são bons em detalhes, daí ser necessário usarmos de artifícios pedagógicos que promovam uma ampliação da sua memória, trazendo à tona apenas o que importa de tudo que se lembra, sem indução do questionários ou de terceiros. 

- Mas .. mas ... o que devo escrever?

Escreva como ela é; descreva sua aparência a partir do que está gravado na sua mente - seu cheiro, sua cor, seus cabelos, etc; fale da sua voz, do seu andar, dos seus carinhos, que quando assustar poderemos fazer um retrato falado dela a partir das suas percepções.

- Ela... ela... ela... olha só, eu não sei fazer isto.

Então troquemos de formulário. Pegue este, sente-se ali e responda sim ou não, ok?

- Sim ou não? Zero ou Um? Yin ou Yang? Tipo assim?

Responda apenas sim ou não.

- Mas aqui está perguntando se a amo.

Apenas marque sim ou não.

- Olha só, pensando bem ela não desapareceu. É que bateu dúvida, sabe? Acho que fomos nos desmaterializando aos poucos e quando nos demos conta não existíamos mais um para o outro. 

Bem, esta delegacia é especializada apenas em amores despedaçados e paixões perdidas. No seu caso, nós ainda não temos uma solução melhor, mas mesmo assim, se quiser registrar algo que justifique a sua vinda e a sua dor, fique a vontade.

- Sabe, já que você foi tão gentil comigo, vou deixar registrado que perdi um grande amor e agora há um vazio que me prende a algum lugar no espaço entre minha vida e a dela. É só isto. Muito obrigado.

De nada. Se precisar do nosso serviço, já sabe, estamos 24 horas de plantão. E, olha, é ... eu também estou sozinha, se achar ... bem ..., tudo bem, só se achar que poderia, quer dizer, eu, humm ... volte sempre!

É isto aí!

PS - Esta crônica foi publicada pela primeira vez neste Blog numa quinta-feira, 24 de novembro de 2016
        às 17:59. Pela primeira vez estou revisando e relançando um texto que gosto muito.  

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