quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Um dia de cada vez

Mestre Vitalino, Noivos a cavalo, cerâmica


Para tudo, gritou o rapaz do alto da pequena colina, montado num baio triste, magro, marrom-vermelhado com uma coloração de pontas pretas na crina, cauda, pontas das orelhas e pernas.

Todos olharam para a origem do grito e depararam com aquela figura conhecida, determinada, esquálida e longilínea por sobre um animal esbaforido. 

Desceu devagar, aproximou-se da noiva, deu a mão, ela firmou o pé esquerdo no estribo e segura, deu um sobressalto e montou, travando um abraço na cintura do rapaz e fazendo o animal dar um leve gemido. Seguiram o caminho do mundo, com aplausos de metade dos convidados para o casamento. 

O noivo, completamente embriagado, não deu conta da página da vida que estava sendo aberta, transformando destinos e acontecendo à vista de todos. Demorou perceber que algo de errado não estava certo. Assim que tentou dar ares de sobriedade, levou uma sonora vaia dos parentes e amigos da noiva. 

Enquanto isto, lépida e ladina, sentindo o desfecho desfavorável, a mãe do noivo pegou o que pode dos presentes e colocou na pequena charrete, tocando a mula para seu caminho cenoso.

Quando ficaram a sós, os pais da noiva e seus irmãos abraçaram-se agradecendo a bondade e a divina intervenção de Deus nas coisas complexas da natureza humana.

É isto aí!


Fonte da Imagem: Arte popular do Brasil

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