sábado, 3 de abril de 2021

Diário das memórias de cada um



Chegou ao carro e deu por falta dos óculos. Apalpou a face, bateu a mão no peito e nos bolsos e nada de encontrar o objeto. Voltou ao apartamento, no segundo andar, procurou por todos os possíveis locais onde geralmente não o coloca, até que finalmente deparou com o fugitivo na pia do banheiro. Colocou os óculos e desceu até a garagem.

Mão na maçaneta e deu com a porta trancada. Temeu pelo pior, as chaves terem ficado dentro do carro. Olhou, olhou olhou até que teve a ideia de ligar a lanterna do celular. Procurou em todos os compartimentos da roupa e notou que não o carregava. Encostou no automóvel, suspirou, balançou a cabeça e voltou ao apartamento. 

A pegar na maçaneta externa, deparou com o molho de chaves na fechadura, pelo lado de fora, o que era indício de que esquecera de retira-lo ao sair, apressado pelo atraso para ir ... para ir ... não lembrava para onde deveria ir. Entrou, fechou a porta segurando as chaves, sentou-se na cadeira que fica ao lado, onde desde antigamente era o local do telefone fixo.  

Olhou para o aparelho analógico, secular e lembrou que poderia discar para o celular e seguiria o som. Retirou o monofone do gancho e ... não lembrava seu número. Voltou o monofone à base, colocou as duas mãos sobre o rosto e deu um suspiro profundo, acenando negativamente a cabeça. Espere, já sei, anotei o número num cartão que está na minha carteira.

Levantou-se entusiasmado, bateu a mão nos bolsos da calça e ficou preocupado - perdeu a carteira com todos seus documentos, cartão do banco, dinheiro para eventuais necessidades e sobretudo o número do celular, que contem todas as senhas inclusive o número do seu telefone fixo, seu endereço, telefone da família, foto dos netos, etc.   

Cabisbaixo, suspirando, foi até o quarto, onde encontrou a carteira no criado-mudo, como havia deixado na noite anterior. Imediatamente a abriu, pegou o cartão, colocou a carteira no bolso e ligou para seu celular. Não escutava a chamada. Ligou muitas vezes e o silêncio era terrível. Bom, o jeito é descer e ir para fazer o que preciso fazer.

Desceu as escadas pesaroso, até que abriu o carro e viu o celular no banco do carona. Riu de si mesmo. Assim que o teve nas mãos, viu que o aparelho estava descarregado. Colocou a cabeça no encosto da poltrona do automóvel e olhando fixamente para a frente, não sabia para onde deveria ir. Subiu as escadas, desta vez conferindo todos os pertences e foi deitar.

Do outro lado da cidade filhos e parentes o aguardavam para uma festa surpresa de aniversário, à qual não compareceu. Despediram-se dos convidados todos resmungando um pouco. Guardaram todos enfeites, dividiram o bolo entre as crianças, e tiraram a conclusão que lhes parecia a mais confortável - papai é previsível mesmo, foi só sentir que faríamos a festa, desligou o celular e deve estar tomando sua cervejinha ... aquele velho é terrível.  

Nesta hora deve estar jogando truco com os amigos ...
Ou bebendo num boteco destes sujos ...
Ou namorando alguma coroa da vizinhança ...
Ou se divertindo ... Nem vou me preocupar, amanhã ele aparece sorrindo ...

É isto aí!
 


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